domingo, 7 de julho de 2024

God saves Lewis

 


Ah Silverstone... A tradicional base aérea nos proporcionou uma das mais emocionantes corridas de F1 dos últimos anos, com várias pitadas de técnica, estratégia e o famoso chove-para britânico. Mais do que isso, Silverstone coroou Lewis Hamilton pela nona vez, tirando o seu piloto mais laureado de um jejum de mais de 900 dias sem vitória. Mesmo conseguindo a incrível marca de 104 vitórias na F1, Lewis Hamilton foi capaz de se emocionar bastante após a bandeirada, depois de uma corrida apertada contra Russell, Norris, Piastri e Verstappen, que transformaram o Grande Prêmio da Grã-Bretanha numa prova daquelas para não se esquecer tão cedo.


O final de semana inteiro em Silverstone foi baseado no clima inconstante, com as equipes tendo que se equilibrar entre pista seca e molhada o tempo todo, inclusive, quase cancelando a corrida de F3 no sábado, tamanha era a chuva. No momento da largada, a pistava completamente seca, mas o horizonte inglês indicava chuva a qualquer momento e os rádios das equipes enchiam os ouvidos dos pilotos de previsões. Como a corrida não seria decidida na largada, como tantas e tantas vezes ocorreu num passado recente, os pilotos largaram de forma bastante convencional, com apenas Verstappen ultrapassando Norris, quando o piloto da McLaren saiu ligeiramente da pista numa disputa com Hamilton na curva 3. As primeiras voltas foram de espera, com a dupla da Mercedes se mantendo na ponta, liderado por Russell, seguidos por Verstappen e a dupla da McLaren, com Norris à frente de Piastri. Todos esperavam pela chuva, que veio um pouco antes da volta 20, mas seria uma garoa. Só que o suficiente para bagunçar o primeiro pelotão. Norris tinha acabado de ultrapassar Verstappen quando a chuva deu uma apertada e Hamilton encostou em Russell, trazendo consigo Norris. Verstappen parecia sem ritmo e após ser ultrapassado por Piastri, se viu acossado por Sainz. O trio inglês passou a trocar de posição de forma insana, numa pista apenas úmida. As equipes avisavam que seria uma rápida garoa, mas o açodamento fez com que Leclerc e Pérez fossem aos pits colocarem pneus intermediários, destruindo a corrida de ambos.


Quando o chuvisco terminou, Norris era líder, seguido de perto de Piastri, que deixou a dupla da Mercedes para trás, enquanto Hamilton finalmente se sobressaía sobre Russell. Porém, as equipes já tinham avisado que essa garoa seria rápida, antes da chuva mais forte. E a precipitação veio exatamente no meio da corrida, trazendo mais emoção à corrida, além de mostrar que as equipes grandes devem ser completas, ou seja, além de construir ótimos carros e desenvolve-los, é preciso ser assertivo na estratégia. Nesse item, a McLaren errou feio com Piastri, o deixando na pista com pneus slicks com a pista claramente molhada. Porém, a Red Bull mostrou sua maturidade e entrosamento com Verstappen, que parou uma volta antes e emergiu na pista à frente de Russell, em terceiro, com Norris permanecendo em primeiro e Hamilton em segundo. Piastri caiu para sexto, bem longe de todo mundo, mas o australiano seria um dos pilotos mais rápidos daí em diante. A chuva veio forte, mas não foi duradoura. Os pneus intermediários se desgastavam rapidamente e quando Max era pressionado por Russell, a Mercedes do inglês o traiu com um problema de pressão de água e George teve que abandonar após sua emocionante pole. Na medida em que a corrida chegava ao fim, a pista secava e o sol aparecia forte como não tinha aparecido nesse domingo. Novamente as equipes teriam que parar na hora certa. E a McLaren falhou novamente. Verstappen já era o mais rápido dos três primeiros e quando os primeiros carros foram aos pits colocar pneus slicks, Max chamou seu pit. A Mercedes não quis perder tempo e fez o mesmo com Hamilton, enquanto a McLaren, repetindo Montreal, ficou na pista com Norris. Para completar, Lando errou o local do pit-stop, perdendo 2s cruciais, pois Hamilton assumia pela primeira vez na corrida a ponta da prova e liderava a sua primeira volta em 2024. Para não mais perdê-la.


