Num momento em que todos os olhos se voltam para o virtuosismo de Charles Leclerc, outro jovem piloto começa a despontar como uma possível futura estrela. Pierre Gasly não pareceu ter a confiança da Red Bull mesmo vencendo a antiga GP2, mas quando a empresa austríaca se viu sem bons pilotos jovens, Gasly foi escalado na Toro Rosso, seu celeiro de pilotos. O francês logo mostrou que a desconfiança não era merecida e rapidamente convencia não apenas à Red Bull, mas a todos na F1 que ele era merecedor de um bom lugar na F1. Tendo a difícil missão de ajudar o desenvolvimento de um motor que nunca se mostrou competitivo numa equipe grande como a McLaren, Gasly já conseguiu resultados nunca antes conseguidos pela Honda e na Hungria novamente o jovem francês se sobressaiu. Com a F1 vendo um enorme abismo entre as três principais equipes e as demais sete equipes, ser o melhor do 'resto' é a vitória para as equipes do pelotão intermediário e o 'vencedor' dessa corrida em Hungaroring, com ampla vantagem, foi Pierre Gasly, ultrapassando Sainz na largada e nunca deixando Magnussen se aproximar, mesmo a Haas tendo um carro melhor do que a Toro Rosso. Essa boa corrida de Gasly mostra que o futuro da Red Bull, junto com Max Verstappen, pode estar garantido nos próximos anos.
segunda-feira, 30 de julho de 2018
Figurão(HUN): Red Bull
Daniel Ricciardo teve seu motor trocado em Hockenheim antes da largada por um único motivo: ter uma boa posição em Hungaroring, pista que seria amplamente favorável para a Red Bull. A corrida na Alemanha do australiano estava arruinada, mas Daniel teria uma chance de ouro na Hungria, lugar onde já venceu e que o circuito com suas características travadas favoreceriam o carro de alto downforce da Red Bull. Isso tudo em teoria e no final de semana ficou tudo apenas nesse plano. A verdade foi que a Red Bull decepcionou bastante num circuito onde o criticado motor Renault não poderia parar o bom carro projetado de Adryan Newey. Na classificação, debaixo de chuva, a Red Bull falhou na estratégia de Daniel Ricciardo e o australiano amargou uma 12º posição no grid, enquanto Verstappen era superado por Sainz e Gasly com carros nitidamente inferiores. Na corrida Max se recuperou ainda na largada, mas sua corrida durou apenas a tempo do motor Renault novamente deixa-lo na mão e dar mais armas para Christian Horner e Helmut Marko criticar os franceses e seus dirigentes. A corrida de Ricciardo lhe fez ganhar inúmeras posições, mas a diferença do carro da Red Bull em comparação aos demais era tão grande, que os pilotos preferiam deixar o australiano passar do que perder tempo numa batalha perdida. Ricciardo ainda ganhou uma posição de Bottas na última volta quando o piloto da Mercedes teve problemas na asa dianteira após o toque com Vettel, mas a diferença superior a 40s que Ricciardo tomou do vencedor Hamilton mostrou bem que a Red Bull, que tanto batalhou para estar no mesmo nível de Mercedes e Ferrari, desceu um degrau na luta pelas vitórias num circuito que lhe era favorável e agora é novamente a isolada terceira força da F1.
domingo, 29 de julho de 2018
Devagar e com uma parada a menos
Quando Alexander Rossi ficou com a pole em Mid-Ohio, o americano mostrava que tinha totais condições de imprimir um ritmo fortíssimo e vencer no mais travado dos circuitos mistos da Indy. Porém, o piloto da Andretti fez o diferente e com um ritmo mais lento, economizou combustível o suficiente para com uma parada a menos, vencer com enorme tranquilidade nesta tarde de domingo.
Foi uma corrida sem bandeiras amarelas e com vários destaques individuais. Sebastian Bourdais tinha sido um dos mais rápidos nos treinos livres, mas um acidente na classificação o relegou à última posição. Com um bom carro, o francês executou uma belíssima corrida de recuperação com direito a várias ultrapassagens (algumas sensacionais!) para terminar a corrida num ótima sexto lugar. Scott Dixon foi outro a fazer uma corrida acima das suas possibilidades. A Ganassi não vive seu melhor momento e Dixon vem tirando leite de pedra faz tempo. Mesmo num circuito onde venceu cinco vezes, Dixon lutou para ficar em nono na classificação, mas na corrida o neozelandês foi novamente cirúrgico para terminar em quinto, logo atrás de Newgarden, até então seu maior rival no campeonato e que claramente tinha mais carro do que Dixon, mas descontou poucos pontos.
Porém, não houve maior destaque do que Rossi. Largando na pole, o americano fez uma corrida perfeita da primeira a última volta em sua arriscada estratégia de parar uma vez menos num circuito em que o consumo de combustível é essencial e o tempo nublado poderia trazer chuva. Rossi diminuiu seu ritmo sem sair do pelotão da frente e com duas paradas, pôde ganhar com mais de 10s de vantagem para Robert Wickens, novamente em uma ótima corrida, mas já começa a dever sua primeira vitória na Indy. A equipe Penske era favorita nos circuitos mistos, mas teve apenas Power no pódio, em terceiro.
O único erro de Rossi foi em sua comemoração. Ao ensaiar um 'zerinho', Alexander acabou com seu carro preso na grama, mas sua vitória enfática coloca-o novamente na luta pelo título.
Nos mínimos detalhes
Uma roda dianteira esquerda que não foi bem encaixada. Esse pequeno lapso foi o suficiente para que o pit-stop de Vettel fosse atrasado em 2s. E que Hamilton tivesse uma vitória límpida e fácil, dominando de ponta a ponta o Grande Prêmio da Hungria, aumentando a diferença para o segundo colocado Vettel na ponta do campeonato, além de triunfar num circuito onde a Mercedes não parecia nada bem, mas que brilhou numa estratégia bem traçada, utilizando muito bem o segundo piloto Valtteri Bottas e contando com o pequeno vacilo do mecânico da Ferrari.
Quinze anos atrás o Grande Prêmio da Hungria era sinônimo de corridas chatas e enfadonhas. Desde que a dependência aerodinâmica prevaleceu na construção dos carros de F1, o travado circuito húngaro se tornou um exemplo de corridas ruins. Para piorar, mesmo realizado em meio ao verão europeu, a chuva raramente aparecia em Budapeste para dar uma chacoalhada na corrida. Seja pelo aquecimento global, seja pelas mudanças de regulamento, as corridas em Budapeste foram melhorando ao longo dos últimos anos, chegando a transformar Hungaroring num dos circuitos 'old school' da F1 e também um dos mais esperados do ano. A chuva se fez mais presente e mesmo com muita dificuldade, as ultrapassagens apareceram. Porém, a prova de hoje foi longe do primor de algumas das últimas edições, mas não deixou de ser interessante pelas táticas que Ferrari e Mercedes impunham aos seus pilotos. A chuva já havia mexido definitivamente na dinâmica da corrida quando a Mercedes, bem atrás da Ferrari no seletivo circuito magiar, ficou com a primeira fila quando Hamilton e Bottas lidaram melhor com a pista molhada no sábado. Contudo, o sol apareceu forte no domingo e todos se perguntavam o que a Ferrari faria para descontar o prejuízo. A resposta da Mercedes veio não de Hamilton, mas de Bottas. O finlandês, que teve seu contrato renovado recentemente, fez um trabalho de equipe mais eficiente do que simplesmente deixar seu companheiro de equipe passar sem briga. Bottas começou a defesa de Hamilton na largada, segurando o ímpeto da dupla ferrarista, com Vettel passando Raikkonen já nas primeiras curvas. Com Hamilton tendo pista livre, o inglês disparou na ponta, enquanto Bottas segurava Vettel sem maiores problemas, mas ainda havia muita corrida pela frente, além da administração do desgaste dos pneus. Dos pilotos da frente, ninguém utilizou os pneus médios, os mais duros do final de semana. Hamilton, Vettel, Bottas e Raikkonen administraram muito bem seus pneus, entregando o que suas respectivas equipes lhe pediram.
