sábado, 30 de novembro de 2019

Que pena...

O automobilismo português nunca teve muita tradição, com um ou outro piloto na F1 sem muito destaque, mas um dirigente se sobressaiu. Domingos Piedade foi por muitos anos dirigente da Mercedes e com o fortalecimento da AMG, famoso braço esportivo da montadora, investiu em jovens kartistas, sendo que um deles se chamava Michael Schumacher. O resto é história. Porém, Piedade sempre esteve próximo da F1 e seus bastidores, se tornando empresário de Emerson Fittipaldi e Michael Alboreto, além de ter construído uma grande amizade com Ayrton Senna. Com seus contatos, manteve o circuito do Estoril por muitos anos no concorrido calendário da F1. Lutando com um câncer nos últimos anos, Domingos Piedade faleceu hoje aos 75 anos. Uma pena...

Previsibilidade

No circuito mais chato e artificial do calendário da F1, o resultado desse sábado foi o mais previsível possível. Claro que Lewis Hamilton não tem nada com isso e garantiu sua 88º pole na sua incrível carreira, mas é impressionante que tudo o que acontece no circuito de Yas Marina não emociona ninguém, nem mesmo o inglês, que conseguiu sua primeira pole desde Hockenheim, alguns meses atrás.

Se a disputa pela pole foi até mesmo sem graça, nas posições posteriores não fugiu em nada do script. A Williams fechou o ano completando a última fila, com George Russell conseguindo um 21x0 em cima de Robert Kubica. Acertado por Bottas ontem, Grosjean teve seu único assoalho quebrado e o francês ficou pelo Q1. Após conquistar seu primeiro pódio Gasly viu sua carruagem virar abóbora e ficou no Q2, mas ao menos a dupla da McLaren passou com folga, para alegria de Sainz, que disputa com o francês o sexto posto no campeonato, junto com Albon. Leclerc e Verstappen deram pinta de incomodar Hamilton, que dominou todo o final de semana, mas o inglês acabou destruindo qualquer alternativa dos dois jovens pilotos e ficou com a pole. Como não poderia deixar de ser, a Ferrari novamente se estabanou com sua dupla e Leclerc não pôde tentar uma última volta voadora ao ser atrapalhado por... Vettel! Mais um 'caso de família' para Mattia Binotto resolver...

Bottas já iniciou o final de semana sabendo que largaria no fim do grid e mesmo com o segundo tempo, sairá atrás da Williams amanhã, provavelmente sendo o único momento de emoção no começo da corrida de domingo, com o finlandês atravessando o pelotão rumo ao sexto lugar. Afinal, Abu Dhabi sempre decepciona! 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Fim de uma era

Para quem acompanha o automobilismo aqui no Brasil, essa frase foi a mais ouvida no dia de hoje. Foi o fim de uma era. Se você gosta de corridas, com certeza a maior referência jornalística se chama Reginaldo Leme. Em algum momento se ouviu a voz calma do veterano jornalista da TV Globo em alguma transmissão. Para quem acompanha a F1 desde muito cedo, como é o meu caso, é impossível desassociar Reginaldo Leme das corridas. 

A vida é feita de ciclos, mesmo que alguns sejam muito longos. Cresci ouvindo os comentário de Reginaldo Leme, mas hoje foi anunciado que o animado Grande Prêmio do Brasil foi o último de Leme pela TV Globo. As informações ainda são desencontradas, onde se diz que Reginaldo passou um e-mail se despedindo da equipe de esportes da Globo dando a entender que ele pediu para sair, enquanto outras dizem que Reginaldo foi dispensado antes do final do seu contrato, que iria até o final de 2020. Em ambas, a questão ficou numa nova relação da emissora com os seus contratados e que Reginaldo Leme não teria concordado.

Independente se saiu ou foi saído, não termos mais Reginaldo Leme nas transmissões de F1 da Rede Globo será um choque muito grande para todos os fãs. Leme estreou na F1 em 1972 pelo jornal Estado de São Paulo, só se transferindo para a TV Globo em 1978, primeiro em parceria com Luciano do Valle e depois com Galvão Bueno, que se tornou grande amigo ao longo dos anos. Foram 41 anos de Globo. Em tempos em que a F1 era menos restrita do que hoje, Reginaldo conseguia grandes reportagens e informações exclusivas, muito pela amizade com os pilotos, principalmente os campeões Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet. Já com Ayrton Senna, Reginaldo teve problemas que afetaram até mesmo a sua amizade com Galvão Bueno, mas um pouco antes da morte do piloto, Reginaldo e Ayrton já tinham uma relação mais cordial.

Foram anos e anos circulando pelo paddock da F1 e graças a amizade com Nelson Piquet, Reginaldo deu a notícia em primeira mão do maior escândalo da história da F1, no caso da batida proposital de Nelsinho Piquet em Cingapura. Foi um caso que abalou as estruturas da F1 e reforçou a credibilidade de Reginaldo, porém, do grande anúncio de 2009 para cá, Leme pareceu ter se acomodado. Apesar de todo o respeito que todos nós, fãs e jornalistas, devemos ter com Reginaldo, o veterano repórter vinha cometendo cada vez mais equívocos nos últimos anos quando tentava contar histórias de cabeça, mostrando uma imprecisão para que irritava quem estuda e vive a F1. 

Num ano em que Lito Cavalcanti foi dispensado pelo Sportv, a saída de Reginaldo Leme não deixa de ser uma troca de guarda entre os comentaristas globais, mas chama a atenção não termos nenhum jornalista de ofício na frente das transmissões, já que Luciano Burti e Felipe Giaffone são ex-pilotos que fazem muito bem o papel de comentaristas, mas sem diploma. Outra curiosidade será o que Reginaldo Leme fará daqui para frente, lembrando que sua saúde fraquejou em alguns momentos nos últimos anos. Aposentadoria? Difícil, pois Reginaldo ainda tem muita lenha para queimar. Assim como será difícil para Galvão, ainda se recuperando de um infarto, se ver sem seu parceiro de longa data.

Para quem convivi com Reginaldo, fala-se de uma pessoal gentil e muito gente boa. Mesmo com as imprecisões dos últimos tempos, Leme merece todo o respeito do mundo e ele fará muita falta já na próxima corrida de F1.

domingo, 24 de novembro de 2019

Top-10 - Piores da década

Hoje irei iniciar uma série mostrando o que houve de pior e melhor da F1 nessa década que passou. Com a temporada da F1 terminando cada vez mais tarde, reverterei a ordem que fiz dez anos atrás, começando pelos pilotos que entraram na história... pelas portas dos fundos!

1) Jolyon Palmer
Seu pai, Jonathan Palmer, foi um piloto regular de F1 nos anos 1980 e chegou a vencer o Troféu Jim Clark, como melhor piloto que corriam com os motores aspirados em 1987. Jonathan se tornou um notório empresário de corridas depois de se aposentar das pistas e quando seu filho mais velho começou a correr de kart, é claro que o patriarca da família Palmer passou a ajudar no que podia Jolyon a desenvolver sua carreira. Jolyon Palmer correu sempre em categorias em que seu pai era um dos promotores, garantindo sua rápida subida a GP2. Numa época em que a GP2 produzia campeões do nível de Nico Rosberg e Lewis Hamilton, vencer a categoria era um belo cartão de visitas para que um piloto ascendesse à F1. Jolyon passou quatro temporadas antes de se tornar campeão da GP2, derrotando na ocasião Felipe Nasr. Porém, a GP2 também produziu campeões do naipe de Fabio Leimer e Davide Valsecchi. Palmer não se graduou a F1 imediatamente, ao contrário de Nasr, gerando reclamações de Jonathan Palmer. Em 2015 Jolyon se tornou piloto de testes da então Lotus, que seria comprada pela Renault no final do ano. Com um grande lobby do seu pai e patrocinadores ingleses, Jolyon foi contratado como piloto oficial da Renault em 2016. Correndo ao lado de Kevin Magnussen, Jolyon foi esmagado pelo danês e conseguiu apenas um pontinho ao final da temporada. Para sorte de Palmer, Magnussen foi para a Haas e sua vaga permaneceu, aos trancos e barrancos, intacta para 2017. Pois sua segunda temporada foi ainda pior. Mesmo com a Renault evoluindo, a chegada de Nico Hulkenberg aumentou a sensação de que Palmer não estava ao nível da F1. O inglês foi novamente massacrado tanto em ritmo de classificação como de corrida por Hulkenberg e nem mesmo o seu melhor resultado na F1, um sexto lugar em Cingapura, fez Palmer escapar das críticas. Duas corridas depois de sua melhor prova, Palmer seria substituído por Carlos Sainz na Renault, com a cúpula da montadora já sabendo que Jolyon Palmer não faria mais parte dos planos da equipe em 2018. Como Palmer nada fez em duas temporadas, o inglês saiu da F1 como piloto para se tornar comentarista. Num raro momento de sinceridade na F1, Jolyon Palmer admitiu que esteve longe de fazer um bom trabalho na F1 e que mereceu ser demitido antes do final da temporada. Ao menos Jolyon tem noção para ser melhor comentando do que pilotando...

