domingo, 31 de março de 2019

Corrida para lavar a alma

Se a corrida de hoje da MotoGP na Argentina pudesse ser resumida em poucas palavras, seria algo como, Marc Márquez largou muito bem da pole, abriu quase 1s na primeira volta e... pronto! Hoje Marc Márquez fez que esquecêssemos sua corrida tresloucada do ano passado em Termas de Rio Hondo para vencer de uma forma até pouco usual na MotoGP. Desaparecendo no horizonte dos adversários e colocando quase 1s em qualquer outro piloto na pista. Foi a corrida mais dominante de Márquez na MotoGP, mostrando que mesmo a categoria estando num ótimo momento, o espanhol da Honda ainda desgarra frente aos demais.

A briga pela vitória na verdade nem existiu. A exibição de Marc Márquez foi daquelas impressionantes, onde não se pode colocar uma vírgula numa prova em que o piloto da Repsol Honda não foi visto por seus rivais. Sem fazer muita força, Márquez era 1s mais rápido do que qualquer um. A corrida se resumiu a luta pela segunda posição, que se mostrou animada, mas longe da briga eletrizante no Catar vinte dias atrás. Doviziozo andou a maior parte do tempo em segundo, mas atrás deles vinha um batalhão de pilotos querendo tomar a posição do piloto da Ducati, em especial Jack Miller e Valentino Rossi. O italiano da Yamaha, que completou nesse final de semana 23 anos de mundial de motovelocidade, fez uma bela corrida e quando se afastou dos demais pretendentes à segunda posição, se concentrou em atacar Doviziozo e fez a ultrapassagem definitiva nas últimas voltas, retornando ao pódio após mais de seis meses. Doviziozo viu sua liderança do campeonato indo para o vinagre.

Para quem acompanhou o texto até agora, deve estar se perguntando onde estaria Jorge Lorenzo e Maverick Viñales. Ambos tiveram largadas horrorosas, onde Lorenzo quase foi atingido por uma KTM quando ficou quase parado no grid, mas tendo a mesma moto do dominante Márquez, Lorenzo esteve longe de fazer uma corrida de recuperação emocionante como fez Alex Rins, da Suzuki, que largou em décimo quarto para ser quinto. Lorenzo demorou demais a se estabelecer na Ducati, mas sendo comparado com Márquez, suas atuações ruins ficam ainda mais claras quando levava banhos semanais de Doviziozo, a quem Lorenzo sempre se considerou superior. Viñales mais uma vez não largou bem e ao se ver no meio do pelotão, não se sentiu confortável a ponto de subir de posição. Para completar, ele foi atingido por um destrambelhado Franco Morbidelli na última volta.

A corrida em Termas de Rio Hondo foi uma espécie de cartões de visitas de Márquez. O espanhol não conseguiu vencer no Catar, mesmo tendo feito uma corrida brilhante, mas na Argentina ele foi próximo do perfeito, um ano depois de sua corrida destrambelhada. Para completar o cenário para os rivais, a próxima etapa do campeonato será no Texas. Onde Márquez está invicto desde que entrou na MotoGP.

No colo de Lewis

Foi uma corrida inesquecível, essa no Bahrein hoje à tarde. Poderíamos ter visto a história sendo feita, mas o destino assim não quis e na base da sorte, pura e simples, a Mercedes conseguiu mais uma dobradinha e Lewis Hamilton consegue sua primeira vitória em 2019. Porém, o nome e sobrenome da corrida foi outro: Charles Leclerc. O monegasco vinha fazendo uma corrida irretocável, daquelas de almanaque rumo a sua primeira vitória na F1, quanto um problema no motor estragou de vermos Leclerc se tornar o terceiro piloto mais jovem a vencer uma corrida na história da categoria, além da Ferrari ter seu final de semana dominante indo pro vinagre graças a erros próprios e também de sua maior estrela.

A corrida no circuito de Sakhir foi das mais animadas. As primeiras voltas foram cheias de trocas de posições entre os líderes, mas quando a poeira assuntou, Charles Leclerc reassumiu a ponta da prova após uma largada cautelosa. O piloto de Mônaco se encaminhava para uma vitória que seria histórica por uma série de fatores, mas nas últimas voltas um problema no motor da Ferrari fez com que Leclerc se tornasse um alvo fácil dos pilotos da Mercedes, que chegaram em dobradinha num final de semana em que a Ferrari dominou. Se Leclerc perdeu a corrida por uma falha mecânica, onde estava Vettel? O alemão teve outra corrida esquecível nesses últimos seis meses que vem se mostrando bastante complicados para Vettel. Após perder a segunda posição nos boxes, Vettel brigava com Hamilton e como já havia acontecido outras vezes no segundo semestre do ano passado, Seb acabou errando sozinho e de forma até mesmo bisonha. Vettel ainda teve o dissabor de quebrar a asa dianteira e o resultado disso foi uma lenta volta aos boxes para o alemão ficar no último entre os grandes da F1 da atualidade.

Com quatro títulos mundiais, Vettel começa a ter sua carreira questionada, sendo isso válido ou não. Os títulos no começo dessa década vão mais para Vettel ou para Adryan Newey, pai dos carros da Red Bull que deram os quatro títulos seguidos à Vettel? Alonso falava isso para quem quiser ouvir. Muitos achavam que era apenas choro de perdedor de Alonso, mas esses erros de Vettel podem corroborar com uma coisa: Vettel só funciona quando tem tudo a ser favor. Mesmo sendo alemão e os cidadãos daquela parte do mundo serem conhecidos pela frieza, Vettel parece ser tão latino quanto os italianos que o empregam e os erros acontecem de forma não compatível a um tetracampeão mundial de F1. Enquanto a Ferrari pisava no tomate e perdia uma dobradinha que parecia bem crível, quem comemorava o 1-2 era a Mercedes num final de semana em que Bottas esteve à léguas de repetir o incrível desempenho de Melbourne e o carro prateado não esteve no mesmo nível da Ferrari. 

Se serve de consolo, Leclerc ainda conseguiu o seu primeiro pódio na F1, enquanto Max Verstappen teve que se conformar com um quarto lugar graças a um safety-car Mandrake. Porém, a Red Bull esteve longe de brigar com as líderes, mas não precisava Pierre Gasly ficar brigando no pelotão intermediário contra carros bem piores que o seu. A batata de Gasly já está indo para a assadeira, principalmente conhecendo o modus operandi de Helmut Marko. O safety-car nas últimas voltas foi causado pelo duplo abandono dos carros da Renault com poucos metros de distância. Hulkenberg estava fazendo uma belíssima corrida para sair das últimas posições até o sexto posto, enquanto Ricciardo lutava para ficar na zona de pontuação. Um golpe duro para a Renault, que começava a se destacar num pelotão intermediário bastante próximo e que teve como destaque a McLaren. Finalmente a equipe chefiada por Gil de Ferran conseguiu colocar seus dois carros no Q3 e Sainz vinha acompanhando Verstappen até os dois baterem num incidente de corrida, mas onde Sainz foi um pouco otimista demais. O espanhol acabou abandonando no final, mas quem se aproveitou do abandono de Hulkenberg foi Lando Norris. O jovem inglês vem mostrando muito talento nesse seu início de F1 e após uma primeira volta complicada, onde saiu da pista e perdeu muitas posições, Norris conseguiu chegar à sexta posição e marcar seus primeiros pontos na F1. Algo que Alexander Albon conseguiu também, enquanto Daniil Kvyat rodava ao bater com Antonio Giovinazzi. Alguém ainda acredita no russo?

