O circuito de Spa-Francorchamps teve parte do seu asfalto recapeado, fazendo com que as equipes só tivessem algo com que se preocupar após os treinos livres de sexta-feira: o desgaste de pneus. Mesmo que a chuva tenha aparecido no sábado, todos os pilotos falavam apenas de pneus para a corrida e havia uma certeza: todos fariam a estratégia de duas paradas. Porém, quem pensou fora da caixa conseguiu o grande prêmio e essa pessoa foi George Russell e a equipe Mercedes. O inglês fez sua primeira parada igual a todo o primeiro pelotão, mas ao contrário dos seus rivais, Russell não foi mais aos pits e com uma pilotagem brilhante, George conseguiu a segunda vitória em 2024, superando por muito pouco Lewis Hamilton, numa dobradinha da Mercedes, com Oscar Piastri fechando o pódio logo atrás.
Nem sempre circuitos tradicionais são palcos de grandes corridas, mas em 2024 Spa viu uma das melhores corridas dos últimos anos, nessa surpreendente temporada de 2024, donde se esperava corridas enfadonhas em mais um domínio da Red Bull e na verdade estamos vendo corridas disputadas. Na Bélgica, as quatro principais equipes estiveram em claro equilíbrio, mesmo que a Ferrari esteja um degrau abaixo, mas ainda o suficiente para fazer com que Leclerc fizesse uma bela corrida. Todos esperavam que Max Verstappen, que massacrou a concorrência nos treinos, escalasse o pelotão como havia feito nos dois anos anteriores, quando a Red Bull aproveitou as características de Spa para trocar o motor e mesmo punido, que favorecesse o seu piloto para uma corrida de recuperação. Haviam até apostas de quando Max chegaria à liderança, mas o próprio neerlandês havia alertado que ao contrário de 2022 e 2023, a Red Bull não tem o mesmo domínio. A largada foi bem convencional e logo de cara Lewis Hamilton mostrou a que veio, superando Sergio Pérez de cara, numa manobra no limite para subir para segundo. Já Lando Norris continuava a sua triste tradição de largar mal, pegar cascalho na saída da Surcis e de quarto, parar em sétimo, chegando a atrasar ligeiramente Verstappen. Saindo de décimo primeiro, rapidamente Max pulou para oitavo, superando os pilotos do pelotão intermediário, mas quando viu a traseira de Lando Norris, Max viu sua escalada terminar aí. Ainda na segunda volta, Hamilton pegou o vácuo de Leclerc na saída da Radillon e assumiu a ponta da corrida. Com os pilotos bastante preocupados com o desgaste de pneus, o pelotão estava compacto, sem maiores trocas de posições.
Enquanto o pessoal do pelotão intermediário, liderados por Alonso, procurou os pits bem cedo, os oito primeiros colocados andavam próximos, mas sem maiores brigas, numa corrida de espera. Verstappen pensou em fazer o chamado undercut e ultrapassar todo o pelotão à sua frente, mas o que a Red Bull não esperava era ver George Russell fazer o mesmo, se mantendo confortavelmente na frente de Verstappen. Isso inaugurou a primeira rodada de paradas dos líderes, com Sainz e Norris ficando mais tempo na pista, ensaiando algo que ninguém havia pensado: parar apenas uma vez. Com os pilotos parando em voltas diferentes, vimos Piastri superando Pérez, que começava a perder rendimento aos poucos, enquanto Lando demorou a fazer sua parada e quando o fez, sem surpresas, voltou à pista 6s atrás de Verstappen, mas com pneus melhores, se aproximou do piloto da Red Bull. E por lá ficar. Sainz foi até onde deu, mas perdeu muito tempo e a corrida do espanhol tinha ido para o espaço. A corrida se mantinha próxima, com Hamilton, Leclerc e Piastri andando próximos, com um ligeiro espaço para Russell, Pérez, Verstappen e Norris. A corrida era tensa, pois fazer uma parada mais cedo poderia fazer toda a diferença. Leclerc abriu os trabalhos, com Hamilton, a dupla da Red Bull e Norris fazendo o mesmo. Surpreendentemente Sainz fez um stint bem curto e parou pela segunda vez. Com pista livre, Piastri fazia tempos parecidos de Hamilton e Leclerc, enquanto a corrida de Pérez piorava e teve que ceder a posição para Verstappen, que com pneus médios, deixou Checo para trás, mas tinha a presença incômoda de Norris enchendo seus retrovisores.