A Mercedes sabia que se a Ferrari tivesse pista livre, a chance dos italianos aumentarem seu ritmo era imensa e com Vettel largando com os pneus macios, era certeza do alemão esticar seu stint ao máximo. A dupla finlandesa parou mais cedo, seguido voltas mais tarde por Hamilton. Vettel postergou sua parada ao máximo, mas Seb acabou atrapalhado por retardatários e a sua diferença para Hamilton diminuía quando ele entrou nos boxes. Poucas voltas antes, a tática da Ferrari era clara. Vettel sairia dos boxes com pneus hipermacios numa perseguição até o fim da prova à Hamilton, calçado com pneus macios. Com o tanque mais vazio, era esperado uma briga fratricida entre os dois tetracampeões, mas tudo foi para o ralo quando a roda dianteira esquerda de Vettel não foi bem encaixada. Os 2s perdidos foram cruciais para Vettel voltar à pista não atrás de Hamilton, mas atrás de Bottas. A briga pela vitória estava terminada. Hamilton mais uma vez contou com seu companheiro de equipe para vencer uma prova que não estava nos seus planos. De uma corrida para reduzir os danos, Hamilton saiu da Hungria com uma vantagem de 22 pontos em cima de Vettel. O alemão tinha muito mais desempenho do que Bottas, mas a notória dificuldade de se ultrapassar em Hungaroring atrapalhou os planos do alemão, que só atacou efetivamente já nas voltas finais, tendo a sorte de não ter o pneu traseiro esquerdo furado quando houve o toque com Bottas. Valtteri forçou muito quando Vettel já estava na frente e perdeu parte da asa dianteira, além de mais uma posição para Raikkonen. Sem ritmo, Bottas ainda se envolveu num toque polêmico com Ricciardo que danificou bastante ambos os carros, mas o australiano se sobressaiu. Bottas merecia uma punição, mas o finlandês saiu da Hungria de bem com a Mercedes e seus chefes, pois Valtteri fez um trabalho perfeito de equipe. Mesmo ganhando duas posições num circuito complicado de se ultrapassar, Vettel sabe que perdeu uma bela chance de diminuir o prejuízo da semana passada em Hockenheim, além de ver Hamilton abrir uma diferença não esperada.
Era esperado uma briga à três, com a Red Bull entrando na batalha pela vitória na Hungria graças ao bom cartel que a equipe austríaca tem em circuitos de baixa velocidade. Porém, a corrida de Ricciardo já foi afetada pela classificação na chuva, com Daniel largando apenas em 14º, enquanto Verstappen saía apenas em sétimo. O holandês largou muito bem ao pular para quinto, mas não parecia um fator quando abandonou com problemas no motor Renault, rendendo muitos xingamentos de Max pelo rádio. A relação conturbada nos últimos anos entre Renault e Red Bull estaria ainda mais estremecida com motores não tão bons? Ricciardo foi até o final e na bandeirada ganhou dez posições, mas o abismo entre as equipes grandes e médias é tão grande, que a maioria dos pilotos preferiu estender o tapete vermelho para Ricciardo, talvez com exceção de Kevin Magnussen. No fim da corrida, Ricciardo se aproveitou do carro danificado de Bottas para garantir mais uma posição, mas a sensação era de que Ricciardo fez mais do que a obrigação e a Red Bull saiu de Hungaroring devendo muita coisa.
Se fosse para escolher um piloto como o nome do dia, indicaria Pierre Gasly. Com um motor Honda ainda em desenvolvimento, Gasly largou muito bem e liderou o pelotão intermediário com uma bela vantagem de 10s sobre Magnussen, que tem uma Haas bem mais competitiva do que a Toro Rosso. Gasly vai se garantindo como um bom nome para o programa Red Bull, enquanto Hartley ficou na beira de marcar pontos, mesmo largando entre os dez primeiros. Pior foi Carlos Sainz, que saindo da terceira fila largou muito mal e por sorte conseguiu pontuar num dia em que a Renault não foi nada bem. No dia do seu aniversário Fernando Alonso garantiu mais alguns pontos para a McLaren, mas novamente teve o dissabor de se ver bem atrás de um carro com motor Honda, enquanto Vandoorne abandonou com problemas mecânicos quando estava na zona de pontuação. Namorado da filha de Gil de Ferran, será que o belga reclamará com o sogrão? Com problemas demais fora das pistas, não foi de se estranhar ver a Force India longe dos pontos, enquanto a Sauber se viu enfraquecida com o abandono precoce de Leclerc e a Williams continuar no seu calvário de pior equipe do campeonato, tomando duas voltas dos líderes.
A corrida de hoje não teve os emocionantes lances da semana passada em Hockenheim, mas a prova foi definida nos mínimos detalhes. Hamilton venceu sem ser incomodado com a ajuda decisiva do seu companheiro de equipe, abrindo ainda mais para Vettel. Porém, se o pit-stop de Vettel tivesse ocorrido de forma natural, a corrida poderia ter uma desenrolar bem diferente e uma briga interessante no final. Deixa pra próxima!
sábado, 28 de julho de 2018
Inversão de favoritos
Conhecendo a capacidade de Lewis Hamilton na chuva, a pole de número 77 do inglês na pista encharcada de Hungaroring parece ter sido um resultado meramente normal na F1 atual. Porém, olhando o contexto do final de semana húngaro, o melhor tempo de Hamilton debaixo de muita chuva foi uma baita zebra num final de semana onde a Ferrari sempre foi bem mais rápida, trazendo consigo não a Mercedes, mas a Red Bull, que literalmente naufragou na chuva.
A chuva demorou a vir em Hungaroring a ponto dos melhores tempo do Q1 terem sido feitos com os pneus slicks, mas já pingava desde antes da luz verde. Como é comum nesse tipo de situação, a chuva trouxe algumas surpresas e no Q1 ficaram o elogiado Charles Leclerc e a dupla da Force India. Numa crise inimaginável, a Force India entrou em processo de falência ontem à noite e Vijay Mallya foi defenestrado da F1 após dez anos na categoria. Próximo de ser deportado, Mallya deixou sua equipe à míngua e esperando por um comprador, que pode ser a Mercedes, Michael Andretti ou Lawrence Stroll, deixando uma pulga atrás da orelha de todos os seus integrantes, acabando por refletir na performance na pista.
O Q2 começou com todo mundo com pneus slicks, menos Vettel. Ainda na volta de aquecimento a chuva, acompanhada de raios, veio forte e o alemão deu muita sorte por estar com os pneus apropriados naquele momento, ficando com o melhor tempo com certa facilidade, se garantindo no Q3. Como sempre ocorre nessas situações, estar na hora certa da pista faz muita diferença e Alonso, Ricciardo e Hulkenberg não souberam aproveitar bem a situação, ficando no Q2. A Red Bull errou duplamente com o australiano. No Q1, inventou pneus macios para Daniel e ele quase ficou de fora do Q2. Na segunda sessão, vacilou novamente no timing, deixando Ricciardo com cara de brabo nos boxes. Alonso perdeu uma bela oportunidade de ficar no top-10, enquanto Hulkenberg lamentava a chance de brilhar, principalmente com seu companheiro de equipe Sainz tendo feito uma bela apresentação na chuva.
O momento de Vettel no Q2 foi seu melhor no sábado. Com todos devidamente calçados com pneus de pista molhada, o alemão não foi páreo nem para Raikkonen, que ponteou a maior parte do Q3, mas foi superado no final pela dupla da Mercedes, que vinha tendo um final de semana discreto, mas Hamilton soube usar seu talento sobre-humano para conseguir superar Bottas na volta final e deixar a primeira fila de amanhã prateada. Vettel parece ainda tendo que se recuperar do seu erro na pista úmida semana passada e não esteve muito confiante hoje com piso molhado. Verstappen, considerado um ás com pista molhada, se viu superado por Sainz e Gasly, com a Toro Rosso vendo seus dois carros no Q3.
Semana passada, o sábado foi de Vettel e o domingo de Hamilton, ao contrário do que havia acontecido na Inglaterra. Com o tempo instável em Budapeste, além da conhecida dificuldade de se ultrapassar em Hungaroring, amanhã teremos um quadro sem favoritos claros, onde uma inversão poderá acontecer. Um belo quadro nessa F1 atual, diga-se.
quinta-feira, 26 de julho de 2018
História: 20 anos do Grande Prêmio da Áustria de 1998
As primeiras corridas da temporada 1998 indicavam uma espécie de passagem de bastão, com a McLaren tomando o lugar da Williams como o melhor carro disparado da F1. Mika Hakkinen, que até a penúltima corrida de 1997 não tinha vencido sequer uma vez na F1, tomou gosto pela vitória e liderava a McLaren no que parecia ser uma dobradinha parecida com de dez anos antes, quando a McLaren só perdeu uma corrida em dezesseis provas. Porém, Michael Schumacher queria pagar sua dívida com a torcida da Ferrari. Quando aportou em Maranello, o alemão prometeu vencer um título em até três anos e 1998 seria a temporada. O domínio da McLaren, que chegou a colocar uma volta em todo o pelotão na primeira etapa do ano, não esmoreceu a determinação do alemão e com muito trabalho e, principalmente, talento, Schumacher foi equilibrando a temporada e com três vitórias consecutivas, onde Michael soube aproveitar todas as chances que lhe apareceram, o alemão da Ferrari se aproximava no campeonato e o domínio da McLaren parecia estar por um fio.