2) Brendon Hartley
Por muitos anos o programa de jovens pilotos da Red Bull foi um exemplo na criação de grandes pilotos na F1. Vettel e Ricciardo são os maiores exemplos da máquina comandada por Helmut Marko. Contudo essa máquina também costuma fritar muitas carreiras. Hartley foi contratado como jovem promessa da Red Bull ainda com 18 anos, mas após cinco anos no programa o neozelandês acabaria dispensado pela Red Bull. Aparentemente sem chances de subir a F1, Hartley enveredou no Endurance com grande sucesso, sendo campeão no WEC e vencendo as 24 Horas de Le Mans com a Porsche. No ano em que venceu a mítica corrida, Hartley recebeu uma estranha ligação: Marko o queria no cockpit da Toro Rosso! Marko havia se cansado de Kvyat e precisava de um piloto experiente para sentar num F1 imediatamente e sem muito testes. Hartley não corria de monopostos fazia muito tempo, mas aceitou a proposta e estreou na F1 no final da temporada 2017. Brendon percebeu que o antes fértil programa de jovens pilotos da Red Bull se tornara um verdadeiro deserto e somente por isso Hartley ficaria na Toro Rosso em 2018. Correndo ao lado do jovem inexperiente Pierre Gasly, Hartley foi atropelado pelo francês. Enquanto Gasly conseguia um quarto lugar no Bahrein e fazia corridas consistentes nos pontos, Hartley remava para entrar na zona de pontuação. Muitas vezes sem sucesso. Como acontecera dez anos antes, Hartley foi dispensado por Marko da Red Bull sem nunca ter mostrado a que veio na F1.

3) Esteban Gutiérrez
Sérgio Pérez foi guindado a F1 pelas ricas mãos de Carlos Slim, um dos homens mais ricos do mundo. Porém, o mexicano de Guadalajara se mostrou bem mais do que um simples pay-driver e Pérez fez uma ótima temporada de estreia na Sauber, tornando-se um dos pilotos mais sólidos da década de 2010. Talvez empolgado com o desempenho do seu pupilo, Slim pensou que colocar um jovem mexicano na Sauber com seu dinheiro bastava para ter um bom piloto na F1. Porém, dificilmente um raio cai duas vezes no mesmo lugar. Esteban Gutiérrez seguia os passos de Pérez nas categorias de base europeias, vencendo a F-BMW e GP3. Porém, o mexicano se mostrava afobado e bastante propenso a erros, características comprovadas na GP2, onde não conseguiu vencer mesmo estando na melhor equipe da época, a Lotus ART. Ainda assim Gutiérrez graduou-se a F1 em 2013 pela mesma Sauber de Pérez. A comparação com o compatriota foi imediada e bastante cruel com Gutíerrez, que além de não mostrar a mesma velocidade das categorias de base, manteve-se afobado e errando demais. Ao lado de Hulkenberg, Gutíerrez foi humilhado. Enquanto o alemão marcava pontos com alguma regularidade, Gutíerrez só marcou seus primeiros pontos, de forma chorada, já no final da temporada. Naquela época a Sauber já estava em dificuldades financeiras e somente isso permitiu a Gutíerrez uma segunda temporada na equipe suíça, mas com um carro pior, os resultados foram, logicamente, ainda piores para o mexicano, que acabou dispensado. Gutíerrez corria na Academia da Ferrari e quando Gene Haas resolveu construir um carro de F1 em parceria com a Ferrari, o americano pediu uma opinião aos italianos, que indicaram Gutíerrez. Muito provavelmente Haas estava ocupado demais na sua equipe e não viu muitas corridas de F1 na época. Após um ano sabático, Gutíerrez voltava a F1 pela Haas. Foi outro vexame! Foram vários abandonos, enquanto Grosjean marcava pontos aqui e ali, além de sempre ser bem mais rápido do que o mexicano, que seria dispensado sem maiores cerimônias ao final da temporada pela nova equipe sem nenhum ponto marcado. Um tiro n'água com direito a muita tequila! 

4) Lance Stroll
Como um piloto que subiu ao pódio e largou na primeira fila na F1 pode estar entre os piores da década? Pois bem, o caso de Lance Stroll tem muito mais a ver com o tamanho do bolso do seu pai do que seu talento. Stroll passou muito bem nas categorias de base europeias, vencendo títulos por onde passou. Bom indício, certo? Nem tanto, se olharmos alguns detalhes. Seu pai Lawrence Stroll comprava a melhor equipe da categoria em que seu herdeiro fosse correr e deixava Lance como piloto principal. Na F3, onde Lance se sagrou campeão com sobras, os outros pilotos da equipe eram contratados para serem coaches de Stroll e houve indícios de ordens de equipe para que Lance vencesse. Com a Williams já não tão bem das pernas, Lawrence Stroll comprou parte da equipe e... adivinhem? Sim, impôs que seu filhote estreasse na F1! Com apenas 19 anos Lance Stroll debutou na F1 mostrando muito afobamento e falta de maturidade. Seu ritmo em uma única volta era terrível, melhorando sensivelmente em ritmo de corrida. Mesmo contando com vários treinadores, inclusive Felipe Massa para auxilia-lo, Stroll nunca se desenvolveu como um piloto promissor que nunca foi. Com a Williams cada vez pior, Lawrence comprou a Force India, transformando-a em Racing Point e, claro, colocando Lance na equipe. Esse ano vimos novamente o canadense apanhar feio no grid em comparação a Sergio Pérez e apenas alguns pontos conquistados em corridas fortuitas. Mesmo sem muita condição, Stroll vai ficando na F1 enquanto o bolso sem fundo do seu papai lhe permitir...  

5) Giedo van der Garde
O mundo corporativo trabalha bastante hoje em dia em clima organizacional, onde o colaborador deve se sentir bem acolhido pelos seus pares e superiores. Bom, Giedo van der Garde parece não ligar muito para esse mantra corporativo quando tentou entrar na Sauber a fórceps. Exímio kartista, Van der Garde fez uma carreira decente nas categorias de base, mas só entrou na F1 por causa do seu sogro rico, na antiga Caterham. O holandês não foi de todo mal, mas nada que chamasse a atenção. Porém, o patrocínio que ele tinha interessava as equipes em dificuldades e Van der Garde foi contratado como piloto de testes da Sauber com a promessa de se tornar titular no segundo ano. Só que Monisha Katelborn não entendia assim e para 2015 vendeu seus dois cockpits para Felipe Nasr e Marcus Ericsson. Sentindo-se lesado, Van der Garde, que não fez um único teste na pré-temporada, foi à Austrália e conseguiu na justiça local que participasse da corrida pela Sauber. Foi uma zona! O holandês chegou aos boxes da Sauber uniformizado, mas era evitado por todos da equipe. Na bodega suíça comandada por Katelborn, conseguiu-se um acordo e Giedo Van der Garde nunca mais foi visto no paddock da F1. E Katelborn foi afastada da Sauber logo depois.

6) Sergey Sirotkin
Pay-drivers sempre existiram na F1, mas um piloto sem nenhuma experiência e com apenas 17 anos estrear na categoria era um pouquinho demais. Pois isso quase aconteceu com Sirotkin, que conseguiu um acordo com a Sauber em 2014 e chegou a testar para conseguir a super-licença. Porém, a bodega suíça que era a Sauber de Katelborn desfez o negócio e Sirotkin teria que esperar um pouco mais para estrear na F1. Mesmo não se destacando na GP2, o russo conseguiu comprar um cockpit na Williams de última hora e finalmente estrearia na F1 em 2018. Ao lado de Lance Stroll, Sergey Sirotkin formou uma das piores duplas de pilotos que a F1 jamais viu. Com um carro ruim, uma equipe sem comando firme e dois pilotos inexperientes, a Williams naufragou com seus dois pilotos que estão nessa série. Sirotkin conseguiu a proeza de fazer parelha com o horroroso Lance Stroll. Motivos mais do que suficientes para o russo estar aqui.

7) Marcus Ericsson
Em meados da década passada, um dos melhores celulares que haviam era o Sony-Ericsson. Para quem ligou o nome da multinacional com o piloto, acertou em cheio. Milionário, Marcus Ericsson passou pelas categorias de base europeias sem muito barulho, mas graças ao seu dinheiro subiu a F1 com a Caterham. Quando a Sauber estava orando por um pay-driver, Ericsson estava lá para salvar a lavoura. Por essas sortes da vida, em 2015 a Sauber construiu um bom carro e Felipe Nasr chegou a ser quinto colocado na primeira corrida da temporada, na Austrália. Já Ericsson foi apenas oitavo, uma volta atrás. Mesmo claramente inferior ao brasileiro, Ericsson ficou na equipe quando as finanças apertaram na Sauber novamente e 'investidores suecos' salvaram a equipe. Foram cinco temporadas em que Marcus Ericsson ficou no final do pelotão da F1 e tomando tempo dos companheiros de equipe.

