domingo, 9 de junho de 2024

Caos canadense

 


Montreal é uma das pistas mais icônicas do calendário da F1 e mesmo a Liberty Media teimando em inchar o já apertado cronograma da F1, o circuito Gilles Villeneuve permanece muito pelas incríveis corridas que por lá acontecem, além do ótimo ambiente na cidade canadense. Mais uma vez tivemos a satisfação de ver uma corrida daquelas de ficar de olhos bem abertos em todo o momento, pelo volume de alternativas que aconteceram na prova canadense desse domingo. Mesmo com mais uma vitória de Max Verstappen, a sexagésima de sua já incrível carreira, a corrida desse domingo esteve bem longe do script de outras vitórias do piloto da Red Bull, numa luta apertada contra McLaren e Mercedes, em meio a um clima incerto durante quase duas horas, num pódio completado por Norris e o pole Russell.


De antemão se sabia que o clima seria um fator preponderante no final de semana canadense, com a chuva aparecendo com força na sexta, nem tanto no sábado e reaparecendo no domingo. Mesmo não chovendo na hora largada, a pista estava encharcada, fazendo com que a dupla da Haas arriscasse os pneus de chuva extrema, algo bastante raro nos últimos anos. Com a largada acontecendo normalmente com pista molhada, nos livrando da constrangedora situação de vermos uma largada atrás do Safety-Car, os pilotos largaram com bastante cautela, com praticamente nenhuma mudança nas primeiras posições. Russell liderava à frente de Max, Norris e Piastri. Num primeiro momento a aposta da Haas se pagou com Magnussen e Hulkenberg escalando o pelotão e o danês chegando a se aproximar de um impressionante top-5, mas um sol tímido mostrava que não demoraria que a carruagem se transformasse em abóbora. E a corrida pegasse no tranco de vez. Quando a pista ainda estava bastante molhada, os carros estavam mais espaçados, mas na medida em que a pista foi secando, Max foi encostando em Russell. Com o trilho se formando, ultrapassar se tornou algo bem desafiador, mesmo quando o DRS foi liberado. Russell forçava bastante seus pneus intermediários e sem chance de ultrapassar, Verstappen ficou travado atrás da Mercedes, vendo Lando Norris crescer em seus retrovisores. Cuidando mais dos pneus e com um ritmo melhor, Lando viu o trilho aumentar e proporcionar duas ultrapassagens sobre Max e George, assumindo a liderança. E abrir!


Parecia que aconteceria algo parecido com Miami, quando Lando Norris disparou com vento no rosto, mas um Safety-Car causado pelo horroroso Logan Sargeant mudaria a face da corrida. Voltando à corrida na Flórida, quando um SC ajudou sobremaneira Norris, no Canadá aconteceu o contrário. A McLaren perdeu a entrada dos pits e quem se aproveitou foi o trio Max, Russell e Piastri, que foram aos pits na hora certa e quando Lando fez sua parada uma volta depois, ele perdeu terreno, caindo para terceiro. Apesar da pista praticamente seca, todo mundo colocou pneus intermediários, pois o radar mostrava que a chuva estaria de volta em minutos e ninguém, com exceção de Leclerc, cuja corrida tinha ido para as cucuias, arriscou os slicks. Mesmo tendo apenas 26 anos, Verstappen usou sua já vasta experiência em relargadas para deixar Russell para trás e assumir a liderança, mas sem disparar. E a chuva realmente veio, mesmo que de leve e de forma rápida. A briga pelo segundo lugar era apertada entre Russell, Norris e Piastri, enquanto Gasly ia aos pits colocar pneus slicks, sendo o boi de piranha para as demais equipes. Todos acompanhavam o ritmo do piloto da Alpine e quando ficou claro que Pierre se tornava um dos pilotos mais rápidos da pista, começou uma nova romaria rumo aos boxes para colocar pneus slicks.


Norris arriscou esticar sua parada e numa atuação forte, ele chegou a sair do pit-lane na frente de Verstappen, mas com pneus gelados, Lando quase rodou antes de ceder a posição definitivamente sua posição para Max. No entanto, a corrida do neerlandês não ficaria sossegada. Faltando pouco menos de quinze voltas, Carlos Sainz coroava um final de semana horripilante da Ferrari ao rodar e atingir Alexander Albon, trazendo o segundo Safety-Car do dia. A Mercedes tentou dar o pulo do gato ao colocar pneus novos nos carros dos seus pilotos e Russell foi para cima da dupla da McLaren, com o inglês quase batendo em Piastri na curva 13 e perdendo posição para Hamilton na sequência. No entanto, George se recuperou, ultrapassou o australiano e deu o troco em Lewis numa ultrapassagem no limite nas voltas finais. Porém, Russell lamentou bastante o erro que lhe custou a segunda posição para Norris, que foi sincero em dizer que se foi ajudado pelo SC em Miami, foi atrapalhado em Montreal. Sorte de Max Verstappen. O neerlandês fez uma corrida correta em mais um final de semana onde a Red Bull não dominou e tirando uma ligeira escapada de pista na curva um, Max não errou e disparou novamente no campeonato, com o zero ponto de Leclerc.


Após largar da pole, George Russell completou o pódio, mas novamente a Mercedes irá ouvir de Hamilton, pois na última parada o time de Toto Wolff colocou pneus duros no carro de Lewis, enquanto George foi com os mais corretos médios. Hamilton ficou o primeiro terço da prova atrás de Alonso, só o superando por um pit-stop mais rápido da Mercedes. Lewis andou próximo de Russell, jogou duro com o companheiro de equipe quando disputaram o último lugar do pódio e no final, parecia não muito feliz com as opções da equipe. No entanto, é muito bom para o campeonato esse súbito crescimento da Mercedes, com mais um player na luta pelas vitórias. A Aston Martin fez uma corrida discreta, com Alonso se esmerando, como sempre, em segurar Hamilton, mas quando foi superado, nada mais fez em ficar num tranquilo sexto lugar. Correndo em casa, Lance Stroll ficou a corrida toda no meio de um pelotão animado que ia do oitavo lugar até o décimo quinto e no final o canadense acabou liderando esses carros, terminando num honroso sétimo lugar. Após ser criticado de forma ácida (e merecida) por Jacques Villeneuve, Daniel Ricciardo deu uma pequena resposta ao ficar em oitavo, numa corrida sólida, mas em que sempre andou atrás do seu companheiro de equipe Yuki Tsunoda. Nas últimas voltas o japonês deu uma rodada perigosa, onde quase foi atingido por uma Haas, mas felizmente tudo não passou de um enorme susto. Depois de todo o entrevero em Monte Carlo, a Alpine marcou pontos com seus dois carros, algo que não deverá ser muito comum, mas que mostra a evolução da equipe.


Se o título de Max Verstappen é uma questão de tempo, não se pode afirmar nesse momento que há uma dominação no campeonato 2024. Nas últimas corridas vimos um crescimento de McLaren, Ferrari (mesmo que nesse final de semana estivessem irreconhecíveis) e Mercedes, enquanto a Red Bull ainda se acha em meio ao caótico bastidor da equipe. Se havia o temor de que aconteceria um passeio nas 24 corridas do ano, estamos vendo provas bem mais animadas do que o esperado, mesmo que Max Verstappen permaneça vencendo.

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