A Haas começou muito bem a corrida, mas Kevin Magnussen perdeu muito desempenho durante a prova até sair da zona de pontuação, enquanto Romain Grosjean já vinha sido atingido por Lance Stroll. Num momento em que as jovens futuras estrelas estão começando a mostrar suas garras na F1, Stroll vai mostrando que nunca sairá da equipe do papai. Raikkonen vai seguindo sua toada de levar seu carro até o final em cima do potencial dele e com isso Kimi marcou pontos pela segunda corrida consecutiva, enquanto a Racing Point, correndo praticamente somente com Sérgio Pérez, conseguiu marcar pontos pelo abandono da Renault. Se a Racing Point decepciona, mas ainda marca pontos, o mesmo não pode ser dito pela Williams, que só deverá marcar pontos no caso de uma hecatombe com vários carros.

Como corridas são corridas, assim falava Juan Manuel Fangio, o dia que parecia pertencer a Ferrari acabou nas mãos da Mercedes, enquanto Charles Leclerc lamentava uma vitória histórica que deveria ser sua acabar no colo de Hamilton.

sábado, 30 de março de 2019

A primeira de Charles

Fruto da academia de jovens pilotos da Ferrari, o monegasco Charles Leclerc estreou muito bem na F1 ano passado a ponto da Ferrari quebrar um tabu de doze anos: contratar um jovem piloto. Com apenas 21 anos de idade, Leclerc já tinha dado mostras que era mesmo diferenciado ao ter que tirar o pé em Melbourne para não ultrapassar Vettel por uma ordem da Ferrari. O time italiano não tinha feito um bom trabalho na Austrália, mas desde os treinos livres no Bahrein a Ferrari mostrava a mesma força vista em Barcelona, na pré-temporada. Leclerc vinha sempre no mesmo ritmo de Vettel, até mesmo ligeiramente mais rápido, mas era esperado que o experiente alemão colocasse as coisas no lugar quando chegasse a hora. Porém, essa hora chegou e as coisas continuaram fora de ordem dentro da Ferrari e Charles Leclerc conquistou sua primeira pole na F1.

Como toda a primeira vez, alguns recordes foram quebrados. Leclerc se tornou o primeiro monegasco a fazer a pole na F1, além de ser o piloto mais jovem da Ferrari a largar na frente e o segundo mais novo da história. A pole de Charles não foi nada circunstancial. Com a Ferrari mandando no final de semana barenita, Leclerc foi mais rápido do que Vettel nas três partes da classificação. Se isso significa uma virada ferrarista pelo o que foi mostrado na Austrália na quinzena passada, ainda temos o ritmo de corrida para averiguar, mas Leclerc já mexeu nas estruturas da Ferrari, donde Vettel reinava sozinho até o ano passado. A Mercedes chegou a ficar 1s da Ferrari nos treinos, mas se aproximou bastante na classificação, com Hamilton ficando no mesmo décimo de Vettel. Contudo, existe o famoso modo 'fiesta' da Mercedes na classificação e muito provavelmente isso não será usado durante a corrida. A esperança para uma briga emocionante durante a corrida é ver se a Mercedes terá fôlego para andar junto da Ferrari.

Numa pista com retas mais longas, o motor Honda mostrou que ainda deve para Ferrari e Mercedes. A Red Bull nem de longe brigou pela pole, com Verstappen superando por muito pouco a Haas de Magnussen para ser quinto, enquanto Pierre Gasly mais uma vez decepcionou ao ficar pelo caminho no Q2. Neste momento, a Red Bull está mais próxima do pelotão intermediário do que da vitória e o que era big-three pode estar se transformando num big-two. Grande destaque no pelotão intermediário para a McLaren, com seus dois carros no Q2 e Lando Norris mostrando que é mesmo diferenciado. Se com o motor Renault cliente a McLaren fez um bom trabalho, o mesmo não se pode dizer da equipe de fábrica. Após andar na frente de Ricciardo o final de semana inteiro, Hulkenberg ficou no Q1, mas o australiano não foi muito longe ao também ficar no Q2. Um começo de ano decepcionante para os franceses.

Como todo piloto que largará pela primeira vez na frente, a expectativa ficará em como se comportará Leclerc na ponta, tendo ao lado dois multi-campeões ao seu lado. Se na classificação a Ferrari se destacou, a briga pelo melhor ritmo de corrida será interessante amanhã. Assim como ocorreu em 2018, estamos vendo duas marcas históricas brigando corrida a corrida, pista a pista. E até o momento, nenhum dos primeiros pilotos se destacaram como o esperado.  

domingo, 24 de março de 2019

Segunda geração chegando

Para quem acompanha automobilismo desde cedo como eu, acabamos por ver algumas gerações de pilotos aparecendo e desaparecendo ao longo de tempo, seguindo o ciclo natural da vida. Brian Herta era uma revelação americana da Indy nos últimos anos da categoria ainda unificada. Herta quebrou a perna em Toronto em 1994, quando fazia uma temporada de estreia razoável pela equipe Foyt. No ano seguinte ele se transferiu para a mais estruturada Ganassi, mas uma temporada apagada o fez mudar de equipe novamente, indo para a Rahal. Por essas coisas do destino, só foi Herta sair da Ganassi para a equipe começar seu período de domínio na Indy. Para o seu lugar na Ganassi veio um italiano talentoso, mas que tinha fracassado na F1: Alessandro Zanardi. Herta sempre andava bem no circuito californiano de Laguna Seca e na última corrida de 1996, ele liderava a corrida quando levou 'aquela' ultrapassagem de Zanardi nas últimas curvas da prova que custou a Herta sua primeira vitória na Indy. A carreira de Herta foi por água abaixo por causa daquela manobra. Herta nunca entregou o que dele se esperava quando entrou na Indy em meados da década de 1990.