8) Stoffel Vandoorne
O belga é mais um caso de piloto que surgiu no vácuo de alguém que surgiu muito bem, mas que acabou dando muito errado. Quando revelou Lewis Hamilton, a McLaren sabia que tinha uma boa receita para forjar campeões. Por isso a equipe contratou Stoffel Vandoorne ainda bem novo, o colocando em boas equipes nas categorias de base. E o belga não decepcionou, vencendo por onde passou e causando ótima impressão. Porém, Vandoorne deu azar de subir na F1 no pior momento possível da McLaren. A equipe vivia em conflito com a Honda, que não conseguia fornecer um motor decente para a tradicional escuderia, enquanto Fernando Alonso não se furtava em colocar gasolina na fogueira. Foi nesse caos que Vandoorne estreou na F1, mas correndo ao lado de um piloto histórico como Alonso, num carro que deixava a desejar e numa equipe em uma difícil fase de transição, Vandoorne naufragou na F1, perdendo confiança na medida em que os resultados não vinham, acabando na saída do belga da McLaren e da F1 pelas portas dos fundos, sem nunca mostrar o que dele se esperava.

9) Daniil Kvyat
O torpedo é uma arma tática de grande poder de destruição em batalhas navais. Isso poderia ser um bom apelido na F1, mas não no caso de Kvyat. O russo foi outra cria do programa de jovens pilotos da Red Bull e estreou muito bem na F1, mostrando velocidade na Toro Rosso. Quando Vettel foi para a Ferrari, Kvyat subiu para a Red Bull. Seu primeiro ano não foi ruim, mas sua principal característica ficou bem clara: seu afobamento. Não faltaram acidentes para Kvyat, mas foi em sua segunda temporada na RBR que o russo ficou conhecido como 'torpedo'. Após uma corrida na China onde aprontou bastante, Kvyat conseguiu bater duas vezes em Vettel em duas curvas na sua corrida caseira, atrapalhando ainda seu companheiro de equipe Ricciardo. Também cria da Red Bull, Vettel foi a sua antiga equipe reclamar de Kvyat, que acabaria rebaixado à Toro Rosso ainda no começo da temporada para dar lugar ao fenômeno Max Verstappen. O russo sentiu bastante o passo atrás e em 2017 acabaria dispensado da Toro Rosso e da Red Bull. Porém, Marko não tem mais tantos frutos no seu programa de jovens pilotos e sem alternativas, trouxe Kvyat de volta para a Toro Rosso. Ao lado do novato Alex Albon, Kvyat acabou ficando para trás e viu o tailandês, e não ele, subir para a Red Bull quando rebaixaram Gasly. Só que ao contrário de Daniil, Gasly cresceu no seu passo atrás e em Interlagos, o francês conseguiu um emocionante segundo lugar, enquanto Kvyat foi apenas nono. Apesar de veloz e ser genro de Nelson Piquet, Kvyat apenas esquenta lugar para alguém do programa da Red Bull lhe tomar o lugar. Novamente!

10) Lucas di Grassi
O brasileiro teve uma bela carreira no kart e nas categorias de base até chegar na F1, mesmo que na barca furada que foi a Virgin. Di Grassi nada mostrou em seu único ano na F1 e foi dispensado para continuar sua carreira no Endurante e na F-E com sucesso. E por qual motivo Di Grassi está aqui? Sabe aquela música 'Beijinho no ombro'? Pois bem, Lucas di Grassi parece nunca ter se conformado em ter fracassado na F1 e fica elogiando a péssima F-E com argumentos fracos e que não respondem ele ter tomado pau do Timo Glock...

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Lenda que se vai

Domingo a Nascar viu Kyle Busch se consagrar bicampeão com uma vitória até mesmo tranquila em Hoemestead. Mais atrás, fazendo outra corrida bastante discreta em 2019, Jimmie Johnson terminou em 13º, aumentando ainda mais seu incômodo jejum de vitórias.

Três dias depois da final da Nascar, Jimmie Johnson usou as redes sociais para anunciar que em 2020 será sua última temporada completa como piloto da Nascar, pendurando as sapatilhas após uma carreira gloriosa. Johnson não impressionou muito nas categorias de base, mas uma pessoa importante teve o olho clínico para com o jovem piloto na virada do milênio: Jeff Gordon. Considerado o melhor piloto da era moderna da Nascar, Gordon convenceu a seu chefe de equipe Rick Hendrick a contratar Johnson, que estreou na categoria principal, que ainda se chamava Winston Cup, em 2001. Já na temporada seguinte Johnson conquistou suas primeiras vitórias e em 2003 foi vice-campeão com bem mais vitórias do que o campeão Matt Kenseth, fazendo a Nascar rever a sua pontuação e introduzir o famigerado Play-Off.

Já considerado o melhor piloto do pelotão, Jimmie Johnson teimava em ser seu esperado título escapar. Somente em 2006 que Johnson conquistou seu título, mas iniciando um raro domínio na equilibrada categoria. Foram inacreditáveis cinco títulos consecutivos, o que seria adicionado outros dois, o último em 2016, sempre ao lado do chefe de mecânicos Chad Knaus. Ter sete títulos na conta faz de Jimmie Johnson ser o maior vencedor da Nascar, se igualando às lendas Richard Petty e Dale Earnhardt. O melhor? Tecnicamente muitas pessoas afirmam que Johnson foi, sim, o melhor piloto que a Nascar já viu, mas avesso a polêmicas e muito técnico, JJ não tem um décimo do carisma de Petty e Earnhardt. Mesmo considerado o melhor piloto dos últimos tempos, Johnson nunca foi tão popular quanto os seus contemporâneos Dale Jr, Gordon ou Tony Stewart. 

Aos 44 anos e vendo mais uma nova geração chegando na Nascar, Jimmie Johnson sente o tempo chegando. Ele não vence desde meados de 2017 e pela primeira vez em sua carreira Johnson não foi para os Play-Offs esse ano, algo que seus jovens companheiros de equipe na Hendrick (Elliot, Bowman e Byron) conseguiram. Knaus agora cuida do carro de Byron e Johnson preferiu escolher parar ainda com todo o respeito dos seus pares. Grande conhecedor de marketing, a Nascar irá aproveitar 2020 para homenagear a lenda Jimmie Johnson. E será bastante merecido!

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Figura(BRA): Interlagos

Mesmo sendo uma das corridas mais populares do calendário da F1, o Grande Prêmio do Brasil vez por outro é ameaçado de sair do longo caminho da F1 ao redor do mundo. Com tantos países ricos querendo receber a F1, uma prova que não conta com o apoio oficial do governo federal logo fica em risco. Esse ano surgiu até um rival caseiro, com a construção do autódromo de Deodoro recebendo aval do governo Bolsonaro para receber a F1 em poucos anos. O detalhe é que onde estará (ou não) o novo circuito do Rio, há apenas árvores e muita confusão. Só que Interlagos vai se safando com corridaças como a de ontem. O circuito paulistano tem uma espécie de magia que faz com que suas corridas, mesmo aquelas que estão mornas como a de ontem, sempre se transformem em provas inesquecíveis. Se até a quebra de Valtteri Bottas a corrida não tinha nada de especial, o safety-car trazido pelo finlandês causou uma metamorfose na prova de ontem, com várias ultrapassagens e toques trazerem cenas como o pódio duplo da Honda, a volta da McLaren ao top-3, Gasly e Sainz estreando no pódio, a Alfa Romeo colocando dois carros no top-5, as duas Ferraris batendo entre si e apenas um carro das equipes grandes, do vencedor Max Verstappen, entre os três primeiros. E olha que a tradicional chuva ficou apenas na sexta-feira. Por isso que por mais que se façam autódromos faraônicos pelo mundo, Interlagos ainda é um dos palcos icônicos da F1.

Figurão(BRA): Ferrari

Se uma foto vale mais do que mil palavras, basta essa imagem para perceber o motivo da Ferrari estar aqui...

domingo, 17 de novembro de 2019

Arrancada de Buschinho

Em 2015 Kyle Busch se aproveitou de um arranjo no regulamento para poder conquistar seu merecido título da categoria principal da Nascar, quando quebrou a perna e passou várias etapas de fora. O piloto da Joe Gibbs continuava competitivo, mas o título não era bisado, principalmente com o crescimento de pilotos como Martin Truex Jr e Joey Logano. Em 2019 Busch continuou na sua toada de piloto da ponta da Nascar e ficou em primeiro lugar na temporada 'regular'.

