sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Que pena...

 


Ele foi um dos meus pilotos preferidos e acabar um ano, que já tinha deixado claro que tinha sido nada bom, dessa maneira chega a doer. Gil de Ferran foi daqueles pilotos unânimes em termos de qualidade técnica e conhecimento em mecânica. Nos últimos bons anos da Indy, Gil conseguiu um bicampeonato de forma categórica, alavancando a Penske, após anos nada bons da tradicional equipe. Quando a Penske foi para a IRL e só corria de oval, Gil permaneceu fiel à equipe de Roger Penske e venceu uma 500 Milhas de Indianápolis em 2003,  além de conquistar o vice-campeonato nesse mesmo ano. Se aposentou com apenas 36 anos, fazendo algumas corridas aqui e ali. Após fazer uma carreira de sucesso na Europa, Gil de Ferran chegou a paquerar com a F1, inclusive num teste com a poderosa Williams em 1993. Para muitos, Gil teria plenas condições de ter feito um bom papel na F1, mas o destino quis que Gil de Ferran obtivesse muito sucesso na Indy, onde foi, na minha modesta opinião, o melhor brasileiro a correr na categoria. E o melhor piloto brasileiro no período pós-Senna. Como diria o poeta, se Gil não foi para a F1, azar da F1. Sorte da Indy. Nesse finalzinho de ano, exatamente dez anos após o acidente de Michael Schumacher, chegou a notícia da morte de Gil de Ferran, com apenas 56 anos, vitima de infarto. O automobilismo está de luto.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Feliz Natal




 Com a bio do Wilsinho Fittipaldi, fecho o complicado ano de 2023. Não no blog, que funcionou como deve, mas no plano pessoal, esteve longe de ser um ano feliz, mas a esperança é que 2024 seja bem melhor. Feliz Natal a todos que acompanham o blog e que 2024 seja muito bom.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Tigrão


Ele fez parte da única família que emplacou três gerações de pilotos na F1, além de ser o único chefe de equipe brasileiro na F1. Wilson Fittipaldi Junior foi um ótimo piloto no cenário nacional em meados dos anos 1960 e rapidamente se juntou ao seu irmão mais novo Emerson no sonho de alcançar a F1. Se não teve o mesmo sucesso de Emerson, Wilsinho conseguiu mostrar sua marca com boas corridas pela Brabham antes de embarcar no sonho de ter uma equipe genuinamente brasileira na F1, num período de muito aprendizado, mas também de injustiças e bastante duro para Wilson. Porém, isso não diminuiu seu amor ao automobilismo e viu seu filho Christian igualar seu feito na F1, além de fazer bastante sucesso na Indy e nas corridas de Endurance. Prestes a completar 80 anos, vamos ver um pouco da carreira do Tigrão, seu apelido nas pistas.


Wilson Fittipaldi Junior nasceu no Natal de 1943 em São Paulo, filho de um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil na época, o Barão Wilson Fittipaldi. Especializado em automobilismo, o Barão não apenas cobriu corridas, como também promoveu e participou de algumas provas nos anos 1940 e 1950. Acompanhando o pai nas corridas, não foi surpresa que Wilsinho se interessasse pelas corridas e como consequência se tornar piloto, sendo acompanhado pelo seu irmão três anos mais novo Emerson. Sabendo dos perigos das corridas e das dificuldades da profissão, o Barão não se interessou muito em financiar a carreira dos seus rebentos, mas não os impediu de começar a correr de kart, construído por eles mesmos, em meados dos anos 1960. Para se manter correndo, Wilsinho e Emerson construíram uma fábrica de acessórios esportivos para carros, financiando o início de suas carreiras. Como era mais velho, Wilsinho começou a se destacar no automobilismo antes de Emerson, sendo campeão no kart. Em 1966, Wilsinho foi para a Europa participar de algumas corridas de F3, obtendo sucesso, mas retornando ao Brasil em menos de um ano para ser um dos principais pilotos do país, além de ver o vertiginoso crescimento do seu irmão Emerson, que em 1969 foi para a Europa construir sua história de sucesso. Os irmãos Fittipaldi tinham como característica construir seus próprios carros, projetando um carro de F-Vê e o famoso Fitti-Porsche. Essa característica permaneceria pelos anos seguintes.


