segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Boas festas!

 


Com a última coluna do ano, encerro mais uma temporada do jcspeedway. A décima quinta... Quando comecei a escrever em 2007, pelo simples motivo de ocupar meu tempo que naquele momento estava muito livre, além de usar o blog como uma válvula de escape para escrever sobre algo que amo, que são as corridas, nunca imaginei conquistar as amizades valiosas que consegui, além de ter contato com pessoas com um nível altíssimo de conhecimento sobre F1, Indy ou MotoGP. Também não imaginava falar para centenas de pessoas em lives ou ser reconhecido por pessoas que tenho um enorme respeito. Fecho 2021 com a sensação de ter faltado algo mais, mas em meio a essa terrível pandemia que ainda estamos, acredito que a maioria das pessoas tenham o mesmo sentimento. Gostaria de agradecer as pessoas que escreveram comentários aqui e digo que leio todos! Que tenhamos saúde, paz e luz, que o Vozão melhore (bem pessoal, tá?) e que a F1 repita a sensacional temporada de 2021 nos anos vindouros. Que venha 2022! Abraços a todos!

Figura(2021): Max Verstappen

 Pensam que somente no campeonato da F1 Max e Lewis estavam empatados antes da última etapa? Pois aqui eles também estavam com quatro indicações, incluindo um empate técnico em Austin, quando Verstappen e Hamilton deram um show de pilotagem de alto nível. O que esses dois grandes pilotos fizeram ao longo de 2021 foi histórico e será tema de discussão por muitos e muitos anos, principalmente nos pontos baixos ocorridos em Silverstone, Monza e Jedá. Se não fosse o incidente com Latifi no final da prova em Abu Dhabi, provavelmente Hamilton estaria na parte de cima da coluna e seria campeão na F1 e aqui, mas todo o imbróglio ocorrido nas voltas causado por Michael Masi fez com que o vencedor e o campeão mudassem de nome. Qualquer um dos dois mereciam vencer o título, mas há a sensação de que Max Verstappen estava levando o seu carro nas costas, enquanto Hamilton recebeu um foguete da Mercedes a partir de Interlagos para dominar as quatro últimas corridas, mesmo que não tenha significado quatro vitórias. Moldado como futura estrela da F1 desde a mais tenra idade, Max Verstappen bateu inúmeros recordes de precocidade em sua carreira e a sua velocidade inerente indicava que um título estaria por vir para o neerlandês. Com as sutis mudanças de regulamento para esse ano favorecendo a Red Bull, além do novo motor da Honda, preparado com esmero na (mais uma) despedida dos japoneses da F1, Max Verstappen focou em conseguir seu primeiro título em 2021, andando muitas vezes no modo 'Full Attack' e tirando Lewis Hamilton da zona de conforto, causando muitas situações polêmicas e tensas ao longo do ano. Com dez vitórias no ano e correndo num nível que seria assinado por qualquer um dos gênios da história da F1, Max Verstappen mereceu o título desse ano e com mais confiança, quem sabe ele não reapareça aqui novamente em 2022?

Figurão(2021): Valtteri Bottas

 A contagem dessa parte da coluna no apanhado do ano revelou um curioso empate. Mesmo tendo Mazepin em todo o seu 'esplendor', Ricciardo decepcionando enormemente em sua estreia na McLaren, o mesmo acontecendo com a Aston Martin e Alpine, duas montadoras que, tudo bem, 'estrearam' com esse nome nesse ano, mas tiveram uma temporada bem abaixo das expectativas, os mais votados, com quatro votos cada, foram os segundos pilotos de Red Bull e Mercedes. Sergio Pérez e Valtteri Bottas tiveram finais de semanas esquecíveis ao longo da temporada, onde ambos não foram capazes de acompanhar seus companheiros de equipe ou até mesmo ajuda-los. Ok, Verstappen e Hamilton estiveram verdadeiramente em outro nível em 2021 e quem estivesse ao lado deles levaria uma verdadeira sova, como realmente aconteceu com eles, mas essa comparação até mesmo injusta influenciou deles estarem tantas vezes aqui. Alguém pode me perguntar o porquê ter colocado Bottas aqui no desempate ao invés de Pérez, já que o nórdico chegou na frente do mexicano no final do campeonato. Após o título o próprio Verstappen falou que não seria campeão se não fosse por Pérez, que o ajudou decisivamente na Turquia e em Abu Dhabi, enquanto Valtteri só conseguiu alguns pontos aqui e ali ao marcar a volta mais rápida da corrida, contudo, houve momentos em que Bottas esteve longe de segurar Max, como foi o caso de Sochi. Além do mais, Pérez estreava esse ano na Red Bull e é de conhecimento público e notório a dificuldade dos pilotos de andarem no mesmo carro de Verstappen. Bottas já estava em sua quinta temporada ao lado de Hamilton e mesmo com alguns bons momentos, como na vitória na Turquia, ficou devendo no geral, apesar dos elogios públicos de Lewis para com ele em sua despedida da Mercedes. Sim, mesmo conseguindo bons pontos que ajudaram a Mercedes conquistar seu oitavo título consecutivo no Mundial de Construtores, a falta de ritmo do finlandês nas corridas pesou bastante, isso sem contar com algumas atuações bisonhas, como na Hungria ou na Rússia. George Russell já está batendo na porta faz algum tempo e Toto Wolff ficou sem maiores alternativas se não trazer o jovem inglês para fazer dupla com Hamilton, mesmo sabendo que o multi-campeão funciona melhor correndo como 'dono' da equipe. Bottas não incomodava Hamilton em termos de campeonato, mas em 2021 o finlandês esteve abaixo dos seus outros anos na Mercedes. Como é empresariado por Wolff, Bottas ainda conseguiu um lugar na Alfa Romeo para substituir seu compatriota Kimi Raikkonen e quem sabe se sobressair correndo sem tanta pressão. 

domingo, 19 de dezembro de 2021

O ano ainda não terminou

 


Grandes rivalidades acontecem de tempos em tempos e muitas vezes o seu fim não é determinado quando uma temporada se finaliza. Há todo um contexto que pode fazer com que a rivalidade, na verdade, esteja apenas começando. Havia toda uma expectativa de como seria uma briga aberta entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, principalmente quando o alemão enfileirou quatro títulos seguidos, no entanto, ocorreu do inglês massacrar Sebastian, com o piloto da Ferrari errando sozinho de forma consecutiva e de forma até mesmo constrangedora. Além do mais, ambos criaram uma amizade que não permitiu maiores polêmicas entre eles, afora o incidente de Baku em 2017. Então apareceu Max Verstappen. Considerado um fenômeno desde o kart, o neerlandês rapidamente se tornou a ponta de lança da Red Bull, mas os austríacos ainda não haviam conseguido dar um carro competitivo o ano inteiro para Max poder se ombrear com Hamilton. A Ferrari apenas chegou perto nos tempos de Vettel, mas em 2021 a Red Bull finalmente conseguiu se colocar como uma real adversária para até então invencível Mercedes na Era Híbrida. Por consequência, Max Verstappen se tornou também um real rival para Hamilton. Tudo isso junto e misturado foram os ingredientes para uma temporada já considerada história e inesquecível, que pode não ter terminado semana passada com o primeiro título de Max Verstappen.


Após a aposentadoria repentina de Nico Rosberg da F1 no final de 2016, Lewis Hamilton se tornou verdadeiramente a prima donna da Mercedes e com a marca de Stuttgart muito à frente das demais, o inglês nadou de braçada entre 2019 e 2020. A Ferrari ainda incomodou em 2017 e 2018 com Vettel, mas como falado anteriormente, Hamilton destruiu o psicológico do alemão e a Mercedes ainda tinha um carro superior. Valtteri Bottas é um bom piloto, rápido em treinos e que em bons dias consegue vitórias para a Mercedes, mas o finlandês não é um verdadeiro 'contender' para o título. Tendo praticamente Bottas como seu único obstáculo rumo ao título, a impressão geral era que Hamilton fazia temporadas apenas protocolares para se sagrar campeão com alguma antecedência. Sem um companheiro à altura e o melhor carro do grid à sua disposição, o melhor de Hamilton não aparecia até porque simplesmente não havia necessidade para isso. Com o calendário da F1 cada vez mais inchado, Hamilton começou a ter números cada vez mais impressionantes, o deixando matematicamente como o maior piloto da história da F1, mas ainda faltava uma prova real para Lewis. E ela veio em 2021. Quando a FIA anunciou que os carros seriam os mesmos de 2020 para diminuição de custos por causa da pandemia, havia o receio de termos outro passeio da Mercedes, porém, a FIA mexeu em alguns itens aerodinâmicos que acertaram em cheio a Mercedes, que teve uma pré-temporada problemática, enquanto a Red Bull, que vencera facilmente a última corrida de 2020, manteve sua taxa de crescimento e ainda teve o apoio da Honda, que anunciara que deixaria a F1 mais uma vez e para sair por cima da categoria, adiantou o motor que só apareceria em 2022. Max Verstappen dominou a pré-temporada, fez a pole em Sakhir, mas Hamilton usou seu gigantesco talento para derrotar por muito pouco o piloto da Red Bull. Era o início de uma rivalidade que tende a ser histórica e que já no Oriente Médio teve as primeira pitadas do que veria pela frente.


Hamilton derrotou Verstappen numa luta direta e dura. Na penúltima volta Max efetuou a ultrapassagem decisiva sobre Lewis, mas ao sair da pista, teve que devolver a posição e entregar a vitória para o piloto da Mercedes. No Bahrein vimos dois pilotos no limite, duas equipes fortíssimas e decisões polêmicas envolvendo o diretor de corridas, Michael Masi, aparecendo. Isso seria o tom de toda a temporada 2021, deixando os demais dezoito pilotos como coadjuvantes, mas não sem boas histórias envolvendo eles.