Inicialmente a escolha de pneus duros para Max Verstappen poderia ser um erro, mas o sol abriu tão forte em Silverstone, que os pneus macios escolhidos por Hamilton e Norris não teriam sua capacidade máxima por muito tempo. Verstappen e a Red Bull tinham dado um novo pulo do gato. Os três primeiros estavam separados por 6s nas últimas dez voltas, mas os pneus Max eram melhores e o neerlandês não demorou a tirar a diferença para os dois ingleses na frente, para apreensão da torcida que lotava Silverstone e vibrou bastante a cada passagem na liderança de George, Lando e principalmente Lewis. Ainda com toda a confusão vista no Red Bull Ring semana passada em mente, um novo encontro entre Norris e Verstappen era aguardado, mas com Max com pneus bem melhores, Lando mal se defendeu do carro da Red Bull. Max teria tempo de atacar Lewis? Foram cinco voltas dramáticas, onde Lewis teve que ultrapassar alguns retardatários, mas o inglês da Mercedes controlou a vantagem sobre Verstappen e venceu pela primeira vez em 2024 e depois de quase três anos, quando Hamilton venceu na Arábia Saudita em 2021, numa F1 ainda saindo do rescaldo da pandemia. O público em Silverstone explodiu! E Hamilton também. Com 39 anos de idade e mais de 300 largadas, Lewis Hamilton se emocionou bastante após a bandeirada e criou várias cenas marcantes, como o seu passeio na volta de desaceleração com o pavilhão britânico, o abraços aos pais, a saudação à torcida e a emocionante entrevista de sua 104º vitória. Além do cumprimento frio com o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem. 2021 pode estar ficando distante, mas ainda é uma cicatriz aberta para Hamilton.


Para os demais participantes do pódio, haviam sentimentos mistos. Max Verstappen tinha o conjunto mais rápido nas últimas voltas, mas o segundo lugar esteve longe de deixar o neerlandês triste. As primeiras voltas da corrida inglesa mostrava uma Red Bull como até mesmo a terceira força e um pálido quinto lugar não seria impossível para Verstappen, mas escolhas táticas certeiras fizeram com que Max aumentasse sua vantagem no campeonato para Norris, que por outro lado subiu ao pódio com cara de poucos amigos. Mostrando sua evolução dentro da hierarquia da F1, Lando lamentou bastante esse pódio, quando em outros momentos ele vibraria com a terceira posição na sua corrida caseira. Norris sabe que em condições normais tinha o melhor carro, mas erros táticos da equipe e dele próprio, quando parou o carro no lugar errado no último pit-stop, lhe custou a vitória novamente. Outro que não deve ter ficado muito contente foi Oscar Piastri. Muito rápido a corrida toda, o australiano viu a McLaren estragar sua corrida na chamada para o primeiro pit-stop, totalmente na hora errada. Calçado com pneus médios no último stint, Piastri estaria na briga pela vitória se a McLaren não tivesse errado a estratégia. A Ferrari errou de forma clamorosa na tática de Leclerc, colocando pneus intermediários muito antes do necessário, fazendo o monegasco perder uma volta e quando a chuva veio, seus pneus intermediários estavam tão estragados... que ele teve que parar de novo! Novamente a Ferrari erra em suas táticas, deixando Leclerc ainda mais longe de Norris na briga pelo vice-campeonato, enquanto Sainz fez uma corrida bem convencional, na medida do possível, terminando num esperado quinto lugar, encostando em Leclerc no Mundial de Pilotos. Já no campeonato de construtores, a Red Bull vai sobrevivendo com os pontos de Max, enquanto a McLaren encostou de vez na Ferrari. Pérez caiu para sexto e já tem a dupla da Mercedes bem grandes nos seus retrovisores. Enquanto isso, seu contrato de renovação com a Red Bull deve estar a ponto de ser rasgado, porém, seu pretenso substituto, Daniel Ricciardo, fez outra corrida sofrível e tomou 15s de Tsunoda, ficando fora dos pontos. Marko e Horner terão trabalho para escolher o segundo piloto em 2025...


Criticado muitas vezes pela falta de pódios numa carreira tão longa, Nico Hulkenberg fez outra corrida gigante e pela segunda semana seguida, o alemão da Haas garantiu um sexto lugar, superando com folga da dupla da Aston Martin, que vieram logo a seguir. Albon retornou aos pontos com um nono lugar e Tsunoda fechou a zona de pontuação. A Sauber permaneceu no zero numa corrida sofrível de Zhou, que demonstra estar fazendo hora extra na F1, enquanto a Alpine voltou aos seus piores dias, com Gasly, que começou o final de semana com uma inacreditável punição de 50 posição por ter feito várias trocas no seu propulsor, não completou sequer a volta de apresentação, com problemas de câmbio e Ocon não fez melhor, ficando bem longe da zona de pontuação.


Foi outra grande corrida em 2024. Chegamos a metade da temporada com seis pilotos diferentes vencendo depois de doze corridas, mas o grande diferencial foi que o único a repetir vitórias foi Verstappen, que já contabiliza cinco triunfos em 2024. Max já não tem mais o melhor carro da temporada, mas segue se colocando na briga por vitórias e amealhando pontos importantes, que lhe darão o tetracampeonato, mas isso não impede de termos grandes disputas e imagens, como hoje. Quando Hamilton venceu pela última vez a Grã-Bretanha ainda era regida pela rainha Elizabeth e hoje, o hino era em honra ao rei Charles. Deus salve o Rei. Deus salve Lewis!

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