No circuito de A1 Ring, os pilotos da McLaren dominaram os treinos livres, mas tudo parecia conspirar contra, pois uma chuva leve começou a cair durante a classificação. Os pilotos saíram com pneus biscoito, mas a pista logo estaria bem melhor e a classificação seria decidida na base da sorte de estar na pista na hora certa. E o sorteado pela Sra. sorte foi Giancarlo Fisichella, um dos últimos a receber a bandeirada. Era a primeira pole do italiano de 25 anos e para comprovar o quão maluca havia sido a classificação na Áustria, Jean Alesi completava a primeira fila com sua Sauber. A segunda fila era mais 'normal' com Hakkinen e Schumacher, enquanto Barrichello e Salo continuavam com a surpresa. Se Fisichella teve a sorte de ficar com a pole, seu companheiro de equipe Wurz foi apenas 17º, enquanto Coulthard era um pouquinho melhor, conseguindo apenas a 14º posição.
Grid:
1) Fisichella (Benetton) - 1:29.598
2) Alesi (Sauber) - 1:30.317
3) Hakkinen (McLaren) - 1:30.517
4) M.Schumacher (Ferrari) - 1:30.551
5) Barrichello (Stewart) - 1:31.005
6) Salo (Arrows) - 1:31.028
7) Frentzen (Williams) - 1:31.515
8) Irvine (Ferrari) - 1:31.651
9) R.Schumacher (Jordan) - 1:31.917
10) Panis (Prost) - 1:32.081
O dia 26 de julho de 1998 amanheceu com um belo sol de verão em Zeltweg, indicando que as surpresas na classificação logo perderiam espaço para as duplas de McLaren e Ferrari. Porém, com tantos pilotos largando em posições pouco usuais, a largada acabou sendo caótica. Hakkinen conseguiu largar muito bem e imediatamente ultrapassou Alesi, colocando por dentro de Fisichella na primeira curva para assumir a liderança da corrida. Salo larga muito mal, enquanto Panis ficou parado com a embreagem quebrada, mas não seria o último abandono da primeira volta. Mais atrás, Takagi perdeu o controle do seu Tyrrell na freada da primeira curva e acaba tocando em Tuero e Herbert, mas felizmente os dois atingidos permanecem na corrida, o que não era o caso do japonês. A confusão continuaria na freada da curva 3, quando Pedro Paulo Diniz bate no seu companheiro de equipe Salo, fazendo-o rodar. Quando tentava se recuperar, Salo acabou batendo em Coulthard.
Com tantos acidentes, o safety-car entrou na pista. Schumacher ultrapassara Fisichella antes da entrada do safety-car, enquanto Coulthard vai aos boxes trocar a asa dianteira. A corrida foi reiniciada na quarta volta e imediatamente Schumacher partiu para cima de Hakkinen, que se defendeu muito bem. O alemão tentou outra manobra, mas acabou saindo da pista e re-ultrapassado por Fisichella. Schumacher estava com uma gana descomunal vinte anos atrás e após ultrapassar Fisichella novamente de forma agressiva, partiu para cima de Hakkinen mais uma vez. Mika sabia que segurar Schumacher naquela altura do campeonato era muito importante psicologicamente e por isso, ele resistia bravamente. Os dois corriam num ritmo alucinante e marcavam volta mais rápida em cima de volta mais rápida, batendo o recorde da pista, mesmo que todos esperassem que os recordes demorariam a cair após a mudança de regulamento em 1998. Porém, o ritmo forte dos dois traria dividendos. Na volta 17, Schumacher, correndo no limite, saiu da pista da curva Rindt e ao bater na grama, a asa dianteira da Ferrari quebrou. Para piorar, o incidente aconteceu na última curva, fazendo Schumacher fazer uma volta bem lenta antes de ir aos boxes trocar sua asa dianteira. Schumacher retornou à pista em último, mas haviam esperanças. A diferença de McLaren e Ferrari para as outras equipes era simplesmente grande demais. Coulthard, que havia relargado em último, já aparecia em quarto depois de apenas 19 voltas.
Na volta 21 começava a primeira rodada de paradas e o segundo colocado Fisichella foi o primeiro a visitar os boxes. A parada do italiano foi normal e o piloto da Benetton voltou à pista bem na frente de Alesi. Os dois fizeram uma das retas lado a lado e acabaram se tocando na freada, acabando com a corrida dos dois ocupantes da primeira fila. Não era o fim de corrida que Fisichella e Alesi imaginavam. Hakkinen liderava com tranquilidade e quando se preparava para colocar uma volta num grupo de retardatários, que incluía Schumacher, o finlandês foi aos boxes fazer sua única parada na volta 34. Irvine e Coulthard vinham atrás de Hakkinen e quando Irvine parou primeiro, Coulthard marcou a volta mais rápida para emergir na frente de Eddie, formando uma dobradinha da McLaren. Schumacher mantinha a gana das primeiras voltas e fazia ultrapassagens sucessivas. Após a segunda parada do alemão na volta 42, ele já vinha em sétimo. Michael ultrapassou Ralf e com as paradas de Hill e Wurz, o alemão da Ferrari assumia o quarto lugar. Irvine ainda tentou um ataque sob Coulthard nas voltas posteriores as paradas deles, mas assim que Schumacher ficou atrás do irlandês, a vantagem de Irvine de 15s foi se esvaindo numa clara ordem de equipe, que foi consumada quando faltavam menos de três voltas para o final. Mika Hakkinen vencia pela quinta vez na temporada e a forma como segurou um impetuoso Schumacher nas primeiras voltas mostrava que o piloto da McLaren não cederia fácil sua primeira posição no campeonato. Mika queria o título!
Chegada:
1) Hakkinen
2) Coulthard
3) M.Schumacher
4) Irvine
5) R.Schumacher
6) Villeneuve
quarta-feira, 25 de julho de 2018
Que pena
Sergio Marchionne substituiu Luca di Montezemolo como presidente da Fiat e da Ferrari há alguns anos e sem perder muito tempo, foi efetivando mudanças para fortalecer essas duas marcas icônicas. Apaixonado por F1, Marchionne rapidamente começou a atuar dentro da equipe, mudando chefes para voltar a ganhar. Como todo capo da Ferrari, Marchionne sempre se preocupou mais no bem-estar da equipe do que no panorama geral da F1 e seguindo uma espécie de tradição, ameaçou tirar a Ferrari da categoria se as coisas não acontecessem ao seu feitio. A notícia do afastamento de Marchionne no sábado tinha mais jeito de demissão sumária, mas infelizmente esse não era o caso. Fumante inveterado, Marchionne desenvolveu um câncer no pulmão e ao fazer uma intervenção cirúrgica no ombro, consequência da sua grave doença, o presidente da Ferrari entrou em coma e acabou falecendo no dia de hoje. Uma notícia chocante pela rapidez com que um importante homem da fábrica automobilística nos deixou.
terça-feira, 24 de julho de 2018
História: 25 anos do Grande Prêmio da Alemanha de 1993
Desde o título de Nigel Mansell no ano anterior, a F1 vivia um drama com o domínio avassalador da Williams e seu carro com uma tecnologia embarcada nunca antes vista. Muitos criticavam a F1 de que a eletrônica estava se tornando mais importante do que o piloto e não haviam dúvidas de que a Williams era a equipe que melhor dominava a eletrônica. E por isso dominava a F1. O recém-empossado presidente da FIA Max Mosley impôs uma ordem em que proibia a suspensão ativa com efeito para a corrida seguinte à Alemanha, na Hungria. Por trás de toda essa confusão, o presidente da Ferrari Luca di Montezemolo pressionava a FIA para acabar com as ajudas eletrônicas unicamente porque a Ferrari ainda não dominava esse quesito, bem ao contrário das equipes inglesas, que ficaram furiosas com decisão de Mosley. Advogado astuto, Mosley anunciou poucos dias antes da corrida alemã que se houvesse unanimidade, essa decisão não valeria. Bernie Ecclestone reuniu os chefes de equipe e decidiu-se que as ajudas eletrônicas permaneceriam até o final do ano, mas em 1994 elas seriam proibidas.