Sérgio Pérez retornava a uma equipe grande após quase sair da F1 com a entrada de Lawrence Stroll como dono da Force India, que se tornou Aston Martin. O mexicano teve dificuldades logo na primeira prova do ano no Sakhir e quase ficou de fora na volta de apresentação, mas Pérez apertou um 'Ctrl+Alt+Del' no seu carro e voltou à pista em último para conseguir uma série de ultrapassagens e se tornar um dos destaques da corrida. E isso aconteceu várias vezes ao longo do ano. Checo repetiu a sina dos companheiro de equipe de Verstappen na Red Bull, onde acompanhar o neerlandês era uma tarefa hercúlea. Pérez só superou Verstappen no grid uma vez em 2021, com um ritmo de classificação bem ruim para Checo, mas o mexicano compensava na corrida, porém, isso muitas vezes deixava Verstappen sozinho contra a Mercedes, diminuindo as opções táticas da Red Bull. Muitas vezes cobrado, Pérez não teve sua renovação de contrato automática, mas no geral Pérez fez um bom campeonato, com uma vitória sortuda em Baku, pista onde sempre anda bem. O mexicano contou um furo de pneu de Verstappen e um erro de Hamilton para vencer no Azerbaijão, além de conseguir vários pódios, incluindo em sua casa, proporcionando uma festa belíssima junto com seus compatriotas. No fim, o contrato de Pérez foi renovado e o mexicano terá como meta melhorar seu ritmo de classificação. Bottas já entrou nessa temporada pressionado em mostrar serviço, se não ganharia o famoso bilhete azul. Porém, o nórdico repetiu as temporadas anteriores, com vitórias consagradoras como na Turquia, com exibições bisonhas, como na Rússia ou em Austin. Mesmo sabendo que Hamilton funciona melhor sem ter ninguém para lhe perturbar dentro a equipe, Toto Wolff percebeu que Bottas já havia chegado ao limite e por isso o dispensou da equipe e para o seu lugar trouxe o promissor George Russell, de ótimos serviços com a Williams. Resta saber como Russell irá se comportar ao lado de Hamilton. Num ano tão bipolarizado, os escudeiros de Mercedes e Red Bull fizeram diferença a ponto de Verstappen dizer que não seria campeão se não fosse Pérez. O mexicano realmente ajudou Max e a Red Bull em momentos pontuais, como na Turquia e em Abu Dhabi, enquanto Bottas ficou devendo um pouco mais, com voltas mais rápidas que tiraram pontos de Max e nada mais. No cômputo geral, mesmo ficando atrás de Bottas no campeonato, Pérez se saiu melhor entre os 'números 2' das equipes top e ficará mais um ano na Red Bull.


Após um ano tão ruim em 2020, a Ferrari se recuperou em 2021 e terminou o ano em terceiro lugar com uma dupla de pilotos equilibrada, muito forte e promissora. Charles Leclerc pensava que ficaria como primeiro piloto da Ferrari com a saída de Vettel, mas Carlos Sainz imediatamente se adaptou à Ferrari e andou junto do monegasco durante todo o ano. O espanhol conquistou quatro pódios, incluindo na corrida decisiva que lhe garantiu o quinto lugar no Mundial de Pilotos, o que significa ter sido o melhor do resto. Leclerc teve um ano dentro das suas expectativas, onde conquistou a pole em sua corrida caseira, mas um acidente na classificação e a não troca do câmbio fez com que Charles nem largasse. Pela primeira vez na F1, Leclerc foi superado por um companheiro de equipe e com seus dois pilotos andando próximos o tempo todo, a Ferrari viu Leclerc e Sainz terem algumas rusgas nesse final de campeonato, o que pode ser um problema para Mattia Binotto quando a Ferrari finalmente voltar a briga pela vitória. A principal rival da Ferrari no ano foi a McLaren e na verdade os ingleses ficaram boa parte do ano na frente dos italianos. Lando Norris foi um dos grandes nomes da temporada, conquistando resultados importantes para a McLaren e ficando até a metade da temporada numa improvável terceira colocação no Mundial de Pilotos. Piloto carismático e muito popular, Norris foi uma das forças da F1 no ano, com três pódios na primeira metade do ano, suplantando completamente Daniel Ricciardo. O australiano foi contratado à peso de ouro pela McLaren para liderar a equipe, que voltava a receber motores Mercedes, mas Daniel foi uma das grandes decepções do ano, superado com sobras por Norris e muitas vezes ficando no Q2 e até mesmo no Q1! Porém, numa dessas magias que acontecem na F1, em Monza a McLaren viveu seu melhor momento em muitos anos na F1 e largou nas duas primeiras filas, com Ricciardo tomando a ponta de Verstappen na primeira curva e liderando de ponta a ponta a corrida. Norris se aproveitou de um dos entreveros de Max e Lewis para completar a dobradinha da McLaren, por sinal, a única da temporada. Norris teve uma chance de ouro na Rússia, onde liderou boa parte da corrida, mas uma pancada de chuva nas voltas finais destruíram o sonho do inglês em conquistar sua primeira vitória na F1 e a partir dali, talvez pensando no novo carro de 2022, a McLaren decaiu muito e permitiu a virada da Ferrari no Mundial de Construtores. A McLaren se consolida como uma das principais equipes do apertado pelotão intermediário, tornando-a atrativa o suficiente para fazer com que o Grupo VW, interessada em entrar na F1, comprá-la num futuro próximo.


Outra equipe que conseguiu vitória esse ano sem contar as gigantes foi a Alpine. Os franceses, único a utilizarem o motor Renault, fizeram uma temporada aquém do esperado pelos pilotos que tem. Além do jovem, mas experimentado Esteban Ocon, a Alpine contou com a genialidade de Fernando Alonso, retornando à F1 no alto dos seus quarenta anos. O espanhol começou devagar o ano, mas conseguiu evoluir ao seu altíssimo nível durante o ano e foi um dos destaques da temporada. Contudo, assim como na McLaren, foi o outro piloto a triunfar. A corrida na Hungria foi confusa e marcada pela chuva. Porém, a pista secou rapidamente. Talvez tão rapidamente que vimos uma cena insólita, com apenas Hamilton largando no grid, com os demais pilotos nos boxes para colocar pneus slicks. Na confusão dentro dos boxes, quem saiu da frente foi Ocon, que controlou toda a corrida para conquistar sua primeira vitória na F1 e também da Alpine. Com a luxuosa contribuição de Alonso, que segurou por várias voltas com enorme categoria um bem mais rápido Hamilton. Um ano com nível tão alto não poderia terminar sem um resultado de relevo para Fernando e ele veio no Catar, uma das novidades do ano. O espanhol andou muito forte na nova pista e com uma pilotagem exemplar, conseguiu chegar em terceiro, mesmo com Pérez logo atrás. Essas exibições colocaram a Alpine em quinto lugar, mas por ser uma equipe de fábrica, ainda é muito pouco para as pretensões francesas. Os gauleses tiveram como concorrentes a Alpha Tauri, que tinha como principal piloto um francês, o cada vez melhor Pierre Gasly. Após sua traumática saída da Red Bull em 2019, Gasly somente melhora na equipe satélite e nesse ano Gasly continuou sua consolidação como um dos ótimos pilotos do grid, com um pódio em Baku. Porém, a falta de atenção por parte da Red Bull (leia-se Helmut Marko) com ele já incomoda Pierre, que deu uma corajosa entrevista ao Player's Tribune, onde criticou a forma como foi tratado por Marko, que claramente só tem olhos para Max Verstappen. Como a Red Bull já não tem a mesma ostentação de jovens pilotos como em outros tempos, Gasly vai ficando na Alpha Tauri, mas claramente pensando em conseguir outro lugar para mostrar seu talento, pois Pierre sabe que a Red Bull tem dono. A Alpha Tauri estreou nesse ano o japonês Yuki Tsunoda, o primeiro piloto da F1 nascido nos anos 2000. O pequenino piloto debutou muito bem ao pontuar, mas ao contrário de boa parte da população japonesa, Tsunoda tem um comportamento irritadiço e muitas vezes soltou palavrões no rádio com a equipe, além de cometer erros em sucessão que irritou Marko. Tsunoda até mudou de país para se focar mais na F1 e nas últimas corridas Yuki melhorou a ponto de chegar num ótimo quarto lugar na corrida final. Tsunoda, protegido da Honda, teve seu contrato renovado, mas para permanecer na F1 terá que errar menos. Após um ano tão bom ao copiar a Mercedes, havia uma expectativa muito boa com a Aston Martin, mas se até a Mercedes teve problemas com as mudanças de assoalho, imagina então quem a copiava. A Aston Martin ficou aquém do esperado no ano. Vettel chegou devagar e teve um ano de altos (pódio em Baku e o segundo lugar na Hungria cassado por problemas de combustível) e baixos, mas o alemão superou o limitado Lance Stroll, só estando ali por causa da grana do papai. Vamos até quando Lawrence vai se tocar que o futuro do seu filho talvez seja atrás de uma mesa de escritório... 