Mais ou menos nessa época Brian Herta teve um filho, chamado Colton. Como o pai ainda corria na Indy, Colton cresceu em meio ao automobilismo e sem surpresas, ele começou no kart e desenvolveu sua carreira no automobilismo sendo considerado uma grande revelação, da mesma forma que seu pai Brian havia sido 25 anos atrás. Porém, Colton Herta já demonstra que ele não ficará com a estigma de eterna promessa do pai. Em sua terceira corrida na Indy, correndo no seletivo circuito de Austin e numa equipe pequena, Colton Herta mostrou suas credenciais nessa tarde ao vencer a corrida e se tornar o piloto mais jovem a vencer uma corrida na Indy. Usando o mesmo capacete do pai, foi impossível não se sentir velho quando ele venceu aos 18 anos e 11 meses de idade.

E não foi uma vitória circunstancial, apesar de Colton ter sido bafejado pela sorte. A corrida foi inteiramente dominada pelo pole Will Power, Alexander Rossi e Herta. Os três rapidamente se destacaram do pelotão e andaram juntos o tempo inteiro, com Power liderando as 45 primeiras voltas da corrida. Herta ficou em segundo a primeira parte da corrida, foi ultrapassado por Rossi, mas ainda seguia em terceiro, sem ser importunado por Josef Newgarden e Ryan Hunter-Reay, que vinham em seguida. A corrida no Texas transcorria para ser um mano a mano entre Power e Rossi no final, quando uma bandeira amarela mudou tudo. Quando os pilotos começavam a procurar os pits para a última parada, Felix Rosenqvist foi tocado por Hinchcliffe e a primeira e única bandeira amarela da tarde foi mostrada. Herta tinha acabado de parar, enquanto Power e Rossi ficaram na pista. Quando os líderes fizeram suas paradas, Herta assumiu a ponta da corrida. Como desgraça pouca é bobagem, o câmbio de Power travou e o australiano da Penske teve que abandonar após liderar todas as voltas até então.

Faltando poucas voltas para o fim, a tarefa de Colton Herta ainda não tinha terminado e não era nada fácil. O jovem estreante teria que relargar tendo a companhia de Josef Newgarden e Ryan Hunter-Reay, ambos campeões e estando nas equipes mais fortes do momento, respectivamente Penske e Andretti. Talvez Brian, que estava comandando a estratégia de Marco Andretti na corrida, tivesse sentido a pressão, mas a segunda geração Herta é muito mais forte. Colton relargou bem e simplesmente não deu a mínima chance para os seus compatriotas para conseguir uma vitória histórica nessa primeira corrida da Indy em Austin, que fora construído para receber a F1. As comparações entre as duas categorias pendeu fortemente para a F1, que foi 14s mais rápida na classificação, além das arquibancadas da corrida da Indy estarem bem mais vazias em comparação às provas da F1. 

No estado mais americano dos Estados Unidos, um pódio inteiramente ianque foi o sonho dos organizadores da prova. Porém, a chegada de Colton Herta já coloca o jovem piloto como uma das grandes atrações para o resto da temporada. Assim como a segunda geração Verstappen é muito mais forte do que a primeira na F1, a segunda geração dos Herta parece ser bem melhor do que a anterior.

terça-feira, 19 de março de 2019

Figura(AUS): Valtteri Bottas

Se há um piloto pressionado não importava o que iria acontecer nessa temporada, o nome dele é Valtteri Bottas. O finlandês teve uma segunda parte da temporada 2018 para esquecer. Enquanto seu companheiro de equipe Hamilton vencia o campeonato com pilotagens exuberantes, Bottas terminava o ano sem vitória e apenas na quinta posição. De forma surpreendente, seu contrato foi renovado, mas apenas para 2019. Muita gente se perguntava o motivo de Bottas ter permanecido mais um ano na Mercedes, enquanto o talentoso Esteban Ocon ficaria um ano de fora da F1. Ocon, piloto da Mercedes e empresariado por Toto Wolff, é quase uma certeza de ser companheiro de equipe de Hamilton em 2020. Bottas precisava mostrar um algo a mais para mudar essa certeza. Pois Valtteri fez uma corrida tão boa, que deve ter colocado uma pulga atrás da orelha de Wolff. O começo do final de semana não indicava um Bottas tão exuberante. Hamilton dominou todos os treinos e com a Mercedes tão forte em Melbourne, Bottas fazia o trivial em sempre ficar próximo do inglês. Completando a primeira fila, Bottas conseguiu outra ótima largada e assumiu a ponta da corrida. Algo que já acontecera antes e o lógico era Hamilton logo colocar ordem na casa. Isso nunca aconteceu! Na melhor corrida de sua vida, segundo o próprio Bottas, o finlandês dominou o Grande Prêmio da Austrália a seu bel prazer, colocando mais de 20s em cima de Hamilton e tendo auto-confiança necessária em buscar a melhor volta da corrida, que hoje dá um ponto extra ao autor. Foi uma exibição magnífica de Bottas, mas a pergunta que fica é: isso foi apenas uma exceção ou veremos outras corridas assim de Bottas?

segunda-feira, 18 de março de 2019

Figurão(AUS): Ferrari

Quando a pré-temporada terminou em Barcelona, não tinha quem não apontasse a Ferrari não apenas como favorita à vitória nas primeiras corridas, como com força o suficiente para conquistar o campeonato. Temia-se até mesmo em um domínio ítalo-germânico com Ferrari e Vettel. Porém, quando a temporada começou para valer, toda essa expectativa se transformou em uma grande desilusão. Em nenhum momento a Ferrari se mostrou forte o suficiente para brigar com a Mercedes pelas primeiras posições, tanto que o novato Charles Leclerc sequer ficou com a segunda fila no grid em Melbourne. Esperava-se que em ritmo de corrida houvesse uma maior proximidade. Pura ilusão! Apesar de Vettel ter ficado perto de Hamilton após a única parada deles, o alemão foi perdendo rendimento a ponto da Ferrari pedir a Leclerc não ultrapassar Seb, trazendo à tona as polêmicas ordens de equipe. Porém, se antes a Ferrari mandava seus pilotos encostarem para outro vencer, Vettel recebeu a bandeirada quase um minuto atrás da Mercedes vencedora e longe também do pódio. O circuito urbano de Melbourne é bastante diferente dos demais circuitos do calendário, mas a falta de força da Ferrari na abertura do campeonato chamou bastante atenção a ponto de acionar a sirene vermelha (sem ironias) em Maranello!

domingo, 17 de março de 2019

Metendo a bota na porta

Valtteri Bottas é dos pilotos atuais do grid o mais pressionado. Após um 2018 abaixo da crítica, o finlandês teve seu contrato renovado de forma até discutível pela Mercedes, mas o seu vínculo com os alemães é até o final desse ano. Além do mais, seu provável substituto (Ocon) assiste as corridas ao lado do chefão da Mercedes, Toto Wolff. Se repetir 2018, Bottas está fora. Pois Valtteri fez, nas palavras dele mesmo, a corrida de sua vida hoje. Bottas esteve simplesmente magnífico em Melbourne e pela primeira vez na carreira lidera o campeonato obtendo 100% dos pontos possíveis no final de semana. Um apagado Hamilton ficou com a segunda posição, mas nem mesmo o pentacampeão parecia ser páreo para Bottas e o inglês ainda tirou um coelho da cartola ao segurar um Verstappen com pneus mais novos, depois do holandês superar uma decepcionante Ferrari.

