terça-feira, 31 de agosto de 2021

Figura(BEL): George Russell

 Ok, não houve corrida, mas nos dois dias anteriores George Russell mostrou mais uma vez que está fazendo por onde para ser apontado como o próximo piloto da Mercedes. O inglês deu um verdadeiro show na classificação, colocando a Williams (isso nem chega a ser mais novidade...) em lugares acima do potencial do carro, sendo que desta vez Russell aproveitou o clima instável para brigar pela pole com os dois titãs da F1 em 2021, ficando na frente de Lewis Hamilton e só sendo superado por Verstappen na tentativa final do piloto da Red Bull no final do Q3. Russell não teve culpa sobre o que aconteceu no domingo, mas seu pódio na corrida fake foi uma espécie de símbolo de que George já está grande demais para o que é hoje a Williams.

Figurão(BEL): FIA

 Não vou aqui criticar a decisão da FIA em não levar a cabo a corrida deste domingo, onde era óbvio que não havia condições devido ao clima de tempestade que fez na Bélgica. Criticar os pilotos é de uma falta de maturidade e empatia que não chega a espantar nesses tempos sombrios em que vivemos, particularmente pelos lados tupiniquins. Qualquer decisão tomada nesse domingo seria alvo de críticas, isso é certo, no entanto, a FIA cometeu dois pecados. O primeiro foi adiar o irremediável. Deixar milhares de torcedores ao léu e levando chuva para constatar o óbvio, de que não havia condições para se correr, foi um verdadeiro espanta-fã. No entanto, o pior foi forçar a barra para oficializar a corrida ao deixar os carros saírem atrás do Safety-car por duas voltas. Foi uma atitude ridícula e causou críticas ferozes em todo o globo. No momento em que a F1 recupera um pouco a sua popularidade, os erros cometidos no domingo não podem ser repetidos e que para não sejam em vão, que muito seja corrigido.

domingo, 29 de agosto de 2021

Como a viúva Porcina

 


Na épica novela Roque Santeiro, que nesse ano completa 35 anos que foi terminada e nunca será esquecida, existia a personagem da viúva Porcina, interpretada por Regina Duarte, que ficou conhecida como 'a quem foi, sem nunca ter sido', pois apesar de ter pegado para si a fama de viúva de Roque Santeiro, mito da cidade de Asa Branca, ela mal o conhecia e a verdadeira noiva era dona Mocinha. Passada a introdução novelística, o Grande Prêmio da Bélgica de 2021 deverá ficar conhecido como a 'corrida que foi, sem nunca ter sido', como a fictícia viúva Porcina.

Hoje houve um vencedor, houve pódio, houve pontuação (pela metade) e houve até mudanças de posição, mas a corrida simplesmente não existiu graças ao inclemente clima em Spa, que impediu qualquer volta realizada em bandeira verde. Claro que Max Verstappen não tem nada com isso e com a pole conquistada ontem e pelo simples fato de estar atrás do Mercedes de Bernd Maylander (menos mal que não era o de Hamilton...), o neerlandês conseguiu mais uma vitória em 2021 onde mal acelerou pelas únicas quatro voltas realizadas em Spa. Ainda houve a festa pelo primeiro pódio de George Russell, que conseguiu seu milagroso segundo lugar na classificação e estava na mesma posição quando a 'corrida' foi iniciada e terminada. Foi o primeiro pódio da Williams em quatro anos e pelo o que vem mostrando até o momento, deverá ser o primeiro de muitos do jovem inglês. A única mudança de posição ocorreu com a saída de pista de Sergio Pérez na volta de alinhamento, que fez o mexicano quase não largar, depois foi autorizado a sair do pit-lane, o que não fez muita diferença, pois Pérez ficou em último e de lá não saiu, perdendo mais alguns valiosos pontinhos para a Red Bull, que renovou seu contrato pensando justamente nisso.

A longa espera pela largada chateou a todos que acompanhavam a epopeia que acontecia em Spa. Pilotos dormiram, chás foram servidos e os comissários brincavam de bocha. Porém, muita gente deve estar criticando a atual a F1 a chamando de' Nutella'. Vamos aos fatos. Não foi a primeira vez que uma corrida foi suspensa devido à uma chuva forte, mesmo que isso seja raro na história da F1, a última vez tendo acontecido em 2009 na Malásia. O recente histórico de Spa também foi um fator preponderante para o que aconteceu nesse domingo, principalmente na curva Eau Rouge. Em 2019 ocorreu a morte trágica de Anthoine Hubert. Poucas semanas atrás, num dia de corrida na chuva, um forte acidente na Eau Rouge mandou dois pilotos de GT para o hospital. Na sexta, um múltiplo acidente no local envolveu seis pilotos da W Series e duas foram ao hospital. E por último, o fortíssimo acidente de Lando Norris ontem na Eau Rouge quando a chuva estava mais forte foi colocado na conta da FIA, que não teria interrompido a classificação a tempo. Todos esses incidentes, sem nunca esquecer os acontecimentos em Suzuka de 2014, fizeram com que a corrida em Spa de hoje se transformasse numa longa novela em que era nítido que dificilmente teríamos corrida. Só faltou tocar a música 'Dona', do grupo Roupa Nova e que na época embalava as cenas românticas da Viúva Porcina. As voltas atrás do SC foram feitas unicamente para que a corrida seja válida, mesmo que com metade dos pontos sendo distribuídos.

Alguém irá questionar: mas antigamente se corria em situações tão molhadas e traiçoeiras como a de hoje e mesmo assim tinha corrida! Antigamente também se corria sem cinto de segurança, com macacão que mais parecia uma roupa de festa, com abismos ao lado das pistas e pedras no asfalto. O fator segurança pode ser considerado chato ou 'Nutella', mas nunca devemos brincar com a vida dos outros, mesmo com pilotos super bem pagos e que escolheram essa vida quando crianças, sabendo de todos os riscos. Se a largada fosse dada, seria um show de Safety-Car ou ainda pior, poderíamos estar lamentando uma tragédia. A corrida não aconteceria de forma normal e ficaria bem abaixo da expectativa geral. A única crítica mais forte a ser feita foi a FIA ter postergado tanto tempo para algo óbvio. Outro fator é, com carros tão longos, os bólidos de F1 são mais susceptíveis a sofrer com aquaplanagens, fazendo de qualquer corrida na chuva algo mais perigoso do que o normal. Algo que deveria ser anotado para o novo carro de 2022.

São muitas discussões e problemas a serem sanados. Hoje não teve corrida e pelas condições impostas, além de todo o contexto, não dá para sair crucificando a F1, Spa ou os pilotos. Lógico que queríamos uma boa corrida na sempre empolgante pista de Spa, mas alguns fatores tem que ser colocados em questão e lições sejam aprendidas para evitar que 'corridas' como a de hoje não se repitam.   

Festa completa

 


A MotoGP conseguiu uma marca inédita em sua história e fez a festa de praticamente todo mundo em Silverstone, claro, com destaque para o vencedor Fabio Quartararo, mais líder do que nunca e cada vez mais próximo do sonhado título. As seis marcas do grid chegaram nas seis primeiras posições, com destaque para a Aprilia, que subiu ao pódio pela primeira vez na era MotoGP, sem contar os tempos de Harada e McWilliams, ficaram no top-3 ainda nos tempos das 500cc. Uma bela marca da MotoGP.

A corrida em Silverstone não foi das mais animadas na luta pela vitória, pois rapidamente Fabio Quartararo mostrou que o tornozelo dolorido pela queda na sexta não lhe pararia e o francês da Yamaha rapidamente assumiu a ponta da corrida para domina-la até a bandeirada, assegurando uma ótima posição no campeonato, já que os seus mais próximos perseguidores tiveram corridas ruins. Zarco nunca se apresentou forte o suficiente e ficou fora do top-10 o tempo inteiro. Bagnaia até largou na primeira fila, mas perdeu rendimento de forma gritante e só marcou dois pontos com um magérrimo P14. O atual campeão Mir foi outra decepção e segurou apenas em P9 no fim após também enfrentar uma queda livre durante a prova. 

No entanto, a briga pelo segundo lugar foi próxima e com surpresas. O surpreendente pole Pol Espargaró segurou o quanto pode o seu ritmo, mas acabou fora do pódio, enquanto seu irmão mais velho fez o papel dele nas primeiras voltas, colocando a Aprilia nas primeiras posições, antes de cair de rendimento. No entanto Aleix não rolou pelotão abaixo e se manteve na briga pela segunda posição com Alex Rins na segunda Suzuki, acentuando a péssima corrida de Mir. Rins estava no mesmo pelotão de Mir no começo da corrida, foi crescendo na prov até chegar à segunda posição, segurando os ataques de Aleix e de Jack Miller, que salvou a honra da Ducati e chegou colado na Aprilia de Espargaró. Talvez o principal piloto da Ducati fosse Jorge Martin, mas o espanhol foi atingido por Marc Márquez na primeira volta e ambos estavam fora da corrida, acabando com as chances de dois potenciais pilotos que poderia estar no pódio. Brad Binder garantiu a sexta posição com a KTM, garantindo o feito inédito para a MotoGP de ter seis motos diferentes nas seis primeiras posições.