A Alfa Romeo não brilhou esse ano e seus pilotos marcaram poucos pontos. Antonio Giovinazzi se mostrou rápido em classificação, mas sofrível nas corridas e por isso foi dispensado, tirando a Itália da F1 mais uma vez. Seu substituto causou polêmica, pois o chinês Guanyu Zhou tem como principal credencial seu polpudo cheque para mostrar a F1, enquanto o fenômeno Oscar Piastri, campeão da F2 derrotando Zhou ficará como piloto reserva da Alpine em 2022. Porém, a saída que chama atenção será de Kimi Raikkonen. Aos 42 anos de idade, Kimi Raikkonen anunciou sua aposentadoria definitiva do seu jeito, sem muitas palavras e deixando saudades para os seus fãs, ávidos de ouvir patadas via rádio, onde Raikkonen evocava o Seu Lunga Nórdico. Kimi queria apenas correr, não se importando com todo o resto, mas não dá para esconder que o finlandês fez apenas figuração nos últimos anos. Para o seu lugar, virá Valtteri Bottas, ajudado pela boa relação entre Toto Wolff e Fred Vasseur, chefe da Alfa. Bottas trará experiência de vários anos numa equipe dominadora à Alfa Romeo, mas Valtteri terá que se manter mais acordado para ficar mais alguns anos na F1. A Williams viveu um ano de opostos dentro e fora da pista. Houve evolução do novo carro, carregado nas costas por Russell. O inglês lutou bastante para marcar seus primeiros pontos pela Williams e havia até uma torcida para isso. Muito rápido em ritmo de classificação, Russell pecava em ritmo de corrida, mas os primeiros pontos vieram na Hungria e em Spa, na corrida 'Viúva Porcina', Russell conseguiu o primeiro pódio da Williams em muitos anos, mas devido às circunstâncias, pouco comemorado. Latifi, piloto pagante, evoluiu e marcou seus pontinhos, mas o canadense não tem traquejo para liderar uma equipe com a saída de Russell para a Mercedes. Esse papel caberá à Alex Albon, trazido da Red Bull, enquanto Russell terá que subir ainda mais seu nível para andar ao lado de Lewis Hamilton e perceber que um quarto lugar no grid é algo a ser lamentado, não comemorado. Fora das pistas, se fala no interesse do Grupo VW, mas a morte de Frank Williams marcará para sempre o ano de 2021 para a Williams. A Haas foi a única que não pontuou em 2021. Disparado o pior carro do ano, Gunther Steiner ainda teve que aturar seus dois pilotos se batendo algumas vezes, na maioria das vezes por culpa do irascível Nikita Mazepin. A F1 já tem um certo preconceito com pilotos-pagantes, mas Mazepin passou de todos os limites de antipatia ao ser flagrado assediando uma moça e sair várias vezes da pista no começo do ano a ponto de ser chamado de 'Mazespin'. A desvantagem que o russo tinha para Mick Schumacher nas classificações mostrava que Nikita não tem a mínima condição de estar na F1, mesmo errando menos nas últimas provas. Schumacher mostrou ser diferenciado ao conseguir levar algumas vezes o péssimo carro da Haas ao Q2, mas é fato também que o jovem alemão bateu demais. Assim como as demais equipes, a Haas aposta tudo nos novos regulamentos de 2022 para evoluir. O problema é que começando tão atrás, será difícil para os americanos não repetirem o papelão desse ano.


A tão propagada revolução para 2022 permeou boa parte das equipes, que pouco evoluíram nesse ano já pensando na próxima temporada. O problema é que tem tanta gente pensando em 2022 e o pódio continuará tendo apenas três vagas e haverá apenas um campeão, sem contar que Red Bull e Mercedes continuarão trabalhando para se manter na ponta. Houve também as primeiras Sprint Races, ideia da Liberty Media para movimentar os finais de semana, mas que até agora não cativou ninguém. Toda essa movimentação me faz lembrar de 1997, quando houve uma temporada excepcional, mas às vésperas de uma grande revolução nos regulamentos que trouxe a expectativa de todo mundo, mas no final 1998 foi um ano bem abaixo do anterior. Tomara que isso não se repita! No Brasil a F1 sofreu uma grande mudança com saída da Globo após quarenta anos e o retorno da Bandeirantes. Houve uma clara empolgação com o novo produto e a Band tratou a F1 melhor do que vinha fazendo a Globo, que não passava os treinos e pódios. A Band tratou de passar tudo isso, além de fazer um pré e um pós corrida, mas na verdade não mudou muita coisa na transmissão da corrida em sia, pois Reginaldo Leme já estava lá, foram contratados Felipe Giaffone e Max Wilson, egressos da Globo, além do narrador Sergio Maurício, que fazia as transmissões da F1 no SporTV. Com uma temporada tão boa, os índices de audiência foram excelentes, deixando a Band até mesmo na liderança em alguns momentos, além das gordas cotas de patrocínio. O resultado para a Band foi muito bom, apesar de não concordar com Sergio Maurício dessa ter sido a melhor temporada de F1 de todos os tempos.


Mas foi uma das melhores. Após a primeira corrida do ano, ficou claro que teríamos uma disputa titânica entre Lewis Hamilton e Max Verstappen. Uma disputa tão grandiosa que envolveu suas equipes e não havia uma beligerância tão grande entre times e chefes de equipe desde os tempos de McLaren e Ferrari no caso Spygate. Porém, ainda havia algum respeito ali. Entre Toto Wolff e Christian Horner, nem isso. Foi uma guerra aberta e as consequências ainda serão mensuradas. O mesmo acontecendo entre os pilotos. Mesmo alcançando marcas centenárias na F1, Lewis Hamilton parecia faminto em derrotar um piloto diferente e de uma equipe diferente. Ninguém pode questionar fatos, mas pode-se questionar o contexto. Hamilton conseguiu seus inflados números correndo sozinho? Lewis sabia que, historicamente, ele precisava desse título para se colocar numa prateleira mais alta junto aos grandes da F1. Com isso, finalmente vimos um Hamilton no limite como a muito não víamos, com o experiente inglês usando todo o seu arsenal para derrotar Verstappen, que também estava pressionado. Forjado para ser campeão mundial de F1 desde o kart na mão de ferro do seu pai, Max Verstappen sabia que essa era uma oportunidade que ele não podia desperdiçar e nada melhor do que derrotando a grande estrela do presente, sem contar que a saída da Honda tornar o futuro próximo da Red Bull numa incógnita. Max sabia que se o título não viesse agora, poderia demorar muito mais. Era agora ou talvez nunca mais, mesmo ninguém duvidando do enorme talento do neerlandês. Essa conjunção de dois cometas, cada um com seu objetivo, fez com que tivemos uma das grandes temporadas da história.


Max ou Lewis. Lewis ou Max. 2021 foi sempre uma tensão do que poderia acontecer com eles durante as provas. E aconteceram muitas coisas, culminando com Silverstone. Mais experiente, Hamilton tirou o pé algumas vezes, enquanto Max Verstappen sempre se colocou no modo 'Full Attack' o tempo todo. Em Barcelona, Portimão e Ímola, Lewis tirou o pé para não bater em Max em disputas direta na primeira volta. Correndo em casa, dois anos depois com público, Hamilton não iria querer ficar por baixo frente ao rival. Havia um fator psicológico que poderia fazer toda a diferença ao longo do campeonato. Na Sprint Race, Max novamente partiu para cima de Lewis e o inglês pensou que havia chegado a hora de dar uma carteirada no fedelho. Numa disputa de posição polêmica e que será discutida e falada por anos, Hamilton colocou de lado na entrada da Copse e Verstappen, que fora atacado por Lewis nas curvas anteriores, fez a curva normalmente, talvez esperando que o piloto da Mercedes tirasse o pé como fizera até então. Só que Hamilton não tirou o pé e o toque foi inevitável. Max bateu forte, Hamilton foi punido justamente (a maior punição prevista em regulamento é de 10s e Lewis foi punido em 10s), mas Lewis ainda venceu, enquanto Verstappen estava no hospital em observação. Hamilton imitou o ídolo Senna? Na minha visão, não. Senna entrou na traseira de Prost de forma proposital, enquanto Hamilton deu a opção para Max em bater ou não e o piloto da Red Bull optou em bater e ver no que vai acontecer. Para Hamilton, aquela lição deveria baixar o ímpeto de Max, mas isso foi um erro de julgamento de Hamilton, pois deixou Verstappen ainda mais agressivo nas disputas entre eles. Hamilton voltou ao seu pragmatismo, mas sem perder a sua velocidade. Um ponto pouco falado foi que, se Max tivesse deixado Hamilton passar, em Silverstone, ele teria no mínimo mais dezoito pontos na mão e teria um final de campeonato mais tranquilo. Porém, a frase 'deixar passar' não combina bem com Verstappen. E outro toque polêmico aconteceu em Monza, com Verstappen literalmente passando por cima de Hamilton, que foi salvo pelo Halo.


Houveram pegas incríveis e inesquecíveis em Austin e Interlagos, numa festa que Hamilton proporcionou no Brasil no que foi uma de suas melhores corridas na sua já longa carreira. Assim foi Max e Lewis o ano todo. Os dois levando ao limite um ao outro. Não faltaram grandes recuperações. Para o nosso deleite. Mas havia um terceiro personagem nessa equação: Michael Masi. O australiano estava sossegado dirigindo corridas da V8 Supercars quando a F1 foi surpreendida pela morte súbita de Charlie Whitting nas vésperas do GP da Austrália de 2017 e Masi foi ficando como diretor de corridas da F1. Porém, Masi levava as regras ao pé da letra que começava a incomodar a todo o entorno da F1, passando por torcida, pilotos e equipes. Em 2021 Masi foi protagonista involuntário da temporada com suas decisões que mexeram na luta pelo título, enquanto tinha Wolff e Horner lhe falando no pé do ouvido o tempo todo via rádio. Numa disputa tão parelha e em alto nível, a F1 chegou com Hamilton e Verstappen empatados para a última corrida do ano, algo que só se repetiu em 1974. Max tinha a vantagem por ter uma vitória a mais e por isso, um toque entre eles era algo não apenas cogitado, como esperado. Felizmente o toque não veio. A polêmica, sim. Como acontecera em 2008 com Timo Glock, o infeliz que mexeu em todo o campeonato foi Nicholas Latifi, por coincidência usando motor Mercedes, quando este bateu seu Williams nas voltas finais e trouxe o SC para a pista. Hamilton ficou na pista, mas Verstappen correu para colocar pneus macios. Isso se mostraria decisivo, mas havia cinco retardatários entre os líderes de uma corrida que acabava. O que fez Masi? Mandou que apenas esses cinco retardatários saíssem da frente de Max e a corrida foi reiniciada com Hamilton, que vinha de três vitórias seguidas e dominava a corrida, se tornasse um alvo fácil para Verstappen, que tomou a ponta na última volta para vencer de forma eletrizante o campeonato.


