domingo, 30 de maio de 2021

Fazendo história

 


Antes das ponderações, o enaltecimento à grande vitória de Helio Castroneves nesse domingo em Indianápolis. O piloto de Ribeirão Preto, estreando na equipe Meyer Shank, com apoio da poderosa Andretti, teve um mês de maio em Indiana de almanaque. Se manteve entre os mais rápidos em todos os testes, entrou para o Fast-9 semana passada com facilidade e utilizando a vantagem do motor Honda frente aos Chevrolet em classificação, conseguiu um lugar na terceira fila. A corrida de Helio foi estupenda do começo ao fim. A pior posição do brasileiro foi uma sétima posição no meio dos longos stints em bandeira verde, pois houveram apenas duas amarelas, sendo que a primeira praticamente tirou da briga as duas maiores ameaças à Castroneves: os experientes Scott Dixon e Tony Kanaan, ambos com problemas de pane seca, pois quando Stefan Wilson bateu nos pits de forma bisonha, os pilotos chegavam para o primeiro pit-stop, mas com os pits fechados, o pole Dixon, Kanaan e Rossi ficaram parados nos boxes. Colton Herta dava a sensação que seria a ponta de lança da Andretti, mas o jovem não teve ritmo para briga pela vitória. A Penske decepcionou em praticamente o mês de maio inteiro, mas se recuperou em ritmo de corrida e Simon Pagenaud ainda beliscou um terceiro lugar. Nas voltas finais Helio parecia que tinha a situação sob controle. 

Ele enfrentava dois pilotos que tinham de idade o que Helio Castroneves tinha de experiência na Indy. Por mais que Alex Palou, que se tornou a esperança da Ganassi, e Pato O'Ward tivessem feito o trabalho de Helio muito difícil, faltando vinte voltas dava para sentir que a vitória de Helio Castroneves estava em sua mãos. Quatro vitórias. Helio Castroneves está definitivamente na rica e bela história do Indianapolis Motor Speedway.

Agora, as ponderações.

Antes da largada eu falava o mesmo que venho dito desde 2010, quando Helio Castroneves venceu pela terceira vez em Indianapolis: se ele conseguir o quarto triunfo em Brickyard, seria algo bizarro na história. E o motivo é bastante simples: os outros que tem quatro vitórias. AJ Foyt, Al Unser Sr e Rick Mears são três monumentos do automobilismo americano e a realidade é que Helio Castroneves não limpa as sapatilhas dos três e mesmo com a quarta vitória em Indianápolis chegando, a minha opinião se mantém. 

Os números de Helio Castroneves em Indianápolis são indiscutíveis, o mesmo acontecendo com Lewis Hamilton na F1. O inglês pode ter oito títulos de F1 no final de 2021, fazendo de Hamilton o maior vencedor da história da F1. Porém, ele é o melhor piloto da F1? Hamilton é maior do que Schumacher, Senna, Fangio? O mesmo vale para Helio Castroneves. Por mais que ele tenha chegado ao mágico tetracampeonato em Indianápolis, alguém em sã consciência dirá que Helio é mais piloto que Mario Andretti, com apenas uma vitória na Indy 500? Mais piloto do que Scott Dixon, contemporâneo de Helio e que derrotou o brasileiro em várias ocasiões? Vou ficar somente nesses dois, mas poderia citar mais alguns.

Quem acompanha o blog sabe as minhas restrições ao Helio Castroneves, de que como algumas vezes o próprio piloto dava entrevistas recalcadas sobre sua não ida à F1, praticamente ignorando sua bela história na Indy. De como o brasileiro ficou vinte anos na maior equipe dos Estados Unidos e não apenas ter perdido vários títulos da Indy como principal piloto da Penske, como viu inúmeros companheiros de equipe chegando lá. De como Helio passou três anos sem vitórias, enquanto Power, Pagenaud e Newgarden brigavam e conquistavam títulos e até mesmo venciam em Indianápolis, a pista-fetiche de Helio. No calor do momento, não vou seguir o que muitos que estão chamando Helio de 'gênio' e de 'maior piloto em Indianápolis'. Continuo com a minha humilde opinião de que Castroneves está bem abaixo dos seus pares no panteão dos tetracampeões, assim como alguns tricampeões, bicampeões (Helio maior do que Emerson Fittipaldi?) e até mesmo de alguns que só venceram apenas uma vez em Indianapolis.