Em 1970 Wilsinho retornaria à Europa, seguindo o caminho do irmão mais novo, mas o Tigrão teria alguns problemas adicionais. Se Emerson era pequeno e franzino, Wilsinho tem mais de 1,80m e pesava quase 90 kg quando chegou à Europa disputar o campeonato inglês de F3. Tendo que fazer um regime, Wilsinho perdeu peso e foi competitivo no seu ano na F3 Inglesa, vencendo uma corrida em Silverstone, derrotando na oportunidade seu compatriota e amigo José Carlos Pace. Com o sucesso de Emerson na F1, os irmão voltaram a correr juntos, dessa vez na F2 Europeia na equipe Bardahl-Fittipaldi, usando carros da Lotus. Wilsinho se tornou um dos principais pilotos da F2 em 1971 terminando o campeonato em sexto, com direito a um pódio em Hockenheim. Esses resultados fizeram com que Wilsinho chamasse a atenção de Bernie Ecclestone, que o contratou para a equipe Brabham de F1 para 1972. A equipe vivia um momento de transição, nos primeiros anos sob a chefia de Ecclestone, que trouxe Wilsinho de olho nos patrocinadores que o brasileiro trazia com ele. A primeira corrida de Wilsinho na F1 foi inesquecível. Antigamente os circuitos precisavam passar por uma corrida de homologação antes de estrearem oficialmente no calendário da F1 e em 1972 Interlagos, após ampla reforma, recebeu a F1 para homologar o circuito paulistano. Usando seu conhecimento do circuito, Wilsinho chegou em terceiro lugar numa prova marcada por um acidente que tirou uma vitória certa de Emerson. Contudo, o resto do ano foi complicado para Wilsinho. Em nenhuma corrida ele largou entre os dez primeiros e houveram muitos abandonos. A realidade era que a equipe Brabham focava mais no primeiro piloto Carlos Reutemann, restando pouca atenção à Wilsinho, que comemorou bastante o título de Emerson ao final da temporada, mesmo sem ter marcado nenhum ponto. A situação para 1973 não mudou muito. Reutemann recebia todas as atenções da Brabham, enquanto Wilsinho lutava. Logo na primeira corrida de 1973 Wilson conquistou seu primeiro ponto na F1 com um sexto lugar em Buenos Aires e em Mônaco o Tigrão vinha fazendo sua melhor corrida na F1, correndo em terceiro, antes de abandonar a prova já no final, com problemas de alimentação de combustível no seu Brabham. Wilsinho ainda marcaria mais dois pontos em Nürburgring, antes de sair da Brabham. E focar num sonho!


Wilsinho tinha conhecido o lado político da F1 e percebera que dificilmente poderia ser competitivo numa equipe inglesa, chegando a conclusão que ele poderia tentar um projeto ousado. Lembrando os tempos em que vencia usando seus próprios carros, Wilsinho decidiu montar uma equipe totalmente brasileira, tendo como projetista seu amigo Ricardo Divila. O ano de 1974 foi todo dedicado à nova equipe, enquanto Wilsinho prospectava apoio dentro do Brasil. Naquele ano Emerson Fittipaldi conquistava o bicampeonato e o Brasil vivia o chamado 'Milagre Econômico'. Na F1, dizia-se que precisava de um câmbio Hewland, pneus Goodyear e motores Cosworth para se montar uma equipe. Valendo desse cenário, Wilsinho Fittipaldi mostrou o Copersucar FD01 em Brasília, onde faria a estreia do primeiro carro brasileiro em 1975. O carro tinha um desenho bastante aerodinâmico e tinha várias peças feitas no Brasil, além de apoio da Embraer. Os mecânicos eram praticamente todos brasileiros e o carro foi construído nas imediações de Interlagos. A primeira corrida foi em Buenos Aires e o início não foi dos melhores, com o primeiro carro da equipe pegando fogo, sendo necessário um novo carro para a corrida seguinte em Interlagos. Wilsinho fez toda a temporada como piloto e não marcou nenhum ponto, com a equipe ainda sofrendo com as dores do crescimento. Porém, a equipe sofreria uma guinada para 1976. Emerson Fittipaldi estava com dificuldades para renovar seu contrato com a McLaren e num rompante ideológico, surpreendeu o mundo ao se juntar à Wilsinho no sonho da equipe brasileira de F1. Com a chegada do irmão, Wilsinho passou a focar unicamente no papel de chefe de equipe, terminando sua carreira na F1 com 35 corridas e três pontos conquistados.