No fim Quartararo pareceu nem ter suado muito para vencer em Silverstone e abrir considerável vantagem para o vice-líder Joan Mir. Correndo praticamente sem companheiro de equipe com a polêmica saída de Maverick Viñales e tendo toda a atenção da Yamaha, o francês está com a faca e o queijo Camembert para se tornar o primeiro campeão francês da MotoGP.

sábado, 28 de agosto de 2021

Contrastes britânicos


 Lando Norris tinha tudo para brigar pela sua primeira pole na F1 no chuvoso sábado em Spa, mas o inglês da McLaren acabou sendo vítima das armadilhas do tradicional circuito belga e a não menos gloriosa Eau Rouge. Com seu carro destruído, Norris dificilmente não escapará de largar dos boxes, mas a honra britânica foi assegurada no dia de hoje. E quem pensou que quem fez isso foi Hamilton, está redondamente enganado!

Muito se fala que George Russell usufrui de um imenso lobby da sempre influente imprensa britânica em sua luta para estar na Mercedes em 2022. Mesmo com a força dos jornalistas da ilha da velocidade, que foram capazes de, com suas opiniões, manterem pilotos medianos por vários anos a fio na F1, George Russell está fazendo por onde ser tão elogiado e conseguir seu lugar na Mercedes num futuro próximo. Em condições traiçoeiras em Spa, Russell ofuscou a briga entre Verstappen e Hamilton para ser o grande nome da complicada classificação desse sábado, ao colocar sua Williams na primeira fila, superado no último momento por Max Verstappen, que apesar da naturalidade holandesa, nasceu na Bélgica e garantiu a festa da torcida.

O dia de hoje foi bem típico de Spa, com o tempo mudando de sol tímido para tempestade em questão de minutos, fazendo com que os pilotos e engenheiros quebrassem a cabeça durante quase duas horas, que foi a duração da classificação. Se no Q1 não houveram grandes surpresas, a Ferrari acabou ficando de fora do Q3 mesmo com as ótimas voltas de Leclerc quando a pista estava muito molhada. Vindo de uma renovação de contrato por mais um ano, Alonso ficou no Q2, enquanto o último vencedor Ocon foi ao Q3. A Williams e Russell já tinham mostrado suas credenciais quando foram ao Q1 com pneus intermediários, enquanto os demais iam com pneus de chuva forte. George foi ao Q3 e Latifi quase conseguiu, mas o melhor de Russell ainda estava por vir.

Em meio a indas e vindas da chuva, no começo do Q3 estava com uma precipitação muito pesada e Norris, que liderara os treinos até ali, estampou com força sua McLaren na Eau Rouge, reascendendo alguns questionamentos sobre a mítica curva, além de um momento bem legal de Vettel, que tinha acabado de pedir bandeira vermelha pelo rádio e quando soube de um acidente muito forte na Eau Rouge, praticamente encostou seu Aston Martin ao lado do carro de Norris para se certificar que estava tudo bem com Lando. 

Depois de algum tempo, o resto do Q3 aconteceu com muita troca de posições, mesmo com pouco tempo. E numa surpresa inimaginável, Russell apareceu com setores roxos no final do Q3. Ao cruzar a linha de chegada, o piloto da Williams era o pole com muita margem, mas logo atrás vinham Lewis e Max. Hamilton não fez um bom segundo setor e ficou milésimos atrás de George, mas Max acabou com a brincadeira e ficou com a pole. Para curiosidade geral, Bottas tomou 2,4s de Russell com um carro imensamente melhor e como fora punido, Valtteri largará amanhã na P13. As desculpas de Wolff para não contratar Russell já estão cessando. Na entrevista pós-classificação, Russell não parecia deslumbrado com sua incrível exibição, demonstrando que o inglês pensa alto e já merece isso. Amanhã a previsão do clima é o mesmo de hoje, ou seja, podemos ter outra corrida maluca em 2021.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

História: 30 anos do Grande Prêmio da Bélgica de 1991

 


No dia 13 de agosto de 1991, Bertrand Gachot foi intimado pelo tribunal de Southwark, em Londres, sobre uma agressão a um taxista londrino no ano anterior. Para o belga, que fazia uma boa temporada pela Jordan, provavelmente tudo aquilo resultaria numa sentença leve em suspenso. Porém, Gachot se viu numa enrascada gigantesca quando chegou ao tribunal e viu o forte sindicato dos taxistas fazendo um piquete na frente do tribunal exigindo uma pena 'exemplar'. Gachot foi interrogado, antes de ir para o júri e o resultado foi chocante: uma multa de 500 libras e prisão de 18 meses na prisão de Brixton, uma das mais perigosas da Inglaterra. O pai de Gachot fez de tudo para livrar a cara do filho, mas enquanto recorriam, Gachot foi mandado para a prisão. Eddie Jordan defendeu seu piloto, mas por outro lado, precisava de um piloto para correr na quinzena seguinte em Spa. Ele pensou em Stefan Johansson, que havia corrido de forma interina em Montreal na Arrows, e Alessandro Zanardi, líder da F3000. Além desses, Jordan estabeleceu contato com Jochen Neerpasch, diretor de competição da Mercedes, que lhe ofereceu um jovem piloto alemão de 22 anos, que havia sido campeão da F3 Alemã em 1990 e vencido a famosa corrida em Macau. Michael Schumacher se apresentou num teste em Silverstone e deixou todos embasbacados, fazendo Jordan lhe oferecer um contrato longo, mas orientado pelo seu empresário Willi Weber, Schumacher conseguiu enrolar Jordan, que lhe perguntou se o alemão já havia corrido em Spa. Michael respondeu que sim. O problema foi que a pergunta do velho Eddie havia sido incompleta, pois Schumacher só havia corrido na famosa pista belga de bicicleta...


Como era de se esperar, houveram muitas manifestação contra a prisão de Gachot quando a F1 chegou em Spa, corrida caseira do piloto da Jordan. A namorada de Gachot mandou fazer várias camisas 'Gachot Why?' e praticamente todos os pilotos usaram-na no final de semana. A Honda trazia um novo motor para a McLaren que traria um aumento de potência em altos giros, porém, Ayrton Senna já sentia que o melhor momento da McLaren estava passando, cedendo lugar para a Williams, que pela infelicidade do brasileiro, renovou os contratos de Mansell e Patrese para 1992. Recém-completados 39 anos, Nelson Piquet ainda negociava para permanecer na F1 e após pedir sete milhões de dólares à Briatore, Piquet viu o dirigente da Benetton se negar e tentou um lugar na Ligier, na esperança de ter os motores Renault na temporada seguinte. 

Senna costumava ser um mestre em Spa e o brasileiro comprovou sua reputação com sua 58º pole no circuito belga. Patrese conseguiu a segunda posição no sábado, mas foi desclassificado após uma inspeção técnica perceber que a Williams de Patrese não tinha a marcha ré funcionando. Este fora um erro grave da parte dos mecânicos e Frank Williams pediu desculpas ao piloto italiano, que largaria em décimo sétimo com seu tempo na sexta-feira. Prost ainda ficaria com um lugar na primeira fila, Berger era quarto após quebrar dois motores, com Mansell em terceiro reclamando bastante do seu Williams. A grande surpresa veio do estreante. Schumacher ficou com o quinto tempo mais rápido na sexta-feira, à frente de seu companheiro de equipe De Cesaris por quase um segundo. No sábado Michael se envolveu num incidente com Prost e jogou a culpa no veterano, mostrando uma grande personalidade. No sábado Schumacher ficou em sétimo, metendo sete décimos no experimentado De Cesaris. Era Michael Schumacher chegando com tudo!

Grid:

1) Senna (McLaren) - 1:47.811

2) Prost (Ferrari) - 1:48.821

3) Mansell (Williams) - 1:48.828

4) Berger (McLaren) - 1:49.485

5) Alesi (Ferrari) - 1:49.974

6) Piquet (Benetton) - 1:50.540

7) Schumacher (Jordan) - 1:51.212

8) Moreno (Benetton) - 1:51.283

9) Martini (Minardi) - 1:51.299

10) Modena (Tyrrell) - 1:51.307


O dia 25 de agosto de 1991 amanheceu com sol e bom tempo, algo raro na floresta das Ardenhas. Mostrando toda a sua frustração, os fãs de Gachot fizeram várias pichações no asfalto de Spa, o que poderia atrapalhar em caso de pista molhada, mas não seria o caso. Após dois dias difíceis, a Williams apareceu muito forte no domingo e fizeram os melhores tempos no warm-up, se mostrando como reais desafiantes na corrida, que começou sem maiores problemas na sempre difícil largada em Spa. Schumacher fritou pneus na freada da curva, saiu da La Source em quinto, mas na subida da Eau Rouge, o alemão tirou o pé com problemas. A embreagem tinha explodido, mas Schumacher havia dado seu recado à F1. Uma nova estrela estava chegando!