Contudo, não dá para negar esse recorde num dos maiores palcos do automobilismo mundial, sem contar que Helio Castroneves se tornou o primeiro não-americano a ter quatro vitórias em Indiana e com maior espaço entre as quatro vitórias (20 anos). Parabéns ao Helio. Corrida sensacional hoje, sem ter o que tirar e o que pôr. 

Nada importa

 


Do que importa a tranquila vitória de Fabio Quartararo em Mugello? Do que importa a queda ainda na primeira volta de Francesco Bagnaia, praticamente entregando a vitória para Quartararo, além de tornar o piloto da Yamaha como o grande favorito ao título? Do que importa os comissários da MotoGP terem feito um curso rápido com Michael Masi e terem mudado os resultados da pista por causa do infame 'track limits'? Do que importa Marc Márquez ainda sofrer com seu acidente no ano passado, algo que pode ter sido um marco negativo em sua carreira? Do que importa Valentino Rossi estar entrando no triste rol de ex-piloto em atividade?

Nada disso importa!

Jason Dupasquier não era aquele piloto promissor que em breve estaria na MotoGP brigando por vitórias e títulos, mas o suíço estava claramente em ascensão. Correndo numa equipe média, Dupasquier estava marcando pontos constantemente após ter zerado em sua primeira temporada na Moto3 no ano de 2020. No final do Q2 de ontem da Moto3, Dupasquier ainda buscava melhorar seu tempo quando perdeu o controle de sua moto no meio de um pelotão de pilotos querendo fazer a mesma coisa. Dupasquier foi atingido em cheio por Ayumu Sasaki, numa dinâmica muito parecida dos acidentes fatais de Marco Simoncelli e Shoya Tomizawa. Para quem assiste corridas, alguns sinais durante a transmissão mostram que há algo acontecendo de muito ruim. A falta de outros ângulos do acidente durante os replays, a câmera distante durante o resgate e finalmente a chegada de um helicóptero para buscar Dupasquier ainda na pista. Dupasquier estava em estado crítico. Vinte e quatro horas depois do acidente, o jovem piloto helvético de 19 anos comoveu o mundo do esporte a motor e Jason Dupasquier tornou-se mais uma estrela no céu do esporte a motor.  

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Mosley partiu

 


Um dos personagens mais polêmicos dos últimos tempos do automobilismo nos deixou nessa manhã. Aos 81 anos de idade Max Mosley faleceu na Inglaterra de causas não divulgadas. Filho de Oswald Mosley, Max sofreu com o seu sobrenome desde a infância, por que seu pai era um fascista convicto e se a Alemanha nazista conseguisse invadir a Inglaterra quando tentou, Oswald seria o ditador inglês. Advogado formado, Mosley conseguiu achar abrigo no automobilismo, onde chegou a correr na F3 até sofrer um acidente e se tornar chefe de equipe, sendo um dos fundadores da March. Mosley se caracterizaria por um tratamento nada ortodoxo com seus pilotos, sempre procurando tirar o máximo possível (leia-se dinheiro) deles. Mosley se aproximou de Bernie Ecclestone e foi um dos protagonistas da famosa guerra FISA/FOCA que marcou os anos 1980. Mosley se candidatou e venceu a eleição da FIA em 1992, assumindo no ano seguinte. Como esperado, Mosley se tornou quase uma marionete de Ecclestone, mas logo em seu segundo ano de mandato Max enfrentou as turbulentas semanas de Ímola em 1994, sendo que o principal mote da campanha de Mosley era o aumento da segurança. Com tantas mortes e feridos, Mosley impôs suas ideias de maior segurança na F1 e realmente a categoria atravessou décadas sem acidentes fatais. Porém, Mosley passou a se estranhar com as equipes de F1, numa briga política em que vez por outra aparecia os 'Pacotões do Max', com várias medidas agressivas para aumentar a competitividade da F1 diminuindo seus custos enfiadas goela abaixo por Mosley, deixando os chefes de equipe da categoria furiosos. Essa briga política de Mosley contra os donos de equipe de F1 praticamente acabou com várias ótimas categorias. O WRC vivia um ótimo momento no começo dos anos 2000, mas medidas de Mosley afugentou as montadoras e a categoria entrou em profundo declínio. O Endurance praticamente não existia, sobrevivendo graças à Le Mans e ideias vindas dos Estados Unidos. Mosley parecia intocável, mas em 2008 surgiu um vídeo constrangedor do velho dirigente numa orgia com prostitutas vestidas de nazistas. Aquilo pegou muito mal para o presidente da FIA. Aproveitando a fragilidade de Mosley, as equipes de F1 ameaçaram uma ruptura em 2009, que foi resolvida em poucos dias e uma das exigências das equipes foi cumprida: Max Mosley sairia da FIA ao final do seu mandato. Saindo da FIA, Max Mosley se tornou recluso, ainda mais com a morte do seu filho. A morte de Mosley foi anunciada pelo velho parceiro Ecclectone. Apesar de controverso, ali havia uma lealdade poucas vezes vista.