Nos play-offs Busch continuava a marcar boas posições e ir evoluindo no intrincado sistema que a Nascar bolou para deixar o campeonato aberto até a última corrida, para ter uma espécie de showdown em Homestead, mesmo que de forma artificial. Porém, Kyle sofria um incomum jejum de 21 corridas e teria que enfrentar três pilotos muito fortes na final e com vitórias recentes. Demonstrando a força de sua equipe, seus companheiros de pits Martin Truex Jr e Denny Hamlin se classificaram para a Homestead com vitórias, o mesmo acontecendo com o sempre perigoso Kevin Harvick, da Stewart-Hass, que ficou com a quarta vaga.

A última etapa em Homestead ficou focada apenas nos quatro, que sempre andaram no pelotão da frente, mesmo com um ou outro incidente. O regulamento de play-off pode ser bem cruel com um piloto, pois basta um erro que todo o campeonato vai para o brejo. Truex Jr liderou de forma dominante a primeira parte da prova, mas um erro primário e absurdo em um dos pit-stops (os mecânicos trocaram os pneus errados) do piloto da Gibbs fez com que ele perdesse uma volta, mas uma bandeira amarela na hora certa recolocou Truex no páreo. A corrida na cidade vizinha a Miami começa no final da tarde e se estende até a noite, mudando o acerto dos carros. Se de dia Truex tinha o melhor carro, a noite era Busch quem dava as cartas. Sempre se mantendo num seguro top-5, Kyle Busch atropelou Truex e Hamlin nas voltas finais para se estabelecer na frente.

Sem alternativas, os demais concorrentes ao título tentaram mudar o status quo na tática. Harvick e Truex esticaram ao máximo o penúltimo stint para ter melhores pneus nas voltas finais, esperando uma bandeira amarela que surpreendentemente nunca veio. Quando os dois voltaram à pista, Busch estava muito na frente. Hamlin teve um problema nos pits, onde seus mecânicos não retiraram um adesivo para tampar o radiador e por consequência perder arrasto na reta. Com o motor superaquecendo, Hamlin teve que voltar aos boxes e perdeu uma volta. Correndo em segundo Truex tentou uma aproximação, mas o máximo que fez foi baixar de sete para quatro segundos sua desvantagem para o líder Buschinho.

Kyle Busch recebeu a bandeirada com bastante tranquilidade e não apenas acabou com seu incômodo jejum de vitórias como garantiu seu segundo título com mais um triunfo em Homestead. Considerado um garoto prodígio quando surgiu na metade da década passada, Kyle Busch teve vários rompantes durante as suas primeiras provas, onde se metia em confusões durante e depois das corridas, trazendo para si a pecha de arrogante e marrento, mas também conquistou vários fãs com seu estilo de pilotagem sempre agressivo. Outro problema de Buschinho, como é chamado por aqui por ser irmão mais novo de Kurt Busch, outro campeão da Nascar, era que seu desempenho sempre caía nos momentos decisivos do campeonato, fazendo-o perder títulos em sequência, mesmo quando era considerado favorito. O amadurecimento fez que Kyle Busch se metesse em menos confusões com seus adversários e garantiu uma pilotagem cada vez mais sólida, que o manteve entre os pilotos de ponta da Nascar. Com esse título e contando ainda com 34 anos de idade (lembrando que na Nascar a 'validade' do piloto passar e muito dos 40 anos), Kyle Busch pode se garantir entre os grandes dessa geração da Nascar.

Magia de Interlagos

Vire e mexe se fala na saída do Grande Prêmio Brasil do calendário da F1 ou a substituição de Interlagos por uma pista nova. Se o Autódromo José Carlos Pace não tivesse uma magia toda especial, provavelmente isso já até teria acontecido, mas corridas como a de hoje faz com que os fãs praticamente implorem para que Interlagos permaneça na F1, mesmo que não tenhamos mais o protagonismo de antes na F1. Novamente o público no autódromo e os milhões em todo o mundo assistiram uma corrida de tirar o fôlego na icônica pista de Interlagos, com vitória de um inspirado Max Verstappen, com Pierre Gasly conseguindo um emocionante pódio batendo Lewis Hamilton na bandeirada, enquanto Carlos Sainz saiu de último para ser terceiro com a justa punição a Hamilton e mais uma vez a Ferrari terá uma reunião pós-corrida bastante tensa com seus pilotos.

Pela primeira vez no final de semana o sol apareceu forte em São Paulo e talvez por isso as equipes e pilotos preferiam a cautela na primeira metade da prova. Verstappen largou bem, enquanto Hamilton executava uma baita manobra por fora em cima de Vettel para ser segundo. Leclerc não demorou a escalar o pelotão vindo de 14º para ficar em sexto. Como foi falado mais cedo, o calor se fez presente em Interlagos apenas nesse domingo e ninguém tinha muito noção de como os pneus se comportariam com temperaturas mais altas. Ficou claro que parar apenas uma vez era arriscado demais e as primeiras paradas não tardaram a acontecer. Hamilton inaugurou a rodada de pits e quando Verstappen foi aos boxes na volta seguinte, tomou uma fechada sem noção de Kubica, que acabaria punido mais tarde. Perdendo a posição nos boxes, Verstappen contou com um antigo rival seu para retomar a ponta. Com pneus novos Hamilton encontrou Leclerc bem no miolo do circuito, só efetuando a ultrapassagem na saída da Junção, trazendo um embalado Verstappen junto. O holandês pegou o vácuo e ultrapassou lindamente Hamilton no Esse do Senna. Ferrari, Mercedes e Red Bull colocavam táticas diferentes na mesa, mas a corrida estava longe de estar emocionante. Foi então que uma rara quebra mudou tudo. Tendo parado pela segunda vez, Bottas partiu para cima de Leclerc com pneus novos, mas o monegasco usou a potência do motor Ferrari para segurar a Mercedes. Quando ambos já viam Albon nos retrovisores, o motor de Bottas disse adeus. Mesmo o nórdico estacionando seu Mercedes num lugar seguro, o Safety-car aparaceu numa decisão até mesmo discutível da direção de prova, mas que influenciaria decisivamente para um dos melhores finais de corrida dessa temporada. E não faltou corrida boa nesse segundo semestre!

A Mercedes chamou Hamilton para os boxes. Se isso influenciou ou não, o fato foi que Verstappen entrou nos boxes e Hamilton não. Mais um blefe da Mercedes, mas a situação de Hamilton não seria nada confortável nas últimas voltas. O inglês seria o único do pelotão dianteiro com pneus médios e ainda assim usados, enquanto os demais carros atacariam Lewis com pneus macios. E no caso de Verstappen, novos. Assim como aconteceu na Hungria, mesmo que de forma inversa, Verstappen sabia que não poderia esperar demais para atacar Hamilton e por isso o holandês freou por fora no Esse do Senna para efetuar a manobra da vitória logo na relargada. Mais atrás, Albon emulava a manobra do companheiro de equipe e subia para terceiro ao ultrapassar Vettel, que fazia uma corrida apagada. Mas logo ganharia luz. Vettel tentou um ataque em cima de Albon, mas acabou surpreendido por Leclerc, que ganhou a quarta posição no Esse do Senna. Vettel tentou dar o troco na reta oposta e o resultado foi um ligeiro toque dos dois carros da Ferrari que furou o pneus de ambos os bólidos e muitos palavrões no rádio com mais um zero da Ferrari. Acabou? Ainda não! Os destroços da Ferrari quebraram a suspensão de Stroll e por isso o safety-car retornou à pista com apenas quatro voltas para o fim. Hamilton viu uma oportunidade e colocou pneus macios, mesmo caindo para quarto. Na relargada faltando duas voltas, Hamilton logo ultrapassou a Toro Rosso de Gasly e com a fome de um multi-campeão, não quis esperar muito tempo para tomar o segundo lugar de Albon, fazendo o pobre tailandês rodar e cair para as últimas posições. Mesmo com a asa dianteira avariada, Hamilton foi com tudo para cima de Gasly, mas provando a força do motor Honda, o francês segurou Hamilton na bandeirada, com ambos cruzando lado a lado numa cena de cinema.

Quatro segundos à frente, Max Verstappen dava a volta por cima depois de perder a vitória ano passado de forma até infantil, quando bateu no retardatário Esteban Ocon. Hoje o holandês esteve perfeito, dando o troco em todas as investidas que Hamilton lhe dava. Foram duas ultrapassagens antológicas de Max em cima de Lewis, demonstrando que Hamilton terá ainda muito trabalho com a geração nova que vem por aí. Contudo, os ataques de Hamilton nas últimas voltas terminaram por estragar o que poderia ter sido um pódio inteiramente da Honda, com Albon em segundo e Gasly em terceiro. O toque em cima de Albon destruiu o sonho do primeiro pódio de um tailandês na F1. Porém, fez Gasly mostrar a todos que ele não era um caso perdido. Ao contrário do que aconteceu com seu companheiro de equipe quando este foi rebaixado da Red Bull para a Toro Rosso, Gasly ganhou uma motivação extra na Toro Rosso e hoje foi claramente o piloto melhor coloado do pelotão intermediário e ao se aproveitar dos infortúnios dos carros das equipes top-3, o jovem francês garantiu o seu primeiro pódio na F1 e o segundo da Toro Rosso nesse ano, sendo que desta vez com pista seca. Ah! Enquanto Gasly subia ao pódio numa corrida sensacional, Kvyat era um apagado décimo lugar...