Com o carro mais acertado, Mansell rapidamente ataca Prost para ficar com a segunda posição e logo tenta uma aproximação em cima de Senna. Contudo, a corrida de Prost seria muito breve, pois na terceira vez em que saiu da La Source, o motor Ferrari explodiu e Prost teve que encostar com um pequeno incêndio atrás de si. Alain saiu uma fera, deteriorando ainda mais seu relacionamento com a Ferrari. Piquet assumia a terceira posição, mas já vinha 5s atrás dos dois líderes e segurando Berger, a quem Nelson ultrapassara na primeira volta. Mesmo com o novo motor Honda, a McLaren estavam lentas nas retas, mas Senna resistia bravamente aos ataques de Mansell, enquanto Berger não conseguia ultrapassar Piquet. Já Patrese fazia uma ótima corrida de recuperação e se aproximava da zona de pontuação com menos de dez voltas de prova. Senna faz sua única parada na volta 15, que fora mais lenta devido a uma roda dianteira presa, fazendo o brasileiro da McLaren voltar no meio de uma briga entre Patrese e De Cesaris. Andrea se livra de Patrese e ataca Senna, fazendo-o perder ainda mais tempo para Mansell, que faz uma volta muito rápida antes de parar duas voltas depois de Senna, retornando na frente do brasileiro. Hoje chamamos isso de undercut. 


Berger faz sua parada na volta 18 e novamente a McLaren se atrapalhou, perdendo 16s na operação e para piorar, o austríaco ainda sai da pista quando retornou à corrida. Alesi havia escolhido largar com pneus duros e tentaria não parar, com isso, o francês estava em segundo, entre Mansell e Senna, mas Alesi não era atacado por Ayrton, que por sua vez tinha um impressionante De Cesaris nos seus retrovisores, antes do italiano da Jordan fazer seu pit-stop. Mansell tentava abrir vantagem, mas tudo acabou em frustração ao inglês quando ele abandonou na volta 22 com um problema elétrico. Outro golpe duro na tentativa de Mansell em brigar com Senna pelo título, mas o brasileiro ainda não liderava a prova, ponteada por Alesi na metade da prova. O terceiro colocado Piquet começou a ter problemas de desgaste de pneus e era alcançado pela dupla italiana Patrese e De Cesaris, enquanto Berger marcava a volta mais rápida da corrida em sua tentativa de recuperação. Na volta 27 Senna perde desempenho rapidamente quando erra uma marcha, o que se mostraria dramático. Senna se recupera, mas teria dois problemas. O primeiro era que o trio liderado por Piquet se aproximou de forma ameaçadora dele. E a segunda era que o câmbio da McLaren estava danificado com o raro erro de Ayrton, que teria que administrar seu câmbio com um terço de corrida pela frente. Patrese tentou ultrapassar Piquet, mas acabou saindo da pista, perdendo posição para De Cesaris. 


Parecia que aquele dia era mesmo de Alesi, que liderava tranquilo e com pneus ainda em ordem, porém, quando o francês saía da Eau Rouge na volta 31, o motor Ferrari explodiu, destruindo os sonhos da primeira vitória de Alesi, que saiu do carro arrasado. Senna reassumia a ponta, mas teria no seu encalço um Andrea de Cesaris em dia inspirado, após o romano ultrapassar Piquet. Como num conto de fadas, Andrea partiu para cima de Senna, enquanto Berger se aproximava de Piquet e Patrese, fazendo o italiano da Williams ultrapassar o brasileiro, sofrendo com seus pneus. Berger ultrapassa Piquet e começou a pressionar Patrese, que via seus freios piorarem a cada volta. Senna tinha mais intimidade com os retardatários e abre 5s para De Cesaris, mas o sonho do piloto da Jordan se transforma em fumaça na volta 41, em um dos abandonos mais tristes da F1 nos anos 1990 com o motor quebrado da Jordan de Andrea. Patrese passou a ter problemas de câmbio e foi seguidamente ultrapassado por Berger e Piquet. Ayrton Senna conquistava a sexta vitória em 1991 e a quarta consecutiva em Spa-Francorchamps. O ritmo de Berger era tão forte que ele chegou colado em Senna, numa alegre dobradinha da McLaren, com Piquet fechando o pódio. Pela última vez, Senna e Piquet compartilharam um pódio e a tensão entre eles ainda era grande, com os dois brasileiros se evitando no pódio. Roberto Moreno tinha feito uma parada extra, fez a melhor volta da corrida e ainda conseguiu ultrapassar Patrese na última volta, chegando em quarto lugar. Com isso, haviam três brasileiros entre os quatro primeiros. Eram outros tempos! Tinha sido a melhor corrida de Roberto em 1991, mas como se veria nas próximas semanas, isso não adiantaria muito...

Depois da corrida Senna confessaria que seu câmbio estava quebrado e não duraria mais nenhuma volta. Uma vitória de sorte. Ou não? "Justiça foi feita para mim! Esse sucesso compensa meus abandonos em Silverstone e Hockenheim!" 

Chegada:

1) Senna

2) Berger

3) Piquet

4) Moreno

5) Patrese

6) Blundell 

domingo, 22 de agosto de 2021

De volta ao jogo

 


Nunca é bom subestimar a competitividade da Indy. Depois de um início complicado de campeonato, incluindo recordes negativos, a Penske deu a volta por cima em 2021 e após as doloridas derrotas em Elkhart Lake e Detroit, Josef Newgarden contou com a ajuda de um strike da equipe Ganassi para ficar numa posição muito forte dentro do campeonato da Indy.

A fome de Newgarden de vitória ficou clara numa das relargadas em Gateway, quando bateu rodas com seu companheiro de equipe Simon Pagenaud para ganhar uma posição e deixar o francês possesso, pois no processo perdeu o bico e caiu para último. A Penske tinha mostrado sua força com a pole de Will Power, mas o australiano nunca teve ritmo de corrida para vencer, ao contrário de Newgarden, mas o americano não era o único. A dupla da Andretti Colton Herta e Alexander Rossi fez uma ótima prova nesse sábado à noite, liderando em vários momentos junto com Newgarden, mas os dois não viram a bandeirada. Após uma parada, Herta teve problemas de transmissão e Rossi provocou a última bandeira amarela da noite ao bater sozinho no muro, continuando com a via-crucis do americano.

Quando Rossi abandonou, Newgarden tinha apenas Pato O'Ward como grande rival pela vitória, mas Josef sabia que o mexicano da McLaren não o atacaria com muito ímpeto. A primeira metade da corrida em Gateway foi bastante truncada e cheia de bandeiras amarelas, com destaque para a boa estreia de Romain Grosjean em ovais. Numa das relargadas, Rinus Veekay foi bastante otimista no aproche da primeira curva e acabou batendo em Alex Palou, que bateu em Scott Dixon. Os três foram ao muro e apenas Dixon ainda retornou à corrida, mas inúmeras voltas atrasado. Palou, que já tinha visto o motor quebrar no misto de Indianápolis semana passada, viu sua confortável vantagem no campeonato virar pó e com o segundo lugar ontem, O'Ward fez o suficiente para se tornar o novo líder do campeonato.

Porém, O'Ward tem várias cobras criadas no seu encalço nas três corridas finais. Dixon caiu para quarto no campeonato, mas nunca é interessante subestimar um piloto do tamanho do neozelandês. Com a vitória, Newgarden pulou para terceiro, meros 22 pontos atrás de O'Ward, com Palou ainda na vice-liderança muito próximo, mas precisando findar sua onda de azar. As próximas três corridas acontecerão em três palcos icônicos da Indy e os dois primeiros colocados do campeonato nunca pisaram lá. Newgarden não conhece Laguna Seca, mas já conseguiu bons resultados em Portland e Long Beach. E não restam dúvidas que o piloto da Penske vem em ascensão nesse final de campeonato rumo ao tricampeonato. 

domingo, 15 de agosto de 2021

Doideira molhada

 


Desde que a F1 se aproximou do Red Bull Ring, os meteorologistas austríacos prometiam chuva. Passaram dois finais de semana e nada de água vindo do céu. Veio a MotoGP com dois finais de semana seguidos na mesma pista e a mesma previsão da turma do Tirol. O primeiro final de semana que teve vitória de Jorge Martin teve um belo dia de sol no domingo. Provavelmente já se pensava que os austríacos lembravam muitos brasileiros que adoram disseminar fake news por aí, mas na quarta tentativa, mesmo que no fim da corrida, finalmente os compatriotas de Niki Lauda acertaram e a chuva deu às caras. E como normalmente ocorre quando chove, a corrida fica insana e a MotoGP viu uma de suas melhores corridas dos últimos tempos.

Já na volta de apresentação haviam pingos de chuva, mas as primeiras voltas transcorreram em relativa normalidade, com os pilotos forçando no limite da aderência, sem se preocupar com a garoa que aparecia aqui e ali. Vindo de vitória e tendo marcado a pole position, Jorge Martin era um dos destaques e o jovem espanhol poderia ser o primeiro novato a vencer duas corridas consecutivas vindo da pole em cinquenta anos da principal categoria do Mundial. Porém, o piloto da Pramac Ducati tinha uma concorrência selvagem,em Pecco Bagnaia, Marc Márquez, Fabio Quartararo e Johan Zarco. Esses cinco pilotos lideraram boa parte da corrida, mas logo se reduziu a quatro com a queda de Zarco. Nas voltas finais, as nuvens ficavam cada vez mais negras, enquanto Bagnaia lutava diretamente com Márquez pela vitória, seguido por Quartararo. Martin já vinha a certa distância, seguido de perto por Mir e Brad Binder, na ocasião, o melhor piloto da KTM, que corria em casa. Foi então que a chuva desabou de vez.