Figura(MON): Carlos Sainz

 Essa temporada tem se mostrado difícil para os pilotos que trocaram de equipe ou retornaram à F1. Daniel Ricciardo, Fernando Alonso, Sergio Pérez e Sebastian Vettel (que finalmente teve um final de semana decente na Aston Martin) mostram que mesmo sendo ótimos pilotos, estar numa equipe nova pode ser bastante complicado, por causa da adaptação à nova equipe e carro. A exceção até o momento vem sendo Carlos Sainz. O espanhol foi trazido pela Ferrari para secundar Charles Leclerc, mas Sainz nunca ficou muito distante do seu quase xará nas suas primeiras corridas no novo time e em Mônaco o filho do lendário piloto de rali Carlos Sainz teve um final de semana excelente. Sainz liderou um dos treinos livres e foi prejudicado quando Leclerc bateu no final do Q3. A linguagem corporal de Sainz ao sair do carro no sábado mostrava bem sua frustração e ele dizia que tinha chances de superar Leclerc e ser ele o pole. O infortúnio de Leclerc no domingo fez Sainz ganhar uma posição, o que já lhe garantia um pódio, mas tudo melhorou quando a rosca da roda dianteira direita da Mercedes de Bottas se recusou a sair da roda e Sainz pulou para segundo. Verstappen controlou a corrida de tal forma que Sainz chegou a ficar menos de 3s, mas o espanhol talvez nem pensasse num ataque frente ao seu antigo companheiro de equipe e garantiu um excelente segundo lugar em Mônaco, igualando a sua melhor chegada e dando um recado à Ferrari: quando tiver a chance, Carlos Sainz pode lutar pelos primeiros lugares.  

Figurão(MON): Mercedes

 A Ferrari bem que poderia estar aqui por causa da 'minuciosa inspeção' no carro de Charles Leclerc depois do acidente deste no sábado, mas que acabou no momento 'heartbreaking' do final de semana, com Leclerc sendo incapaz de sequer largar na sua corrida caseira. Porém, a Mercedes teve um final de semana incrivelmente ruim para um time acostumado às glórias. Já no sábado a Mercedes sentiu muitas dificuldades em encontrar aderência nos seus carros em Mônaco, particularmente no carro de Hamilton, que teve que amargar uma obscura sétima posição no grid. Porém, no domingo as coisas foram ainda piores. Nesses anos de domínio da Mercedes, nas poucas vezes em que o time de Toto Wolff sentiu alguma ameaça externa, a trupe de estrategistas da Mercedes sempre conseguia extrair algo mais do conjunto para sair vitorioso na bandeirada. Pois bem, empacado atrás de Pierre Gasly e sem poder ultrapassar o francês pelas óbvias dificuldades de se ultrapassar em Mônaco, Hamilton foi chamado para os boxes antes de todos, tentando fazer o famoso 'undercut' ao ter pista livre. Porém, o tiro saiu completamente pela culatra. Gasly parou na volta seguinte e sem maiores dramas voltou à pista na frente de Hamilton, mas tudo ficaria ainda pior quando Vettel e Pérez, que vinham atrás do inglês, esticaram suas paradas e emergiram dos pits na frente de Hamilton, deixando o inglês apenas numa decepcionante sétimo lugar, que lhe custou a liderança do campeonato de pilotos. Porém, Valtteri Bottas estava em segundo lugar, perseguindo à distância Verstappen e garantindo bons pontos para a Mercedes. Até que uma atrapalhada parada do finlandês fez com que a roda dianteira direita ficasse de tal forma presa, que passadas mais de 24 horas da corrida a porca ainda não foi retirada! Isso deixou Verstappen ainda mais tranquilo para vencer em Monte Carlo e sem os pontos de Bottas, a Mercedes também perdeu a ponta do Mundial de Construtores. Um final de semana completamente atrapalhado e sem sucesso para a Mercedes.

domingo, 23 de maio de 2021

Que pena...