Com tanta confusão fora da pista, quase que o público que acompanhava a F1 se esqueceu que haveria uma corrida no tradicional palco de Hockenheim. Demonstrando o porquê tanta preocupação com a competitividade da F1 de vinte e cinco anos atrás, a Williams marcou mais uma dobradinha, Prost marcando sua nona pole, com o terceiro colocado Schumacher quase 1s atrás. Senna completava a segunda fila. A Ligier demonstrava a força do motor Renault num circuito onde a potência era tudo ao ficar com a terceira fila.
Grid:
1) Prost (Williams) - 1:38.748
2) Hill (Williams) - 1:38.905
3) Schumacher (Benetton) - 1:39.580
4) Senna (McLaren) - 1:39.616
5) Blundell (Ligier) - 1:40.135
6) Brundle (Ligier) - 1:40.855
7) Patrese (Benetton) - 1:41.101
8) Suzuki (Footwork) - 1:41.138
9) Berger (Ferrari) - 1:41.242
10) Alesi (Ferrari) - 1:41.304
O dia 25 de julho de 1993 amanheceu chuvoso em Hockenheim, mas logo o clima mudaria e a corrida seria realizada debaixo de muito sol e calor. No warm-up, ainda com pista molhada, o veterano Derek Warwick sofreu um acidente assustador quando tocou em Badoer e capotou seu Footwork. Os pilotos da Ferrari foram ajudar o inglês, que aparentemente estava bem, mesmo que demorasse a sair do seu carro. Os médicos aconselharam Warwick ficar de fora da prova, mas o inglês largou mesmo assim. Nas arquibancadas, o público alemão lotou Hockenheim com uma única esperança: ver Schumacher vencer. Conta a lenda que Bernie Ecclestone sempre sonhou que um grande piloto alemão surgisse e Schumacher parecia ser o sonho de Bernie se tornando realidade. Como já estava virando tradição em 1993, Prost largou muito mal e foi ultrapassado por Hill e Schumacher. Senna colocou por dentro, mas Prost resistiu. Os dois gênios cruzaram a primeira reta lado a lado, com Prost tendo a preferência na freada. Senna ainda tenta uma manobra, mas acaba se dando mal.
O brasileiro roda e fica vendo todo o grid passar por ele, felizmente sem atingi-lo. Porém, Senna teria que fazer uma corrida de recuperação vindo de último. Na segunda chicane, Brundle perde a freada e quase bate em Prost, que mostrou grande reflexo em evitar o acidente e ainda manter sua terceira posição, enquanto Brundle e Blundell vinham logo a seguir. Rapidamente Prost encosta em Schumacher, efetuando a ultrapassagem na sexta volta, enquanto Michael Andretti toca em Berger e abandona. Com problemas no freio, Hill não é páreo para Prost e é ultrapassado pelo companheiro de equipe ainda na oitava volta, enquanto Senna não precisou mais do que dez voltas para subir para a oitava posição! O corte da segunda chicane curta à Prost e Brundle uma discutida punição, que ambos vão cumprir logo em seguida. O comentário geral era que a FIA queria manter o campeonato aberto de forma artificial. Depois da corrida, Prost estava furioso com a sua punição! Hill liderava à frente de Schumacher, que perseguia o inglês de perto, aumentando as esperanças de um milagre em sua casa.
Prost voltava de sua punição em sexto e imediatamente atropela seus adversários em ultrapassagens até fáceis, enquanto Senna parava sua recuperação atrás do sétimo colocado Berger. Na volta 17 Schumacher frita seu pneu e para evitar maiores problemas, o alemão antecipa seu pit-stop, retornando à corrida em quarto, mas logo ultrapassando Blundell para ficar em terceiro. Prost já era segundo, mas 22s atrás de Hill, que apenas controlava sua liderança. Blundell faz sua parada e volta atrás de Berger, iniciando uma espetacular briga por posição, com ambos trocando várias vezes de posição numa luta de tirar o fôlego! Quando Blundell finalmente se estabelece na frente de Berger, o austríaco acabou alcançado e ultrapassado por Senna. Com pneus mais novos, Blundell neutraliza qualquer ataque de Senna, enquanto Schumacher faz sua segunda parada e marca a volta mais rápida da corrida logo em seguida. Porém, a corrida fica estática em seu final e parecia que finalmente Damon Hill venceria na F1. Quando faltavam duas voltas para o fim, Hill apareceu com o pneu traseiro esquerdo estourado. Para piorar, o pneu estourou ainda no início da volta de um circuito com mais de seis quilômetros de extensão. Um golpe cruel para Hill, que viu Prost assumir a ponta no final, com Schumacher entusiasmando o público alemão com o seu segundo lugar. Blundell subiu ao pódio pela segunda vez em 1993 e Senna teve um problema no pneu nas voltas finais, mas ao contrário de Hill, o problema de manifestou um pouco antes da entrada do boxe. Ayrton ainda salvou um bom quarto lugar, na frente de Patrese e Berger. Era a quarta vitória consecutiva de Alain Prost em 1993 e a sua 51º na carreira. O que ninguém poderia imaginar era que seria também a última vitória do Professor na F1.
Chegada:
1) Prost
2) Schumacher
3) Blundell
4) Senna
5) Patrese
6) Berger
História: 30 anos do Grande Prêmio da Alemanha de 1988
A vitória arrebatadora de Ayrton Senna em Silverstone debaixo de muita chuva tinha trazido algumas marcas dentro da McLaren. Enquanto Senna se enchia de ainda mais moral, Prost, que tinha decidido abandonar voluntariamente a corrida logo após tomar uma volta de Senna, foi bastante criticado na F1, mas Alain não esperava críticas tão ferrenhas de seu país e por isso quando ele chegou à Hockenheim, ele não falava com boa parte da imprensa do seu país. Dentro da pista, Prost sabia que era imperativo dar o troco em Senna após tamanha humilhação em Silverstone e o velocíssimo circuito de Hockenheim era um palco perfeito para que a McLaren continuasse a esmagar a concorrência. Outro fator era que Senna e Prost estavam empatados em número de vitórias e se Senna vencesse, pela primeira vez no ano estaria em vantagem sobre Prost no quesito vitórias, embora muitos já achavam que o melhor piloto de 1988 era mesmo Ayrton.
Como esperado, a McLaren humilhou a concorrência, com Senna conquistando mais uma pole com uma vantagem superior a 1s do primeiro carro não-McLaren. Pressionado pela boa fase do companheiro de equipe, o máximo que Prost consegue é ficar menos de três décimos de Senna. A Ferrari ficou com a segunda fila, mas seus pilotos reclamavam do alto consumo de combustível durante os treinos, enquanto Lotus e Benetton vinham logo a seguir, mas 3s atrasados ante a McLaren. Para quem reclama de falta de competitividade na atualidade, o grid em Hockenheim mostrava que trinta anos atrás havia muita qualidade no grid. Mas pouca competitividade...
Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:44.596
2) Prost (McLaren) - 1:44.873
3) Berger (Ferrari) - 1:46.115
4) Alboreto (Ferrari) - 1:47.154
5) Piquet (Lotus) - 1:47.681
6) Nannini (Benetton) - 1:48.208
7) Capelli (March) - 1:48.703
8) Nakajima (Lotus) - 1:48.781
9) Boutsen (Benetton) - 1:48.837
10) Gugelmin (March) - 1:49.511
O dia 24 de julho de 1988 amanheceu nublado e abafado em Hockenheim, um clima bem distinto do clima ensolarado e de muito calor que marcaram os treinos. Faltando 45 minutos para a largada uma pancada de chuva deixou a pista encharcada e a direção de prova liberou os carros por 15 minutos para avaliar a pista, que estava especialmente molhada no setor da floresta. Faltando cinco minutos para a largada a chuva cessou, inspirando alguns pilotos a optarem pelos pneus slicks, dentre eles, Nelson Piquet, que estava completando dez anos de F1 naquele final de semana. O que esperava o tricampeão? "Que Senna e Prost batam na primeira volta e deixem a corrida para mim". Quando a largada foi dada, os planos de Prost e Piquet foram, literalmente, por água abaixo. Senna largou muito bem, enquanto Prost caía para quarto. Com pneus slicks numa pista muito molhada, Piquet rodou ainda na primeira volta e ao bater de traseira na barreira de pneus a sua corrida estava terminada.
