Conta-se nos bastidores da Indy que Roger Penske leva mais à sério uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis do que vencer o campeonato da Indy. Os motivos são muitos, como a maior visibilidade do vencedor da Indy 500, porém, mesmo tendo visto Josef Newgarden faturar a edição 2024 das míticas 500 Milhas, Roger Penske não lembrará com muita saudade dessa temporada. Foi um ano em que a Penske enfrentou o maior escândalo em sua longa história, viu seus pilotos brigarem entre si e no final, Will Power se viu alijado da luta pelo título ainda no começo da corrida decisiva em Nashville por um prosaico problema no cinto de segurança, fazendo o australiano perder cinco voltas e o título de 2024 já estava nas mãos habilidosas de Alex Palou, num enorme anticlímax para a final do campeonato.
Claro que Alex Palou não tinha nada com os problemas que a Penske enfrentou nesse domingo e ao longo de todo o ano. O espanhol da Ganassi teve um ano que caracteriza muito bem o estilo de pilotagem de Palou. Alex pode não ser espetacular, mas sua consistência e solidez construindo uma corrida e um campeonato faz de Palou um piloto sempre pronto a vencer uma corrida ou se manter no top-10, algo que o espanhol cansou de fazer em 2024. Se ano passado Palou venceu cinco vezes, nesse ano foram apenas dois triunfos, mas o suficiente para chegar em Nashville com uma ampla vantagem, mesmo Alex não conseguindo o melhor dos acertos na pista de concreto de Nashville. Porém, o infortúnio de Power tornou a tarefa de Palou apenas protocolar, levando seu Ganassi #10 rumo a bandeirada, uma volta atrás do vencedor Colton Herta. O americano da Andretti teve seu melhor ano até agora e com a vitória em Nashville, a primeira em ovais, Herta chegou ao vice-campeonato. Considerado o piloto mais talentoso do pelotão, Colton teve seus altos e baixos ao longo do ano, onde não faltaram corridas perdidas de forma tolo pelo jovem californiano, seja por vacilos da equipe Andretti, que ainda tenta a F1. No entanto, Colton foi mais consistente e venceu sua primeira corrida em dois anos e num final de ano muito bom, garantiu o vice.
Ganassi e Andretti tiveram seus líderes claros e ficaram com as duas primeiras posições do campeonato. Scott Dixon dá sinais que mesmo para um fenômeno como ele, o tempo também chega. O neozelandês conseguiu uma vitória em 2024, mas foi claro que Dixon teve muitos problemas em ritmo de classificação, sendo completamente ofuscado por Palou. Os demais pilotos da Ganassi fizeram figuração e com a equipe decaindo de cinco para três carros em 2025, Armstrong, Lundqvist e Simpson terão que ter melhores argumentos para ficar com a terceira vaga na Ganassi. Chegando à Andretti como piloto de equipe de ponta, Marcus Ericsson decepcionou deveras em seu primeiro ano na equipe, enquanto Kyle Kirkwood, pole na prova desse domingo, era capaz de corridas bestas e bestiais, deixando-o longe da briga por algo maior no campeonato, mas Kirkwood ainda tem bastante crédito com Michael Andretti.
Dá para afirmar sem erros que a vitória de Newgarden em Indianápolis foi o único grande momento da Penske em 2024. Mesmo com McLaughlin e Power vencendo corridas, até mesmo com uma tripleta em Road America e Power lutando pelo título até a última corrida, o 2024 da Penske foi bem ruim. O escândalo do push-to-pass, que resultou nas desclassificações de Newgarden e McLaughlin, além de uma série de punições administrativas, marcará para sempre a equipe, mas 2024 ainda reservou brigas internas entre os pilotos, como o toque entre Power e McLaughlin em Toronto e a polêmica relargada em Gateway, que fez Power partir para cima de Newgarden. O clima dentro da equipe estava tão ruim, que muito duvidavam que Newgarden e McLaughlin ajudassem Power no final, mas o problema banal e bizarro de Will pôs tudo a perder. McLaghlin venceu pela primeira vez num oval e se não fosse a desclassificação em St Pete, estaria forte na briga pelo título desse ano. Um ano duro para a equipe de Roger Penske, que ainda teve que receber as críticas de outros chefes de equipe quanto à condução da categoria pela Penske Entertainement.
Pato O'Ward liderou a McLaren e com três vitórias, o mexicano chegou a vislumbrar a luta pelo título, mas os vários incidentes que atrapalharam Pato o tiraram da contenção de algo maior, além do mexicano ter perdido das 500 Milhas por muito pouco. A McLaren teve um ano complicado com os demais carros, com Alexander Rossi não tendo seu contrato renovado e a contratação de Malukas se tornando uma dor de cabeça quando o americano quebrou o pulso num treino de bicicleta antes de começar a temporada e escondendo a gravidade da situação. Dispensado, Malukas cedeu seu lugar para Theo Porchaire, atual campeão da F2. Quando o francês estava evoluindo, foi surpreendentemente dispensado, numa escolha pessoal de Tony Kanaan em favor de Nolan Siegel. Algo que ninguém entendeu e que até o momento, vem se tornando um tiro n'água. Para 2025, a McLaren trará Christian Ludgaard, melhor piloto da Rahal, principalmente em circuitos mistos. Por que em ovais... o time de Bobby Rahal continua sofrendo nos circuitos ovais e para 2025 ainda sofrerá com a perda de sua principal piloto. A estreia de Pietro Fittipaldi numa temporada completa na Indy ficou muito, muito abaixo do esperado, tanto que mesmo trazendo patrocínio para a Rahal, Pietro ainda tem sua vaga ameaçada para o ano que vem.
Nas equipes pequenas, destaque negativo para a Dale Coyne, que leiloou seu segundo carro para quem pagasse mais, levando seis pilotos a correr com o #51 em 2024. A Juncos teve um ano atribulado, com o chefe de equipe argentino tendo que vender sua parte, além de toda a polêmica com Agustín Canapino, que fez o piloto portenho sair da Indy antes do final da temporada. A Foyt conseguiu uma parceria com a Penske, elevando a equipe de patamar, fazendo o maluquinho Santino Ferrucci conseguir um lugar entre os dez primeiros na classificação, com corridas agressivas e muitas inimizades pelo paddock. A Meyer Shank fez um campeonato melhor com a saída dos seus pilotos veteranos, mesmo Rosenqvist ainda se metendo em acidentes demais. Após uma parceria com a Andretti, a equipe ficará com a Ganassi em 2025 e Helio tentará o penta, mesmo que isso pareça cada vez mais irreal.
Alex Palou teve um ano que o consolida entre os grandes da Indy e com potencial para mais. Com 27 anos de idade, o espanhol conseguiu seu terceiro título em quatro anos com a Ganassi. Só não foi mais, porque em 2022 ele se envolveu na polêmica com a transferência frustrada para a McLaren e depois para a F1 com a equipe papaia. Solidificado na Ganassi, Palou ainda tem muita lenha para queimar e quando ele olha que disputou o título com Power (43 anos) e vê Dixon (44 anos) ainda competitivo, não seria exagero dizer que Palou ainda tem bons quinze anos competitivos pela frente. E com totais chances de quebrar mais recordes.
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