Porém, colocar o título de melhor piloto do pelotão intermediário em Gasly seria simplificar muito as coisas. Outro piloto da canteira da Red Bull fez uma corrida monstruosa hoje e se todos queriam a punição de Hamilton, era para que a corrida de Carlos Sainz fosse coroada com um pódio. O espanhol teve problemas de motor ontem e largou em último. Sainz iniciou uma ótima corrida de recuperação até o terceiro lugar, com a punição de Hamilton confirmada, o que foi bastante merecido pelos esforços da McLaren e de Sainz. Sem falar que Fernando Alonso poderia ver dois motores Honda no pódio, junto com uma McLaren. É Fernando, paciência faz bem às pessoas. Continuando no pelotão intermediário, a Alfa Romeo saiu da má fase para colocar seus dois carros na zona de pontuação, com Raikkonen atacando Sainz nas últimas voltas e Giovinazzi segurando Lando Norris, na segunda McLaren. Daniel Ricciardo foi justamente punido por ter tentado uma ultrapassagem para lá de otimista em cima de Kevin Magnussen no começo da corrida, mas o australiano se recuperou para marcar pontos com sua cambaleante Renault, que agora não apenas vê a McLaren de longe no Mundial de Construtores, como tem agora a Toro Rosso apenas seis pontos atrás. Com um carro que não se entende bem com os pneus, o calor em Interlagos praticamente acabou com a corrida da Haas, enquanto a Williams só apareceu com a atabalhoada saída dos pits de Kubica, que fez Verstappen quase bater no pit-wall.

Dando um pequeno spoiler do filme 'Ford vs Ferrari', durante as 24 Horas de Le Mans de 1966, Carrol Shelby, personagem de Matt Damon, vez ou outra aprontava com os mecânicos e engenheiros da Ferrari, ora roubando equipamentos, ora jogando peças nos boxes da equipe de Maranello. Os italianos ficavam histéricos! Conta a lenda que a Ferrari só ganha quando um estrangeiro está na gestão da equipe, o que é uma má notícia para Mattia Binotto, que mais uma vez terá que se reunir com seus dois pilotos, que tocaram-se na reta oposta e deixaram a Ferrari com zero ponto. Vettel vinha fazendo uma corrida opaca e simplesmente não conseguia ultrapassar Albon, quando foi surpreendido por Leclerc, que fez a corrida de recuperação que era dele esperado. Aquilo pareceu mexer com os brios de Vettel, que partiu para cima do companheiro de equipe na reta oposta e quando tentava dar um chega pra lá em Leclerc, acabou tocando muito de leve no carro do rival, mas o suficiente para estourar ambos os pneus e estragar a corrida da Ferrari. Claro que os rádios dos dois foram cheios de piiiis, mas a reunião da Ferrari será, no mínimo, animada nesse final de tarde.

Foi mais uma corrida épica para a conta de Interlagos, que raramente nos decepciona no quesito corrida confusa. Dos seis carros que sempre lutam no pelotão intermediário, apenas dois chegaram na frente, numa atuação inspirada de Max Verstappen. Hamilton pode não ter tido a corrida dos seus sonhos, mas mostrou estar faminto mesmo já tendo o hexa nas mãos. A gestão da Ferrari? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. Se não foi a melhor corrida do ano, o Grande Prêmio do Brasil desse ano entrou para mais um corridão dessa temporada que começou decepcionante no quesito emoção, mas que nos últimos meses calou a boca de quem já estava matando a categoria. Não falta polêmica e pilotos excelentes na pista, mas foi a magia de Interlagos que ajudou a transformar a corrida de hoje numa prova inesquecível. 

Paul Ricard da MotoGP

Muitas pessoas tem uma memória afetiva com a F1 nas décadas de 1970, 80 e 90. São os 'bons tempos', como gostam de dizer os saudosistas. Porém, assim como ocorre hoje em dia haviam corridas chatas e ruins nesse período, mesmo que muitos neguem esse fato. Costumo dizer que a MotoGP vive sua terceira Era de Ouro. Para quem não sabe, as duas primeiras ocorreram nos anos 1960, com o surgimento das montadoras japonesas e piloto icônicos como Mike Hailwood e Giacomo Agostini, e depois nos anos 1980, quando o Mundial de Motovelocidade foi invadido pelos carismáticos pilotos americanos e seu estilo dirt track de se correr. Nos últimos anos estamos vendo a MotoGP entrar num enorme equilíbrio de marcas e corridas emocionantes, apesar de alguns poucos pilotos terem conquistado títulos. 

Mesmo nessa Era de ouro, há a possibilidade de corridas ruins e hoje foi o caso. O Grande Prêmio de Valência da MotoGP pode ser facilmente comparado ao tenebroso Grande Prêmio da França de F1 no meio desse ano. A corrida foi praticamente um longo bocejo num script já conhecido nesta temporada. Marc Márquez não larga bem, atropela o pelotão até chegar no líder de então para efetuar a ultrapassagem da vitória e administrar a corrida até o fim. Ponto. Assim se resumiu a corrida de hoje e a temporada de Márquez, que levou a Honda nas costas, dando o títulos de construtores e de equipe para a marca da asa dourada. Terminada a temporada, dá para afirmar que a segunda metade da F1 foi bem mais interessante do que o da MotoGP, mesmo a F1 tendo visto outro domínio, dessa vez de Lewis Hamilton.

O que estragou a competitividade da MotoGP foi a genialidade de Márquez. O espanhol é um ponto fora da curva e tirando sua queda em Austin, Márquez chegou sempre em primeiro ou segundo em 2019, numa sequência que nenhum outro piloto do ótimo pelotão da MotoGP esteve sequer perto de igualar. Porém, fica a sensação de que Márquez não conquistou os corações dos fãs do esporte a motor e um exemplo de como isso acontece veio hoje. Numa corrida chata e com mais uma vitória de Márquez, o dia era de Jorge Lorenzo, que na última quinta-feira anunciou sua aposentadoria da MotoGP. Lorenzo também seguiu seu script na sua pífia temporada. O espanhol largou no fim do pelotão e num ritmo horroroso, só garantiu o 13º lugar por causa das quedas ocorridas na sua frente. Porém o dia era de Lorenzo. Se o vencedor de hoje fosse Valentino Rossi, mesmo com todas as diferenças com o espanhol, ele teria chamado Lorenzo para um aperto de mão e deixaria toda a festa para o pentacampeão. Com Márquez não foi assim. Ele queria estar no centro das atenções e preparou uma festa que dividiu as atenções com Lorenzo depois da bandeirada. Foi até meio patético a falta de sensibilidade de Márquez, que não foi visto cumprimentando Lorenzo, que chegou aos boxes cercado de aplausos e abraços das outras equipes. Será que Márquez terá esse respeito?

Foi um final indigno de uma temporada em que Márquez se mostrou ainda mais dominante. Com apenas 26 anos de idade e toda a potência da Repsol Honda por trás, será difícil para-lo num curto prazo. A situação nas demais equipes colabora para que Marc continue conquistando títulos. A Yamaha está um pouco refém de Rossi, que não quer finalizar sua carreira numa equipe satélite, cedendo seu lugar na equipe de fábrica para o promissor Fabio Quartararo, segundo colocado hoje. Maverick Viñales demonstrou um grande ritmo todo o final de semana, mas após uma má largada o espanhol simplesmente desapareceu durante a corrida, terminando num opaco sexto lugar. Viñales não inspira confiança e força para peitar Márquez, enquanto o auge de Rossi já passou há muitos anos. Para a Yamaha resta apostar em Quartararo, que demonstrou uma velocidade surpreendente em seu primeiro ano de MotoGP, mas numa equipe satélite não terá a oportunidade de desenvolver a moto ao seu estilo.