O que seria um sonho em poder contar com um bicampeão mundial em suas fileiras, acabou se tornando um problema para a equipe Copersucar. Ainda em seu segundo ano e aprendendo todas as diretrizes de uma categoria complexa como a F1, o time comandado por Wilsinho teria a enorme pressão de dar um bom carro a um piloto que vinha de dois títulos e dois vice-campeonato nos últimos quatro anos. Qualquer resultado ruim de Emerson e a conta seria debitada no carro. Juntando a isso, havia uma imprensa sem conhecimentos técnicos e de alguma forma sensacionalista. O que se seguiu foi uma luta para dar um bom carro à Emerson Fittipaldi, comandado por Wilsinho Fittipaldi, que não mediu esforços para fazer a equipe Copersucar desabrochar. Após dois anos complicados, a Copersucar teve seu melhor ano em 1978 com o modelo F05, com Emerson chegando num inesquecível segundo lugar em Jacarepaguá, além de terminar o campeonato num bom décimo lugar, marcando várias posições pontuáveis no processo. Porém, aquele ano foi marcado pelo domínio da Lotus com o carro-asa e por isso era urgente construir um, se a equipe quisesse ser competitiva na F1. Wilsinho contratou Ralph Bellamy, um dos projetistas do Lotus 78, saindo da sua prancheta o F06. O carro tinha linhas elegantes e foi chamado de Concorde pelo bico fino. Era o carro mais caro da história da equipe. E o mais fracassado. O F06 era difícil se guiar e com bastante torção, fazendo com que a equipe tivesse um ano horroroso. Para piorar, o Copersucar tirou o patrocínio no final de 1979, mas nem assim Wilsinho mediu esforços para manter a agora equipe Fittipaldi forte e comprou os espólios da equipe Wolf, que tinha sido vice-campeã em 1977. Junto da Wolf, vieram Keke Rosberg, Harvey Postlethwaite e um estagiário chamado Adrian Newey. O chefe dos mecânicos era Peter Warr, que fizera a mesma função no título de Emerson pela Lotus, sucedendo o mexicano Jo Ramírez. A equipe ainda contava com Divila e Emerson Fittipaldi, que garantia alguns privilégios de motores e pneus. Havia muito potencial, mas com o dinheiro rareando, a equipe Fittipaldi foi perdendo mais e mais força, patrocinada por uma imprensa que ridicularizava de forma cruel e injusta uma equipe que trazia resultados decentes. Emerson fez seu último ano como piloto em 1980, se tornando dirigente da equipe ao lado de Wilsinho. Os anos de 1981 e 1982 foram ainda mais duros para a equipe, que fechou as portas de forma melancólica no final de 1982.


O sonho de uma equipe própria havia terminado para os irmãos Fittipaldi, os deixando até mesmo com dificuldades financeiras naquele início dos anos 1980. A situação foi melhorar quando uma geada  atingiu inúmeras plantações de laranja nos Estados Unidos e como a família Fittipaldi tinha uma fazenda enorme em Araraquara, eles voltaram a ganhar muito dinheiro. Enquanto Emerson refazia sua fama na F-Indy, Wilsinho fazia algumas corridas em categorias nacionais, mas seu foco estava em outro lugar. Mais especificamente no kart. Seu filho Christian começara a correr no final da década de 1970 e a partir da década seguinte se tornou um dos principais pilotos de kart do Brasil ao lado de Rubens Barrichello. Por sinal, se tornaram célebres as brigas entre Wilsinho e Rubão Barrichello fora das pistas por causa dos filhos, que eram amigos. Wilsinho conseguiu o apoio necessário para Christian fazer uma bela carreira de base na Europa, mas só tendo feito três temporadas honestas na F1 por equipes pequenas. Haviam algumas chances de Christian conseguir um lugar numa equipe maior, mas com a Indy fazendo sucesso tremendo no Brasil em meados dos anos 1990, Christian cruzou o Atlântico e fez uma carreira de destaque na Indy. Na ocasião, Wilsinho pôde acompanhar tanto seu filho, como seu irmão, presenciando vários acidentes de Emerson e Christian na época. Em 1994 Wilsinho venceu uma Mil Milhas Brasileiras em Interlagos junto de Christian e no ano seguinte ele fez um ano na Stock Car. 


Em 2004, numa espécie de reparação histórica, a Dana patrocinou a reforma dos modelos FD01 e FD04 da equipe Copersucar Fittipaldi. Wilsinho se emocionou várias vezes pelas muitas e merecidas homenagens pelo seu desprendimento por realizar seu sonho de ter um carro de F1 brasileiro. Em 2008, Wilsinho teve a última oportunidade de correr ao lado de Emerson na GT3 Brasileira. Mesmo não obtendo o mesmo sucesso do irmão mais novo, nunca se viu uma reclamação de Wilsinho Fittipaldi por não ter tido o mesmo êxito. Completando 80 anos de idade nesse Natal, Wilsinho Fittipaldi teve alguns problemas de saúde recente, mas felizmente está bem melhor, podendo comemorar mais uma primavera com seus filhos e netos.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Adeus soldado!