 


Ainda no começo da corrida em Mônaco, uma notícia surgiu e foi como um soco na boca do estômago. Nossas boas lembranças se confundem com o momento em que vivemos. Quem não sente saudades dos tempos despreocupados da adolescência? Na minha adolescência a Indy vivia seu melhor momento e com o SBT se comprometendo a transformar a Indy na principal categoria automobilística do Brasil, aqueles foram tempos áureos, principalmente com vários pilotos brasileiros na Indy. Além do onipresente Emerson Fittipaldi, haviam ótimos pilotos abandonando o sonho da F1 para tentar triunfar na Indy, como eram os casos de Christian Fittipaldi e Gil de Ferran. E André Ribeiro. André não tinha o talento de Christian ou Gil, mas tinha uma tenacidade incrível. Sua carreira não foi das mais normais, pois ele começou no kart já aos 19 anos, onde precisou trabalhar para se manter correndo, com uma idade que muitos pilotos já estavam nos monopostos. Sem tempo a perder, André ficou apenas três anos no kart e logo partiu para a F-Ford brasileira, que usou como trampolim para a Europa. Foram anos na F-Opel e na F3 Inglesa, sendo contemporâneo de pilotos como Rubens Barrichello, David Coulthard e Gil de Ferran. Piloto que sabia se vender como ninguém e consciente de suas possibilidades, André percebeu que não teria muito sucesso rumo à F1, mas teria chances nos Estados Unidos. Aproveitando o bom momento da Indy, André juntou patrocinadores e foi para a Indy Lights, onde foi vice-campeão em 1994, garantindo um lugar na ascendente equipe Tasman na Indy para 1995. Era o auge da Indy, bem no ano anterior à famosa cisão. Como novato, André se mostrou bastante combativo e conseguiu uma vitória em New England, mas perdeu o título de Rookie para Gil de Ferran. Permanecendo na Tasman, André conseguiria sua grande consagração na carreira ao vencer de forma até surpreendente a Rio 400, a primeira corrida da Indy no Brasil. André Ribeiro apareceu na capa de praticamente todos os jornais brasileiros na segunda-feira seguinte 25 anos atrás e com mais uma vitória, em Michigan, garantia seu melhor ano na Indy. Após um ano menos feliz em 1997, ele se mudou para a poderosa Penske em 1998, mas André deu o azar de chegar na equipe de Roger Penske no pior momento possível e Ribeiro pouco fez. Ribeiro não era um piloto brilhante, mas tinha o tino comercial que fez Roger Penske o convencer a abandonar sua carreira com apenas 31 anos de idade e torna-lo sócio nos negócios da Penske no Brasil. Mesmo na melhor idade para um piloto de corridas, André Ribeiro aceitou a proposta de Roger e encerrou sua carreira prematuramente. Ribeiro ajudou na criação da F-Renault brasileira e empresariou Bia Figueiredo quando ela esteve nos Estados Unidos. Nos últimos anos, André Ribeiro ficou fora dos holofotes, mas foi bastante lembrando quando a sua vitória na Rio 400, a primeira de um brasileiro em casa numa categoria de ponta desde Senna em 1993, completou 25 anos. Porém, André voltou aos noticiários da pior forma possível no dia de hoje. De forma surpreendente, como acontecera em Jacarepaguá em 1996, André Ribeiro nos deixou com apenas 55 anos de idade, vítima de um câncer no estômago. Quando um personagem de sua adolescência se vai dessa maneira, parece que a aquelas boas lembranças ficam mais e mais para trás. Porém, aqueles momentos da Indy e a vitória de André Ribeiro no Rio de Janeiro ficarão para sempre na nossa memória. 