Toto Wolff estava uma fera, a Mercedes protestou das decisões atabalhoadas de Masi e como foram rejeitadas, prometeu apelar. Hamilton passou algum tempo dentro do carro e silenciou-se após a corrida, nem participando da entrevista coletiva. A Mercedes e Hamilton ficaram como mau perdedores e a promessa de apelação foi retirada, garantindo o título de Verstappen. E também a demissão de Michael Masi. Se o título fosse para Hamilton, também seria merecido, mas o inglês teve como trunfo o novo motor Mercedes que fez com que Lewis tivesse um canhão nas últimas quatro corridas e se não fosse o acidente de Latifi, ele seria o grande campeão desse ano. Mérito para a Mercedes, que conquistou o inédito octacampeonato seguido de Construtores. Porém, Max Verstappen elevou todo o nível da Red Bull, andou de forma agressiva o tempo todo e levantou seu primeiro caneco. Mais confiante, podemos ver um Verstappen ainda melhor em 2022, assim como poderemos ver um Hamilton mais agressivo por ter perdido o título tão no final e na visão dele e da Mercedes, de forma injusta. A inesquecível temporada 2021 pode não ter terminado semana passada, com Lewis e Max ainda se digladiando nos próximos anos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Figura(ABU): Max Verstappen

 O neerlandês enfileirou grandes marcas com sua até mesmo inesperada vitória nesse domingo em Abu Dhabi. Numa corrida em que se condensou o que foi essa temporada 2021 (atuações de excelência, brigas, polêmicas e várias situações inesperadas), Max Verstappen também condensou nesse domingo o que foi sua gloriosa temporada 2021. Max conseguiu uma volta estupenda no sábado para ficar com a pole, mesmo a Mercedes nitidamente mais rápida em todo o final de semana em Marina Bay. Na corrida foi super agressivo em momentos onde apenas sua velocidade não era unicamente necessária para bater Hamilton e o fez de forma cirúrgica na ultrapassagem decisiva sobre Lewis. Soube andar no limite do limite para tentar manter contato com Hamilton, que tinha em mãos o carro mais rápido do final de semana, além de utilizar todas as oportunidades que a corrida e sua equipe deixaram durante a prova. A terceira parada durante o Safety Car foi extremamente decisivo. Verstappen foi um digno 34º campeão mundial de F1. Pelo talento, juventude e confiança, pode ser o primeiro de muitos.

Figurão(ABU): Mercedes

Em qualquer tipo de competição, saber perder também é uma virtude, pois são nesses momentos em que lições são aprendidas para que no futuro não se repitam erros e no fim, a vitória aconteça ou se repita. Nos últimos sete anos a Mercedes de Toto Wolff só conheceu vitórias, glórias, títulos e recordes. Só o fato de ter um real desafiante em 2021 nos mostrou uma postura diferente da equipe de Stuttgart ao longo do ano. Nas últimas corridas a Mercedes deu à Lewis Hamilton as ferramentas necessárias para conseguir o oitavo título, que só não foi estabelecido nesse domingo devido ao acaso, com um acidente com Nicholas Latifi, que ironicamente utiliza motor Mercedes, trazendo um tardio Safety-Car. Porém, depois daí a coisa desandou, com o erro do engenheiro de Hamilton em deixa-lo na pista e à mercê dos ataques de Verstappen, que tinha melhores pneus na ocasião ao fazer seu terceiro pit-stop. Contudo, erros podem acontecer em momentos de grande pressão e não é por isso que a Mercedes está nessa parte da coluna. A postura da equipe após a derrota para Max Verstappen e a Red Bull foi de uma arrogância gigantesca, além da tremenda falta de esportividade em fazer dois protestos em que estava na cara que não ia dar em nada, sem contar que ainda ameaçaram apelar. Um atitude mesquinha de uma equipe tão vitoriosa, mas que não soube perder de um rival fortíssimo como a Red Bull.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Wereldkampioen, Max!

 


Senhoras e senhores, que campeonato, que corrida, que final! O que vimos nessa manhã de domingo sintetizou toda essa inesquecível temporada 2021 de Fórmula 1. Vimos dois pilotos formidáveis e famintos em derrotar o rival, tendo atrás de si duas equipes igualmente formidáveis e famintas. Em ABu Dhabi vimos grandes exibições individuais de Max Verstappen e Lewis Hamilton, reviravoltas, polêmicas, confusões e disputas. Tudo isso condensado em 58 voltas no insosso circuito de Marina Bay, que paga muito bem para receber o encerramento da F1 e dessa vez os árabes não tem do que reclamar do investimento, pois a final de 2021 entrou para a história do esporte e essa final será para sempre lembrada como uma das mais tensas e emocionantes que a F1 já viu.


Nas últimas décadas houveram disputas apertadas na última corrida na F1, ou seja, não deixa de ser algo inédito a situação desse final de semana, porém, desde 1997 não havia tanta beligerância entre pilotos e equipes como aconteceu nessa temporada. Max Verstappen e Lewis Hamilton elevaram cada um seu nível para derrotar seu adversário que muitas vezes cruzaram a linha tênue entre o duro e o desleal. Semana passada em Jedá Max foi punido inúmeras vezes e não se pode dizer que o neerlandês não foi um santinho ou que a FIA estava simplesmente pegando no pé dele. Verstappen estava na vibe 'full attack' há muito tempo, com várias manobras agressivas, principalmente quando um toque lhe seria mais favorável. Com exceção de Silverstone, Lewis Hamilton foi mais pragmático em todas as disputas com Max, lhe dando importante vantagem de pontos. Por fim, Chrsitian Horner e Toto Wolff assumiram um papel longe de apaziguadores. Centralizadores, personalistas e competitivos, Wolff e Horner usaram todo o seu arsenal de verborragia para colocar fogo no campeonato com cutucadas e declarações fortes, acusando o rival pela mínima questão. No meio disso tudo estava a FIA, personificada em Michael Masi. O australiano entrou no lugar do falecido Charlie Whitting meio de tampão, já que o veterano diretor de corridas morreu nas vésperas do Grande Prêmio da Austrália. Masi parece ter um tesão em aparecer e muitas vezes impôs investigações e punições que desagradaram gregos mercedianos e troianos energéticos. Nesse final de ano, quando se pediu uma mínima consistência, Masi ficou com um mico na mão, pois ele poderia definir um campeonato histórico. Enquanto isso, Masi tinha em sua orelha esquerda berrando Horner e na esquerda tinha Wolff. Sinceramente, não queria estar na pele de Michael Masi nas últimas semanas.

Toda essa pressão psicológica imposta por Horner (em conjunto com Helmut Marko) e Wolff colocou ainda mais pilha em Verstappen e Hamilton, que tiveram um primeiro round impressionante no sábado e tudo seria decidido nesse domingo. Lewis tinha a seu favor a experiência e talvez isso explique sua melhor largada mesmo tendo pneus médios. O inglês da Mercedes meteu um décimo em cima de Max apenas no tempo de reação do apagar das luzes vermelhas. Uma eternidade falando de uma largada de F1. Hamilton assumiu a ponta, mas com os pneus que tinha em seu carro, era preponderante para Max estar na frente e o neerlandês não esperou meia volta para atacar. E iniciar a primeira polêmica do dia.


Como dito anteriormente, Verstappen tinha a vantagem de, num hipotético acidente com Hamilton, ele sairia campeão e por isso o piloto da Red Bull se jogou por dentro na reta oposta, deixando para Lewis a decisão de bater ou não. Hamilton, pragmático, preferiu evitar o toque, mas sem espaço na chicane, foi por fora e ganhou uma clara vantagem. E tome barulho no ouvido de Masi. "Ele ganhou vantagem por fora da pista", "Ele me forçou para fora da pista". Enquanto isso, Wolff e Horner tagarelavam. Na torre de controle, Masi deveria estar com o c... na mão. Ser coerente e botar a colher na disputa por um título histórico ou jogar tudo o que havia feito para o alto e 'deixarem os meninos correrem'? Masi escolheu a segunda opção e Hamilton começava a luta pelo título em vantagem e para piorar as coisas para Max, com um carro nitidamente mais rápido. Hamilton matou Verstappen em ritmo de corrida, a realidade foi essa. Porém, os deuses da velocidade agiram numa famosa frase do deus Juan Manuel Fangio: Carreras son carreras.


Quando Lewis e Max dispararam na frente, parecia que os demais dezessete pilotos (Mazepin não largou por ter contraído Covid) se tornariam meros coadjuvantes. Porém, Sergio Pérez entrou em cena. Na primeira metade do ano o mexicano foi cobrado publicamente pela Red Bull por não apoiar Max Verstappen em sua luta muitas vezes solitária contra a Mercedes. Checo acordou para a vida, começou a conseguir bons resultados e em Abu Dhabi colocou uma pimenta na disputa quando ficou na pista com pneus desgastados, enquanto Lewis Hamilton vinha impávido com pneus novinhos em folha. O que parecia uma ultrapassagem protocolar se tornou uma disputa encardida, com Pérez incorporando Verstappen para se tornar o funcionário do mês da Red Bull. Apenas na volta 20 o mexicano garantiu 5s para Max Verstappen, que chegou a ficar menos de 2s atrás de Hamilton, na menor distância entre eles. "Checo é uma lenda", falou Max, vendo tudo aquilo à sua frente com um sorriso no canto da boca. "Ele é um animal", falou o engenheiro da Red Bull pronto para presentear Pérez com qualquer coisa valioso que ele pudesse ter em mãos. A forma como Pérez ajudou a Red Bull transformou seu abandono no final da corrida num dos pecados da prova. Checo merecia o terceiro lugar! As outras despedidas de 2021 também eram inglórias. Russell abandonou com a Williams, o mesmo acontecendo com a dupla da Alfa Romeo, com destaque para Kimi Raikkonen, se aposentando da F1 após vinte anos de sua estreia e deixando muitos fãs com saudades dos seus momentos 'Seu Lunga nórdico'.