Com os pilotos tateando atrás da melhor aderência, os seis primeiros se misturaram numa disputa incessante pela ponta, com várias trocas de posição. Destaque para uma incrível ultrapassagem de Quartararo na desafiadora curva 3, quando pulou de quinto para segundo! Com a pista cada vez mais molhada, mas com poucas voltas para o fim, os pilotos se perguntavam: parar para trocar de moto ou não? Jack Miller e Joan Mir abriram os trabalhos. Talvez cedo demais. Na passagem seguinte, Márquez liderava o pelotão da frente e quando o grupo de aproximou da entrada dos boxes, a chuva era forte o suficiente para Quartararo levantar o braço e Márquez embicar para os pits. Numa cena de 'siga o líder', todos foram para os boxes. Menos um. Brad Binder resolveu arriscar e ficou na pista, algo que vários pilotos que vinham nas últimas posições tentaram. Valentino Rossi chegou a nos fazer sonhar ao aparecer em terceiro, no que seria seu pódio de número 200. Mesmo quem tinha pneus para chuva sofriam e Márquez caiu quando liderava os pilotos que foram aos pits. Binder liderava soberano, mas com a pista claramente molhada e com pneus slicks, o sul-africano praticamente passeava na pista de tão lento que estava, rumo à bandeirada. 

Na última volta, Bagnaia foi quinze segundos mais rápido do que Binder, ultrapassou várias motos equipadas com pneus slicks e conseguiu um segundo lugar, seguido por Martin. Pensando no campeonato, Quartararo foi apenas sétimo, mas viu sua liderança no campeonato subir bastante, ajudado pela queda de Zarco. A Yamaha teve um final de semana bastante agitado fora das pistas, com o fim do patrocínio da Petronas na sua equipe satélite e o escândalo da suspensão de Maverick Viñales. Na semana passada Viñales forçou sua moto além do limite de giros do motor, numa tentativa frustrada de quebrar o motor antes de abandonar a corrida de forma voluntária. Suspenso dessa corrida e provavelmente do resto do campeonato, Viñales deu um verdadeiro tiro no pé com sua atitude impensada, saindo de uma promissora parceria com a Yamaha como vilão em um ato amador. Sem contrato para 2022, Viñales pode ter queimado sua carreira definitivamente.

Fazendo uma aposta que se mostrou certeira, Brad Binder não seguraria mais nenhuma outra volta na ponta. O sul-africano arriscou tudo na casa da KTM e conseguiu uma vitória surpreendente no que foi uma corrida caótica e das mais interessantes na MotoGP.

domingo, 8 de agosto de 2021

Dia do barbeiro

 


A F1 recebe muitas críticas por causa de suas novas pistas, que mais parecem palácios luxuosos e que custam praticamente o mesmo para construir um. Porém, a F1 não sofre com os problemas que a Indy enfrentou em uma nova paisagem nesse final de semana. Nashville fora anunciado já faz algum tempo como uma pista de rua que lembraria até mesmo Monte Carlo. Construída ao lado do estádio do Teneesee Titans, a nova pista passaria pela ponte dos Veteranos de Guerra da Coreia, além de trechos sinuosos entre eles. O que se viu na verdade foi uma mistura de pula-pula com as ridículas pistas da F-E. A pista era extremamente ondulada, com os pilotos reclamando que suas mãos escapavam do volante, principalmente no rápido trecho da ponte. Voos nas quatro todas não eram raros! A parte sinuosa era tão estreita e lenta, que os pilotos colocavam a primeira marcha. O resultado disso tudo foi uma corrida bizarra, onde o vencedor era considerado o barbeiro do dia nas primeiras voltas.

Marcus Ericsson saiu da F1 com fama de piloto-pagante e sem maiores ambições, quando se transferiu para a Indy. Correndo em seu segundo ano na Ganassi, o sueco conseguiu sua primeira vitória em condições sortudas em Detroit, mas de resto Ericsson fazia uma temporada abaixo dos seus companheiros de equipe Dixon e Palou, que estão na briga pelo título. Logo na primeira relargada, Ericsson lembrou seus tempos de piloto fraco da F1 ao acertar a traseira de Sebastien Bourdais e literalmente passar por cima do carro do francês, num erro absurdo para um piloto de uma categoria do nível da Indy. Bourdais não economizou nos adjetivos poucos elogiosos para Ericsson, que teve seu carro consertado pela Ganassi e retornou à corrida nas últimas posições. 

No entanto, a corrida em Nashville foi daquelas inesquecíveis pelos seguidos incidentes que iam trancando a prova. Foram simplesmente nove bandeiras amarelas e duas vermelhas, transformando uma prova que terminaria por voltas das 18h30 hora local, para terminar no limiar do pôr do sol, no caso, às 20h. Foi um show de horrores numa pista tosca e completamente desnecessária para a Indy, lembrando a horrorosa pista de Baltimore, de lembranças não muito agradáveis para a categoria. Claro que essa quantidade excessiva de bandeiras amarelas transformou os estrategistas em grandes protagonistas, onde a posição do piloto poderia mudar de acordo com uma bandeira amarela na hora certa ou não. Porém, o piloto mais rápido no Teneesee era claro. Colton Herta liderou todos os treinos, largou na pole e liderou o maior número de voltas. Mesmo a pista sendo de ultrapassagens complicadas, Herta sempre achava espaço quando se encontrava no meio do pelotão, tamanha era a vantagem que seu carro tinha sobre os demais. Porém, no último stint de corrida, até mais livre dessa vez, Herta relargou em sexto, ultrapassou a McLaren de Rosenqvist, seus companheiros de equipe Hinchcliffe e Hunter-Reay, além da lenda viva Scott Dixon. Porém, ainda faltava... Ericsson! 

Isso mesmo! Depois de fazer uma barbeiragem no começo da prova, Ericsson viu sua estratégia funcionar e liderava as últimas voltas em Nashville, mas Herta se aproximava rapidamente, dando pinta que despacharia facilmente o sueco como fizeram com os demais. Como a corrida foi muito truncada, Ericsson tinha vários segundos de push-to-pass e segurou Herta sem maiores problemas, talvez enervando o piloto da Andretti. Talvez ao ponto de fazer Herta errar sozinho e estatelar seu carro no muro, praticamente entregando a vitória para Ericsson. Num circuito bizarro, uma vitória bizarra! 

Mais um talento espanhol

 


Nos anos 1980 parecia que havia uma fábrica de pilotos de moto nos Estados Unidos, onde a cada temporada surgiu um excelente piloto ianque para marcar o Mundial de Motovelocidade. Vinte anos depois e essa fábrica parece ter sido transferida para a Espanha. Fanáticos por corrida de motos, os espanhóis resolveram não ficar apenas na torcida e desenvolveram seu campeonato nacional, o tornando o mais forte do mundo, além de criar vários programas para descobrir e desenvolver jovens pilotos. O resultado disso foi um grid cada vez mais espanhol nos últimos tempos, além do surgimento de legendas como Alex Crivillé, Dani Pedrosa, Jorge Lorenzo e finalmente Marc Márquez, provavelmente o melhor de todos os grandes pilotos espanhóis. Ainda no vácuo desse desenvolvimento, Jorge Martin já tinha mostrado um talento impressionante nas categorias de baixo do Mundial e chegou à MotoGP nesse ano com grande expectativa. Alguns acidentes o atrapalharam, sem contar a Covid, mas Martin conseguiu demonstrar que pode se tornar no futuro um sucessor dos gigantes espanhóis com uma vitória categórica no perigoso circuito de Red Bull Ring.

Desde que entrou no calendário da MotoGP por causa de um grande lobby da Red Bull, a pista austríaca vem sendo sempre criticada por sua falta de segurança. Apesar de funcionar perfeitamente para a F1, a alta velocidade do circuito e os muros próximos tornam o circuito de Red Bull Ring a mais perigosa do calendário e quase impraticável para as motos, como ocorre com Interlagos. Hoje mais uma vez Red Bull Ring viu um acidente perigoso, quando o wild-card Dani Pedrosa escorregou na traiçoeira curva 3 e foi atingido em cheio por Lorenzo Savadori, causando um grande incêndio e paralisando a prova. Essa mesma curva 3 que quase causou uma tragédia ano passado e causou outro potencial acidente grave nesse domingo. Felizmente todos os envolvidos estão bem. 