Nesse momento, Russell teve a ideia: penso que podemos ficar até o final. Parecia arriscado e praticamente ninguém pensou nisso, mas a equipe Mercedes comprou a ideia. Piastri poderia ter feito o mesmo, mas a McLaren foi conservadora e trouxe o australiano aos pits, que errou o lugar do pit-stop, perdendo um tempo precioso, que lhe faria muita falta no final. A corrida ficava mais empolgante. Piastri voltou muito rápido, partiu para cima de Leclerc e ganhou a terceira posição do ferrarista, enquanto Hamilton se aproximava cada vez mais de Russell. Mais atrás, Pérez era ultrapassado por Sainz para ficar em oitavo na corrida e no campeonato, muito provavelmente selando seu futuro. A dupla da Mercedes se aproximava, enquanto Piastri era o mais rápido da pista e Leclerc segurava Verstappen e Norris. Era uma corrida daquelas para se lembrar. Quando Hamilton finalmente chegou no alcance do DRS, parecia que a ultrapassagem seria consumada até mesmo com facilidade, mas mostrando que estava num dia abençoado, Russell praticamente não deu chances ao seu companheiro de equipe e segurar a vitória. Hamilton viu Piastri se aproximar e os três primeiros colocados receberam a bandeirada juntos. Cinco segundos depois, o trio Leclerc, Verstappen e Norris chegaram igualmente colados para receber a bandeirada. Seis primeiros colocados, de quatro equipes diferentes, chegaram separados por meros 10s. Uma bela corrida.
A Mercedes mostrou que após dois anos que parecia estar em lugar algum, finalmente encontrou o caminho certo no desenvolvimento do carro, levando a pensar se Hamilton fez mesmo a coisa certa em assinar com a Ferrari, hoje a quarta força da F1. A McLaren conseguiu bons pontos, se aproximou ainda mais da Red Bull no Mundial de Construtores, mas novamente pisou na bola na estratégia, quando era nítido que manter Piastri na pista, com o mesmo ritmo de Hamilton e Leclerc que tinham acabado de fazer suas paradas, era o correto. Se a primeira vitória encheu de confiança Norris em Miami, o mesmo parece ter acontecido com Piastri após seu primeiro triunfo na Hungria, com o australiano fazendo uma corrida muito boa, superando novamente Norris. Depois das brigas com Verstappen na Áustria, muito se esperava que Norris poderia ser um rival para o neerlandês no Mundial de Pilotos, mas o inglês fraquejou novamente em Spa. Mesmo com mais carro, em nenhum momento Norris tentou um ataque mais incisivo em cima de Max, que mesmo com todas as dificuldades, ainda aumentou sua margem no campeonato. Hoje a Red Bull pode estar como a terceira força do campeonato e mesmo demitindo Sergio Pérez nesse recesso de férias, a verdade é que o time perdeu bastante terreno, principalmente para McLaren e Mercedes. Se no Mundial de Construtores os quatro primeiros estão separados por meros 120 pontos (muito pouco, com metade do campeonato por vir), o Mundial de Pilotos parece ainda bem tranquilo para Verstappen, pois Lando Norris não nos anima e já vê Piastri meros 23 pontos atrás.
Revelando o abismo entre as quatro grandes e o resto, Alonso liderou soberano o pelotão intermediário e recebeu a bandeirada 50s atrás dos líderes. Os dois pontos do nono lugar é o máximo que Alonso pode esperar numa corrida sem abandonos ou problemas para os pilotos de Red Bull, McLaren, Mercedes e Ferrari. Porém, a briga pelo último pontinho foi boa e durou até o final, ganha por Esteban Ocon, que desde que foi anunciado a sua partida da Alpine, começou a encaçapar Pierre Gasly de forma sistemática. Daniel Ricciardo foi ultrapassado no final, dificultando ainda mais a vida da Red Bull para escolher quem ficará na equipe em 2025 ou até mesmo após as férias. Albon largou entre os dez primeiros, mas não teve ritmo, com a Sauber permanecendo sendo a única a não pontuar e viu o único abandono do dia, com Zhou. Porém, assim, como lá na frente, o pelotão intermediário viu equilíbrio entre si, com apenas 20s separando Alonso (9º) e Bottas (16º).
A corrida em Spa mostrou que a F1 vive um ótimo momento, com quatro equipes brigando pela vitória de forma apertada. A esperada convergência de regulamento veio e de equipe dominante, a Red Bull agora luta para chegar junto com as duas equipes principais da Mercedes, mesmo a McLaren jogando pontos fora de forma sistemática, terminando com as chances de termos uma briga pelo Mundial de Pilotos, ainda mais com a fase menos boa de Lando Norris. Max Verstappen não fez a corrida de recuperação esperada, muito pela limitação do seu carro, mas ainda lidera soberano a corrida, mesmo vindo de quatro corridas sem vitórias. Contudo, tudo isso foi para o vinagre com a desclassificação de George Russell. De nada adiantou sua baita estratégia e sua brilhante pilotagem, pois o seu Mercedes estava 1,5kg abaixo do peso mínimo.
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