Outra despedida que seria melancólica seria a da Honda, que estava prestes a perder um título que parecia em suas mãos no México. O VSC para tirar o carro de Antonio Giovinazzi fez com que a Red Bull trocasse os pneus de Max, mas por um motivo que ninguém entendeu muito bem e por tudo o que aconteceu depois se mostraria irrelevante, a Red Bull colocou os mesmos pneus duros que já estavam no carro do neerlandês. Hamilton perguntou se poderia parar e ter a certeza que teria pneus nas mesmas condições do rival. A Mercedes preferiu ficar quieta. Essa imobilidade dos alemães se mostraria decisiva mais tarde. Mesmo com pneus mais desgastados, Hamilton mantinha um ritmo forte o suficiente para manter Max sob controle para as voltas finais. Provavelmente nos boxes da Mercedes já se procuravam a camiseta 'Lewis Hamilton 8-Time World Champion', enquanto a torcida holandesa se mostrava impotente na torcida, o mesmo acontecendo com Max dentro da pista. Somente algo fora do controle de Max, Lewis, Toto, Christian ou Michael poderia tirar o título de Hamilton. E ela veio quando faltavam seis voltas para o fim.

Quando conquistou seu primeiro título na F1, Hamilton teve a ajuda involuntária de Timo Glock, que perdeu rendimento dos pneus slicks na úmida pista de Interlagos para efetuar uma ultrapassagem lendária na última curva do circuito paulistano e tirar o título de Felipe Massa. Passados treze anos, Hamilton tem o seu 'Glock': Nicholas Latifi. O limitado canadense vinha numa disputa acirrada com Mick Schumacher, que por sinal tem um carro pior do que o de Nicholas, e acabou batendo sozinho num lugar claro que o Safety Car entraria na pista. E foi justamente o que aconteceu. Naqueles segundos em que o SC apareceu nos carros, os movimentos dentro dos boxes de Mercedes e Red Bull se mostraram cruciais. Peter Bonnington, conhecido carinhosamente como Bonno, já tinha deixado Hamilton na pista no VSC e de uma forma questionável, manteve o inglês na pista durante o SC. Sem nada a perder, a Red Bull não apenas trouxe Max, como colocou pneus macios para o que seria uma relargada épica. Mas em tempos de Michael Masi na direção de prova, não poderia faltar uma polêmica final.


Com os carros organizados atrás do belo Safety-Car, percebeu-se que haviam vários retardatários entre Hamilton e Verstappen. Normalmente os pilotos são informados para ultrapassar o SC para que os líderes relarguem juntos. Tudo muito simples e muito fácil. Não para Masi. As voltas foram passando, o carro de Latifi permanecia no meio da pista e parecia que a esperada corrida final terminaria atrás do Safety-Car, sem emoção alguma. Horner e Wolff já tagarelavam no ouvido de Masi. Bandeira vermelha? Melhor não. E os carros entre os líderes? Tira, tira, tira. De forma atabalhoada, os carros foram permitidos ultrapassar o SC a ponto de Daniel Ricciardo ser o terceiro carro na relargada, mas o terceiro colocado era Carlos Sainz, se aproveitando do tardio abandono de Pérez. Os carros que ultrapassaram o SC estavam em velocidade normal, quando a relargada foi dada para a última e histórica volta desse campeonato de 2021. Hamilton tentou enervar Max nas últimas curvas, mas o neerlandês não caiu na armadilha e usou seus pneus macios para ultrapassar Lewis no novo grampo antes da reta oposta. Max jogou-se, não como na primeira volta, mas foi cirúrgico. Hamilton não poderia contar com um toque e evitou qualquer contato, mas ainda havia uma sessão com DRS, que Lewis usou e atacou, Max espremeu para manter a posição e ao emergir na ponta, garantiu seu primeiro campeonato de forma incrível e emocionante. Eu me tremia todo!


Foi um lindo final de campeonato e as imagens depois da prova mostravam bem toda a alegria e tristeza de vitoriosos e derrotados. Num raro momento de emoção, Max Verstappen chorou no rádio. Ele era o primeiro holandês campeão da F1. Jos tinha lágrimas nos olhos, o mesmo acontecendo com Christian Horner, algo não visto em qualquer um dos quatro títulos de Vettel no começo da década passada. Kelly Piquet nem tinha nascido quando seu pai venceu o último título, mas ela chorava pelo amado. Do outro lado, Lewis Hamilton demorou um bom tempo para sair do seu carro até ser consolado por um longo abraço pelo seu pai. Dentro do boxe da Mercedes, a incredulidade estava no ar, enquanto Toto Wolff gritava no rádio contra Masi. Os próprios pilotos reclamaram do chamado tardio da direção de prova para ultrapassar o SC... Sainz completava o pódio para finalizar uma ótima temporada do espanhol em seu primeiro ano de Ferrari. Na sua melhor corrida do ano, Tsunoda finalizou em quarto, bem perto de Sainz e logo na frente de Gasly, mas não suficiente para tirar da Alpine o quinto lugar do Mundial de Construtores. Valtteri Bottas. O finlandês foi homenageado pela Mercedes antes da prova, correu com um macacão azul, mas foi uma verdadeira alma penada durante toda a corrida. Enquanto Pérez deu um show na disputa com Hamilton, Valtteri sequer conseguiu ultrapassar Tsunoda. Provavelmente o nórdico já estava com a cabeça na Alfa Romeo. Norris marcou pontos, mas o inglês ficou bem longe do terceiro lugar no grid de ontem, com as Alpines marcando ponto com seus dois pilotos e Leclerc, numa corrida decepcionante, fechando a zona de pontos e terminando o campeonato atrás de Sainz na luta interna da Ferrari. A Aston Martin terminou zerada num campeonato bem abaixo e com Vettel tendo que aturar levar fechada do limitado Stroll. Schumacher fez uma corrida boa, andando na frente de Latifi e indiretamente mudando toda a história da corrida e do campeonato. Williams e Alfa tiveram duplos abandonos, com os italianos podendo ter feito mais para seus pilotos, que se despediram da F1 antes da bandeirada, em especial Kimi.


Anos após ser chamado de 'GP2 Engine', a Honda se despede da F1 em grande estilo dessa vez, comemorando seu primeiro título trinta anos depois de Ayrton Senna. Um título que, mesmo com todo o peso dos tempos de Williams, McLaren, Piquet, Prost e Senna, terá um lugar especial para os japoneses, que deram a volta por cima depois de serem a chacota da F1 por algum tempo. A Red Bull viu suas apostas virem à tona. Mesmo com a Honda fazendo um motor bem abaixo das demais, mas em ascensão, os austríacos se associaram com os japoneses e com uma dificuldade aqui e ali, finalmente tiveram um ótimo motor à disposição em 2021 e a Honda construiu um ótimo motor que ajudou a Red Bull a voltar a vencer. Mas bem antes disso, a Red Bull superou, ironia das ironias, a concorrência de Toto Wolff para contratar o adolescente Max Verstappen e coloca-lo na F1 antes de completar 18 anos. Max sempre foi um talento fora da média desde o kart, onde foi campeão mundial. Tendo a mão de ferro do seu pai Jos, Max chegou na F1 como um fenômeno, mas talvez agressivo demais. Os acidentes não tardaram a acontecer, mas como sempre se falou, é mais fácil frear um piloto rápido do que tornar um piloto lento rápido. Com o tempo Max foi ganhando mais e mais bagagem e tudo culminou com um 2021 onde ele acordou um gigante. Os títulos recentes de Hamilton mais pareciam ações protocolares de um super piloto tendo em mãos o melhor carro do pelotão. A sensação que existia era que Hamilton não atuava em seu máximo simplesmente porque não havia necessidade. Bater o Bottas? Sem problemas para ele. Em 2021 ele teve um carro e um adversário à altura e com isso Lewis elevou seu sarrafo para andar no limite dos gênios da F1, mas do outro lado havia um grande candidato à gênio. Max Verstappen foi agressivo como fazia tempo que não se via, mas ele também precisou ir ao limite que o fez derrotar esse monstro chamado Lewis Hamilton e impedir o oitavo título seguido de um piloto da Mercedes, que conquistou seu oitavo título seguido de Construtores. Wolff parece não entender que saber perder também é uma virtude e reclama das trapalhadas de Masi. Porém, se fosse ou Max ou Lewis, o título desse inesquecível 2021 estaria em ótimas mãos. Depois de tanta tensão, houve o abraço entre Hamilton e Verstappen, mas uma grande rivalidade pode estar nascendo. Poderia ter dado Lewis, mas no fim... Max, você mereceu! Você é Campeão do Mundo!

sábado, 11 de dezembro de 2021

Primeiro round... Max!