A própria Honda está literalmente refém de Márquez. Dono de um estilo único, a Honda projeta sua moto de acordo com o seu piloto mais rápido. O problema é que os demais pilotos da Honda simplesmente não conseguem acompanhar Márquez. Dá para dizer que o estilo de Márquez já aposentou Pedrosa e Lorenzo. Mesmo a vaga da Repsol Honda sendo cobiçadíssima, o piloto que lá chegar poderá enfrentar uma tremenda sinuca de bico. Cal Cruthlow, que caiu mais uma vez hoje, não inspira confiança, o mesmo acontecendo com Nakagami. Johan Zarco apareceu como opção, mas o francês não fez nada demais para exigir algo da Honda. Sobrou para Alex Márquez, atual campeão da Moto2 e irmão mais novo de Marc, que já faz campanha para o mano a muito tempo. Piloto irregular e com nem um décimo do talento do irmão mais velho, Alex esperou cinco temporadas para vencer a Moto2 sempre com a melhor moto da categoria e ele ainda teve a sorte de garantir o campeonato com antecedência, pois hoje Alex caiu e com a terceira vitória seguida, Brad Binder ficou muito próximo na contagem final da Moto2. Pelo menos Marc e Alex treinam juntos e o estilo agressivo de Marc não seria totalmente desconhecido para Alex, que poderá estrear na equipe mais forte da MotoGP e muita pressão por causa das comparações. 

Nas demais equipes, a Suzuki mostrou força com Alex Rins no começo do ano e o espanhol chegou a ser vice-líder, mas a Suzuki perdeu o fôlego com uma dupla jovem e ainda carente de experiência para acertar uma moto de fábrica. A Ducati por muito tempo durante a temporada foi considerada a melhor moto do pelotão, mas Andrea Doviziozo não foi páreo para a genialidade de Márquez. Sem o mesmo talento e velocidade de pilotos como Viñales, Quartararo ou Rins, Doviziozo vai trabalhando para construir a melhor moto e também para se manter no pelotão da frente. O já veterano italiano viu toda a sua geração se aposentar, mas Dovi ainda segue forte com o terceiro vice-campeonato consecutivo. Danilo Petrucci fez um baita esforço para que seu contrato com a Ducati oficil fosse renovado, venceu uma corrida e ficou muito tempo em terceiro lugar no campeonato, mas assim que veio a confirmação que estará na Ducati em 2020, Petrucci caiu de rendimento de forma abrupta a ponto da Ducati já pensar em colocar o italiano na equipe satélite e promover Jack Miller, o rápido e tresloucado australiano, à equipe oficial. Dono de um estilo agressivo de pilotagem, como boa parte dos seus compatriotas pilotos, Miller chegou em terceiro lugar hoje muito pela ótima largada e sua pilotagem forte.

KTM sofreu o baque de ter sido abandonada por Zarco no meio da temporada e em 2020 terá uma equipe bastante jovem, com Binder e Lucuona subindo da Moto2, liderados por Pol Espargaró. Seu irmão mais velho Alex que ainda sofre bastante com a falta de desenvolvimento da Aprilia, muito provavelmente investindo bastante em funilaria para consertar as quedas de Iannone. Nas classes menores, Alex Márquez finalmente conquistou o título, mas a falta de um rival claro facilitou demais a vida do irmão de Marc. Brad Binder fez um ótima final de temporada e subirá para a equipe oficial da KTM. Lorenzo Della Porta venceu a sempre equilibrada Moto3 e tentará seguir seu caminho na Moto2 junto com o instável vice-campeão Aron Canet.

Como não poderia deixar de ser a MotoGP em 2019 teve grandes corridas com finais decididos nos metros finais, mas houve mais corridas ruins como a de hoje do que o normal. Lorenzo fez uma temporada tão ruim que se aposentou, seguindo o mesmo rumo de Pedrosa. Valentino Rossi teve sua pior temporada na Yamaha e esse pode ser um claro sinal de que o lendário piloto de 40 anos deve pensar fortemente em se aposentar logo com todas as homenagens possíveis e imaginárias. Se a Yamaha se decepcionou novamente com a falta de força mental de Viñales, viu o surgimento de Fabio Quartararo, o piloto mais surpreendente desde Casey Stoner. Doviziozo seguiu com sua luta inglória para acertar a Ducati e enfrentar outro piloto lendário da MotoGP. Marc Márquez tem seus defeitos e não atrai tanta torcida como Rossi, mas seus números, recordes e estilo único o fazem um dos gigantes do Mundial de Motovelocidade. 

Que pena...

Quando veio a notícia de que Tuka Rocha estava envolvido num acidente aéreo na Bahia na última quinta-feira, o susto foi grande, mas como havia sobrevivido, as esperanças era que o piloto de Stock sairia dessa de alguma maneira. Porém, após muitas informações desencontradas nos últimos dias, foi anunciado o falecimento de Cristiano Tuka Rocha na manhã desse domingo, depois de sua morte ter sido informada erroneamente ontem à tarde, quando na verdade a sua família tinha sido informada que sua condição era irreversível. Piloto de kart dos bons, primeiramente Tuka tentou os monopostos e passou vários anos na Itália antes de se estabelecer como um piloto da Stock na última década. Esse ano ele estava sem carro. Para quem conviveu com ele, parecia ser uma ótima pessoa. Uma pena...

sábado, 16 de novembro de 2019

Max on fire

Mesmo sem vitória ainda, já pode-se afirmar que Max Verstappen tem todos os atalhos de Interlagos. Apesar do equilíbrio da Mercedes e da potência da Ferrari, o holandês da Red Bull soube extrair o melhor do seu carro rumo a sua segunda pole na carreira, vencendo uma apertada batalha contra Vettel e Hamilton, já que Leclerc perderá dez posições e sairá amanhã em 14º.

Mesmo com alguma previsão de chuva e o sábado tenha começado nublado, a classificação ocorreu totalmente no seco e até o sol deu as caras. O Q1 sofreu um desfalque importante com o problema mecânico de Carlos Sainz e os eliminados foram os de sempre: a dupla da Williams, juntamente com Stroll e Kvyat, que viu sua filha Penélope estrear no paddock. O Q2 foi mais apertado e com algumas surpresas. Lando Norris não conseguiu levar a segunda McLaren ao Q3, o mesmo acontecendo com a dupla da Renault e Pérez, da Racing Point. Vindo de uma temporada claudicante, a Haas colocou seus dois pilotos no Q3 juntamente com Kimi Raikkonen, que vai levando a Alfa Romeo nas costas. Porém, o ritmo ruim de Haas e Alfa Romeo deve embaralhar as primeiras voltas do pelotão intermediário, com pilotos mais rápidos vindo de trás, juntamente com Leclerc.

Como vem ocorrendo nas últimas corridas foi difícil prever quem se sobressairia entre as equipes top-3, com a Ferrari muito forte na longa área de aceleração entre a curva da Junção e o Esse do Senna, enquanto Hamilton dominava no segundo setor, que incluía o travado setor entre o Laranjinha e o Bico de Pato. Porém, Max Verstappen vinha forte em todos os setores e mesmo não sendo notadamente o mais rápido em cada setor, o holandês cravou sua segunda pole na carreira, superando Vettel e Hamilton nessa ordem, num Q3 onde os pilotos não conseguiram melhorar muito em suas segundas tentativas.

Vindo de boas exibições em Interlagos, Verstappen tentará conquistar a vitória que lhe escapou por pouco ano passado, mas terá que enfrentar o ritmo de corrida fortíssimo de Hamilton. O clima instável de São Paulo também é um fator, mas tudo leva a crer numa corrida com pista seca. Mais um ponto para Verstappen.  

Ford vs Ferrari

Passei a semana esperando essa sexta-feira não pelo Grande Prêmio do Brasil ou algum jogo do Ceará nessa decisiva reta final de série A. Nessa quinta-feira estreou o esperado filme 'Ford vs Ferrari' e aproveitando o feriado da última sexta-feira, peguei a namorada para assistir.

A história é uma das mais interessantes do automobilismo. No início dos anos 1960 a Ford resolveu investir no automobilismo para melhorar sua imagem e sabendo que a Ferrari não era uma empresa que dava muito lucro, foi com tudo para cima dos italianos. Era a reunião de dois monumentos da história do automóvel. De um lado, Il Comendatore Enzo Ferrari e do outro 'The Deuce' Henry Ford II. As negociações iam bem até a Ferrari desistir do negócio em cima da hora e dar um verdadeiro pontapé na Ford, que se sentiu humilhada pelos italianos. No início dos anos 1960 o automobilismo era bem dividido entre a F1 e as corridas de Endurance, em particular as 24 Horas de Le Mans. E em ambas a Ferrari dominava. Henry Ford II ficou extremamente irritado com a desfeita de Enzo Ferrari e resolveu dar o troco na Ferrari dentro da pista, iniciando um programa de automobilismo que entraria para a história e dela nasceria o icônico Ford GT40.

Contudo, como no filme foi falado algumas vezes, o dinheiro não compra vitórias. É nesse cenário que entra Carrol Shelby e seu piloto de testes Ken Miles. O filme é baseado nesses dois personagens  forjados nas pistas que tentam mais do que derrotar a Ferrari, mas derrotar a burocracia da Ford Motor Company. Para não dar nenhum spoiler, o filme tem um vilão claro e o nome dele não é Ferrari...