Largando na pole, Martin dominou a prova do início ao fim, sempre perseguido pelo compatriota Joan Mir, da Suzuki. Mesmo correndo com uma moto satélite e estando em sua primeira temporada, Martin correu na ponta com muita naturalidade, não dando chances ao campeão reinante da MotoGP para vencer logo em sua sétima corrida na MotoGP, já que ele ficou algumas provas de molho por causa de um grave acidente em Portimão. Incrivelmente os pilotos da Pramac Ducati estão bem melhores do que os representantes da equipe oficial. Mais uma vez Miller se empolgou e caiu sozinho quando lutava pelo terceiro lugar com Quartararo, enquanto Bagnaia largou mal, lutou até o fim, mas acabou punido e saiu do top-10 na bandeirada. Johan Zarco viu seu companheiro vencer, algo que o francês ainda não fez na MotoGP mesmo já estando alguns anos na categoria, mas o francês vai se mantendo na vice-liderança do campeonato baseado na regularidade, mesmo que tenha perdido duas posições na volta final. Porém, Zarco precisa de vitórias, se quiser lutar mesmo pelo título. Sabendo que a pista localizada na Estíria não seria favorável para a Yamaha, Quartararo claramente correu pensando no campeonato e completou o pódio, mas como Zarco foi apenas sexto, ele aumentou sua vantagem no campeonato. Por sinal, tudo ocorre com seu companheiro de equipe Maverick Viñales. De saída da Yamaha, Viñales viu sua moto não pegar na segunda largada, foi punido pelos famigerados 'track limits' e terminou fora dos pontos. Destaque para Pedrosa, que pegou a moto reserva para terminar entre os dez primeiros, depois de dois anos fora da MotoGP.

Na sua primeira corrida após anunciar sua aposentadoria no final dessa temporada, Rossi fez outra corrida medíocre e terminou apenas em 13º. Existe uma foto de Valentino com Jorge Martin ainda garotinho. Mais uma vez Vale viu uma criança que o admirava vencer na MotoGP.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Ciao


 Por mais que esperássemos, o definitivo adeus sempre marca e muitas vezes dói. Está ali na nossa cara, mas não queremos entender o óbvio. Ou seria, não queremos aceitar o óbvio? Valentino Rossi vem fazendo corridas ruins na MotoGP não é de hoje. Lembrando o que já fez na pista, era dolorido ver Valentino Rossi nas últimas corridas. Contando com 42 anos, parecia que o italiano de Tavullia era ainda o imberbe garoto meio desengonçado que tomou o Mundial de Motovelocidade como um furacão ainda no final dos anos 1990. Rossi era carismático, engraçado e muito, muito rápido. Era a mistura ideal para um ídolo.

Valentino Rossi rapidamente adotou o amarelo como sua cor e o galo Osvaldo como mascote. A sua torcida coloria os circuitos pelo mundo e Rossi nem na categoria principal estava. Ele passou pelas três categorias do Mundial de forma muito parecida e apesar de ser, no mínimo, irreverente, Rossi era muito metódico. Ele fazia um primeiro ano de exploração, mas na metade final do campeonato já era considerado o principal favorito na temporada seguinte, confirmando com o título um ano dominante. Foi assim nas 125cc e nas 250cc. Vale faria isso nas 500cc? Com todos de olho nele, Rossi demorou a completar sua primeira corrida, mas o fez logo subindo no pódio. A primeira vitória que completou vinte anos em 2020 foi numa corrida complicada, debaixo de chuva no início e depois com pista seca. Rossi logo emendaria vitórias e pódio que o colocaria como vice-campeão em sua estreia nas 500cc. Correndo na Honda sob supervisão de Mick Doohan e com a montadora esperando que ele fosse o sucessor da lenda australiana, rapidamente Rossi se tornou o principal piloto da Honda. E assim como fez nas categorias menores, Rossi venceu seu primeiro título nas 500cc em seu segundo ano. Daí em diante, não havia mais categorias a subir. Para Rossi, só restava a eternidade a ser conquistada. 

Foram três títulos consecutivos com a Honda, mas se sentindo truncado pelo conservadorismo da montadora, Rossi chocou o mundo se mudando para a Yamaha em 2004. Muitos pensavam que Rossi estava louco numa moto que não vencia, mas na verdade ele enlouqueceu seus fãs com uma vitória inesquecível em sua primeira corrida em Welkon. De forma incrível, foram mais três títulos seguidos. Um pequeno recesso e mais dois títulos em 2008 e 2009, deixava Rossi entre as lendas. Chegando aos 30 anos, parecia que Rossi bateria todos os recordes possíveis e impossíveis nas motos.

Porém, os pilotos que o acompanhavam na TV começaram a chegar na MotoGP observando a forma de trabalho de Rossi. Chegaram Daniel Pedrosa, Jorge Lorenzo e Casey Stoner. Uma geração mais nova, Rossi os derrotou nos primeiros anos, mas ganhando a experiência necessária, eles começaram a desbancar Valentino. Mesmo que Biaggi e Gibernau fossem grandes pilotos e que davam muito trabalho à Rossi, o italiano parecia que vencia quando e como queria. Com essa geração não era assim e Rossi começou a sair de sua zona de conforto, ocasionando seu primeiro acidente grave em Mugello/2010. Quando retornava às pistas após longa recuperação de uma fratura exposta na perna, Rossi chocaria o mundo novamente quando anunciou que iria para a Ducati. Era o sonho de um piloto italiano vencer em cima de uma moto italiana. A Ducati já tinha vencido com Stoner, mas parecia que apenas o australiano podia domar a Desmocedici e Rossi provou essa teoria da pior das formas. No auge da frustração, Vale ainda viu seu protegido Marco Simoncelli morrer num acidente em que Rossi estava envolvido. Muitos apostaram na aposentadoria de Rossi. Isso em 2012...

Rossi mostrou que ele não era de um material comum. Ele tinha a fórmula da juventude? Vale voltou para a Yamaha se reencontrar com os pódios e as vitórias. Ué, e por que não os títulos? A nova geração que viu Rossi crescer na TV ia aos poucos deixando o pedestal. Stoner, Pedrosa... Apenas Lorenzo e sua arrogância permanecia. E surgiu um espanhol com uma trajetória parecida com a de Rossi, mas com nem um décimo do carisma. Marc Márquez era outro fenômeno e seres especiais conheciam seres especiais. Rossi e Márquez se davam bem no começo, mas a competitividade de ambos o afastaram aos poucos. Em 2015 Rossi se mostrava incrivelmente sólido e lutava com Lorenzo pelo título. Márquez, que havia assombrado o mundo no ano anterior e foi campeão, mostrava algumas fragilidades de noviciado, algo que Rossi não mostrou em sua época. 

Valentino Rossi teve a humildade de mudar seu estilo de pilotagem para se manter na ponta, algumas vezes violentando sua forma de correr. Porém, um toque com Márquez na Malásia o fez ser penalizado na última corrida e Lorenzo acabou como campeão. Muitos diziam que Rossi tinha sido o campeão moral ou o campeão do povo. Aos 36 anos o italiano ainda era a maior estrela da MotoGP, mas como todo astro, uma hora ele vai se apagando. A disputa de 2015 foi a última chance de Rossi conseguir seu esperado décimo título. Os anos foram passando e as vitórias foram rareando. Depois foram os pódios que se tornaram ocasiões pontuais para Rossi. Valentino olhava para o lado e simplesmente não encontrava mais nenhum dos seus primeiros rivais. Biaggi, Gibernau, Roberts, Barros, Capirossi... todos estavam aposentados. Até a geração a seguir foi deixando a pista, como foi o caso de Stoner precocemente, mas depois foi a vez de Pedrosa e Lorenzo. Agora os pilotos que corriam ao lado de Rossi tiravam fotos com ele, uma estrela na MotoGP, ainda quando eram crianças.

A competitividade de Rossi o fazia postergar o óbvio. Vale completou 40 anos e saiu da equipe oficial da Yamaha, a sua marca favorita, pois ele não mostrava resultados para alguém numa equipe de fábrica. Ele foi para a satélite Petronas, onde encontraria outro discípulo seu, Franco Morbidelli. Seu meio irmão Lucas Marini, que nasceu no mesmo ano em que conquistou seu primeiro título, ainda nas 125, estreou na MotoGP esse ano. A sua equipe que serviu como celeiro de jovens italianos foi subindo de categoria e em 2022 estará na MotoGP. Rossi estaria lá?

No meio dessa manhã de 5 de agosto de 2021 a MotoGP anunciou uma coletiva extraordinária com Rossi. Era um aviso de que algo estava para acontecer. Era o fim. 

Fim das comemorações engraçadas. Da torcida em amarelo nas arquibancadas em Jerez, Brno e, principalmente, em Mugello. De pilotagens sublimes, derrotando seus rivais na última volta. Claro que houveram problemas, mas seu jeito tocante fazia de Rossi herói. E seus antagonistas os terríveis vilões. Biaggi, Gibernau, Stoner, Lorenzo e Márquez. Todos eles se tornaram figuras antipáticas, mesmo que incrivelmente talentosas e que fizeram Rossi um piloto cada vez melhor. O número 46 ficará no imaginário de todos nós como aquela moto dominante, mas que pilotada de forma tão fluída, que parecia que a vitória era fácil. Que a vitória era de Valentino Rossi.