 Cresci ouvindo que o Dimas Filgueiras sempre estava à postos para ajudar o Ceará. E ele o fez dessa maneira até o fim de sua vida. Dimas é eterno!

domingo, 17 de dezembro de 2023

Kart Masters Paris


 Trinta anos atrás, um evento beneficente organizado pelo ex-piloto Phillipe Streiff entraria para a memória coletiva de todo amante de automobilismo. Entre os dias 18 e 19 de dezembro de 1993, no Palais Omnisports de Paris Bercy, um evento de kart reuniu vários pilotos importantes da época, inclusive Ayrton Senna e Alain Prost. Os dois tinham dado as mãos no pódio em Adelaide pouco mais de um mês antes, aparentemente terminando o que era a grande rivalidade esportiva da época. 

Senna estava com um macacão branco, já que sua saída da McLaren rumo à Williams já estava consolidada, mas havia restrições por parte dos patrocinadores, enquanto Prost envergava seu belo macacão azul que lhe dera o tetracampeonato de F1 daquele ano. Na segunda bateria, Senna e Prost travaram uma batalha de tirar o fôlego pela segunda posição e quando o brasileiro já se aproximava do líder Andrea de Cesaris, seu kart quebrou, permitindo a Prost atacar o veterano italiano e vencer o torneio amistoso. Era o primeiro evento do Kart Masters de Paris, mas a última vez que Senna e Prost dividiram uma pista de corrida. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Figura(2023): Max Verstappen

 Quando olharmos para 2023, só haverá um nome a ser lembrado: Max Verstappen. O neerlandês conseguiu uma temporada próxima da perfeição, onde completou todas as voltas programadas no ano, liderou mais de mil voltas, ganhou mais de quinhentos pontos (algo inédito) e impressionantes dezenove vitórias numa única temporada. Foi uma dominação acachapante e poucas vezes vista numa F1 com cada vez mais domínios. Claro que Verstappen contou com um carro que deve ser a obra-prima de um gênio chamado Adrian Newey, mas Max se mostrou inevitável em vários momentos da temporada, ignorando as intempéries que apareceram ao longo de um calendário longo até demais. Foram vitórias, recordes e o merecido tricampeonato para Max Verstappen. Tudo isso aos 26 anos. E pela fase atual de Max, esses números incríveis conquistados por Verstappen só aumentarão, o colocando definitivamente entre os gigantes da F1. 

Figurão(2023): Sergio Pérez

 Ao longo do ano, houveram treze indicações diferentes, mas o personagem com mais indicações nessa parte menos nobre da coluna foi Sérgio Pérez, com sua temporada muito abaixo da crítica em 2023. Com quatro indicações, o mexicano ficou nessa parte da coluna, mas como um piloto que consegue o vice-campeonato, dando uma inédita dobradinha para a sua equipe pôde ficar como o destaque negativo da temporada 2023? Checo Pérez tinha nas mãos um dos melhores carros de F1 já construído na história, mas com ele venceu apenas duas corridas e foi completamente esmagado por Max Verstappen e sua surreal temporada com dezenove triunfos. Mais do que a comparação até mesmo covarde, Pérez criou uma expectativa com seus bons resultados no começo do ano para ser humilhado por Verstappen em Miami, quando o neerlandês ultrapassou Checo ainda na metade da corrida após largar em nono. E Pérez na pole. Aquilo foi um turnover para Pérez, que ficou várias corridas fora do Q3, enquanto Max conquistava poles, vitórias e recordes. Tendo que fazer corridas de recuperação, Pérez algumas vezes ficava de fora do pódio e também ficava exposto à incidentes que tornaram um vice-campeonato que deveria ter sido conquistado com imensa facilidade num pequeno drama no final da temporada, com Pérez sendo seriamente ameaçado por Hamilton. O mexicano contou também com um final de ano menos feliz de Hamilton para conseguir o esperado vice-campeonato, mas a impressão que ficou foi que Pérez só estará na Red Bull em 2024 muito pela falta de boas opções de fazer uma parceria mais igualitária com Verstappen. O ano de Pérez foi tão ruim que não faltaram boatos de que ele seria substituído no final desse ano e até mesmo que o mexicano se aposentaria. Ricciardo foi trazido de sua aposentadoria para claramente fazer sombra no mexicano. Todas essas especulações foram negadas com a confirmação de Pérez na Red Bull ano que vem, mas observando de forma macro, dificilmente o mexicano ficará na equipe em 2025 pelo o que fez em 2023.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Inevitável