Senna imprimia um ritmo fortíssimo e rapidamente abria uma bela lacuna para Berger e Nannini, que estavam separando as duas McLarens. A chuva não era tão forte como em Silverstone, mas era o suficiente para tirar Prost de sua zona de conforto. Quando a pista começou a apresentar um trilho seco, Prost melhorou seu ritmo e na volta 8 ele ultrapassou Nannini na primeira chicane. Quatro voltas depois Prost assumia a segunda posição e exatamente 12s atrás de Senna, enquanto a chuva voltava, porém, Prost se tornava o homem mais rápido na pista em sua captura pela liderança. As condições da pista estavam mistas na medida em que a corrida se aproximava de sua metade, com um trilho seco bem nítido, mas ainda com muitas poças d'água. Berger (3º) e Alboreto (5º) reduziam o seu ritmo por causa do consumo excessivo do motor Ferrari, enquanto os líderes já ultrapassavam os retardatários.
Na volta 35 Prost rodou sozinho na saída da segunda chicane e mesmo permanecendo na pista e mantendo sua posição, seus pneus ficam danificados. Era o fim de esperança de vitória para Prost. Com sua vantagem aumentada, Senna passou a administrar sua liderança nas voltas finais. Nannini tentou um ataque sobre Berger nas voltas finais, mas o italiano tem problemas em seu Benetton e fica muito tempo parado nos boxes. O austríaco levou um grande susto quando colocava uma volta em Ghinzani e acabou com as quatro rodas na grama molhada, mas sem maiores prejuízos para Berger. Numa corrida sem maiores arroubos de emoção, Senna vencia pela quinta vez na temporada e desempatava com Prost, que recebia a bandeirada em segundo, com Berger, Alboreto, Capelli e Boutsen completando os seis primeiros. Com a temporada tendo ultrapassado sua metade, a McLaren já tinha batido o recorde de vitória em uma única temporada e estava com 100% de aproveitamento. Prost ainda liderava o campeonato, mas era Senna quem estava na liderança moral.
Chegada:
1) Senna
2) Prost
3) Berger
4) Alboreto
5) Capelli
6) Boutsen
segunda-feira, 23 de julho de 2018
Figura(ALE): Lewis Hamilton
Escolher esse lado da coluna foi uma exercício fácil, até pela obviedade. Lewis Hamilton novamente deu mostras de sua genialidade em outra corrida fenomenal rumo à uma vitória improvável. Quando o final de semana começou, a Ferrari parecia ligeiramente superior a Mercedes, que corria em casa, já que a sede da montadora fica próxima de Hockenheim. Hamilton estava mordido por ter perdido uma vitória certa em sua casa para Vettel, que fez uma comemoração esquisita no pódio, algo que Lewis diria que não gostou muito por ter achado debochada. Porém, tudo pioraria bastante quando Hamilton passou por cima de uma zebra na curva um no final do Q1 e seu carro parou de funcionar. Um vazamento hidráulico tinha acabado com a classificação de Hamilton ainda no começo, para desespero do inglês que, primeiro, tentou empurrar seu carro e depois se ajoelhou claramente desapontado ao lado do seu carro, como se estivesse chorando. Hamilton sabia que a situação do campeonato iria piorar bastante com ele largando tão atrás, enquanto Vettel confirmava a primeira posição no grid. Pela segunda corrida consecutiva, Hamilton teria que sair do pelotão intermediário rumo à ponta da corrida. Em Silverstone Lewis conseguiu um segundo lugar após ser tocado por Raikkonen na primeira volta. Com o abismo entre as equipes top-3 e as restantes, o trabalho de Hamilton não foi tão difícil nas primeiras voltas. Sabendo que era uma luta perdida, os próprios piloto do pelotão intermediário abriam caminho para a Mercedes de Hamilton, que rapidamente se achou na quinta posição. Era claramente o limite do inglês numa corrida sem nenhuma intempérie. Porém, as nuvens negras sobre o circuito de Hockenheim indicavam que a corrida poderia mudar a qualquer momento. Hamilton tentou dar o pulo do gato e errou por apenas duas voltas, quando retardou ao máximo seu pit-stop e colocou os pneus hipermacios um pouco antes da chuva. Piloto mais rápido da pista, Hamilton rapidamente alcançou a dupla finlandesa quando Vettel, já sabendo do ritmo avassalador de Lewis, acabou errando e batendo no Estádio. O safety-car resultante novamente mudou tudo. Raikkonen e Bottas foram aos boxes trocar pneus. A Mercedes chamou Hamilton, mas quando viu Kimi ficando mais uma volta na pista e Bottas optando pelo pneu slick hipermacio, a Mercedes mandou Lewis ficar na pista de última hora, fazendo o inglês sair pela grama para não entrar nos boxes (por pouco Hamilton não foi punido pela manobra). Com Bottas e Raikkonen com os mesmos pneus, mesmo que mais novos, e a pista cada vez mais seca, Hamilton não seria mais alcançado, mesmo que tivesse uma pequena ajuda da Mercedes, que pediu a Bottas ficar em segundo. Essa vitória na casa da Mercedes e, principalmente, de Vettel pode ser decisiva no psicológico numa disputa tão acirrada e sem favoritos. Um grande ponto a favor de Hamilton após duas semanas difíceis, onde Lewis falou besteira depois da corrida em Silverstone (depois pediu desculpas...) e o inglês começava a ficar pressionado por uma Ferrari cada vez mais forte. Esse golpe dado no queixo de Vettel ainda não pode ser medido, mas Hamilton agora está por cima no campeonato.
Figurão(ALE): Sebastian Vettel
Escolher o derrotado em Hockenheim foi um exercício bem fácil de se fazer pela obviedade. Vettel estava com a faca quente e o queijo na mão para disparar no campeonato e quebrar o tabu de jamais ter vencido em Hockenheim na F1. A volta do Grande Prêmio da Alemanha viu uma Ferrari muito forte e um Vettel faminto para vencer na frente dos seus torcedores. Após uma volta incrível de Bottas no Q3, Vettel conseguiu uma volta ainda mais espetacular já com o cronometro zerado para ficar com a pole, para êxtase da torcida alemã que lotava as arquibancadas. Largando da pole e sem seu rival Hamilton por perto, tudo o que Vettel queria era uma corrida normal e tranquila. As primeiras voltas foram assim. Sebastian largou bem e administrava a vantagem sobre Bottas de forma natural, sem maiores arroubos e tudo levava a crer que o alemão da Ferrari iria vencer pela segunda corrida consecutiva. Porém, os céus sobre Hockenheim indicavam que a tranquilidade estava para terminar. A chuva era anunciada a todo momento, mas ela teimava em não vir. E Vettel torcia para que ela não viesse, mas bem no hairpin a chuva se manifestou pela primeira vez. Fraca e rápida, mas suficiente para deixar a pista úmida. O panorama da corrida via Raikkonen ser ultrapassado por Bottas e Hamilton alcançando ambos. Vettel teria que dar uma resposta. O alemão aumentou seu ritmo... para bater na sessão do Estádio, bem na frente onde fica boa parte da torcida. Vettel xingou, socou o volante e saiu do carro chutando a brita. A esperada vitória em Hockenheim estava irremediavelmente perdida e tudo pioraria quando Hamilton fez outra corrida estupenda vindo do pelotão de trás para vencer uma corrida contra todas as probabilidades, reassumindo a liderança do campeonato. Bem no momento em que a Ferrari começava a se mostrar ligeiramente superior à Mercedes, Vettel estraga o final de semana dos italianos (já não muito agradável pela doença e afastamento do presidente Sergio Marcchione) por um erro inteiramente seu. E na frente de sua torcida, que ficou decepcionada com seu erro. Vettel sempre se mostrou um piloto forte mentalmente, mas esse golpe forte ainda terá que ser mensurado num campeonato tão equilibrado e cheio de reviravoltas como esse.
domingo, 22 de julho de 2018
O troco fora de casa
Como num campeonatos de mata-mata, o fator casa não se fez muito presente nessa boa briga entre Vettel e Hamilton pelo título. Na Inglaterra Vettel venceu muito pelos erros da Mercedes e a corrida turbulenta de Hamilton. Duas semanas depois, na Alemanha, Hamilton deu o troco em Vettel, que estava tendo uma corrida até tranquila rumo à vitória até ser o único abandono pela pista úmida pela chuva que caiu em Hockenheim. Sebastian estava com a faca e o queijo na mão para disparar no campeonato em duas corridas onde Hamilton teve que sair de trás, mas saiu de Hockenheim com uma bela desvantagem nas costas. Essa briga tão polarizada entre Vettel e Hamilton trouxe de volta à F1 algo que a categoria reclama, mas que sempre ocorreu: as ordens de equipes explícitas.