A corrida dessa madrugada não foi um primor de emoção e a nova asa dianteira, simplificada para aumentar as ultrapassagens, ainda não mostrou sua efetividade num circuito historicamente complicado de se ultrapassar. A luta pela liderança foi decidida basicamente na largada, quando Bottas teve mais reflexo do que Hamilton e já emergiu na primeira curva na ponta da corrida. Como Hamilton já demonstrara em várias outras ocasiões, isso poderia ser revertido num ritmo melhor de corrida, mas não foi isso que vimos. Bottas foi constantemente mais rápido do que Lewis, não dando chance alguma de ataque por parte de Hamilton, que parou mais cedo do que o previsto com a mudança de tática da Ferrari, que trouxe Vettel mais cedo aos boxes e a Mercedes acompanhou. Totalmente desnecessário. Por mais que Vettel tivesse bem mais próximo após a parada, o ritmo da Mercedes era claramente superior e Bottas ficou mais de dez voltas na pista andando até mais rápido do que Hamilton. Depois das paradas, a verdade da corrida mostrava Bottas incríveis 25s na frente de Hamilton, que teria trabalho com um Verstappen que parou na mesma janela de Bottas e estava com pneus em melhores condições. A confiança de Bottas era tão grande que ele cismou que queria os 26 pontos, já que a melhor volta da corrida obtida por um piloto no top-10 garantiria um ponto extra. Pois Bottas diminuiu o ritmo nas voltas finais e completou uma volta arrasa quarteirão para ficar com 100% de aproveitamento na corrida inaugural de 2019. Foi de certa forma uma exibição exuberante e ao mesmo tempo surpreendente de Valtteri Bottas. O nórdico fez um ano de 2018 esquecível e nada levava crer que ele iniciasse o ano dessa forma. Resta saber se Bottas terá a consistência necessária para corridas como as de hoje ou o que vimos foi apenas uma exceção.

O que dá para tirar da corrida de hoje é que a Mercedes tem o melhor carro desse início de campeonato, mas nada que não possa ser revertido pelas rivais Red Bull e Ferrari. Mesmo com os pneus desgastados, Hamilton segurou sem maiores problemas Verstappen, que conseguiu o primeiro pódio da Honda na Era Híbrida. No entanto, a Ferrari decepcionou deveras. Após uma pré-temporada fortíssima, a Ferrari sucumbiu na Austrália, com seus carros tomando quase um minuto do vencedor Bottas. Vettel fez uma corrida ainda mais apagada do que Hamilton e só não foi ultrapassado por Leclerc por causa das famosas ordens de equipe ferraristas. Leclerc fez uma corrida de estreia correta na Ferrari, mas já prova que se ele ficar muito quieto, poderá receber outras ordens como a de hoje. Verstappen fez uma bela corrida, ultrapassou Vettel na pista, tentou atacar Hamilton quando as condições lhe permitiam e mesmo errando na curva um, garantiu um pódio muito significante. A Honda ficou com uma fama ruim depois de sua passagem traumática pela McLaren. As reclamações de Alonso para com os propulsores japoneses entraram para o folclore da F1. Dizia-se que a Honda não tinha capacidade de construir um motor forte o bastante para enfrentar Mercedes, Ferrari e Renault. Com uma parceria mais azeitada (até porque o automobilismo não é a principal renda da Red Bull e eles precisam, sim, de investimento externo) com a Red Bull e o desenvolvimento do conceito híbrido, a Honda conseguiu seu primeiro pódio e em nenhum momento pareceu estar a quilômetros de distância do motor Mercedes em termos de velocidade. A única reclamação de falta de velocidade partiu de Gasly, que perseguia uma Toro Rosso com motor... Honda! Por sinal, o francês até foi perdoado por ficar no Q1 no sábado, por erro da Red Bull, mas faltou ao francês um pouco mais de agressividade em sua corrida de recuperação e por isso ficou fora dos pontos em sua estreia.

Mesmo com a promessa de um grande equilíbrio no pelotão intermediário, a diferença entre as equipes top e as médias ainda é muito grande. Kevin Magnussen garantiu um sexto lugar e por pouco não levou uma volta de Bottas. O danês foi o melhor do resto, mas a Haas ainda viveu o fantasma dos pit-stops, quando Grosjean teve problemas na roda dianteira esquerda no momento da parada e acabou perdendo-a voltas depois. Se foi o mesmo problemas, tá bom de se conversar melhor com o trocador de pneus, pois pontos valiosos foram perdidos pela Haas nesse domingo. Depois de Magnussen, veio praticamente um carro de cada equipe intermediária. Hulkenberg (Renault), Raikkonen (Alfa), Stroll (Racing Point) e Kvyat (Toro Rosso) fechando a zona de pontuação. Lando Norris, na McLaren, foi décimo segundo, logo atrás de Gasly. Isso não significa exatamente uma ordem de forças, pois essas seis equipes andaram misturadas a corrida toda, tanto que por muito tempo foi o foco da transmissão da TV. Alguns destaques ficaram para a boa estreia de Stroll, seguindo a tendência do endinheirado canadense ter um ritmo de corrida bem melhor do que classificação, garantindo um ponto logo de cara, além de superar Pérez. Kvyat reestreou com ponto, mas passou boa parte da corrida atrás do novato Albon. Enquanto a McLaren via sua antiga parceira Honda garantir um pódio, Sainz foi o primeiro abandono do dia com o motor Renault quebrado... 

Piloto da casa, Ricciardo teve sua prova destruída nos primeiros metros de prova quando foi espremido por Pérez na largada e ao bater num solavanco na grama, Ricciardo quebrou o bico do seu carro. O australiano ainda salvou um potencial acidente na primeira curva, mas Daniel abandonou pouco após a metade da corrida. Que Ricciardo sofreria em suas primeiras corridas com a Renault, era um fato, mas não era esperado a Renault se tornar a quarta força no ranking de motores da F1. Também ficou provado que a F1 tem três pelotões e o último é ocupado isoladamente pela Williams. Depois de tantos problemas na pré-temporada, a Williams começou 2019 de forma preocupante, com seus dois pilotos destacadamente nas duas últimas posições e sendo os únicos a tomar mais de uma volta do líder. Um início complicado para uma equipe tão gloriosa como a Williams e para um piloto que se esforçou tanto para voltar à F1 como Kubica.