A película não tem a intensidade de Rush, muitas vezes ficando até mesmo arrastado com longas conversas contemplativas, mas foi feito para ganhar prêmios e até mesmo o Oscar. Miles é retratado de forma magistral por Christian Bale. Falando no inglês, o filme também tem o mérito de corrigir um erro histórico dentro do automobilismo. Shelby já era uma lenda e o sucesso da Ford em Le Mans apenas aumentaria essa aura. A Ford contratou pilotos históricos para derrotar a Ferrari, como Dan Gurney, Bruce McLaren, Denny Hulme e Phil Hill. Porém, quem construiu, desenvolveu e foi parte primordial do Ford GT40 foi mesmo Ken Miles. Piloto inglês que pouco correu na Europa, se estabeleceu em corridas de longa duração nos Estados Unidos, mas foi seu conhecimento em mecânica que atraiu Shelby a contrata-lo. Por não ser uma estrela e ter uma personalidade complicada, Miles sempre foi um pouco esquecido na história do automobilismo, algo que sempre incomodou bastante Shelby. Tomara o filme repare esse erro!

O filme é excelente, vale demais a pena passar 150 minutos contemplando uma história sensacional, mesmo que alguns erros históricos apareçam aqui e ali. Apesar de achar Rush melhor, Ford vs Ferrari é uma ótima pedida para quem gosta de cinema e corridas.

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Adeus precoce de um campeão

Voltando três anos no tempo, nada nos poderia sequer vislumbrar Jorge Lorenzo saindo da MotoGP, quase que pelas portas dos fundos, mas ainda de forma corajosa. Afinal, no final de 2016 Lorenzo completava sua nona temporada consecutiva na MotoGP pela Yamaha com muito sucesso e apesar do temperamento irascível, Lorenzo contava com três títulos e 44 vitórias. Não restavam dúvidas que Jorge Lorenzo era um dos gigantes de sua geração.

Jorge Lorenzo construiu sua carreira a base de talento e dificuldades. Nas categorias de base espanholas disputou guidão com guidão com Daniel Pedrosa, mas viu seu compatriota ser apadrinhado pela Honda desde a tenra idade até a MotoGP. Lorenzo sabia que tinha tão ou mais talento do que Pedrosa, mas acabou ficando ligeiramente para trás. Os dois se tornaram rivais fidagais a ponto do Rei Juan Carlos I ter se metido no relacionamento dos dois espanhóis. Assim era Lorenzo. Ao se sentir levemente prejudicado pelas circunstâncias, Jorge não demorava a colocar a boca no mundo. Depois de dois títulos na antiga 250cc, Lorenzo finalmente graduou-se à MotoGP em 2008 e logo de cara estreando na equipe oficial da Yamaha, ao lado da lenda Valentino Rossi. Além de gênio, Rossi também era esperto. O italiano sabia que aquele fedelho espanhol poderia lhe incomodar bastante e por isso exigiu que a Yamaha calçasse sua moto com os pneus Bridgestone, mesmo a marca dos três diapasões ter contrato com a Michelin. Rossi pediu mais: queria praticamente um muro dentro dos boxes da Yamaha.

O que fez Lorenzo nessa situação? Tornou Rossi um alvo e um rival odiado. Para não ficar por baixo, Lorenzo disse que seu grande ídolo era Max Biaggi, inimigo fidagal de Rossi. Quando conquistou suas primeiras vitórias Lorenzo fazia comemorações espalhafatosas, para provocar Rossi, que ficou conhecido por suas excêntricas comemorações pós-vitórias. Se fora da pista Lorenzo não era fácil, dentro da pista o espanhol mostrava seu enorme talento. Com um moto afeito ao seu estilo suave, rapidamente Jorge Lorenzo casou-se muito bem com a Yamaha e se tornou um piloto de ponta. Após dois anos com muitos acidentes, Lorenzo conquistou seu primeiro título em 2010, bisando em 2012. Da geração dos pilotos que surgiram na metade dos anos 2000, Lorenzo parecia o mais sólido em comparação à Casey Stoner e Pedrosa, que nunca se tornou campeão da MotoGP. Rossi ainda era forte o suficiente para enfrentar Lorenzo, mesmo quando o italiano foi para a Ducati e Lorenzo passou a reinar sozinho na Yamaha. Então apareceu um piloto tão ou mais forte do que Rossi na MotoGP: Marc Márquez.

Com um talento absurdo e uma confiança fora do normal, Marc Márquez passou por cima de todos os padrões e venceu seu primeiro título da MotoGP logo em sua estreia na categoria, mas Lorenzo não se abateria tão facilmente e venceria de forma polêmica o título de 2015, derrotando Rossi numa briga que entrou para a história. Piloto consolidado e campeão, Lorenzo pensou em novos desafios quando foi para a Ducati se tornar o piloto mais bem pago da MotoGP com a clara missão de derrotar Márquez. E parecia que apenas Lorenzo tinha força para completar essa missão. Ninguém poderia adivinhar, nem mesmo Lorenzo, que esse movimento marcaria para sempre a carreira do espanhol. Saindo de sua zona de conforto, Jorge Lorenzo demorou a se entender com a Ducati, enquanto via Andrea Doviziozo, seu antigo rival das 250cc, vencer corridas e brigar com Márquez pelo título. Mesmo com um rendimento aquém do esperado, Lorenzo não baixava a crista e como não poderia deixar de ser, começou a se desentender com Doviziozo, causando um racha na Ducati, da mesma forma como causou uma ruptura dentro dos boxes da Yamaha nos tempos de Rossi.

Sem espaço e ainda com a fama de um grande campeão, Lorenzo surpreendeu o mundo ao se transferir para a Repsol Honda em 2019, formando uma dupla dos sonhos com Marc Márquez. Todos imaginavam como Lorenzo se comportaria ao lado de Márquez, mas uma série de problemas com lesões e uma moto que simplesmente não casava com seu estilo viram todas as expectativas irem abaixo e Jorge teve uma temporada abaixo da crítica. Um forte acidente em Assen, que machucou suas costas foi o primeiro sinal que Lorenzo não tinha muitas alternativas. A Yamaha ainda era feudo de Rossi, além da marca já ter dois pilotos jovens e rápidos pro futuro (Viñales e Quartararo). A saída da Ducati não foi das mais agradáveis, enquanto as outras marcas não pareciam prontas para brigar pelo título.

Chegando até um minuto atrás do companheiro de equipe e sentindo dores pela queda de Assen, Jorge Lorenzo convocou uma coletiva nessa manhã. Para bom entendedor, meia palavra basta. "Há dias que são importantes na vida de um piloto. Quando você vence sua primeira corrida, quando vence seu primeiro campeonato, e quando anuncia sua aposentadoria. A corrida desse fim de semana vai ser a minha última na MotoGP", disse um emocionado Lorenzo.

A vaga do espanhol será cobiçadíssima, principalmente com Johan Zarco andando muito bem com a Honda de Takagami, o próprio japonês também concorrendo a vaga na Repsol Honda.

Valencia marcará o fim de uma carreira gloriosa e polêmica. Gloriosa dentro das pistas. Polêmica fora delas. Jorge Lorenzo brigou com praticamente todos os seus companheiros de equipe, mas ao mesmo tempo ganhou respeito de todos com quem dividiu as pistas nos últimos quinze anos. Pedrosa, Rossi, Doviziozo e Márquez prestaram merecidas reverências a Lorenzo. Aos 32 anos, Jorge Lorenzo deixará saudades aos seus fãs e, porque não, aos seus críticos também.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O pulo do capitão

Quarenta anos atrás Roger Penske era um dos chefes de equipes descontentes na Indy e inspirados por Bernie Ecclestone e a FOCA na F1, criaram a CART para fazer frente ao Indianapolis Motor Speedway (IMS) e a USAC. O novo campeonato fez sucesso imediatamente a ponto de incomodar a F1 do seus inspiradores.

Penske sempre foi sinônimo de excelência. Nos últimos 45 anos o time do Capitão Roger Penske foi uma equipe de ponta na Indy, conquistando vários campeonatos e vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis, fazendo nascer inúmeras estrelas nessa longa e vitoriosa jornada. Em meados da década de 1990 o herdeiro da IMS, Tony George, estava descontente com os rumos da Indy e criou uma nova categoria, que rivalizaria com a CART. Se o campeonato era de baixíssimo nível, George tinha as míticas 500 Milhas de Indianápolis na manga. Penske passou alguns anos fora do seu palco favorito, até que em 2001 comprou dois carros da IRL para vencer em Indianápolis. Porém, sem poder exibir seus patrocinadores principais em Indianápolis, Penske se viu obrigado a abandonar a CART, que ele ajudou a criar 25 anos antes. 

De volta ao território da Hulman, Penske logo se tornou uma equipe de ponta, enquanto a CART definhava até a morte, em 2007. Mesmo a Indy novamente junta, a categoria nunca voltou a ter o destaque que tinha nos anos 1980 até a metade dos anos 1990. Tony George saiu da liderança da Indy, enquanto a categoria buscava a glória de outros tempos.