O novo circuito de Hockenheim sempre trouxe polêmica por causa do fim do tradicional traçado cheio de retas longas no meio da Floresta Negra, culminando com o travado setor do Estádio. Hockenheim foi cortado ao meio em 2002, derrubando várias árvores e destruindo o tradicional setor da floresta. Os tradicionalistas reclamam e a mãe de Tilke, autor da reforma, é xingada. Contudo, o antigo traçado de Hockenheim era tratado como 'fácil demais' pelos pilotos e nem sempre as corridas eram boas. Muita gente lembra da famosa vitória de Rubens Barrichello em 2000, mas a verdade era que as longas retas de Hockenheim também provocava longos bocejos. A nova pista não tem a identidade da antiga, mas as corridas melhoraram desde então e a de hoje não foi exceção, mesmo que a excitação trazida hoje foi pelo mesmo motivo que tornou a corrida de dezoito anos atrás tão lembrada: a instabilidade climática.
Com um carro superior e muito motivado para quebrar o tabu de nunca ter triunfado em Hockenheim, Vettel era o grande favorito para vencer a prova e a largada limpa corroborava para isso. O alemão administrava a corrida muito bem, não deixando que Bottas se aproximasse, enquanto mantinha Raikkonen à distância. Não demorou mais do que quinze voltas para Hamilton atravessar o pelotão da 14º para a 5º posição, com os pilotos do pelotão intermediário nem tentando dificultar alguma coisa para o piloto da Mercedes, pois sabiam de antemão que era uma luta perdida. O único ponto de atenção era a possível chuva, que as nuvens pesadas no horizonte poderiam trazer. Os pilotos retardavam ao máximo suas paradas esperando a chuva que teimava em não vir. Raikkonen fez o contrário. Preso atrás de Bottas, antecipou sua parada e com pneus macios novos, passou a ser o mais rápido na pista. Porém, isso acabou trazendo problemas para a Ferrari, pois o ritmo de Kimi era tão bom, que quando os líderes pararam, ele estava na liderança da corrida, na frente de Vettel. Como Fernando Alonso oito anos atrás, Vettel reclamou, esperneou e chorou pelo rádio. Raikkonen, com um pé fora da Ferrari, se fazia de desentendido. A frase 'Kimi, Seb is faster than you' não veio, mas Kimi foi obrigado a Vettel passar. Com pneus macios, Hamilton foi o último a parar e duas voltas depois... a chuva veio! Assim como em 2000, a chuva veio em determinadas parte da pista e não com a força esperada. Mas serviu para mudar o rumo da corrida e do campeonato.
Vettel realmente abriu bastante sobre Raikkonen, que acabou ultrapassado por Bottas e ambos eram alcançados por Hamilton. Os pilotos do pelotão intermediário foram mudando de estratégias, colocando pneus intermediários e de chuva forte ou até mesmo arriscando ficar com os slicks. Leclerc e Ocon rodaram, enquanto a corrida se tornava uma loteria nas voltas finais. Vettel estava com 9s de frente quando apareceu espetado no muro no setor do Estádio, bem na frente da torcida alemã. O incrível é que muita gente vibrou, numa torcida pela Mercedes, em cena que lembrou um pouco o abandono do italiano Patrese na Itália (Ímola) em 1983, mas como a Ferrari assumia a ponta, os tifosi vibraram. Porém, 35 anos depois a maioria da torcida lamentou o imenso erro de Vettel num momento decisivo do campeonato. Enquanto xingava e batia no volante em sua raiva e impotência, Vettel viu a sua situação ficar ainda pior. O safety-car resultante do seu acidente, mais a chuva que não vinha forte, fez com que muitos voltassem aos pits. Raikkonen e Bottas colocaram pneus slicks, mas hipermacios, os mesmo que Hamilton tinha, que ficou na pista e assumiu a ponta da corrida. Foi então que veio a segunda ordem de equipe do dia. Com pneus bem mais novos, Bottas partiu para cima de Hamilton, mas logo veio a frase 'Hold your position' para pôr ordem na casa. Mesmo ameaçado pela chuva, Hamilton venceu pela 66º vez, mas essa foi uma das mais especiais pelo fato de ter sido numa situação que parecia perdida.
Pela segunda corrida consecutiva, Lewis Hamilton mostrou uma pilotagem espetacular para sair do final do pelotão para o pódio, com uma segunda posição na sua casa e agora dando o troco em Vettel na casa do alemão. Num momento em que a Ferrari parecia estar mais forte, Hamilton saiu de uma situação adversa para uma vitória redentora, onde ele virou mais uma vez o campeonato e se coloca forte na luta pelo pentacampeonato, que parece bipolarizada entre ele e Vettel, o grande derrotado do dia. As ações de Ferrari e Mercedes hoje com os seus pilotos finlandeses deu uma mostra de como há, por mais que neguem, uma diferença entre primeiro e segundo pilotos nas duas equipes. Bottas completou a dobradinha da Mercedes em casa, enquanto Raikkonen completou o pódio de uma corrida em que ele se colocou com chances de vencer. A Red Bull foi uma nada brilhante terceira força. Verstappen chegou a atacar Raikkonen no início, mas ficou apenas rondando a briga pelo pódio. O holandês foi um dos que arriscaram pelos pneus intermediários, mas a tática foi errada e holandês foi mesmo um comportado quarto colocado. Ricciardo largou com os pneus mais duros, demorou para atravessar o pelotão mesmo largando logo atrás de Hamilton, mas acabou abandonando por problemas de motor. Ironia das ironias, pois o australiano largou lá atrás por ter que trocar de motor...
O animado pelotão intermediário teve como 'vencedor' Nico Hulkenberg, que usou o conhecimento da pista para conseguir um bom quinto lugar. Porém, Kevin Magnussen passou a maior parte do tempo na posição de líder dos pequenos, mas o danês acabou se atrapalhando no momento da chuva e saiu da zona de pontuação, algo que Grosjean ainda teve tempo de alcançar. Pérez teve uma parada ruim, mas ainda conseguiu se manter na frente de Ocon, que rodou no momento que a chuva estava mais presente. Alonso, Leclerc e Gasly arriscaram tudo quando a chuva veio e acabaram sem nada. Seus companheiros de equipe foram mais pacientes e todos chegaram à frente, com Ericsson e Hartley marcando pontos. Nem em uma corrida complicada a Williams teve força para conseguir alguma coisa e viu seus dois pilotos abandonarem quase que simultaneamente.
A esperada chuva só veio mais forte bem no momento do pódio, em forma de uma tempestade que possivelmente suspenderia a prova ou, no mínimo, traria o safety-car. Numa temporada cheia de reviravoltas, o regresso do Grande Prêmio da Alemanha no já não tão novo Hockeheim foi o símbolo de um ano completamente imprevisível e cheio de surpresas. Quando todos esperavam que Vettel vencesse em casa e disparasse no campeonato, aconteceu exatamente o contrário. Hamilton e seu cabelo de gosto duvidoso conseguiu uma façanha e tanto ao fazer duas espetaculares corridas de recuperação consecutivas. Agora é o inglês que lidera com folgas, mas da forma como está o campeonato, ninguém deve apostar nada até o final.
sábado, 21 de julho de 2018
Quem joga em casa?
Quando um grande piloto alemão era um sonho para a F1, o Grande Prêmio da Alemanha se destacava mais pela força de sua indústria e o sucesso de suas montadoras. Mercedes, Porsche e BMW tiveram sucesso ao longo dos anos, mas o torcedor alemão só teve alguém forte o suficiente para vencer corridas e títulos com Michael Schumacher já nos anos 1990. Mesmo com as dificuldades financeiras, o alemão pode torcer tanto para a uma montadora como para um piloto hoje em dia. Nico Rosberg resolveu usar a nacionalidade de sua mãe, mas foi criado em Mônaco e tinha fortes ligações com a Finlândia do pai Keke. Pelos laços com a classe trabalhadora, Sebastian Vettel sempre teve a preferência dos alemães, enquanto outra parte da torcida prefere a Mercedes, lembrando que a sede da marca fica relativamente próxima de Hockenheim.
Quem jogaria em casa afinal? Vettel de Ferrari ou Hamilton de Mercedes? As bandeiras vermelhas nas arquibancadas dava a clara sensação que Sebastian tinha o fator casa a seu favor e ele utilizou muito bem essa vantagem num circuito aonde não venceu ainda. A chuva forte presente no treino livre foi embora e Vettel confirmou o favoritismo da Ferrari com uma espetacular pole, derrotando por muito pouco um inspirado Valtteri Bottas. E onde estaria Hamilton? O inglês teve um problema hidráulico no Q1 e largará no final do pelotão, junto à Daniel Ricciardo, que irá trocar de motor. Com apenas quatro carros das equipes grandes na ponta, as médias se colocaram mais à frente, com a Haas ocupando a terceira fila, seguido pela Renault, Pérez e o cada vez mais impressionante Charles Leclerc. Mesmo com tantos desfalques na ponta, Alonso ficou de fora do Q3 e Sirotkin botou mais de meio segundo em Stroll. Sirotkin é um fora de série? Mais fácil crer na ruindade de Stroll...