 


Nos treinos livres a Mercedes deu pinta de que poderia dominar o final de semana no repaginado circuito de Abu Dhabi e ajudar a Lewis Hamilton a executar uma virada histórica frente à Max Verstappen. Desde que se estabeleceu uma contagem final para o término da temporada, sempre se colocou Abu Dhabi como uma pista da Red Bull e foi justamente no momento mais crítico antes da largada que os austríacos mostraram o que tinham. Max Verstappen nem precisou completar a segunda volta rápida para conseguir a mais importante pole de sua carreira até agora, com um desenxavido Lewis Hamilton em segundo e se perguntando o porquê não ter tido qualquer chance contra Max no Q3.

O circuito de Abu Dhabi nunca caiu no gosto da F1, seja pilotos ou torcida, mas como os árabes pagam caro para fechar a temporada e a Liberty gosta de dinheiro tanto como Bernie, tínhamos que se conformar com a insossa pista de Marina Bay terminando o ano. Como ali não falta grana, reformas foram feitas na pista, deixando-a mais fluída ao destruir de forma bem-vinda duas chicanes desnecessárias, porém, a pecha de circuito artificial dificilmente despregará de Marina Bay e muitos se perguntam se Interlagos não seria um palco melhor para uma decisão de campeonato, ainda mais esse ano. Como era de se esperar, todo o foco desse final de semana esteve em cima da Max Verstappen e Lewis Hamilton. Não importa, por exemplo, que Latifi tenha ficado na frente de Russell, que Kimi fez uma última classificação brochante ou se pela primeira vez Tsunoda tenha superado Gasly. Na verdade, nem se todos os pilotos desfilassem nus pela pista chamaria tanta atenção do que a tensa disputa entre os representantes de Mercedes e Red Bull. Com tanta coisa já tendo acontecido e rolado ao longo de nove meses de competição, a disputa culmina nessa corrida e a classificação foi o primeiro round.

No Q1 e no Q2 a Mercedes ainda parecia bem na frente da Red Bull a ponto dos austríacos partirem para uma jogada arriscada para a corrida. Vendo Pérez em dificuldades de ir para o Q3 e Max sempre mais lento do que Lewis, a Red Bull colocou pneus macios nos seus dois carros e com essa borracha largarão amanhã, enquanto a dupla da Mercedes sairá com pneus médios. A maior aderência dos macios fará diferença na largada, mas não resta dúvida de que isso cobrará a conta em ritmo de corrida. Contudo, com todo mundo com pneus macios, a Mercedes ainda teria a vantagem no Q3, certo? Não! 

A Red Bull tentou ao máximo não trocar seu motor nas últimas provas para não acontecer uma punição, algo que a Mercedes fez com belos frutos cultivados por Hamilton nas últimas provas. Para se trocar a configuração de um motor basta acoplar um notebook ou até mesmo apertar um botão no volante. O certo foi que a Red Bull surpreendeu com um carro mais rápido no Q3 e Verstappen ficou com a pole de forma tão confortável que até tirou o pé na segunda tentativa. Hamilton não pareceu à vontade nas suas duas voltas do Q3 e no geral a Mercedes sentiu, pois se até o Q2 Bottas estava sempre muito perto de Hamilton, no Q3 o nórdico conseguiu apenas uma pálida sexta posição. Muito pouco para quem quer terminar sua passagem pela Mercedes com estilo, como o próprio Valtteri falou nas redes sociais nessa manhã. A classificação da Red Bull só não foi melhor porque Pérez perdeu a terceira posição no fim para Lando Norris, que não devemos esquecer, é inglês e corre com motor Mercedes.

Com uma pole tão enfática e a estranha queda da Mercedes no Q3, a vitória no primeiro round dessa decisão foi mesmo de Max Verstappen que, numa disputa tão apertada, os fatores psicológicos já entram na jogada e o neerlandês está agora por cima. Contudo, Lewis Hamilton é um multi-campeão com uma enorme bagagem e nessa mesma temporada já saiu de situações críticas. Dessa vez Lewis terá um dia para se recuperar desse golpe e ir para cima de Max sem muito tempo para se pensar. Os fatores externos favorecem Max, que tem Pérez em quarto, isso se a Mercedes não pedir ajuda à sua cliente McLaren com Norris. A última classificação de 2021 teve uma história interessante para contar e isso dá uma amostra do que vem por aí. Amanhã será imperdível, mesmo que Abu Dhabi não tenha um histórico de boas corridas, mas da forma como se comportaram Max e Lewis em toda essa temporada, a tensão de uma renhida disputa pelo título estará garantida.  

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Que pena...


 O ano de 2021 vai chegando ao fim, mas as grandes perdas do automobilismo não terminam. Menos de quinze dias após a morte de Frank Williams, essa manhã foi marcada pelo anúncio da morte de outra lenda: Al Unser Sr, irmão mais novo de Bobby Unser pai de Al Unser Jr. Só por essas credenciais percebe-se que a família Unser deixou sua marca no automobilismo americano, mais especificamente na Indy, porém, Alfred Unser pode ser considerado o melhor de todos eles. Al começou a correr em 1957, participando da famosa Subida de Montanha de Pikes Peak, que foi divulgada e popularizada por sua família. Quando Al surgiu na Indy, seu tio (Joe) e irmão mais velho (Jerry) já tinham falecido em acidentes nas corridas e outro irmão, Bobby, já se destacava na categoria. Não demorou para Al Unser conseguir seus primeiros resultados de relevo, superando Bobby em vários aspectos, além de ser bem diferentes. Bobby Unser era expansivo e popular, enquanto Al era tímido e de poucos sorrisos. Num tempo em que havia nomes como A.J. Foyt e Mario Andretti, Al Unser venceu o campeonato da Indy de 1970, mesmo ano em que venceu pela primeiras vez as 500 Milhas de Indianápolis, bisando a vitória no ano seguinte. A terceira vitória aconteceria em 1978, antes de conquistar mais dois títulos, sendo que o último em 1985, derrotando seu filho Al Unser Jr. Com o surgimento do filho, que ficou conhecido como Little Al, Al Unser Sr ficou conhecido também como Big Al. Já com 47 anos e estando em Indianápolis mais para apoiar o filho do que para correr em 1987, Al Unser Sr foi surpreendido por um chamado de última hora de Roger Penske após o acidente de Danny Ongais. Um carro teve que ser trazido de uma exposição para Al Unser Sr, que usou sua experiência para ver Mario Andretti ver seu maio dominante de 1987 acabar em lágrimas e Al Sr pôde vencer sua quarta 500 Milhas, provavelmente a mais especial e se tornando o segundo a fazê-lo. Al Sr correu na Indy até 1994, com mais de 50 anos, acabando por ver a segunda vitória de Al Unser Jr em Indianápolis. Mesmo com seu jeito arredio, Al Unser Sr foi muito respeitado e reverenciado, entrando facilmente no topo de listas dos melhores pilotos da Indy em todos os tempos. Após uma longa luta contra o câncer, apenas seis meses após a morte de Bobby, Al Unser Sr nos deixou, mas nunca, jamais, será esquecido como um dos gigantes do automobilismo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Figura(ARS): Mercedes

 A terceira vitória seguida de Lewis Hamilton nesse domingo após a dolorosa derrota no México não apenas colocou o inglês numa situação boa para a última corrida do ano, como praticamente garantiu o oitavo Mundial de Construtores para os alemães. Mesmo tendo dito que não traria grandes desenvolvimentos ao longo do ano por causa no investimento para o novo carro de 2022, a Mercedes conseguiu achar uma potência extra no seu motor que está fazendo Hamilton voar nas três últimas etapas, destruindo a desvantagem que o inglês tinha para Max Verstappen. Mesmo sem maiores desenvolvimentos (pelo menos declarado), a Mercedes soube trabalhar forte para dar à Hamilton um ótimo equipamento e chegar com muita força, além de garantir o que seria o recorde de oito títulos seguidos de Construtores. A forma como trabalhou nesse segundo semestre mostra bem o motivo de todos esses títulos para a estrela de três pontas. 

Figurão(ARS): FIA

 Por muitos anos a FIA foi criticada por destruir circuitos lendários em nome da segurança. Não faltam exemplos de pistas que foram modificadas por imposições da FIA, como foram os casos de Nürbrurgring, Hockenheim, Paul Ricard e por aí vai. A fome por dinheiro de Bernie Ecclestone passou para a Liberty, que foi seduzida pelos petrodólares vindos da Arábia Saudita e resolveu incluir o reino no calendário da F1, mesmo com todas as críticas pelas constantes violações aos direitos humanos do local. Como sempre, o escritório de Hermann Tilke foi contratado para projetar e construir a pista em Jedá, num belíssimo cenário e tudo parecia certo, pois se o alemão sempre foi criticado por seus traçados sem sal, pelo menos eles sempre foram seguros. A pista de Corniche foi construída em tempo recorde e pelas simulações ganhou a fama de velocíssima. Talvez um pouco demais. Quando a teoria foi para a prática, a alta velocidade se confirmou, mas ninguém esperava uma pista tão estreita, sem basicamente nenhuma área de escape e recheada de curvas cegas, transformando a pista de Jedá numa das mais inseguras que a F1 já aportou nos últimos trinta anos. Os pilotos adoraram correr lá, mas os fatores de segurança trouxe enormes críticas de todos. Naturalmente pressionada para não acabar com o show, a FIA liberou a pista um dia antes do primeiro treino livre, fornecendo um final de semana tenso, que ainda viu Enzo Fittipaldi fraturar o tornozelo na corrida de F2. Na F1 a corrida teve duas bandeiras vermelhas, vários sustos e inúmeras decisões esquisitas dos comissários da FIA, personalizada em Michael Masi. Em meio à várias polêmicas entre os protagonistas do campeonato de 2021, a F1 respirou aliviada por nada de mais grave tenha ocorrido e espera que a FIA tenha aprendido a lição, antes de liberar um circuito tão perigoso, lembrando seu passado de preocupação com a segurança, mas que na frente dos petrodólares, se contradisse.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Guerra aberta

 


Os setenta e um anos de F1 é recheado de brigas, rivalidades e polêmicas em lutas pelo título. Poderia enumerar várias batalhas pelo título históricas e 2021 já entrou para os anais da categoria como uma da temporadas mais empolgantes da história da F1. Porém, em poucos anos se viu uma beligerância tão latente entre dois pilotos e duas equipes como essa disputa entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, além de Mercedes versus Red Bull. O campeonato chegará ao brochante palco de Abu Dhabi com Max e Lewis empatados em pontos, mas com uma ligeira vantagem para o neerlandês, por ter uma vitória a mais, mas com os dois pilotos não medindo esforço para superar o rival. Já entre Mercedes e Red Bull, já pode-se afirmar que há uma guera aberta entre seus dirigentes e essa semana até a corrida em Abu Dhabi será um verdadeiro tiroteio verbal, tirando até mesmo os dois pilotos do foco.