Um ídolo eterno de todos nós! 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Garoto Maravilha

 


Por várias décadas a Nascar foi palco de velhos cowboys do asfalto, restando pouco espaço para jovens forasteiros. Campeões como Richard Petty, Cale Yarborough, Darrell Waltrip, Dale Earnhardt e Bill Elliott eram os exemplos práticos dos grandes pilotos da Nascar até os anos 1980. Eram o que chamamos hoje de pilotos-raíz. Isso começou a mudar nos anos 1990 e o principal piloto dessa nova geração foi um jovem prodígio que primeiro se interessou em monopostos, mas teve que se mudar para os stock-car americanos devido aos custos. Jeff Gordon sempre se mostrou um piloto rápido desde criança, mas demorou a conseguir espaço dentro da Nascar por causa de sua jovialidade e o que representava. Além de jovem, Gordon era comunicativo, articulado, corria com um carro colorido e tinha jeito de galã. Era o que se poderia chamar de piloto-Nutella. E Gordon alvo fácil das grandes marcas da Nascar, que o apelidaram de forma pejorativa de 'Wonder boy' ou 'Rainbow warrior' (Guerreiro do arco-íris). Seria dor de cotovelo? Jeff Gordon se tornou ele uma marca registrada da fase moderna na Nascar e com seus números incríveis, entra facilmente na lista dos grandes pilotos da categoria. Completando 50 anos no dia de hoje, iremos ver um pouco da carreira de Jeff Gordon.


Jeffery Michael Gordon nasceu no dia 4 de agosto de 1971 na cidade Vallejo, na Califórnia. Seus pais se separaram quando Jeff ainda era um bebê, mas seu padastro, John Bickford, lhe deu todo o apoio necessário para que ele se tornasse piloto. Com apenas quatro anos Gordon teve seus primeiros contatos com karts e pequenos carros de midgets, logo se tornando um fenômeno, vencendo inúmeros títulos. Quando completou 16 anos Jeff Gordon ganhou uma licença da USAC, se tornando o mais jovem a consegui-lo e venceu o título nacional de Midget aos 19 anos e no ano seguinte venceu a USAC Silver Crown, se tornando o mais jovem a vencer o tradicional campeonato. Foi nessa época que Jeff Gordon, que nessa época morava em Pittsboro, no estado do Indiana, se interessou pela F-Indy e realizar o sonho de correr nas 500 Milhas de Indianápolis. Junto com seu padastro, Gordon bateu em várias portas na Indy, mas com preços proibitivos, Jeff desistiu do seu sonho. 'O currículo de Jeff era impecável, mas as equipes sempre nos pediam muito dinheiro. Na temporada seguinte, pilotos que andavam muito abaixo de Jeff eram contratados por essas mesmas equipes, levando muito dinheiro', falou mais tarde John Bickford, padastro e também empresário de Gordon. A desistência de Jeff Gordon da Indy no começo dos anos 1990 foi um exemplo muito usado por Tony George de como a Indy estava cara demais e usou também esse fator para criar a IRL anos depois. Foi em 1989 que Gordon deu seus primeiros passos em carros com para-lamas, de turismo, algo bem diferente do que o jovem estava acostumado, mas Jeff rapidamente se adaptou ao novo tipo de bólido. E uma lenda começaria.


Jeff Gordon fez suas primeiras corridas na Nascar em 1990, correndo na Busch Series e tendo como engenheiro um desconhecido Ray Everham. Para a temporada seguinte, Gordon conseguiu um lugar na equipe de Bill Davis e logo mostrou sua marca, ganhando o título de Novato do Ano. Para 1992 Gordon continuava mostrando grande velocidade na Busch Series, conseguindo onze poles e já chamando a atenção dos grandes donos de equipe da Winston Cup. Correndo com carros da Ford, Gordon negociou com Jack Roush, mas o padastro de Jeff insistiu que Everham fosse contratado e o negócio esfriou. Gordon venceu uma corrida de forma dominante em Atlanta, chamando a atenção de um jovem chefe de equipe emergente: Rick Hendrick. Sem pestanejar, Hendrick contrata Gordon para 1993, mas ele o faz estrear na Winston Cup exatamente na última corrida de 1992, realizada também em Atlanta. Seria uma corrida emblemática. Além da disputa apertada pelo título, que acabaria nas mãos de Alan Kulwicki, aquela prova marcaria o fim da carreira de Richard Petty. Ou simplesmente The King. Correndo praticamente desde o início da Nascar, Petty era o arquétipo perfeito do piloto da Nascar daquela época, enquanto aos 21 anos de idade, Jeff Gordon parecia jovem demais para estar no meio daquelas feras. Gordon abandonou, mas aquela corrida em Atlanta ficou conhecido como uma passagem de bastão entre a antiga Nascar para a moderna Nascar, que seria liderada por Gordon.


Assim como ocorreu na Busch Series, Jeff Gordon foi o estreante do ano na Winston Cup em 1993, onde já corria com o mítico carro número 24, com patrocínio da Dupont, num carro colorido como um arco-íris. Ninguém duvidava da velocidade de Gordon, mas muitos o acusavam de ser duro demais com os carros e por isso ele se envolvia em muitos acidentes e quebras. Porém, em 1994 Gordon começaria a incomodar ainda mais o status-quo da Nascar. Ele venceria sua primeira corrida na Winston Cup num dos palcos sagrados da Nascar, em Charlotte, na famosa Coca Cola 600. E não ficaria por aí. Após anos de resistência, o santuário sagrado de Indianápolis finalmente receberia a Nascar em 1994, trazendo grande expectativa para todos os pilotos. Quem seria o primeiro piloto da Nascar a dominar Indianápolis? Morando muitos anos perto do circuito e tendo uma relação especial com ele, Gordon venceu a prova conhecida como Brickyard 400 e se tornava um piloto de ponta. Até aquele ponto da carreira, Gordon se mostrava um piloto muito inconstante, com vários abandonos, mas em 1995 seria diferente. Com apenas três abandonos e sete vitórias, Jeff Gordon conquistou seu primeiro título da Nascar, com 300 pontos de frente para Dale Earnhardt. O 'Intimidador' ficou claramente incomodado com a chegada de Jeff Gordon ao estrelato. Com exatos vinte anos de diferença, Earnhardt muitas vezes criticava a mídia em cima de Gordon, que o admirava em réplica. Havia mais ciúme por parte de Dale do que uma verdadeira rivalidade entre os dois, mas ambos se respeitavam bastante, até o triste fim do relacionamento em 2001. Mesmo vencendo dez corridas em 1996, Jeff Gordon acabou derrotado pelo seu companheiro de equipe Terry Labonte, mas Gordon ganhava cada vez mais fãs e se tornava uma referência na Nascar, além de ser a própria cara da categoria fora da região sul dos Estados Unidos. Ainda muito jovem, Jeff Gordon se mostrava como a nova cara da Nascar, principalmente em outros países.


Em 1997 Gordon venceria sua primeira Daytona 500, iniciando não apenas um, mas dois anos dominantes, culminando com o bicampeonato, com várias vitórias. Além do marketing em cima de sua imagem, Gordon se tornava claramente a maior estrela da Nascar. Em 1999 Jeff venceria novamente a Daytona 500 e receberia uma enorme proposta para se mudar para a Chip Ganassi, que passaria a investir na Nascar ao lado do dono da Dallas Cowboys, mas Gordon recusou a proposta e assinou um acordo vitalício com a Hendrick. Antes de completar 30 anos, Gordon já tinha mais de cinquenta vitórias e era uma estrela da Nascar, mas no começo de 2001 ele veria a morte de Dale Earnhardt em Daytona, algo que chocaria toda a comunidade automobilística. Com seis vitórias, Jeff venceria seu quarto título em 2001, se tornando o terceiro piloto da história da Nascar a alcançar essa marca. 


Além de correr na Indy, Jeff Gordon também tinha um sonho de correr na F1. Impressionado com a habilidade de Gordon, Jackie Stewart fez um convite ao americano para que ele corresse na F3 Inglesa no começo dos anos 1990, mas Jeff já estava comprometido com a Nascar. Em 1997, ele recebeu um proposta de se mudar para a Indy, mas sua passagem na equipe de Barry Green seria na verdade um trampolim para a F1, na equipe BAR, mas Gordon declinou. Ele realizaria o seu sonho de correr de F1 em 2003, quando a Williams e a Hendrick promoveram uma troca entre Gordon e Juan Pablo Montoya no circuito misto de Indianápolis. Essa seria a primeira experiência de Montoya na Nascar antes de sua mudança alguns anos depois. Porém, todos estavam curiosos de como Jeff se sairia num carro tão diferente e sofisticado. E o americano esteve longe de decepcionar. Gordon se saiu muito bem, fazendo tempos razoáveis e impressionando os engenheiros com que trabalhou. Falou-se que com mais treino, Jeff Gordon poderia se tornar um piloto de F1, mas já uma estrela consolidada da Nascar, Jeff nem pensou nessa possibilidade, mas ele não sabia que seu título em 2001 seria seu último na Nascar.