A primeira corrida da temporada mostrou uma Mercedes acima de Red Bull e Ferrari, mas ano passado ocorreu algo parecido e a Ferrari deu a volta por cima. Nunca nos devemos esquecer que Melbourne é um circuito urbano, ou seja, totalmente diferente de boa parte das pistas do calendário. Se Hamilton tivesse vencido, talvez a F1 pudesse esperar outro banho ao longo do ano, mas quem venceu de forma à la Hamilton foi seu companheiro de equipe Bottas. Se Valtteri irá continuar nesse ritmo, é outra história e já é uma nova atração para as próximas corridas. 

sábado, 16 de março de 2019

Ilusões invernais

Quinze anos atrás, no último ano em que as equipes podiam testar praticamente sem limites, Williams-BMW e McLaren-Mercedes dominaram a pré-temporada com direito a recordes quebrados nos circuitos espanhóis. Enquanto isso, a Ferrari testava sozinha na Itália, longe dos olhos mais atentos. Schumacher havia vencido com dificuldades em 2003 e com Williams e McLaren tão fortes, a dúvida seria quem destronaria o alemão da Ferrari do trono em 2004. Veio a primeira corrida em Melbourne e novamente se falou em 'campeão de inverno'. A corrida e a temporada foi dominada de forma inapelável pela Ferrari e Schumacher, desfazendo o sonho de uma temporada disputada quinze anos antes.

Voltando a 2019 e para a mesma cidade australiana, havia a expectativa de que a Ferrari usasse a força mostrada em Barcelona para ser a nova dominadora da F1. A Honda finalmente fez um trabalho decente e a parceria com a Red Bull iniciou-se de forma promissora. Enquanto isso, também em Barcelona, a Mercedes fazia uma pré-temporada burocrática e só acumulando quilometragem. Somente no último dia os prateados entraram no rol dos mais rápidos. Dizia-se até que a Mercedes seria a terceira força de 2019. Melbourne mostrou um quadro totalmente distinto. Lewis Hamilton dominou os treinos como algum tempo não se via. Ferrari e Red Bull tomaram quase 1s dos alemães e pelo menos em ritmo de classificação, a Mercedes está bem superior às rivais, num cenário parecido com 2004.

A primeira classificação da temporada mostrou alguns respostas, até mesmo algumas que não queríamos ver. A Williams pode estar iniciando uma temporada tenebrosa, típica de uma equipe que está prestes a ser vendida ou até mesmo acabar. Se a F1 tem pelotões dentro do seu plantel, a Williams está sozinha como a pior equipe do ano, com ampla desvantagem para o compacto pelotão intermediário. Para piorar, Kubica não está fazendo uma reestreia das mais auspiciosas, tomando muito tempo do novato George Russell. Muitos anos fora e uma situação física complicada pode fazer desse retorno de Kubica à F1 algo que não queríamos ver. Entre as equipes top-3 e a Williams, é o que se pode dizer uma briga de foice no escuro. A diferença entre as equipes ditas intermediárias é bastante pequena e as posições são decididas por centésimos de segundo. O destaque inicial vai para Lando Norris, que colocou a McLaren no Q3, enquanto o já experiente Sainz ficou ainda no Q3, onde ficou o cativo Stroll e a grande decepção do dia. Pierre Gasly até estava num ritmo parecido de Max Verstappen nos treinos livres, mas ficar no Q3 com um Red Bull não pegou nada bem para o francês, que em sua estreia em equipe grande já terá uma corrida de recuperação pela frente.

Enquanto Gasly decepcionava lá atrás, na frente a Mercedes mostrava seu real potencial, com Hamilton garantindo sua 84º pole na carreira, tendo um pouco de trabalho para superar Bottas, muito bem nesse final de semana. Vettel superou Leclerc, que ainda foi superado por Verstappen na última volta voadora do holandês. Se serve de consolo, ano passado Hamilton garantiu a pole com uma volta tão assustadora como a de hoje, iniciando o que se convencionou chamar de 'modo fiesta', mas na corrida e ao longo da temporada não houve esse temido domínio. Resta saber se a Mercedes realmente casou muito bem com Melbourne (já aconteceu isso em 2018) ou se podemos nos preparar para outro domínio avassalador da Mercedes e de Hamilton.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Que pena...

Certas personagens não precisam estar em destaque para ganhar respeito e se tornarem referência. Muitas vezes o espetáculo funciona muito bem devido a muita gente que fica nos bastidores, fazendo acontecer para que as estrelas brilhem no palco principal. Mesmo sem aparecer muito na TV, algumas pessoas acabam se tornando sinônimo de onde trabalham. Assim foi Charlie Whiting. O inglês liderava todo o bastidor para que uma corrida de F1 acontecesse de forma padronizada e sem maiores problemas. Se qualquer coisa acontecesse fora do normal, era só chamar o Charlie, mesmo que dentro do cockpit. Quantas vezes os pilotos clamaram pelo Charlie ao longo dos últimos anos? Whiting é de uma geração mais antiga de personagens na F1, onde mecânicos conseguiam crescer dentro da categoria. Graças a sua competência, Whiting se juntou à Brabham e não foi apenas bicampeão mundial (1981 e 1983), como também chegou à direção da F1 por causa de sua aliança com Bernie Ecclestone desde os tempos de Brabham. Mesmo com Ecclestone tendo saído da F1, Whiting continuava na direção das corridas. Ele que apertava o botão para a largada e normalmente dava as bandeiras quadriculadas. Era nesse momento que Charlie Whiting aparecia na TV, mas ele fazia muito mais. Trabalhou em prol da segurança dos pilotos, seja em aspectos técnicos dos carros ou em melhoria nas pistas, que sempre foram vistoriadas por ele. Whiting se preparava para mais uma temporada de F1, mas uma embolia pulmonar nos privou da competência do inglês bem na véspera do início do primeiro final de semana da F1 em Melbourne. Whiting nunca venceu uma corrida de F1, mas será sempre lembrado como um personagem querido e importante no circo. 

quarta-feira, 13 de março de 2019

2019 à vista

Muita gente no Brasil afirma que o ano só começa depois do carnaval. Mesmo morando no Brasil, para muita gente ligada em automobilismo o ano começo um pouquinho depois, mais especificamente, quando a F1 leva seu circo para a primeira etapa do ano.

Melbourne, já um tradicional local de abertura, vai iniciar a septuagésima temporada da F1 com muito mais ansiedade do que nos outros anos. O motivo é muito simples. Nunca nos últimos anos houveram tantas mudanças entre pilotos de uma temporada para outra. Apenas Mercedes e Haas mantiveram sua dupla de pilotos de 2018 para cá, significando muita gente nova querendo mostrar serviço num ano em que a F1 manteve boa parte do seu regulamento. Algumas mudanças aerodinâmicas na eterna busca de mais ultrapassagens é a diferença de 2018 para 2019 no regulamento técnico dos carros, enquanto a esperada grande mudança que ocorrerá em 2021 não é anunciada.