O escritório Tilke teve mais um circuito luxuoso em sua carteira a construir, mas já podemos dizer que o Circuito de Corniche, em Jedá, entrou como mais um erro para os alemães. Mesmo com todo o aparato de segurança dos carros, poucas vezes se viu um final de semana tão tenso como os três dias na Arábia Saudita em sua corrida inaugural. Na F2, um enorme acidente na largada resultou num tornozelo fraturado em Enzo Fittipaldi, enquanto outro acidente trouxe uma segunda bandeira vermelha e causou a interrupção definitiva da prova, quando um carro bateu e outro o atingiu, sem ter muito o que fazer para o segundo piloto. A preocupação era essa. Num circuito tão veloz, estreito e cheio de curvas cegas, um acidente num local inapropriado poderia causar situações catastróficas. Para aumentar a tensão, Max Verstappen estava num dia excepcionalmente agressivo até mesmo para os seus padrões. O piloto da Red Bull, talvez impressionado pela chance de definir a parada hoje, se comportou de forma agressiva em praticamente toda situação em que estava brigando com Lewis Hamilton, fazendo com que a corrida, que faltou não terminar pelas seguidas bandeiras vermelhas e intervenções do Safety-Car virtual, fosse ainda mais tensa e perigosa. Isso mostra bem o quão determinados estão Max Verstappen e Lewis Hamilton em serem campeões esse ano, mas essa afoiteza pode transformar um campeonato tão bonito em algo bastante desagradável.


Em pelo menos cinco situações Lewis e Max estiveram envolvidos em situações limites durante a prova, sendo que não poderia faltar uma polêmica gigantesca entre eles. Após Verstappen sair da pista para permanecer na frente de Hamilton, a Red Bull mandou Max deixar Lewis passar. Tudo certo, uma teórica chance de fair play entre eles. Porém, Verstappen escolheu tirar o pé num setor rapidíssimo e estratégico, pois nesse local, quem estivesse na frente, teria a disposição o DRS na reta dos boxes. O problema foi que Hamilton não foi devidamente informado de que Verstappen o deixaria passar e por alguns segundos aconteceu um impasse, fazendo os dois se tocarem, com ambos tendo sorte em não abandonarem, seja por uma asa quebrada ou pneu furado. No fim, Max não deixou-se ultrapassar nos metros seguintes e acabaria punido em 5s, que horas mais tarde se adicionaria mais 10s pela manobra. Não faltaram xingamentos, reclamações e choradeira pelo rápido de todos os lados, com a FIA, mais perdida que um japonês no meio de um forró, tendo que avaliar tudo e com Michael Masi morrendo de medo de, numa decisão sua, o campeonato ser decidido. No fim, Hamilton venceu a corrida e com o ponto de melhor volta, empatou o campeonato com Verstappen, que mesmo punido em 15s, ainda assegurou o segundo lugar. Contudo, não se pode dizer que Hamilton foi um coitadinho. Em duas oportunidades, ele não deixou espaço para Verstappen, contrariando o que próprio inglês fala. É mais um indício de que até mesmo o experiente Hamilton está saindo de sua zona de conforto e está fazendo de tudo derrotar um obstinado Max.


Com tudo isso acontecendo, pouco se falou do que ocorreu da terceira posição para trás. E aconteceu muita coisa. Inicialmente Bottas fez bem seu papel de escudeiro, mas o nórdico perdeu qualquer contato com a briga envolvendo seu companheiro de equipe após a primeira bandeira vermelha, chegando a cair para quinto, no que parecia ser outro final de semana obscuro do nórdico. Quando Hamilton finalmente deixou Verstappen para trás, a Mercedes passou a se focar em Bottas e pareceu que um botão foi ligado em Valtteri, que primeiro ultrapassou Ricciardo numa disputa apertada e que foi pouco foi mostrada, para conseguir ultrapassar Ocon na linha de chegada e garantir um suado terceiro lugar. E bastante importante para a Mercedes. Com o abandono de Pérez, que causou a segunda bandeira vermelha, a Mercedes marcou praticamente todos os pontos possíveis no domingo e está com a mão na taça do Mundial de Construtores, o oitavo seguido. As bandeiras vermelhas decidiram muita coisa nesse pelotão. Ocon se saiu muito bem das duas relargadas, ganhando várias posições e passou o tempo todo em terceiro, até ser ultrapassado por Bottas no finalzinho. Ricciardo foi outro beneficiado, quando não parou no que seria apenas uma entrada do SC, mas logo se transformou numa bandeira vermelha, garantindo que poderia trocar de pneu e de pelotão, brigando pelas primeiras posições após a briga entre Lewis e Max. Gasly fez uma corrida discreta, mas boa o suficiente para ser sexto, mas como Ocon chegou à sua frente, isso nada influenciou na briga entre Alpine e Alpha Tauri no Mundial de Construtores, com vantagem para os gauleses.


Pérez provocou a segunda bandeira vermelha ao espremer Leclerc no muro e rodar no meio do pelotão num lugar estreito e rápido. Por sorte ninguém acertou o mexicano, mas a mesma sorte não teve Mazepin, que acertou com tudo a traseira de Russell, num acidente potencialmente perigoso. Por sorte, os machucados ficaram apenas na F2. A dupla da Ferrari chegou a brigar entre eles, mas no fim chegaram juntos e Leclerc já está na frente de Norris no Mundial de Pilotos, com o inglês da McLaren nem de longe fazendo as ótimas corridas de antes de Sochi, quando era terceiro no campeonato e fazendo provas consistentes. Da mesma forma como o gás da McLaren acabou, foi-se também o de Lando. Se Ocon e Gasly fizeram boas corridas, o mesmo não se pode dizer dos seus companheiros de equipe. Alonso rodou sozinho e ficou boa parte no final do pelotão, enquanto Tsunoda não largou bem, acertou Vettel num acidente evitável e inacreditável, acabando por fazê-lo abandonar. A Aston Martin saiu zerada de um final de semana miserável, mas que se não fossem os toques, pelo menos Vettel poderia pontuar. Além do que com Tsunoda, Seb se evolveu num incidente com Kimi Raikkonen que espalhou diversos detritos e neutralizou a corrida pela enésima vez. Se as coisas não foram boas para Kimi, Giovinazzi garantiu mais dois pontinhos para a Alfa Romeo. A Williams também não pontuou, mas pelo menos não teve o prejuízo da Haas, com dois carros destruídos para consertar em uma semana.


Desde 1974 não víamos um campeonato ir para o seu encerramento com os dois rivais pelo título empatados, mas nem Emerson Fittipaldi, nem Clay Regazzoni estavam tão obstinados como Lewis Hamilton e Max Verstappen agora. Junto com suas equipes, eles demonstram uma gana de vencer que vai perigosamente passando de um limite aceitável de esportividade, lembrando momentos pouco memoráveis de 1989, 1990, 1994 e 1997. Com três vitórias seguidas e a Mercedes mostrando sua força com um novo motor, Hamilton vem num melhor momento, mas Max Verstappen mostrou hoje que não entregará a taça sem uma boa briga, mesmo que sua expressão corporal no pódio seja de derrota. A torcida que fica é que essa briga seja dentro dos limites esportivos. E que mesmo se detestando, Toto Wolff e Christian Horner não coloquem mais fogo nessa tensa fogueira que se tornou o final desse campeonato mundial de 2021. Que vença o melhor!

sábado, 4 de dezembro de 2021

No fio da navalha

 


Já foi falado aqui algumas vezes que Lewis Hamilton e Max Verstappen estão se forçando de tal maneira que ambos estão em seus limites, tornando a temporada 2021 tão maravilhosa e inesquecível. Hoje tivemos mais um exemplo do quão fortes estão andando esses dois pilotos, sendo que dessa vez Max foi o perdedor num circuito onde não se permitem erros. No novíssimo circuito localizado em Jedá, Max e Lewis estavam no fio da navalha no Q3 e a experiência de Hamilton acabou sendo o diferencial, com Max acabando por bater na última curva, quando vinha para fazer a pole numa volta empolgante no perigoso circuito saudita.

Para começa, o novo circuito à beira do Mar Vermelho. O circuito de rua de Jedá foi construído em tempo recorde e até se falou que ele não estaria pronto nesse primeiro final de semana de dezembro, mas não importando a qual custo, ele ficou pronto, com a assinatura do onipresente escritório de arquitetura de Hermann Tilke. Como ficou bem claro dentro do prazo e o circuito não tem nada de rua simplesmente porque não existia nenhuma rua no local, mas como o local era restrito, optou-se por criar um pseudo-circuito de rua. O pessoal do Tilke criou um circuito de altíssima velocidade, onde os pilotos passam mais de 80% da volta com o pé embaixo. Tudo muito belo e os pilotos adoraram o desafio, mas há um perigoso porém. Como se trata de um 'circuito de rua', os muros ficam colados na pista, representando um risco para pilotos numa sucessão de curvas cegas em alta velocidade. Não faltaram cenas potencialmente perigosas, com os pilotos tendo encontros nada 'amistosos' nas estreitas curvas de Jedá, mas até o momento sem nenhum incidente mais grave. Por enquanto. A verdade é que há um acidente esperando para acontecer lá...