 


Tornou-se comum o meme de alguém dominante usando a luva de Thanos no filme Vingadores Guerra Infinita e dizer 'eu sou inevitável'. A F1 sempre teve domínios, mesmo que eles estejam se tornando alarmantemente frequentes nos últimos quarenta anos, fazendo com que recordes antigamente intocáveis sendo quebrados com uma taxa impressionante. Assim como titã imaginário da série da Marvel, Max Verstappen pode dizer que é 'inevitável', olhando para a temporada 2023. Quando aportou na F1 com apenas 17 anos de idade, era claro que Max Verstappen era um diamante bruto. O neerlandês foi se moldando ao longo dos anos, sempre mostrando uma velocidade incrível, mesmo que acidentes o terem feito ser criticado, ninguém poderia negar o talento de Max. Quando venceu o seu primeiro título numa disputa fratricida contra Lewis Hamilton, Verstappen tirou um enorme peso das costas e dominou a F1 com 2022 após uma rápida disputa contra a Ferrari de Charles Leclerc. Recordes já tinham sido quebrados no ano anterior, com Max vencendo quinze corridas numa única temporada. Mais maduro, melhorando sua visão de corrida e tendo como aliado uma equipe que orbita em torno dele, Max Verstappen refinou ainda mais sua pilotagem, se tornando um piloto simplesmente imbatível nessa temporada. Max contou com a ajuda de Adrian Newey, que entre tantos carros históricos, projetou o Red Bull RB19, muito provavelmente sua obra-prima. Max Verstappen usou esse carro já mitológico para refazer os números da F1 e bater praticamente todos os recordes possíveis numa mesma temporada, se tornando inevitável, como Thanos no filme de 2018.


Como em todo domínio acachapante, a temporada 2023 da F1 esteve muito longe de nos proporcionar entretenimento. Me vem à mente a temporada 2002, quando a F1 viu a Ferrari brincar com os rivais de uma forma até mesmo humilhante para elas, fazendo Max Mosley tentar medidas desesperadas para tentar parar os italianos. Fora um ano triste 21 anos atrás, onde a Ferrari fez o que queria, inclusive a famigerada ordem de equipe para Barrichello deixar Schumacher passar. O conjunto Max Verstappen/Red Bull RB19 tornou a temporada 2023, em boa parte das corridas, aborrecida, mas o domínio da Red Bull lembrou outra temporada de predomínio, que foi o que a McLaren fez em 1988. No começo do ano, a forma como Verstappen pilotou seu novo carro fez com que a F1 vivesse a expectativa de que a Red Bull vencesse todas as corridas da temporada, lembrando que trinta e cinco anos atrás haviam seis corridas a menos. Isso quase aconteceu. Afora um final de semana fora da curva em Singapura, a Red Bull venceu 21 de 22 corridas, melhorando a incrível média da McLaren dominante de 1988. Mas no final da década de 1980 houve uma divisão clara entre Senna e Prost, em 2023 Verstappen não deu muita chance à Sergio Pérez. O mexicano começou o ano muito bem, vencendo duas corridas em quatro e chegando a levantar a questão se poderia enfrentar Max, mas tudo não passou de um fogo de palha. A derrota para Verstappen em Miami, quando Verstappen largou em nono e antes da metade da corrida ultrapassou Pérez destruiu a frágil mentalidade de Checo. O mexicano entrou numa espiral negativa que fez com que a Red Bull pensasse muito seriamente em substitui-lo em 2024 e Pérez dava motivos para isso. Sergio chegou a passar cinco classificações sem ir ao Q3, um verdadeiro vexame para quem tem um carro histórico nas mãos. Pérez fez muitas corridas de recuperação, algo que o mexicano já havia feito algumas vezes desde que estreou na Red Bull, mas não faltaram corridas ruins de Checo, aumentando a pressão sobre ele, criando um círculo vicioso que quase fez Pérez perder um vice-campeonato que deveria estar garantido a muito tempo. No fim Pérez conseguiu completar uma inédita dobradinha para a Red Bull e garantir seu lugar na Red Bull em 2024, mas está claro que Checo não terá seu contrato renovado. A confiança de Pérez foi outro fator que Verstappen quebrou em 2023. Max teve uma temporada em que quebrar recordes se tornou algo habitual. Foram dez vitórias consecutivas e dezenove vitórias no total. Um domínio colossal, que o fez pular da sexta para a terceira posição no ranking dos maiores vencedores da história da F1. Houveram alguns problemas para Max. Ele largou algumas vezes no meio do pelotão, mas ter Max nos retrovisores praticamente faziam com que os demais pilotos sequer brigassem com ele na pista por simplesmente não valer a pena. Se em ritmo de classificação a Red Bull não era dominante, em ritmo de corrida, resguardando os pneus, a equipe austríaca era imbatível e Max Verstappen se tornou um mestre em economizar borracha, não importando a dureza que a Pirelli colocasse em cada final de semana. Max se tornou inevitável.