Nessa segunda-feira o mundo do automobilismo foi surpreendido com o anúncio da venda não apenas do mítico circuito de Indianápolis, como de todo o campeonato da Indy para Roger Penske. Com certeza foi uma compra que envolveu centenas de milhões de dólares e que somente num futuro próximo saberemos quais as razões da família Hulman vender seu circuito e campeonato para Penske depois de setenta anos. O bom dessa história é que Penske é um homem que conhece a fundo as corridas e um nome de muita credibilidade, a ponto das rivais Ganassi e Andretti terem ficado bastante satisfeitas com o negócio. Ainda saberemos qual rumo Penske dará para a Indianápolis e a Indy, mas as perspectivas são muito boas. Bilionário e já uma lenda viva do automobilismo, Roger Penske agora se torna dono do campeonato e da corrida que tanto amou. 

Figura(EUA): Lewis Hamilton

O que podemos dizer a mais de Lewis Carl Davidson Hamilton? Gênio!

Figurão(EUA): Ferrari

Que o ritmo de corrida da Ferrari não é tão bom quanto o que Vettel e Leclerc fazem na classificação não é novidade para ninguém, porém, em Austin os italianos exageraram no verdadeiro abismo entre os ritmos de classificação e corrida. No sábado Vettel ficou a doze milésimos de conquistar mais uma pole para a Ferrari esse ano e mesmo tendo trocado o motor, tendo colocado uma unidade antiga, Leclerc ficou um décimo atrás do pole Bottas. Até o momento o script estava bastante igual ao que a Ferrari já havia mostrado em outras etapas do campeonato 2019, mas no domingo o time de Maranello entrou numa espiral negativa impressionante. Primeiro Vettel largou mal e sem aderência nenhuma, o alemão tomou uma ultrapassagem antológica por fora do hexacampeão Hamilton antes de ser deixado para trás pela Renault de Ricciardo e a McLaren de Norris, numa cena totalmente insólita com tamanha diferença entre as equipes top-3 e as demais. Quando Vettel já se aproximava dos dois pilotos com carros inferiores, a suspensão traseira da Ferrari quebrou espetacularmente e Sebastian abandonou a corrida com menos de dez voltas. Único ferrarista na pista, Leclerc esteve milhas a brigar por algo de relevante na corrida e mesmo executando a mesma tática de duas paradas do vencedor Valtteri Bottas, o monegasco chegou absurdos 52s atrás do vencedor. Uma atuação preocupante para um time que esperava brigar com a Mercedes em 2020 no embalo do crescimento da Ferrari depois das férias de verão desse ano.

domingo, 3 de novembro de 2019

É hexa!

Lewis Hamilton nem precisava de muito esforço para conseguir o hexa em Austin nessa tarde, porém, alguém como ele não se conforma com uma pálida oitava posição. Hamilton precisa de vitória, ele se alimenta disso. Hoje ele tentou vencer, mesmo não sendo necessário para ratificar o título de 2019. Superado por Valtteri Bottas já nas últimas voltas e ainda tendo que segurar Max Verstappen, Hamilton cruzou a linha de chegada em segundo lugar para subir um degrau no ranking histórico da F1 e se tornar hexacampeão, ficando apenas a um título de se igualar a Michael Schumacher. 

Uma carreira magnífica e que merece poucos retoques aqui e ali. Hamilton tem 83 vitórias, a maioria conquistada durante a era hegemônica da Mercedes desde a introdução dos motores híbridos em 2014. As poles, recorde que por muitos anos ficou nas mãos do seu ídolo Ayrton Senna, Hamilton já tem 87, 22 a mais do que Senna e 19 a mais do que Schumacher. Se não acontecer uma hecatombe em 2020, outros recordes de Schumacher serão quebrados por Lewis Carl Davidson Hamilton, nascido em 7 de janeiro de 1985 em Stevenage, Inglaterra. Vindo de família pobre, Hamilton foi descoberto por Ron Dennis e a McLaren, que o apoiou do kart até chegar a F1 e começar uma jornada impressionante e que até o momento não dá para saber se Lewis já chegou no auge ou não. A maturidade de Hamilton demorou mais do que o esperado, mas o seu talento diferenciado não. Hamilton foi vice-campeão em seu ano de estreia derrotando com o mesmo carro ninguém menos do que Fernando Alonso, então bicampeão mundial e considerado o melhor piloto da época. Ainda sofrendo com a falta de maturidade, Hamilton sofreu para conseguir o seu primeiro título na sua segunda temporada na F1. Vindo de família pobre, não demorou para Hamilton se deslumbrar e saindo do seu foco. O inglês namorou com a pussycat Nicole Scherzinger e depois brigou com seu pai. 

O fim do namoro com Nicole e a saída da McLaren foi um marco para Hamilton, que se juntou ao seu amigo Nico Rosberg na Mercedes, com a benção de Niki Lauda. Porém, a competitividade dos dois pilotos da Mercedes acabou com qualquer vestígio de amizade e Hamilton teve que lutar com um piloto inferior do que ele em termos de velocidade e talentoso, mas extremamente inteligente e ardiloso. Hamilton aprendeu com a derrota para Nico Rosberg em 2016, principalmente quando teria que enfrentar logo em seguida outro multi-campeão como ele. Sebastian Vettel dominou os primeiros anos dessa década e foi contratado pela Ferrari para colocar os italianos de volta ao rumo dos títulos. Hamilton teria que enfrentar novamente um piloto que talvez não fosse tão rápido do que ele, mas Vettel é melhor do que Rosberg e teria a força da Ferrari por trás. A maturidade veio, mesmo que Hamilton não deixasse de ter sua vida extravagante fora das pistas. Foram duas vitórias categóricas em cima de Vettel, que se mostrou mais latino do que a própria Ferrari. Para 2019 Hamilton teria como rivais novamente a Ferrari de Vettel, além da força ascendente da Red Bull de Max Verstappen. Contudo a Mercedes mostrou uma eficiência contundente e conseguiu cinco dobradinhas consecutivas nas cinco primeiras corridas. Bottas deu a pinta que poderia incomodar Hamilton, mas não demorou para Lewis colocar ordem na casa. Mesmo com a Ferrari e a Red Bull crescendo bastante nas corridas finais, a Mercedes se manteve forte o suficiente para garantir as vitórias para os seus pilotos. Se ontem a classificação foi bastante equilibrada, a Mercedes atropelou em ritmo de corrida em mais uma dobradinha em Austin. Hamilton queria garantir o hexa com uma vitória, mas acabou derrotado pela tática de duas paradas de Bottas já nas voltas finais e o segundo lugar ficou praticamente garantido quando uma bandeira amarela no final da reta dos boxes causada por Kevin Magnussen impediu qualquer ataque de Max Verstappen, que vinha na mesma tática de Bottas e estava bem mais rápido.

A corrida ficou legal apenas no final com a perseguição de Bottas e Verstappen em cima de Hamilton, sendo que apenas Bottas conseguiu superar o agora hexacampeão. A Ferrari teve uma corrida horrorosa, onde Vettel levou uma bela ultrapassagem de Hamilton nas primeiras curvas, foi deixado para trás por Sainz e Ricciardo logo em seguida e depois abandonou com a suspensão traseira quebrada. Leclerc tomou impressionantes 50s dos líderes, mostrando bem o quão a Ferrari estava perdidinha nesse domingo. Se a Mercedes vai se mostrando a rainha da eficiência, a Red Bull precisa falar logo com seus pilotos deixarem de desperdiçar tantos pontos bobos. Hoje Albon tocou-se com Sainz na primeira curva e caiu para último, tendo que fazer mais uma corrida de recuperação. O tailandês chegou em quinto, muito bem, mas Albon forçou seu equipamento e pode ter deixado pontos no toque ainda na primeira curva da corrida. Com uma arriscada tática de uma parada, Ricciardo foi o melhor do resto com a sexta posição, seguido pela dupla da McLaren. Largando dos pits por causa de uma punição na sexta, Sérgio Pérez chegou nos pontos, ultrapassado na última volta por Hulkenberg para ser décimo. 

Lewis Hamilton pôde comemorar mais um título num palco que ele adora, que é os Estados Unidos. Com toda a sua família presente, o inglês comemorou um campeonato que se mostrava sob seu controle desde o início. Com tantos números grandiosos, fica a discussão de onde está Lewis Hamilton dentro da história do automobilismo. Tendo seis títulos no bolso, é basicamente impossível negar um lugar entre os gigantes do esporte para Lewis Hamilton. O quão grande, ainda veremos. Não sabemos o que vem por aí para Hamilton, se ele se manterá motivado para liderar a Mercedes a continuar dominando a F1. Há retoques na carreira de Hamilton? Quem não tem?  Porém, ninguém poderá discutir a grandeza de Lewis Hamilton.