Sem nenhum teste anterior e com a pista sendo liberada pela FIA na quinta-feira anterior aos treinos livres, a pista comprovou ser de alta velocidade, mas há um problemático adjetivo nele: perigosa. Felizmente (e tomara que seja assim por todo sempre), nada demais aconteceu. Os treinos aconteceram sem maiores dramas. A Aston Martin ficou com sua dupla de pilotos ainda no Q1, indicando um final de ano ruim para um time que se diz querer o título no futuro. Após a pancada forte de Charles Leclerc na sexta, a Ferrari demonstrou um grande poder de recuperação e o monegasco (monegato é meus o...) ficou na segunda fila, deixando Sergio Pérez em quinto, mas ao contrário de outras oportunidades, o mexicano sempre andou na mesma balada de Verstappen, indicando que esse resultado foi muito mais mérito de Leclerc, mas nem tudo para a Ferrari foi flores, com Sainz rodando no Q2 e nem marcando tempo nessa sessão. Giovinazzi, de malas prontas para a F-E, demonstrou mais uma vez sua velocidade ao ir para o Q3. Se ele repetisse a dose nas corridas, talvez o italiano tivesse uma chance de ficar na F1.

Num final de semana de muito aprendizado, equipes e pilotos tiveram dificuldades em tirar temperatura dos pneus, mas na hora do 'vamos ver', Verstappen e Hamilton foram os protagonistas de sempre. Max fez uma volta que parecia definitiva no meio do Q3, mas Lewis foi lá e superou o piloto da Red Bull. No último momento, Verstappen saiu para uma segunda tentativa absolutamente no limite. Ele quase bateu na saída da curva 2 e estava mais rápido do que Hamilton. Então veio a última curva e um toque do pneu traseiro direito no muro que pôs tudo a perder para Verstappen, que para piorar, Bottas também melhorou seu tempo e a Mercedes tem toda a primeira fila amanhã. Porém, nada que esteja ruim possa piorar. O acidente de Max foi parecido com o de Leclerc em Mônaco e quando a Ferrari resolveu não trocar o câmbio após a classificação, vimos bem o que aconteceu na corrida. Ou antes dela... Provavelmente a Red Bull não correrá nenhum risco, mas isso pode colocar Max numa preocupante oitava posição, num circuito que pelas provas de F2, será de ultrapassagens complicadíssimas. Isso, sem contar a apertada curva um, onde a largada no meio do pelotão poderá ser um pandemônio.

O primeiro match-point de Max Verstappen pelo título da F1 vai se tornando um pesadelo com o neerlandês podendo ver Hamilton vencer e abrir bons pontos para ele antes da última etapa do ano. Jedá nos trouxe um circuito perigoso e até mesmo meio artificial, mas já com histórias para contar. Esse ligeiro toque de Max na última curva pode lhe custar muito, muito caro no final.   

domingo, 28 de novembro de 2021

Godspeed, sir Frank

 


A manhã desse último domingo sem F1 antes da grande decisão do campeonato de 2021 nos reservou uma enorme tristeza. Para quem ama e acompanha a F1, a sensação que existe foi que um parente bem afastado, mas especial e com uma história incrível nos deixou. Pela idade, a gente até poderia adivinhar que isso poderia acontecer a qualquer momento, mas nesses momentos somos todos egoístas e não queremos encarar a triste realidade. Nesse 28 de novembro de 2021 a equipe Williams anunciou o falecimento de Sir Frank Williams, aos 79 anos de idade. Amado, reconhecido e respeitado por toda a sua história, Frank Williams construiu um império vindo do nada, não sem antes sofrer bastante para realizar o seu sonho. Desde novo Frank foi obcecado pelas corridas, começou como mecânico e depois se aventurou como piloto de F3, mas rapidamente ficou claro que o lugar de Williams não era atrás de um volante, mas no pit-wall, comandando tudo.

Inicialmente ele conheceu um contemporâneo bem mais talentoso do que ele e com dinheiro para começarem uma equipe de F2, chamado Piers Courage. O inglês era um dos pilotos mais promissores na segunda metade dos anos 1960 e em 1969 estreou na F1 pela equipe de Frank Williams com um Brabham cliente, onde conseguiu dois segundos lugares. Porém, tudo parecia ir abaixo quando Courage morreu em 1970, bem no dia da final da Copa do Mundo daquele ano. Frank Williams ficou arrasado e falam que a morte do seu amigo Courage fez com que Frank tivesse um tratamento tão frio com seus pilotos posteriormente. Frank nunca teria um bicampeão e isso não é uma simples coincidência. Ele não queria ficar tão próximo do seus pilotos. No entanto Frank ainda tinha um sonho a realizar e foi atrás dele, não importando quão custoso isso seria. As histórias de Frank Williams para permanecer na F1 chegaram a entrar no folclore da categoria, como o conto onde pagou um mecânico que estava com o salário atrasado com um relógio que usava. Foram tempos difíceis, onde até mesmo correr com Frank Williams era sinônimo de cilada. Em 1976 ele se juntou ao milionário Walter Wolf e o que parecia ser a garantia de bons tempos se transformou em pesadelo quando os dois brigaram e Frank teve que sair da própria equipe. Sem pestanejar, Frank criou outra equipe em 1977, que a chamou de Williams Grand Prix Engineering. 

Frank tinha ficado impressionado com um jovem engenheiro chamado Patrick Head e o contratou para a sua 'nova' equipe. Sim, Frank Williams já chefiou a Iso Marlboro, a Politoys, a De Tomaso. Todas fracassaram. Muitas pensavam que esse 'novo' empreendimento seria outro furo n'água na história de Frank. Ledo engano. Após anos de luta, Frank conseguiu o chamado bilhete da loteria quando conseguiu o contato com empresários sauditas, que passaram a patrocina-lo. A Williams se tornava uma das equipes com mais dinheiro na F1, mas ainda existia a desconfiança de todos. Frank daria conta? Além de Head, Frank Williams contratou um piloto, assim como ele, considerado marginalizado dentro do paddock: Alan Jones. Os primeiros resultados iriam começar a aparecer. Jones conseguiu o primeiro pódio em 1978 e para a temporada seguinte, Frank teria dinheiro suficiente para ter um segundo carro, contratando o veterano Clay Regazzoni. O novo carro da Williams demoraria a ficar pronto pelas mudanças ocorridas na época, com a consolidação do carro-asa, mas quando o FW07 ficou pronto, as vitórias não demoraram a aparecer. Ao contrário do esperado, o primeiro vencedor não foi Jones, mas Regazzoni no GP da Inglaterra de 1979 em Silverstone. Jones venceria outras quatro corridas e a Williams se tornava favorita para 1980, contudo, haveria uma pedra no caminho da Williams que logo se juntaria ao time: Nelson Piquet. Jones e Piquet brigaram o campeonato todo, mas em Montreal Jones apareceu com um intimidador macacão verde escuro e deu um chega pra lá em Piquet na largada que praticamente decidiu o campeonato para ele. Após dez anos de lutas inglórias, Frank Williams conquistaria seu primeiro título na F1.

Os anos seguintes seriam de consolidação para Frank e seu time. A Williams se tornaria uma gigante na F1 e o sonho de Frank parecia realizado, mas tudo poderia ter chegado ao fim abrupto em fevereiro de 1986. Voltando de um teste em Paul Ricard, Frank sai da estrada com seu carro e o capota, comprimindo seu pescoço. Sua situação era tão desesperadora, que chegou-se a sondar que desligassem seus aparelhos. Sua família foi contra e alguns meses depois, Frank Williams entrava em Silverstone de cadeira de rodas para liderar sua equipe. Pela briga entre Piquet e Mansell, o título de pilotos foi perdido em 1986, mas o de Construtores foi ganho e no ano seguinte a dobradinha foi conquistada. A Williams continuava na F1 e ainda seria forte por bons anos.

Frank Williams permaneceu mais 25 anos no comando da sua equipe, conquistando outros quatro títulos de pilotos (Mansell, Prost, Hill e Villeneuve), seguindo os campeonatos conquistados por Jones, Rosberg e Piquet. O baque pela morte de Ayrton Senna foi grande, mas não diminuiu a gana de Frank, que se manteve competitivo até 2003, ano em que Juan Pablo Montoya esteve na luta pelo título. Com o fim da parceria com a BMW no final de 2005, a Williams iniciou um caminho até o momento sem volta para o final do pelotão, retornando aos tempos em que a Williams lutava não por vitórias, mas por alguns pontos. No GP da Espanha de 2012 Pastor Maldonado conquistou a 114º e última vitória da Williams na F1. Frank deixou a equipe aos cuidados de sua filha Claire, mas após vários anos de declínio, ela vendeu o time em 2020.

A equipe Williams aprendeu com seu fundador em nunca desistir. Nesse ano contou com o talento de George Russell para conseguir resultados acima do potencial do carro. Quem, como eu, começou a acompanhar a F1 no final dos anos 1980, ver Frank Williams na sua cadeira de rodas acompanhando as corridas se transformou em sinônimo da F1 e perseverança em como uma pessoa pode liderar uma equipe mesmo com limitações. Frank Williams foi um dos últimos garagistas, terminando uma era belíssima da F1, que encaminhou a categoria para o que ela é hoje. Respeitado por sua história, sua determinação, sua tenacidade e seu amor pelas corridas, sir Frank Williams estará para sempre nos corações de todos que acompanham a F1.

Vá com Deus, sr Frank!