Com o sucesso de Gordon nos anos 1990, junto com a queda do interesse da Indy por causa de sua cisão, vários jovens pilotos americanos passaram a se concentrar na Nascar, causando um aumento exponencial de interesse pela categoria. Ao invés de sonharem com Indianápolis, mais e mais pilotos passaram a sonhar com Daytona. E foi assim que pilotos como Tony Stewart, Kurt Busch, Matt Kenseth e Kevin Harvick foram surgindo na Nascar no início do milênio. Porém, o mais talentoso deles era protegido por Gordon. Jimmie Johnson era um promissor piloto da Busch Series que chamou a atenção de Gordon. Quando assinou o contrato vitalício com a Hendrick, Jeff também teria uma parte na equipe e resolveu investir num carro para Johnson. Seria o 48, duas vezes mais do que o 24. Era o surgimento de mais uma lenda e, porque não, no sucessor de Jeff Gordon na Nascar. Ele continuaria uma estrela na Nascar e uma referência, mas Jeff teria fortes companhias. Em 2004 surgiria os Play-Offs e Johnson venceria cinco títulos seguidos entre 2006 e 2010, mas em 2007 se o campeonato fosse de 'pontos corridos', Jeff Gordon seria o campeão. Nesse ano Jeff Gordon venceria pela 77º vez, se igualando à Dale Senior. Porém, os fãs do Intimidador não gostaram muito da marca, mesmo Gordon tendo desfilado com uma bandeira de número 3 e o carro de Jeff chegou a ser vítima de latas de cerveja.


Contudo, as vitórias de Gordon iam rareando. Se ele venceu quatro corridas em 2007, ele só repetiria o feito em 2014 e nesse ano ele venceria pela quinta vez em Indianápolis, vinte anos depois de sua primeira vitória, e se igualando à Michael Schumacher como o piloto com mais vitórias em Indiana. No Texas, Gordon estava lutando pela vitória com Brad Keselowski e acabou tocado pelo rival, ocasionando uma grande briga no pit-lane depois da corrida. Outra briga famosa envolvendo Gordon ocorreu em Martinsville em 2012, quando bateu de propósito em Clint Bowyer e acabou atacado por membros da equipe de Bowyer ao chegar na garagem. Porém, no caso com Keselowski, Jeff admitiu que sua raiva era porque aquilo praticamente acabava com qualquer chance dele tentar seu quinto título naquela momento. Aquela havia sido a primeira ótima temporada de Jeff em muitos anos. O piloto já era um veterano com 43 anos e mesmo com a Nascar sendo conhecida pela longevidade dos seus pilotos, Jeff Gordon reclamava de dores nas costas por acidentes em outros anos. No começo de 2015 ele anunciou que aquela seria a sua última temporada completa na Nascar. Apenas em novembro ele ganharia pela 93º e última vez na Nascar, em Martinsville, o que lhe garantia um lugar na final da Nascar em Homestead, no intrincado sistema de definição de título da categoria. O tamanho de Gordon era provado com as visitas que recebeu em sua última corrida na Nascar. Simplesmente Mario Andretti e Lewis Hamilton. Um representante da Indy e outro da F1 para reverenciar uma lenda da Nascar. Jeff Gordon terminou a corrida em sexto e encerrou sua carreira.


Gordon ainda faria algumas corridas em 2016 no lugar de Dale Earnhardt Junior, mas desde então ele passou a se dedicar ao papel de comentarista da Fox Sports, até ser chamado por Rick Hendrick esse ano e se tornar vice presidente da Hendrick Motorsports, com o objetivo de suceder o chefe de equipe num futuro próximo. Os números de Jeff Gordon o colocam facilmente entre os gigantes da Nascar. São quatro títulos (1995, 1997, 1998 e 2001), 93 vitórias, sendo três triunfos na Daytona 500 (1997, 1999 e 2005),  81 poles em 797 corridas, sendo 789 corridas consecutivas. Mais um recorde. Foram vários recordes na carreira de Jeff Gordon, inclusive depois que saiu da Nascar, quando ele venceu as 24 Horas de Daytona de 2017 e se tornou o quarto piloto a vencer a corrida da Nascar e de Endurance. Assim foi Jeff Gordon em sua carreira de 23 anos na Nascar. Cheio de números impressionantes que o colocaram na Hall da Fama da Nascar 2019, um das lendas da Nascar e um gigante do automobilismo.

Parabéns!

Jeff Gordon

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Figura(HUN): Alpine

 A Renault tem bastante tradição na F1, mas ao mesmo tempo os franceses olham os gastos com a categoria com um olhar desconfiado e muitas vezes a Renault fica na berlinda em se manter na F1. Para 2021 a montadora resolveu mudar o nome de sua equipe e trouxe a marca Alpine para equipe. Apesar do status de montadora e ter um orçamento considerado muito bom, a Alpine se manteve na mesma posição em que a Renault deixou ano passado, ou seja, no meio do pelotão, longe da briga pelas vitórias. A dupla de pilotos é considerada muito forte, mesclando juventude (Ocon) e experiência (Alonso), mas 2021 parecia outro ano cercado de desculpas para tentar convencer a Renault a continuar investindo na F1 para comemorar um eventual quinto lugar. No entanto, o esporte pode nos pregar peças e enquanto uns só vêm problemas, outras observam oportunidades. A série de acidentes na primeira curva fez com que a corrida na Hungria mudasse drasticamente e a Alpine conseguisse sua apoteose. Com seis carros de fora no melê da largada, Ocon subiu para segundo lugar e Alonso para sexto, mas não parou por aí. Se na primeira largada a pista estava molhada, o sol apareceu durante a bandeira vermelha e isso fez com que Lewis Hamilton ficasse sozinho no grid, enquanto o resto do pelotão colocava pneus slicks. E quem estava na frente nesse momento? Ocon. Porém, a vida do jovem francês não foi nada fácil, tendo Sebastian Vettel enchendo seus retrovisores a prova toda, mas Ocon não errou em nenhum momento. Mais atrás, outro fantasma ainda assustaria Ocon e a Alpine. Hamilton caiu para último, mas com o carro mais rápido e a Mercedes tentando se redimir pela presepada estratégica na segunda largada, o inglês tentaria a vitória nos momentos finais. Foi então que o segundo piloto da Alpine entrou em ação. Após um retorno claudicante nas primeiras corridas, Fernando Alonso voltou a mostrar sua estrela e na Hungria ele esteve impressionante na defesa de posição contra Hamilton. O tempo atrás de Alonso impossibilitou Hamilton de qualquer ataque em cima de Ocon e garantiu a primeira vitória do francês, além de marcas incríveis. Pela primeira vez em 25 anos, um piloto francês ganhava com carro francês e depois de 38 anos, uma vitória totalmente francesa (piloto/carro/motor) ocorria na F1. Mesmo sendo uma vitória ocasional, a Alpine mostrou que tem dois pilotos capazes de grandes feitos. Dessa vez, os chefes da Alpine não terão muito trabalho em convencer a Renault se manter na F1.

Figurão(HUN): Valtteri Bottas

 Poucas vezes a escolha dessa parte da coluna foi tão óbvia e clara. Ainda tentando se segurar na Mercedes em 2022, Bottas vai mantendo seu bom ritmo de classificação, andando próximo de Hamilton e muitas vezes ajudando a Mercedes na sua luta fratricida com a Red Bull nesse ano. Porém, assim como acontecia nos últimos anos, Bottas vem pecando em ritmo de corrida, mas em Hungaroring não foi possível verificar esse ponto fraco do finlandês da Mercedes. Até então, o final de semana na Hungria vinha sendo com pista seca e muito quente, mas a chuva resolveu aparecer no domingo e a pista estava levemente molhada na largada. Quando as cinco luzes vermelhas se apagaram, Bottas largou pessimamente da segunda posição, superado pelos dois carros da Red Bull que vinham na segunda fila. Lando Norris, terceiro colocado no Mundial de Pilotos e vindo de quinze corridas consecutivas pontuando, conseguiu colocar sua McLaren bem na frente de Bottas no aproche da primeira curva. Sem referências anteriores, com um carro repentinamente na sua frente e com o seu próprio carro pesado, Bottas apertou o pedal de freio como se não tivesse ninguém à sua frente ou com o piso seco ou ambos. O que aconteceu depois definiu os rumos da corrida, com Bottas enchendo a traseira de Norris, que foi jogado para cima do carro de Verstappen, enquanto Bottas encheu a lateral de Pérez. Um boliche de carros da Red Bull, com Pérez abandonando no local e Verstappen tendo que fazer setenta voltas com o carro toda arrebentado. Bottas abandonou no local e com todos os dedos apontados para ele, resultando numa punição de cinco posições no grid da próxima corrida. Um erro crasso para um piloto experiente e de ponta como Bottas, mas esse segundo adjetivo deve cair em pouco tempo. Está extremamente complicado a Mercedes explicar mais um ano de Bottas na equipe, ainda mais com George Russell fazendo ótimas corridas pela Williams.  

domingo, 1 de agosto de 2021

Big One

 


Big One. Essas duas palavrinhas vindas dos Estados Unidos tem alguns significados. Muitas vezes se utiliza quando algo grande acontece, sendo que nas corridas também significa um grande acidente, principalmente na Nascar. Na prova de hoje em Budapeste aconteceu dessa expressão se misturar num só motivo. Primeiramente pela enorme carambola provocada por Bottas e Stroll, ambos já punidos justamente. A segunda para a gigantesca corrida que aconteceu logo depois, cheio de reviravoltas, lances inusitados e pilotagens épicas em todo o pelotão, terminando com um vitorioso inusitado. Esteban Ocon ganhou sua primeira corrida na F1 tendo que segurar toda a prova Sebastian Vettel nos seus retrovisores, porém, não foi apenas esses dois que se sobressaíram hoje. Hamilton, Alonso, Verstappen, Williams... não faltaram destaques positivos na corrida magiar dessa manhã.