As duas sessões de pré-temporada em Barcelona mostraram uma Ferrari muito forte, mas com alguns pequenos problemas de confiabilidade, enquanto a Mercedes só mostrou alguma força no último dia, não sem antes ter percorrido milhares de quilômetros sem maiores problemas. Quem escondeu mais o leite, a resposta só será dada a partir desse final de semana, mesmo que a luta entre as duas gigantes será encabeçada por Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. Juntando nove títulos entre eles, ainda se espera uma luta mais aberta entre eles, mas até o momento a vantagem de Hamilton em cima de Vettel é grande o suficiente a ponto de levantar dúvidas se o alemão terá condições de bater o já lendário pentacampeão inglês. E se Hamilton tem a certeza que não terá muito fogo amigo vindo de Valtteri Bottas, Vettel terá que se acostumar com uma nova sombra. Se antes o amigo Raikkonen era tão inofensivo quanto Bottas, o jovem Charles Leclerc virá com gosto de sangue na boca para tentar mostrar que a aposta que a Ferrari fez nele é válida. O monegasco será uma das atrações do ano, sem dúvida e Vettel terá que se impor se quiser ainda ser a prima donna da Ferrari.

A Red Bull começou muito bem a parceria com a Honda. O motor japonês fez em 2019 sua pré-temporada mais sossegada desde que retornou à F1 em 2015. Junto com o ótimo carro desenhado pelo mago Adryan Newey, a Honda percorreu muitos quilômetros sem maiores problemas e mostrou até mesmo uma certa velocidade, principalmente nas mãos de Max Verstappen, que ainda procura se firmar como um contendor ao título. Sem dúvida o holandês não terá muito com o que se preocupar com Pierre Gasly. O francês foi guindado à Red Bull de forma um pouco precoce e bateu duas vezes na pré-temporada, já atraindo críticas do severo Helmut Marko. Gasly poderá ser mais um engolido pela máquina de moer pilotos chamado Red Bull. Daniel Ricciardo conseguiu escapar dessa situação e de ser uma espécie de escudeiro de Verstappen na Red Bull, mas a opção do australiano pela Renault ainda levanta dúvidas. Em termos de potencial, a Renault tem tudo para se firmar entre as grandes, mas resta saber quando isso irá acontecer ou se a própria Renault terá paciência para continuar investindo dinheiro no projeto. O time gaulês não mostrou nada demais durante a pré-temporada e Ricciardo pode se juntar à Hulkenberg na luta para ser o melhor do pelotão intermediário.

E essa briga promete muito. Mesmo ainda havendo uma diferença para as três equipes de ponta, algo que foi muito criticado ano passado, o pelotão intermediário terá uma briga apertada entre vários times e cada uma mostrou força em algum momento em Barcelona. A Haas terá o trunfo da continuidade dos seus pilotos e do bom projeto do ano passado. A Racing Point, ex-Force India, terá mais dinheiro para investir, mesmo que tendo que aturar Lance Stroll fazendo besteira para alegria do papai. A McLaren tentará se reinventar com uma dupla de pilotos jovens, enquanto sonha que Lando Norris possa ser um futuro Lewis Hamilton, como em 2007, com a diferença de que a equipe não é mais de ponta. A Toro Rosso mostrou um bom carro, mas pode faltar piloto, enquanto a Alfa Romeo, antiga Sauber, terá um renascido Kimi Raikkonen como mentor de Giovinazzi. Talvez o pelotão mais sem graça seja o último, justamente por ter apenas um. A Williams teve uma pré-temporada vexatória, com atraso na entrega dos carros, erros básicos de projeto, um carro lento e a saída do badalado Paddy Lowe. A esperada volta de Robert Kubica à F1 merecia um carro melhor.

Apesar de muitos indícios aparecerem nos oito dias de testes em Barcelona, as respostas serão realmente dadas a partir desse final de semana. Que comece 2019!

domingo, 10 de março de 2019

Vitória das gigantes

Já faz alguns anos que a Indy é dominada pelo chamado trio de ferro da categoria: as equipes Penske, Ganassi e Andretti. Com a intromissão de uma ou outra equipe considerada média, as vitórias na Indy sempre foram disputadas pelo pilotos dessas equipes. A primeira etapa em St Petersburg foi um retrato fiel dessa condição, até mesmo parecido com a F1. Na classificação e na corrida, os pilotos de Penske, Andretti e Ganassi dominaram as ações e no final, foi Josef Newgarden da Penske que venceu nas ruas da Flórida.

Minutos após a catarse que foi a corrida da MotoGP no Catar, seria mesmo muito difícil que a Indy entregasse um espetáculo tão bom como visto no Oriente Médio. No sábado já estava claro que a vitória não sairia das mãos do trio de ferro, mesmo que durante a corrida, a briga ficou mais entre Penske e Ganassi. O pole Will Power largou bem e liderou o primeiro stint, enquanto Felix Rosenqvist, novato da Ganassi, fazia uma bela corrida de estreia que até lembrou um pouco a estupenda estreia de Robert Wickens ano passado. Por sinal, o canadense esteve presente na Flórida e deixou muita gente emocionada com a sua força de vontade em sua complexa recuperação.

Como normalmente acontece na Indy, a corrida foi decidida pela estratégia das equipes e hoje a Penske superou a Ganassi numa arriscada tática de colocar os pneus macios, que tinham uma janela curta de bom desempenho, no carro de Newgarden. O jovem americano assumiu a liderança e ainda contou com Dixon ficando atrás de Kanaan, que ainda estava para parar. Com os pneus macios, Newgarden abriu uma boa diferença e como não houve mais bandeiras amarelas, o americano apenas administrou, mesmo com a aproximação de Dixon no final, após Josef ter sido segurado por três voltas pelo retardatário Marco Andretti. Power teve uma atuação apagada, onde foi ultrapassado na pista por Dixon e Rosenqvist, mas ainda garantiu um lugar no pódio, na frente de Rosenqvist, que chegou a liderar a corrida, mas não tem do que reclamar do seu quarto lugar.

Só então veio a Andretti, com Alexander Rossi num isolado quinto lugar, já que Ryan Hunter-Reay teve o motor quebrado ainda no início da prova. Zach Veach apenas completa a equipe, enquanto Marco Andretti só está ali por seu filho do chefe e ainda assim quase definiu a prova. Simon Pagenaud foi outro que fez uma corrida discreta e já se começa a falar que o francês, campeão em 2016, pode estar com seu lugar na Penske na berlinda. Hinchcliffe foi o melhor do resto, numa situação muito parecida com o sétimo colocado das corridas de F1.

A Indy chegue dominada pelo seu trio de ferro, mas ao contrário da F1, há uma maior competitividade até mesmo entre as três equipes dominantes e não é impossível que alguém da Schmidt Peterson ou da Rahal brigue pela vitória. Porém, nessa primeira etapa em St Petersburg, a vitória foi das gigantes.