Um fato que ajudou o domínio da Red Bull foi a falta de consistência de suas rivais. Atualmente Ferrari e Mercedes são as equipes que tem estrutura suficiente para fazer frente à Red Bull, além de contar com pilotos que já derrotaram Verstappen em mais de uma oportunidade, mas ambas as equipes tiveram seus problemas e não raras vezes, ficavam atrás de outras equipes. A Mercedes insistiu no erro com o conceito do zero-pod aparecendo novamente nesse ano e isso se mostrou um erro crasso da equipe comandada por Toto Wolff. Ainda no primeiro terço do campeonato a equipe trouxe um carro mais convencional, mas o estrago já estava feito, pois mais pareceu um remendo do que algo mais enraizado, fazendo com que o Mercedes W14 se tornasse incrivelmente instável ao longo do ano. Para piorar, a Mercedes sempre se pareceu perdida em tentar identificar o motivo do carro se comportar de forma tão oscilante, de circuito a circuito. Hamilton ainda conseguiu um miraculoso terceiro lugar no campeonato, mesmo completando dois anos sem vitórias, algo que mexe bastante com o ego de um piloto com mais de cem vitórias no ano. Na melhor corrida do inglês, em Austin, foi desclassificado por problemas na altura do carro e isso fez com que Hamilton terminasse o ano em baixa, não tendo fôlego para ir para cima de um fragilizado Pérez na luta pelo vice-campeonato. George Russell fez uma temporada abaixo depois de superar Hamilton ano passado. O jovem inglês não conseguiu mostrar sua principal qualidade, que é a solidez e em 2023 teve seus primeiros entreveros com Hamilton, causando pequenas polêmicas dentro do feudo de Wolff. A Ferrari teve um ano em que o novo chefe de equipe Frederic Vasseur falou que faltou aproveitar melhor as oportunidades. A Ferrari conseguiu quebrar a invencibilidade da Red Bull com Sainz, com o espanhol conseguindo ficar à frente de Leclerc a maior parte do ano na base da sua conhecida consistência, mas o incidente em Las Vegas fez com que Sainz perdesse ritmo e de uma briga pelo quarto lugar no Mundial de Pilotos, caiu para sétimo lugar. Leclerc manteve a mesma velocidade em ritmo de classificação, mas sua mentalidade o pregou algumas peça, mesmo que em performance, era claro que o monegasco era superior à Sainz, isso só se transformou em pontos na última corrida. A Ferrari quase tirou o vice-campeonato da Mercedes na última etapa, ficando apenas três pontos dos alemães, mas as duas podem dar as mãos e chorar os vários erros de gestão e conceitos, que fizeram Mercedes e Ferrari serem humilhadas pela Red Bull.