Com Ricciardo e Hamilton largando no final do pelotão, a corrida promete com duas possíveis corridas de recuperação. Lá na frente, o líder do campeonato pode estender ainda mais sua vantagem sobre Hamilton.
sexta-feira, 20 de julho de 2018
História: 15 anos do Grande Prêmio da Inglaterra de 2003
Michael Schumacher voltava aos tempos de quando a Ferrari não tinha o melhor carro, quinze anos atrás. Como nos tempos em que corria atrás de Williams e McLaren, o alemão viu a Ferrari perder a vantagem que tinha em 2003 muito pelos pneus Michelin, mais adaptados ao forte calor daquele ano, dando a McLaren e, principalmente, a Williams uma vantagem sobre a Ferrari. Vindo de duas vitórias, a Williams era a grande favorita para o final de semana em Silverstone, mas a Ferrari contava com a notória instabilidade do clima inglês para a Bridgestone poder ter alguma vantagem sobre a rival Michelin.
Numa classificação realizada sobre clima ameno, a Ferrari conseguiu superar suas rivais e ficou com a pole, mas os italianos tiveram a sensação de que conseguiu a posição de honra com o piloto 'errado'. Rubens Barrichello, conhecedor de Silverstone desde seus tempos na F3 Inglesa, conseguiu uma emocionante pole, superando por muito pouco Jarno Trulli. Na segunda fila vinha os dois pilotos que dominaram as duas corridas anteriores, Ralf e Kimi. Quatro equipes diferentes nas quatro primeiras posições, numa demonstração do bom equilíbrio do campeonato de 2003, enquanto Michael Schumacher era apenas quinto, mais de meio segundo atrás do seu companheiro de equipe, numa cena rara de se ver. O Brasil teve uma boa classificação, com seus três pilotos ocupando posições no top-10, com um ameaçado Antonio Pizzônia conseguindo um décimo lugar.
Grid:
1) Barrichello (Ferrari) - 1:21.209
2) Trulli (Renault) - 1:21.381
3) Raikkonen (McLaren) - 1:21.695
4) R.Schumacher (Williams) - 1:21.717
5) M.Schumacher (Ferrari) - 1:21.867
6) Da Matta (Toyota) - 1:22.081
7) Montoya (Williams) - 1:22.214
8) Alonso (Renault) - 1:22.404
9) Villeneuve (BAR) - 1:22.591
10) Pizzônia (Jaguar) - 1:22.634
O dia 20 de julho de 2003 amanheceu com um clima ameno em Silverstone, fazendo com que a torcida inglesa lotasse o circuito, mesmo com o anfitrião Jenson Button largando em último. A Renault já tinha mostrado ter uma eletrônica muito superior às demais e isso afetava positivamente as largadas dos seus pilotos, fazendo com que a perca da pole de Barrichello por Trulli fosse favas contadas na largada. No apagar das luzes vermelhas, sem nenhuma surpresa, Trulli assumiu a ponta, mas Rubens não contava em ser ultrapassado também por Raikkonen.
A corrida começou morna, com os líderes andando próximos, mas sem se atacarem. Quando todos faziam contas de quando os líderes iriam parar pela primeira vez, a proteção de cabeça de Coulthard se soltou sem aviso e os destroços ficaram espalhados no meio da pista. Eram pedaços grandes a ponto de fazer a direção de prova mandar o safety-car para a pista na volta 6. A dupla da Toyota foi ao pit fazer suas paradas, enquanto os líderes permaneceram na pista e a relargada foi dada na volta 9. Logo Barrichello mostrou que estava num bom dia ao tomar a segunda posição de Raikkonen. Foi então que a cena que marcou aquela corrida aconteceu. Na volta 13, bem no meio da reta Hangar, um homem de kilt apareceu em meio aos carros com um cartaz. Os carros passaram ao lado do maluco e os pilotos devem ter se assustado com a cena bizarra. Se tratava do padre irlandês Cornelius Horan. Devidamente agarrado e preso, o safety-car foi a pista e os líderes aproveitaram para parar, proporcionando à Cristiano da Matta liderar algumas voltas na F1 logo em sua estreia na categoria. Na confusão de vários pilotos entrando nos pits, inclusive de mesma equipes, Michael Schumacher caiu para 14º e teria que fazer uma corrida de recuperação.
Na relargada, Cristiano se manteve firme na ponta, enquanto Panis segurava o pelotão atrás de si. Entre os líderes, Raikkonen ultrapassava Trulli e depois partiu para cima de Coulthard, que se aproveitou do maluco para voltar bem à corrida depois dos consertos em seu carro. Barrichello ultrapassa Trulli, trazendo a tiracolo Montoya, que se recuperava bem, enquanto Ralf Schumacher fazia mais uma parada e caía para as última posições. A família Schumacher não estava num bom dia, pois Michael não evoluía como esperado e ficava empacado atrás de Alonso. O conto de fadas de Cristiano durou treze voltas, o tempo em que liderou até voltar aos boxes na volta 30 para a sua segunda parada. Quando Coulthard parou, Barrichello assumiu a segunda posição, já que ultrapassara três voltas antes Trulli. Montoya fazia sombra à Barrichello e também deixou Trulli para trás, enquanto o bom trabalho de Da Matta refletia na sua bela sexta posição, bem na frente de M.Schumacher. Os líderes começam a segunda rodada de paradas, com Barrichello sendo o último a parar, tentando fazer o que hoje chamamos de 'undercut' em cima de Raikkonen. Rubens quase consegue seu objetivo, mas três voltas mais tarde, numa manobra sensacional, Barrichello assume a liderança da prova.
A corrida se assentou na medida em que a dupla da Toyota e Coulthard pararam pela terceira vez. Raikkonen andava próximo de Barrichello, mas o brasileiro da Ferrari estava iluminado e nada poderia detê-lo. Andando absolutamente no limite, Kimi acabou errando e Montoya aproveita o vacilo para assumir a segunda posição. Numa corrida sem brilho, Schumacher finalmente aparece ultrapassando Trulli, mas o máximo que consegue é um quarto lugar. Mesmo largando em último, Button faz uma bela corrida e aproveitando o abandono de Alonso, entra na zona de pontuação. Outro britânico a se destacar foi Coulthard, que ultrapassou Trulli nas últimas voltas para ser quinto. Como sempre, Trulli mostrava muita velocidade em classificações, mas vacilava em ritmo de corrida. Rubens Barrichello recebeu a bandeirada para, muito provavelmente, sua melhor exibição na longa passagem que paulista teve na F1. Barrichello foi indiscutivelmente o melhor piloto do dia, mas o fato de um maluco ter entrado na pista fazia com que Rubens tivesse uma estatística engraçada: toda vez que um maluco entrava na pista, Barrichello vencia! Horan foi preso, disse que queria chamar atenção para que todos lessem a bíblia e parecia entrar no folclore do esporte mundial, sendo esquecido logo depois. Infelizmente, um ano depois Horan apareceria nos holofotes mundiais ao invadir a maratona das Olimpíadas de Atenas e atrapalhar a medalha de ouro de Vanderlei Cordeiro de Lima. Se em Silverstone o Brasil saiu vencendo, um ano depois perderia amargamente...
Chegada:
1) Barrichello
2) Montoya
3) Raikkonen
4) M.Schumacher
5) Coulthard
6) Trulli
7) Da Matta
8) Button
quinta-feira, 19 de julho de 2018
Que pena...