Nos últimos dias se falou em chuva no final de semana húngaro, lembrando um pouco o que aconteceu na Áustria, sendo que os austríacos erraram feio. Quando tudo levava a crer que os meteorologistas húngaros seguiriam seus companheiros do país vizinho, o domingo amanheceu chovendo em Budapeste e quando a pista já estava seca, a chuva voltou a dar as caras bem no momento em que os carros estavam no grid. A pista estava úmida e todos os carros estavam calçados com pneus intermediários quando as cinco luzes vermelhas apagaram, com Hamilton se mantendo na ponta e Bottas fazendo uma péssima saída. Porém, tudo pioraria para Valtteri metros depois. Quando Lando Norris se colocou bem à sua frente na freada da primeira curva, Bottas acertou a traseira da McLaren começando uma reação em cadeia com grandes repercussões na corrida e no campeonato. Sem controle, ambos os carros atingiram os dois carros da Red Bull, enquanto mais atrás Stroll tinha uma pane mental igual a de Bottas e atingiu bem no meio a Ferrari de Leclerc, levando o monegasco a bater em Ricciardo. Quando Hamilton olhou no retrovisor ele devia não acreditar. Ao invés de ter Bottas ou alguém da Red Bull, em segundo vinha Esteban Ocon e logo atrás Vettel. Porém, de forma bastante discutível, a bandeira vermelha apareceu, ajudando sobremaneira Max Verstappen, que tinha sérios danos no seu carro. O mundo inteiro apontou o dedo para Valtteri Bottas, sem contar alguns sem noção clamando por uma ação orquestrada de Bottas para ajudar Hamilton, eliminando os dois pilotos da Red Bull de propósito. Devem ser os mesmos que juram ter provas que a eleição de 2014 foi fraudada...


Arautos da teoria da conspiração à parte, o erro grosseiro de Valtteri Bottas foi um duro golpe à renovação (ou não) do finlandês com a Mercedes, até porque a equipe se encarregaria de estragar o 'grande plano' mais tarde. Já o caso de Stroll é a confirmação de que mesmo evoluindo, o jovem canadense tem flagrantes limitações e só está na F1 graças ao tamanho da carteira do papai.

Enquanto a bandeira vermelha se prolongava de forma ainda mais discutível, dando tempo para a Red Bull tentar deixar o carro de Verstappen em condições de pelo menos largar, o sol dava aparecia em Budapeste e quando a corrida se reiniciou, um fato bizarro aconteceu, sem contar o erro tão bizarro quanto da Mercedes. Quando os pilotos davam uma volta atrás do SC antes da largada, perceberam que a pista já estava suficientemente seca para colocar pneus slicks, fazendo com que quase todos procurassem os boxes ao invés de procurarem seus lugares no grid. Quase todos porque por algum motivo a Mercedes deixou Hamilton sozinho no grid, nos apresentando uma cena inusitada, pois Lewis era o único no grid quando a largada foi dada, enquanto os demais piloto se espremiam na saída do pit-lane, com Ocon à frente de Vettel. A tática horrivelmente escolhida pela Mercedes ficou rapidamente clara como a errada e quando Hamilton foi aos boxes no final da volta, ele saiu dos pits em último. Com menos de três voltas completadas, haviam seis abandonos e o pelotão todo misturado, com a Latifi em terceiro, seguido por Tsunoda e Sainz, com toda a corrida ainda por vir.

Ficava nítido que a dificuldade de ultrapassagem da pista castigaria os pilotos, algo que sempre aconteceu em Hungaroring. Vettel tinha um carro mais rápido, mas Ocon se mantinha em primeiro sem maiores arroubos. Hamilton tinha o carro nitidamente mais rápido da pista, mas ele também não podia escalar como imaginava. Verstappen estava com o carro todo empenado e claramente não podia fazer muita coisa na corrida, a não ser diminuir os danos. Por sinal, a Mercedes diminuiu os danos de Hamilton ao trocar sua estratégia e trazê-lo mais cedo para os pits, fazendo-o ganhar terreno e poder atacar quem via pela frente. Hungaroring sempre foi um circuito de difíceis ultrapassagens, mas Hamilton fez várias, até encontrar um tal de Fernando Alonso.


Mesmo com o companheiro de equipe liderando a corrida e a ponto de dar a primeira vitória da equipe desde os tempos do próprio Alonso na Renault, o espanhol fez uma corrida maravilhosa e foi um dos destaques. Fernando foi o último a parar e estava em quinto, se aproximando da briga entre Sainz e Hamilton pelo pódio. Novamente a Mercedes se redimiu da caca feita na segunda largada e colocou pneus médios em Hamilton para as últimas voltas. Com pneus mais novos, inicialmente Alonso atacou seu compatriota Sainz, mas não demorou muito a sofrer um ataque feroz de Hamilton. Foi o ponto alto da corrida! Recém-completando 40 anos, Alonso deu um verdadeiro show de defesa de posição, enervando Hamilton a ponto de reclamar das espremidas em alta velocidade recebidas. Quem te viu, quem te vê Lewis... Hamilton só ultrapassou Alonso quando faltavam doze voltas para o fim e por um erro do piloto da Alpine, mas o espanhol já tinha feito seu trabalho para a equipe. Com a velocidade que Hamilton vinha com pneus médios novos, se Lewis ultrapassasse rapidamente Alonso, ele provavelmente chegaria na briga pela vitória. Lewis não teve trabalho algum para deixar Sainz para trás e na bandeirada estava pouco mais de 1s atrás de Vettel, numa remontada incrível do inglês da Mercedes. Foi a incrível defesa de Alonso que segurou a vitória de Esteban Ocon. Em meio a tantos pilotos ricos na F1 atual, talvez Ocon seja o piloto com origem mais humilde do grid. Ele chegou a viver num trailer com os pais e trabalhou no McDonald's para ajudar a família. Dono de grande talento, Ocon foi descoberto por Toto Wolff e passou vários anos sob as asas da Mercedes, mas acabou sem espaço e por muito pouco Esteban ficou fora da F1. Resgatado pela Alpine, Ocon sempre foi considerado da mesma estirpe de Leclerc, Gasly, Russell, Norris e, por que não, Verstappen. O francês assumiu a ponta no erro da Mercedes, mas não errou em nenhum momento tendo um tetracampeão logo atrás de si, conseguindo a sua primeira vitória na F1 ao natural, como se fosse um grande costume de Esteban vencer naquele palco.


Vettel tentou a corrida inteira, pressionou como pôde Ocon tentando achar uma brecha, mas o segundo lugar do alemão não deixa de ser uma ressurreição após anos tão complicados dentro da Ferrari. Sainz simplesmente não foi páreo para Hamilton, demonstrando a diferença que ainda há entre ele e o compatriota Alonso. Leclerc reclamou demais da presepada de Stroll que o deixou de fora da primeira volta, assim como Pérez. Verstappen poderia ser mais um abandono na primeira volta, mas o neerlandês ainda conseguiu completar a corrida e mesmo com o carro totalmente danificado, ainda marcou um pontinho. Um grande feito de Max, mas a liderança do campeonato foi perdida. Norris ainda tentou largar, mas ficou claro para a McLaren que os danos eram deveras extensos e o inglês ficou pelo caminho, seu primeiro abandono depois de quinze corridas consecutivas nos pontos. A esperança da McLaren ficou nas mãos de Daniel Ricciardo, mas infelizmente o australiano está numa má fase em que ele não consegue sair. Mesmo com o Red Bull todo danificado, Ricciardo não foi capaz de segurar Verstappen e ainda foi ultrapassado pela Alfa de Raikkonen, deixando Daniel fora dos pontos. Falando em pontos, a Williams se aproveitou dos problemas dos outros para pontuar com seus dois carros, com o destaque ficando dessa vez para Latifi, com chegou a correr em terceiro e terminou na frente do badalado George Russell, que chorou após a corrida. A Alpha Tauri marcou bons pontos com seus dois carros, enquanto a Alfa Romeo viu seus dois pilotos serem punidos em 10s e com o avanço da Williams, os italianos estão na frente apenas da Haas no Mundial de Construtores. Mazepin abandonou por um erro da Alfa, que soltou Giovinazzi em cima do russo, mas a equipe americana teve o que comemorar, pois Mick Schumacher apareceu várias vezes na TV em brigas com carros mais rápidos, sendo que o alemão andou várias voltas entre os dez primeiros.


No fim das contas, a briga pelo título ficou em segundo plano de uma corrida incrível e daquelas inesquecíveis. Mesmo perdendo a liderança para Hamilton, a situação de Verstappen poderia estar muito pior se o inglês vencesse, mas a Mercedes errou feio em Budapeste. O pior erro, porém, foi de Bottas e não seria impossível Russell ser anunciado nos próximos dias após tamanha presepada. Porém, a barbeiragem de Bottas permitiu à Alpine vencer pela primeira vez e desde 1983 não se via uma vitória com piloto, carro e motor francês. Para melhorar, a Alpine ainda contou com a luxuosa ajuda de Alonso para permitir que Esteban Ocon colocasse em seu currículo uma vitória na F1. Um Big One na largada e um Big One de uma ótima corrida de um ótimo campeonato.