Isso abriu caminho para outras equipes conseguirem bons resultados. Ainda nos testes de pré-temporada a Aston Martin se mostrou uma equipe a se observar. Saindo de um 2022 decepcionante, o time verde recebia Fernando Alonso e pela primeira vez em anos, o espanhol pareceu ter acertado uma troca de equipe. No início do campeonato a Aston Martin foi a segunda força da F1 e Fernando Alonso se aproveitou para conseguir inúmeros pódios, chegando a sonhar com uma vitória, porém, a Aston Martin aprendeu que tão difícil que construir um carro, é desenvolver um ao longo do ano e a Aston despencou durante o ano, fazendo com que a equipe terminasse em quinto lugar no Mundial de Construtores e Alonso, usando seu incrível talento, ainda segurando um quarto lugar no Mundial de Pilotos. Esse quinto lugar teve muito pela falta de um segundo piloto decente na Aston Martin. O time foi construído em torno de Lance Stroll, cujo pai comprou a marca Aston Martin e investiu milhões na equipe para transformar o rebento num futuro campeão mundial. Que nunca será! Mesmo conseguindo um recuperação miraculosa na primeira etapa, quando machucou os pulsos num acidente de bicicleta antes da temporada, Lance Stroll ficou muito abaixo de Alonso, tornando sua situação constrangedora. Lance é um piloto medíocre e não tem condições para brigar por algo mais na F1, mas o problema é que seu pai Lawrence só mantém a equipe Aston Martin por causa dele. Na mesma medida em que vibrava com Alonso, como demonstrado em Interlagos na bela disputa que o espanhol teve com Pérez, a Aston Martin sabia que os banhos que Alonso dava em Stroll destruía a reputação do canadense, além de sua motivação. E sem Lance, não tem equipe. O contrato que a equipe fez com a Honda em 2026 não desfez os rumores de que Lawrence finalmente percebeu que investir em Lance não valerá a pena e que o time estaria à venda por preços nada módicos, que podem passar do um bilhão de euros. Por mais que a Aston Martin tenha feito uma ótima temporada, o futuro da equipe é bem nebuloso. Até quando acerta, Alonso destrói uma equipe. Caminho inverso fez a McLaren. O início da temporada da tradicional equipe era tão ruim, que logo de cara Andrea Stella falou que o carro precisava urgentemente de novos updates. Lando Norris e o novato Oscar Piastri mal conseguiam passar ao Q2 no começo do ano, mas quando os updates vieram, a McLaren deu um pulo raras vezes vistos na F1 moderna. De equipe de fundo de pelotão, a McLaren muitas vezes foi a segunda força da F1 em 2023.


Porém, isso causou alguns pequenos problemas para a McLaren. O time aposta fortemente em Lando Norris, que mesmo muito jovem, liderou a equipe nesse ano de 2023, conseguindo uma série de pódios, algumas poles que o fez brigar diretamente pelo quarto lugar no Mundial de pilotos, ficando apenas um ponto de Alonso e Leclerc. Porém, Piastri se tornou o rival mais duro para Norris e como todo novato-sensação, o australiano se tornou a menina dos olhos da F1 em geral. Mesmo não vencendo uma corrida, Piastri venceu uma corrida Sprint, algo que Norris ainda não conseguiu e o incomoda claramente. A McLaren investiu pesado e brigou com a Alpine para ter Piastri e isso claramente se pagou, com Oscar podendo se tornar um piloto de ponta no futuro, mas faz com que isso perturbe Norris. Com uma dupla jovem, a McLaren será um time a ser observado para 2024. Já a citada Alpine parece aquele time que não briga por nada no campeonato e não faz o mínimo esforço para sair dessa pasmaceira. O time gaulês trouxe Gasly como resposta a perca humilhante de Alonso para a Aston Martin, sendo que todo o paddock da F1 saiba que Gasly e Ocon não se entendem desde o kart, com Ocon ganhando a fama de péssimo companheiro de equipe. Não faltaram confusões entre eles, além de uma equipe que conseguiu dois pódios (um para cada piloto, em Mônaco e Zandvoort), mas também capaz de deixar seus dois bons pilotos no Q1. No meio do campeonato toda a cúpula da Alpine caiu, sendo substituída interinamente, mas na falta de alguém melhor, ninguém foi contratado. Sendo uma equipe de fábrica tradicional e tendo dois bons pilotos, mesmo que não se entendam, a Alpine coleciona temporadas decepcionantes.