Se já é difícil para um piloto conseguir o respeito nos dois lados do Atlântico, o que dizer atingir esse feito como chefe de equipe. Morris Nunn foi um dos poucos a faze-lo. Nunn correu vários anos na F3 como piloto antes de estrear como chefe de equipe na própria categoria de base, lhe dando a experiência necessária para subir à F1 em 1973. Numa época mais artesanal na F1, Nunn construiu a Ensign, uma das equipes mais carismáticas do pelotão intermediário da F1 nos anos 1970, revelando Patrick Tambay e Nelson Piquet. Quando a F1 se tornou cada vez mais uma categoria regida pelo dinheiro, o engenheiro inglês fechou sua equipe e se mudou para a América, fazendo seu nome na Indy. Nunn foi engenheiro de Emerson Fittipaldi na conquista do título e das 500 Milhas de 1989. Três anos depois, já conhecido como Mo Nunn, ele juntou forças com o ascendente chefe de equipe Chip Ganassi, formando uma parceria histórica na Indy. Foram quatro títulos consecutivos (1996, 97, 98, 99) com três pilotos diferentes (Jimmy Vasser, Alex Zanardi e Juan Pablo Montoya). De trato simples, mas com um toque genial, Nunn conseguiu o respeito de todos e ajudou a equipe Ganassi se tornar uma potência no automobilismo americano. Em 2000 Nunn voltou a ser chefe de equipe sem obter tanto sucesso. No ano seguinte Morris viu Zanardi sofrer o acidente que lhe custou as pernas com um dos seus carros. Após duas vitórias na IRL, Nunn abandonou as pistas no final de 2004 para curtir a aposentadoria. Infelizmente, um pneumonia abateu Morris Nunn, que nos deixou ontem perto de completar os 80 anos. Vindo de uma época em que os garagistas eram reis, Nunn conquistou o respeito na F1 e mesmo sendo 'rebaixado' a engenheiro nos Estados Unidos, foi tão ou mais respeitado na Indy. Uma verdadeira pena...
segunda-feira, 16 de julho de 2018
História: 35 anos do Grande Prêmio da Inglaterra de 1983
As cinco semanas de pausa entre a corrida no Canadá e em Silverstone fez com que as equipes tivessem bastante tempo para se preparem para iniciar a segunda metade da temporada de 1983. As três principais equipes daquele ano chegaram todas à Silverstone com novidades técnicas. A Brabham foi um pouco mais radical, mudando o lay-out do seu carro, invertendo o azul e branco do seu carro. A Lotus viu Gerard Ducarouge efetuar o pequeno milagre de projetar e construir um novo carro de F1 em cinco semanas, com o novo modelo 94T ficando pronto na segunda-feira anterior à corrida e praticamente sem ter feito nenhum teste. Porém, a grande novidade era a estreia da equipe Spirit, na verdade, um time cobaia para a estreia do novo motor Honda turbo na F1, que estava sendo testado antes da Williams assumir o motor japonês. O sueco Stefan Johansson, que corria pela Spirit na F2, também estrearia na F1 com a equipe e o motor estreante. A Honda chegou à Silverstone de forma discreta, com a Williams bastante interessada no que acontecia nos boxes da pequena equipe inglesa, pois Keke Rosberg ameaçava sair da Williams se não tivesse um motor turbo em 1984.
E o finlandês tinha toda razão em reclamar. Os motores aspirados não tinham a mínima chance contra os motores turbo até 150 cavalos mais potentes no rápido circuito de Silverstone. Na sexta-feira a Renault foi mais forte, mas a Ferrari superou problemas de arrefecimento e Arnoux marcou a pole com a incrível média de 244,571 km/h, mais de seis décimos na frente de Tambay. Prost ficou em terceiro, à frente de um incrível De Angelis, demonstrando a capacidade do novo Lotus. Mansell teve menos sorte. Seu carro não ficou pronto por problemas elétricos e ele largaria em 18ª com o Lotus antigo. Os dois Brabhams ficaram relegados à terceira fila, com Patrese na frente de Piquet. Rosberg usou uma asa traseira com ângulo quase zero para compensar a falta de velocidade do seu Ford V8. O bravo finlandês escorregava em todos as curvas, mas conseguiu apenas um décimo terceiro lugar, logo à frente de Johansson.
Grid:
1) Arnoux (Ferrari) - 1:09.462
2) Tambay (Ferrari) - 1:10.104
3) Prost (Renault) - 1:10.170
4) De Angelis (Lotus) - 1:10.771
5) Patrese (Brabham) - 1:10.881
6) Piquet (Brabham) - 1:10.933
7) Cheever (Renault) - 1:11.055
8) Winkelhock (ATS) - 1:11.687
9) De Cesaris (Alfa Romeo) - 1:12.150
10) Warwick (Toleman) - 1:12.528
O dia 16 de julho de 1983 amanheceu quente em Silverstone, o mesmo clima estranho aos ingleses que vinha acontecendo em todo o final de semana, numa onda de calor que fez a torcida lotar a velha base aérea. As equipes se preocupavam com os pneus e no warm-up a Michelin (Renault e Brabham) parecia ter uma clara vantagem sobre a Goodyear (Ferrari), mas a surpresa era ver Elio de Angelis liderar o aquecimento com um carro praticamente sem teste, enquanto Mansell finalmente teve seu carro pronto e largaria com ele mesmo sem conhece-lo. Na largada Tambay sai melhor do que Arnoux, com os dois pilotos da Ferrari contornando a primeira curva lado a lado, sem ninguém ceder espaço para ninguém, mas no fim foi Tambay que se sobressaiu. De Angelis largou muito mal e caiu para sétimo, enquanto Cheever ultrapassava Piquet.
As Ferraris lideravam, mas não tardou os primeiros colocados terem problemas. Logo na segunda volta De Angelis abandonou com seu Lotus pegando fogo, enquanto Cheever teve que recolher na terceira volta com um problema no motor. Os cinco primeiros andavam muito próximos, separados apenas por 6s, deixando o sexto colocado Andrea de Cesaris mais para trás. Junto à esse pelotão vinha Johansson em seu Spirit-Honda, mas a corrida do sueco durou apenas cinco voltas, com um problema na bomba de gasolina, contudo Johansson e o motor Honda mostraram um bom serviço enquanto esteve na pista. A Ferrari era muito forte nas retas, mas derrapava muito nas curvas, desgastando os pneus Goodyears e não demorou para Prost colar em Arnoux. Velhos rivais, Arnoux não cedia um centímetro para Prost. Na nona volta Patrese entrou nos boxes com o turbo quebrado, completando seu nono abandono em nove corridas! Piquet vinha apenas 2s atrás de Prost numa boa briga entre os quatro primeiros. Na volta 14, Prost surpreende Arnoux ao colocar por dentro da Copse, tomando a segunda posição do piloto da Ferrari, que logo era atacado por Piquet. Com os carros com motores aspirados muito mais lentos, os retardatários não demoraram a aparecer na frente dos líderes e na volta 19 Arnoux foi atrapalhado pela Arrows de Thierry Boutsen. Piquet viu a oportunidade perfeita para efetuar a ultrapassagem e assumir a terceira posição. Na volta seguinte, no mesmo local onde ultrapassara Arnoux, Prost assume ao ponta ao deixar Tambay para trás na Copse. Os pneus Goodyear perdiam rendimento rapidamente.
Não demorou para Piquet encostar em Tambay. Numa bela briga entre os dois, Piquet completou a ultrapassagem sobre o piloto da Ferrari na volta 31, numa audaciosa manobra na Woodcote. Nesse momento Prost tinha 13s de vantagem sobre Piquet. Os líderes fizeram suas paradas, com Piquet retardando ao máximo sua parada, só realizando seu pit-stop cinco voltas depois de Prost, mas atrapalhado por retardatários, Nelson retorna à pista 17s atrás de Prost, que começava a administrar a corrida. Mesmo com pneus mais duros, a dupla da Ferrari nada poderia fazer contra os líderes e clientes da Michelin. Para piorar, Nigel Mansell fazia uma belíssima corrida de recuperação com o seu novíssimo Lotus. O inglês vinha em quinto lugar e se aproximando de Arnoux, já 50s atrás de Prost. Após uma batalha interessante, onde Mansell quase bateu numa peça deixada pelo carro de Raul Boesel no meio da reta dos boxes, o inglês tomou o quarto lugar de Arnoux na volta 48. Tambay cuidava melhor dos seus pneus e mesmo Mansell se aproximando bastante, o francês manteve sua posição com tranquilidade. Alain Prost venceu brilhantemente seu terceiro Grande Prêmio da temporada. Piquet terminou em segundo 20s atrás do francês. Tambay completou o pódio, com Mansell marcando os primeiros pontos do novo Lotus-Renault 94T. Começando da pole, Arnoux terminou apenas em quinto depois de uma corrida muito difícil. Lauda fechou a zona de pontos e era o primeiro dos motores aspirados. Todos os carros equipados com motores V8 levaram no mínimo uma volta... Foi uma vitória da Michelin sobre a Goodyear, que sofreu bastante no surpreendente calor inglês. A torcida vibrou muito com a corrida de Mansell, que conhecera seu carro pela manhã e saíra de 18º para 4º. As posições no pódio eram as mesmas da classificação, com Prost abrindo seis pontos sobre Piquet. Porém, muita água iria rolar num dos campeonatos mais competitivos da década de 1980.
Chegada:
1) Prost
2) Piquet
3) Tambay
4) Mansell
5) Arnoux
6) Lauda