Começo de gala

Em termos de espetáculo, poucas modalidades do esporte a motor está nos estregando tanto como o Mundial de Motovelocidade, seja Moto3, Moto2 ou a MotoGP. São corridas emocionantes e em boa parte delas definida nas últimas curvas. Por dois, três, quatro pilotos ou um pelotão inteiro, o Mundial de Motovelocidade nunca nos decepciona no quesito emoção. A primeira etapa de 2019 no Catar foi uma verdadeira ode a o que há de melhor no esporte a motor. As três categorias nos entregaram corridas de tirar o fôlego com a definição do vencedor ficando para a bandeirada.

A MotoGP teve uma corrida à Moto3, com o pelotão junto praticamente o tempo todo, mas estava bem nítido que a vitória seria decidida entre dois velhos rivais: Andrea Doviziozo e Marc Márquez. O italiano da Ducati conseguiu uma larga estupenda numa brecha achada pelo projetista da montadora italiana Luigi Dall'Igna e Doviziozo passou boa parte da corrida na liderança, usando a abusando da conhecida força do motor da Ducati no retão do Catar que rechaçava qualquer ataque contra ele. Atrás de Andrea, uma briga encardida envolvendo nove pilotos trouxe uma animação poucas vezes vista numa prova onde as motos estavam atingindo os 350 km/h no final da reta. A surpresa foi como a jovem dupla da Suzuki conseguiu acompanhar os líderes, com Alex Rins trocando de posição com Márquez várias vezes, mas o representante da Suzuki sofria com a falta de potência na reta e era até facilmente ultrapassado pela Honda de Márquez na reta dos boxes. O novato Joan Mir chegou a ocupar a quarta posição, mas foi caindo de rendimento, mas isso não diminuiu a ótima prova do jovem espanhol, nova esperança dos ibéricos.

Atrás de Márquez e Rins, Cruthlow, Petrucci e Mir brigavam pela quarta posição, sendo que no final ganharam a companhia da dupla da Yamaha. Largando na pole, Maverick Viñales fez uma largada tenebrosa e nunca sequer vislumbrou brigar pelo pódio. Já Valentino... Aos 40 anos de idade Rossi continua nos surpreendendo com uma pilotagem ascendente durante as corridas de fazer inveja à muita gente. Largando apenas em 14º, Rossi foi escalando o pelotão, ultrapassou seu companheiro de equipe e partiu para cima de Suzukis, Hondas e Ducatis. Valentino saiu de pior piloto Yamaha para melhor piloto Yamaha. Rossi passou ainda Mir e Petrucci para se estabelecer na quinta posição, bastante próximo da briga pelo último lugar no pódio, que acabou ficando com Cruthlow após Rins na freada da curva um nas voltas finais. Sem velocidade em reta, Rins forçava tudo nas freadas, mas no fim da prova, com os pneus desgastados, o espanhol não segurou a moto, mas deixou um recado: a Suzuki virá muito forte em 2019!

Nas voltas finais, Márquez conseguiu se livrar brevemente do pelotão que brigava pelo pódio e passou a se concentrar em Doviziozo. O italiano liderava praticamente de ponta a ponta, mas errou na penúltima volta e Márquez assumiu a ponta da corrida. Com uma volta e meia para o fim da corrida, Doviziozo escreveu rapidamente um script em sua cabeça e ele o cumpriu de forma fiel. Primeiro Dovi esperou a reta dos boxes para engolir Márquez e reassumir a ponta. Depois, esperou pelos ataques desesperados do espanhol durante a última volta. E Márquez foi com tudo e atacou duas vezes, sendo que a última na curva derradeira da prova. Doviziozo rechaçou ambas com maestria, parecendo que todas as suas manobras eram fáceis. Mesmo Márquez sendo bem mais talentoso, Doviziozo é uma espécia de criptonita para o espanhol da Honda. A vantagem do italiano nas disputas com Márquez chega a ser gritante. Doviziozo sabe como Márquez se comporta nessas situação e sempre acha um antídoto para virar a mesa e derrotar o multi-campeão espanhol, como aconteceu hoje.

Foi uma corrida linda de se ver, mas também teve seus desempenhos terríveis. Além do citado Viñales, Jorge Lorenzo desapontou deveras em sua estreia na Honda. Um acidente na classificação fez Lorenzo largar no meio do pelotão, mas o espanhol sequer esboçou uma corrida de recuperação como Rossi, que largava próximo a ele, fez. Lorenzo ainda reclamou que estava dolorido por causa do referido acidente, mas a primeira impressão não foi nada boa. Aprilia e KTM fizeram bons papeis durante os treinos, mas não fizeram nada de especial na prova de hoje. 

No fim, a corrida de hoje da MotoGP mostrou que a categoria continua espetacular e irá nos prover bastante emoção nos próximos meses. Mesmo Márquez dominando a cena desde que estreou na categoria, não falta emoção na MotoGP!

terça-feira, 5 de março de 2019

Quem irá parar Scott Dixon?

Uma das maiores críticas feitas à Scott Dixon é que ele já é um dos grandes da história da Indy, mas seu carisma de lagartixa subindo uma parede numa jaula de crocodilos faz desse neozelandês que tem cinco títulos da Indy e uma vitória nas 500 Milhas ser nada popular entre os fãs americanos. Porém, Dixon parece não ligar muito para isso. O já veterano se preocupa bem mais com questões dentro da pista que fazem de Dixon o piloto mais completo da Indy na atualidade.

O 2018 de Dixon chegou a ser espantoso. A Ganassi não se adaptou muito bem aos kit universais e o motor Honda não fazia a diferença onde lhe era favorável. As Classificações para Dixon eram lamentáveis, sendo que o seu limite era o carro. Porém, Dixon sabia usar a estratégia a ser favor nas corridas para amealhar pontos e conseguir vitórias completamente improváveis, culminando com um título conquistado de forma até tranquila, tamanha a superioridade de Dixon sobre os demais pilotos. A Ganassi tentará esse ano dar um melhor equipamento para Dixon e começou trocando o fraquíssimo Ed Jones por Felix Rosenqvist, sueco que fez muito sucesso nas categorias de base na Europa e ruminava na péssima F-E. Felix começou muito bem nos testes de pré-temporada, dando uma boa referência para Dixon poder enfrentar Penske e Andretti esse ano.

Se a Ganassi era uma espécie de terceira força ano passado, porque nenhum dos vários pilotos de Penske e Andretti não conseguiram derrotar Dixon? Todos os pilotos dessas equipes tiveram um ano bastante irregular, com vitórias categóricas misturadas com erros bobos. Josef Newgarden, aposta da Penske para o futuro, nem de longe repetiu seu ótimo campeonato em 2017 e mal brigou pelo bicampeonato. A vitória nas 500 Milhas de Indianápolis diminuiu um pouco a sensação de que Will Power não é um bom piloto em ovais, mas o australiano ainda não encontrou a regularidade necessária para voltar a vencer o campeonato. Campeão em 2016, Pagenaud teve um ano para esquecer ano passado e não seria surpresa a Penske pensar em substitui-lo num futuro nem tão distante assim.