No pelotão do fundo, muitos altos e baixos das equipes, mas no fim a Williams conseguiu a sétima posição no Mundial de Construtores muito pelos préstimos de Alexander Albon, que fez um ano excelente a ponto de chamar a atenção de equipes grandes no futuro. Ao lado de Albon, Logan Sargeant se mostrou um piloto errático e que numa contabilidade de acidentes, foi o piloto que mais deu prejuízo em 2023. Muito se falou se Sargeant não ficaria para 2024, mas com o americano trazendo dinheiro para a equipe e sendo uma aposta da Williams, o americano ficará mais um ano na equipe. A Alpha Tauri começou o ano com Nyck de Vries, piloto vitorioso em outras categorias, fez uma boa corrida na F1 quando teve oportunidade, mas o neerlandês se tornou mais uma vítima da máquina de moer pilotos comandada por Helmut Marko. De Vries foi sacado e de forma surpreendente, quem veio foi Daniel Ricciardo, saído de sua aposentadoria, mas o australiano acabou sofrendo um sério acidente em Zandvoort que o tirou de ação por várias provas e quem entrou no seu lugar foi o novato Liam Lawson. O neozelandês chamou atenção por sua pilotagem sem erros e chegou a marcar mais pontos do que Yuki Tsunoda. Quando Ricciardo voltou à equipe, a Alpha Tauri trouxe updates e o ritmo melhorou, com Ricciardo acabando com todas as dúvidas quanto a 2024 e terminou muito bem no México. Tsunoda também melhorou seu desempenho e em Abu Dhabi, quase tirou a sétima posição da Williams. O time viu a saída de Franz Tost e deverá mudar de nome em 2024, mantendo Ricciardo e Tsunoda, com o australiano sendo uma sombra bem forte para Pérez na Red Bull. Falando em equipes que mudarão de nome, a Alfa Romeo saiu da F1 novamente pelas portas dos fundos. Com a Sauber esperando a chegada da Audi em 2026, o time teve um ano bem ruim, com Bottas mais preocupado em mostrar o traseiro do que mostrar desempenho em pista. A Haas mostrou ótimo desempenho nas classificações, com seus veteranos Hulkenberg e Magnussen beliscando lugares no Q3, mas havia um abismo gigantesco entre os ritmo de classificação e corrida para a Haas, com o time derretendo durante as corridas. Por sinal, a equipe foi outra a aparecer melhor fora das pistas, com o chefe Günther Steiner se tornando uma estrela em Drive to Suviver e os dois pilotos mostrando fofura extrema com suas filhas nos boxes.


A F1 teve alguns percalços como o cancelamento da etapa em Ímola por causa de grandes alagamentos e a problemática estreia de Las Vegas, considerada a menina dos olhos da Liberty Media, mas que por muito pouco não se tornou um fracasso histórico por problemas básicos na pista, como um bueiro destruindo a Ferrari de Sainz no primeiro treino livre. No Catar, um problema de pneus mexeu na estratégia das equipes e com o forte calor que fazia na noite catari, vários pilotos passaram mal durante a prova. Os famigerados 'track limits' apareceram vez por outras, para desespero da toda a F1, mas ninguém aparece para resolver um problema extremamente chato e impopular. A Sprint Race continua na F1 sem ninguém saber para quê e novamente a novidade da Liberty sofrerá mudanças em 2024, quando o fim dela seria o caminho mais correto. A FIA liberou a Andretti entrar na F1, mas a Liberty e as dez equipes da atualidade, animadas com lucros cada vez maiores, não querem diluir esse lucro e fazem jogo duro para a entrada do time na F1 nos próximos anos, numa queda de braço baseada unicamente em poder e dinheiro. A F1 no Brasil teve a expectativa se Felipe Drugovich estrearia na F1 em algum momento. Na primeira etapa no Bahrein, com Stroll machucado, Felipe quase estreou, mas ficou no quase. Com Lance fazendo uma temporada horrorosa, havia um lobby muito forte no Brasil para que Drugovich substituísse o canadense, mas isso nunca aconteceria com o papa Stroll mandando na equipe. Então as atenções voltaram-se para a segunda vaga na Williams, com Sargeant claramente não fazendo um bom trabalho, mas Drugovich, mesmo levando dinheiro, perdeu essa disputa monetária para Logan. Sendo assim, Drugo ficará mais um ano como piloto de testes da Aston Martin, fazendo bons trabalhos, como no teste de novatos depois da última corrida. Gabriel Bortoleto venceu o campeonato da F3 e foi absorvido pela programa de jovens pilotos da McLaren, que tem uma carteira enorme de pilotos na fila, com Bortoleto ficando focado no momento em seu primeiro ano na F2 em 2024. Os irmãos Fittipaldi estão cada vez mais fora da F1, com Pietro já tendo um contrato com a Indy e Enzo, que decepcionou na F2, já fazendo alguns testes. Para 2024, não haverão brasileiros e dificilmente o teremos em 2025.


A F1 terminou a temporada de 2023 já com receio de que 2024 a situação atual não mude. A diferença da Red Bull para as demais é grande demais para que alguém, seja Mercedes, Ferrari ou McLaren deem um pulo tão grande e bata de frente com o time austríaco. Sem contar que a Red Bull tem como trunfo Max Verstappen. Cada vez melhor, aos 26 anos de idade e já contando com três títulos na carreira, Max Verstappen está cada vez melhor e não há dúvidas que o neerlandês já está sentado na mesa dos grandes da história da F1.