Nem as péssimas largadas de Lando Norris são capazes de parar a McLaren nesse momento. Num Grande Prêmio sem muitas emoções, Lando Norris infringiu a primeira derrota de Max Verstappen na frente de sua torcida, numa corrida dominante do inglês, lembrando muito os triunfos acachapantes de Max no começo de 2024. Estamos vendo uma nova era na F1, mas será que foi tarde demais para os laranjas da McLaren?
Após dois dias de clima instável, Zandvoort amanheceu com sol forte e tempo radiante nesse domingo, fazendo com que a torcida neerlandesa lotasse o acanhado circuito de Zandvoort, que luta para permanecer no calendário da F1, mesmo oferecendo pouco espaço para a categoria, incluindo dentro da pista, pois é nítido a estreiteza da pista, ainda mais para os gigantescos carros atuais da F1. Quando Lando Norris marcou a pole no sábado, a pergunta óbvia seria o comportamento do inglês na largada, pois o piloto da McLaren tem uma estatística nada agradável de nunca ter liderado uma primeira volta, mesmo quando largou na pole. E Lando manteve essa 'tradição'. Foi uma largada horrenda não apenas de Norris, como também de Piastri. Verstappen emergiu na ponta ainda antes da famosa curva Tarzan, enquanto Piastri era engolido por Russell e só não foi ultrapassado por Pérez, por falta de espaço, fazendo o mexicano ser ultrapassado por Leclerc, um dos destaques da corrida. A torcida neerlandesa vibrou com a liderança de Verstappen, mas havia um certo ceticismo no ar. Mesmo com ar limpo, Max não conseguiu se desgarrar de Norris, com a diferença nunca passando de 1,5s, bem no limite do DRS. Bastou quinze voltas para que Norris quebrasse o limite do DRS e iniciasse os primeiros ataques em cima de Max, que se defendeu como pôde, mas na volta 18 Norris fez a ultrapassagem definitiva bem na frente da arquibancada principal de Zandvoort. A torcida laranja sentiu o golpe, assim como Verstappen. O piloto da casa tentou se manter dentro de 1s de desvantagem para aproveitar o DRS mais eficaz da Red Bull, mas assim que Norris construiu a vantagem necessária, simplesmente desapareceu do horizonte verstapiano. Foi um passeio no parque em Amsterdã.
A vitória de Lando Norris nesse domingo foi a de maior margem no ano, destacando o tamanho da vantagem que a McLaren tem nesse momento. Verstappen apenas limitou os danos, se conformando com o segundo lugar e menos oito pontos de sua ainda larga vantagem no campeonato, pois Norris ainda se deu o luxo de esfriar o carro na penúltima volta para abocanhar o ponto da melhor volta no giro final. Se a vantagem de Verstappen ainda é contornável, a Red Bull vê sua liderança no Mundial de Construtores se desmanchando, mas ainda contou com alguma sorte nesse domingo. A McLaren ainda sofre de muita insegurança nas táticas de corrida e se acertou com Norris, errou com Piastri. O australiano foi o último a parar dos líderes, o jogando para o sexto lugar. Piastri ultrapassou Russell até mesmo com facilidade, mas não encontrou a mesma prontidão contra um inspirado Leclerc. Depois de tantos erros, a Ferrari acertou na tática de Leclerc, ainda se aproveitando de uma parada longe da perfeição de Russell. O ritmo de Piastri nos fazia crer que a ultrapassagem seria iminente e que até mesmo Oscar poderia efetuar um ataque em Verstappen, se a manobra sobre Leclerc fosse rápida, mas o problema foi que essa ultrapassagem nunca veio. Charles andou no seu limite e segurou os ataques de Piastri na reta principal, conquistando um até mesmo inesperado pódio para uma Ferrari que sofreu em todo o final de semana. Os pontos perdidos de Piastri podem fazer falta lá na frente no Mundial de Construtores, mesmo com a McLaren nitidamente em viés de alta nesse exato momento.
Vindo de três vitórias em quatro corridas, a Mercedes vinha com boa expectativa para Zandvoort, principalmente depois de uma sexta-feira forte e Russell ficando com um lugar na segunda fila. mas a classificação ruim de Hamilton parecia um mau presságio e se confirmou na corrida, com um ritmo pobre dos carros alemães. Russell foi facilmente superado por Leclerc e Piastri na única rodada de paradas, ficando bem longe da briga dos dois pelo pódio. Hamilton rapidamente subiu ao oitavo lugar, depois de ver sua 11º posição no grid se transformar em 14º por ter atrapalhado Pérez ainda no Q1 da classificação. Porém, Hamilton foi incapaz de subir mais e tentando uma tática diferente, partiu para uma segunda parada, onde teria pneus macios novos no intuito de atacar Pérez, em outra corrida opaca do mexicano, mas pelo menos ele marcou pontos. O problema foi que a Mercedes fez o mesmo com Russell, que não tinha pneus novos e meio que atrapalhou o avanço de Hamilton, fazendo-os terminar nas últimas posições entre as quatro grandes equipes. Quando a Mercedes olha para a sua equipe cliente dominar a corrida, será difícil para Toto explicar que seus carros com apoio de fábrica foram apenas sétimo e oitavo. Sainz corroborou com a boa performance da Ferrari em ritmo de corrida e foi quinto, se recuperando de sua má classificação.
O melhor do resto foi Pierre Gasly, ele que conseguiu um pódio ano passado, mas que ao largar muito bem, se manteve por muito tempo em oitavo, até ser ultrapassado por Hamilton e liderar um trem que tinha a dupla da Aston Martin, Hulkenberg e Albon. Mais uma vez nos pontos, a Alpine mostra evolução, mas ainda muito aquém de uma equipe com apoio de fábrica, o mesmo acontecendo com o décimo colocado Alonso. Por mais que tenha estrutura e contrate gente graúda de equipes grandes, a Aston Martin parece em plena decadência e de equipe que buscava vitórias um ano atrás, agora se conforma com poucos pontos. Desclassificado do grid ontem, Albon quase marcou ponto, além de ter protagonizado a cena da corrida, quando cinco carros entraram juntos na reta dos boxes, com vantagem para Gasly, numa valente ultrapassagem sobre o piloto da Williams na freada da curva Tarzan. O tradicional time azul se cansou das presepadas de Sargeant e o americano, que recebeu a bandeirada normalmente, pode nem correr semana que vem em Monza, enquanto a Sauber ficou com as duas últimas posições e foram os únicos a tomar duas voltas do líder.
A vitória de Lando Norris, a sua segunda na F1, impressionou mais pela forma. O inglês enfiou 22s goela abaixo de Verstappen em sua casa, onde vinha de três vitórias consecutivas, na maior diferença do ano até agora. Uma vitória daquelas para se encher de moral, mas até que ponto esse efeito laranja tenha vindo tarde demais, pensando no Mundial de Pilotos.