Alexander Rossi e Ryan Hunter-Reay lideraram a Andretti ano passado e deverão fazê-lo novamente em 2019, mas se quiserem sucesso, Rossi e Hunter-Reay deverão também cometer menos erros bobos que lhes valeram muitos pontos na luta com Dixon. Marco Andretti só está na equipe por ser filho do ano e nada mais, enquanto Zach Veach ainda tem muito o que mostrar para a Andretti poder apostar nele no futuro. Ano passado também foi marcado pelo trágico acidente que deixou o promissor Robert Wickens numa cadeira de rodas e para o seu lugar na Schmidt-Peterson virá Marcus Ericsson da F1.

Mesmo ainda contando com vários pilotos na casa dos 30 e tantos anos, a Indy começa uma renovação com Newgarden e Rossi. Colton Herta estreará esse ano contando com o apoio da Andretti na Harding e chegou a liderar alguns testes. Algumas estrelas, que já foram campeões na Indy, como Power, Pagenaud e Hunter-Reay, tentarão dar uma volta por cima, mas todos eles ainda parecem abaixo de Scott Dixon. Por isso a pergunta é: quem irá parar Scott Dixon?

Quem irá parar Marc Márquez?

Com 40 anos de idade recém-completados, Valentino Rossi é uma lenda viva do esporte. O italiano da Yamaha partirá para a sua vigésima temporada na principal categoria do Mundial de Motovelocidade tendo participado de inúmeras mudanças tanto de equipamentos como de pilotos ao longo desses anos. Rossi não está mais em seu auge e está vendo em primeira mão surgir um piloto tão forte como ele havia sido no início dos anos 2000. Marc Márquez tem um estilo agressivo que o fez se destacar desde cedo nas categorias de base até chegar à MotoGP em 2013 e em seu primeiro ano, já ser campeão. Um ano instável em 2015 foi sucedido por mais três títulos. A marca de Márquez é impressionante. Cinco títulos em seis temporadas completas na MotoGP! Quando Rossi chegou ainda no Mundial das 500cc, ele conseguiu a mesma marca, sendo que os cinco títulos foram conquistados de forma consecutiva. Na época se falava quem poderia parar Rossi. Agora a pergunta é: quem irá parar Márquez?

A MotoGP vive um momento tão formidável que não faltam opções para bater o espanhol. Doviziozo na Ducati, Alex Rins na Suzuki, Viñales na Yamaha são apenas alguns que podem destronar Márquez, sem contar os veteranos Rossi e Jorge Lorenzo, agora correndo ao lado de Márquez na Honda. Marc terá um início de ano ainda tateando como está seu recém-operado ombro, que teimava em sair de lugar. O piloto da Honda passou por uma longa recuperação e por isso não forçou muito nos testes de pré-temporada. Fisicamente Márquez está preparado? Começaremos a ver na primeira corrida do ano. O certo é que Márquez não terá mais o já inofensivo Daniel Pedrosa ao seu lado na Repsol Honda. Numa transferência que deu muito o que falar, Jorge Lorenzo partiu para a Honda em 2019 e formará uma dupla explosiva com Márquez. E Lorenzo tem uma longe tradição de manter duplas explosivas dentro dos boxes. Sua relação com Rossi (Yamaha) e Doviziozo (Ducati) foi longe de ser amigável e essa experiência pode ser uma fator à favor de Lorenzo, porém o espanhol sofreu um bobo acidente num teste privado e quebrou a mão, o atrapalhando nesse seu início na Honda. Por sinal, a Honda ainda teve que esperar Cal Cruthlow se recuperar de sua grave fratura no tornozelo  na Austrália para montar um panorama para 2019.

Com a Honda tendo seus três pilotos oficiais ainda se recuperando de fraturas, as demais montadoras podem tentar dar o pulo do gato. Ducati é a principal favorita a destronar o duo Honda-Márquez, com Doviziozo agora reinando absoluto dentro da Ducati depois de dois anos tempestuosos ao lado de Lorenzo. Tendo agora o seu amigo Danilo Petrucci ao seu lado na Ducati oficial, Dovi poderá se concentrar mais em combater Márquez e a Honda. Andrea conhece como é ser companheiro de equipe de Lorenzo e o italiano poderá se aproveitar de uma briga interna na Honda para derrotar seus rivais. Outra equipe a ser observada é a Yamaha. Ainda procurando seus dias de glória com Rossi e Lorenzo, a Yamaha sofreu com uma moto instável em 2018. Contratado para ser um anti-Márquez, Maverick Viñales ainda precisa amadurecer psicologicamente para poder enfrentar Márquez, já que velocidade o espanhol já mostrou que tem. Com o abatimento de Viñales com os fracassos da Yamaha, Rossi tomou as rédeas da equipe e mesmo não tendo a velocidade de outrora, ainda consegue ser competitivo contra pilotos que tiraram fotos ao seu lado quando eram criança.

A Suzuki mostrou muita força na pré-temporada com Alex Rins cada vez mais adaptado à MotoGP, mas a fábrica de Hamamatsu parece ainda sofrer com falta de investimento para bater de frente contra Honda e Yamaha. A KTM trouxe Johann Zarco para fortalecer uma equipe que dá passos pequenos demais no asfalto, após dominar o fora de estrada. A falta de ritmo da KTM em ritmo de classificação já faz Zarco pensar se fez mesmo a melhor escolha, enquanto os austríacos esperam que o feedback de Pedrosa como piloto de testes poderá melhorar a moto. A Aprilia teve um ano para esquecer em 2018 e novamente mudou de piloto, trazendo o instável Andrea Iannone para fazer dupla com Aleix Espargaró. Os italianos, cujo dono é o mesmo da Ducati, ainda não emularam na MotoGP o sucesso que tiveram nas categorias de base no começo dos anos 2000 e a chegada de Iannone, muito veloz e louco, pode dar um algo a mais para que a Aprilia finalmente saía das últimas posições. Entre as equipes privadas, destaque para a nova SIC Yamaha, que entrou no lugar da Tech3 (que agora correrá de KTM) e mostrou bom desempenho com Franco Morbidelli e o novato Fabio Quartararo. A LCR dependerá da recuperação de Cruthlow de suas sérias fraturas, mas Nakagami fez um bom papel nos testes.

Como sempre os tempos aferidos nas duas baterias de pré-temporada não indicam muita coisa. Muitos pilotos ainda se recuperando e muito a ser escondido das fábricas. A liderança alternou entre Ducati, Yamaha e Suzuki, com a Honda ficando mais atrás. Porém, Márquez não mostrou todo o seu potencial e em 2018 era comum os pilotos da Honda caírem, enquanto Márquez domava sua moto rumo à vitória. Por isso a pergunta para 2019 é: quem irá parar Marc Márquez?