Mudanças no meio do marasmo


Mônaco representa todo o glamour da F1 e muitos pilotos sonham em ganhar lá, porém, muitas vezes é duro acompanhar tudo isso. Assim como ocorre em Barcelona, não importa a geração de carros, pilotos e motores, uma corrida em Mônaco em 90% das oportunidades é decidido na saída da primeira curva. E quem estava na ponta nesse momento era Max Verstappen, que capitalizou a infelicidade de Charles Leclerc para largar em primeiro, jogou seu carro para cima de Valtteri Bottas, se aproveitou do infortúnio do piloto da Mercedes e administrou até a bandeirada, vencendo pela segunda vez em 2021, mas como a Mercedes teve um dia para esquecer, Max assumiu a ponta do campeonato e a Red Bull, apoiando uma corrida de recuperação dentro do possível de Sergio Pérez, conseguiu a liderança do Mundial de Construtores pela primeira vez na era híbrida, colocando uma pressão que a Mercedes talvez desconheça.


O dia começou em Monte Carlo com Charles Leclerc retornando aos boxes com as mãos no capacete, dando a sensação que estava chorando. Após uma revisão no câmbio do carro batido de Leclerc ontem, a Ferrari falou que estava tudo ok e que não haveria necessidade de troca, o que ocasionaria uma punição de cinco posições no grid, tirando a pole de Leclerc, além de suas chances de vitória. No entanto, isso ficou claro que foi mais uma aposta e que se provou errada ainda antes da largada, com Charles não conseguindo sequer largar na frente do seu público. Nas três tentativas em suas corridas caseiras, Leclerc simplesmente não chegou ao fim de nenhuma, lembrando a 'maldição de Interlagos' de Rubens Barrichello e a 'maldição de Montreal' para Jacques Villeneuve. Extremamente frustrado com a sua volta ter sido abortada pelo acidente de Leclerc no sábado, Verstappen ganhava um presente inesperado e numa larga bem diagonal, onde o piloto da Red Bull claramente jogou o carro para cima de Valtteri Bottas, Max Verstappen cumpriu boa parte de sua missão ao surgir em primeiro na saída da Saint Devote. Para melhorar a situação de Max, a Mercedes teve uma de suas piores exibições nos últimos sete anos na F1. Não bastasse a falta de rendimento de Hamilton em qualquer momento no final de semana, as coisas ficariam ainda piores na corrida. 


Na única rodada de paradas, Hamilton foi o primeiro a parar, mas foi seguido por Pierre Gasly, que estava logo à sua frente e o francês da Alpha Tauri cumpriu sua parte ao ficar à frente de Lewis. Porém, Vettel e Pérez, que vinham atrás dos dois, pensaram diferente e esticaram suas paradas e emergiram bem à frente de Gasly e de um irado Lewis Hamilton, apenas em sétimo e cuspindo abelha africana no rádio. Se não bastasse a pisada de bola com Hamilton, com Bottas a coisa seria ainda pior. Valtteri vinha em segundo, comboiando à distância Verstappen quando ele foi aos boxes. Quando se esperava uma parada abaixo dos 3s, a porca da roda dianteira direita simplesmente se recusou a sair, ficando travada e forçando o abandono de Bottas, deixando a situação de Verstappen ainda mais tranquila. Por mais que Carlos Sainz tivesse um ótimo ritmo, Max controlou muito bem a vantagem sobre a Ferrari, conquistando a vitória praticamente de ponta a ponta e com a infelicidade da Mercedes, assumiu a ponta do campeonato quando Hamilton dava indícios que dispararia no campeonato. A péssima corrida dos alemães permitiu que Verstappen assumisse a ponta do campeonato pela primeira vez na carreira, enquanto a Red Bull levou Pérez ao quarto lugar por causa de uma estratégia bem feita dos austríacos e assumiu também a ponta do Mundial de Construtores. Hoje, com certeza, haverá muitos socos na mesa de Toto Wolff na reunião pós-corrida da Mercedes...


Com os problemas de Leclerc e Bottas, Lando Norris garantiu o segundo pódio e com o abandono do segundo citado, subiu novamente para a terceira posição no campeonato. A McLaren vem em ótima forma e Norris parece ser mesmo o futuro da equipe, enquanto Daniel Ricciardo parece completamente perdido e simplesmente tomou uma volta do inglês, algo que surpreende pelas ótimas corridas do australiano em Mônaco, além da vinda de Daniel para a McLaren para liderar o time. Se Ricciardo decepciona, Vettel finalmente conseguiu uma corrida decente após longo e tenebroso inverno. O alemão aproveitou a parada cedo de Gasly e Hamilton para superar ambos e marcar seus primeiros pontos com a Aston Martin. Stroll cometeu vários erros, mas ainda acabou nos pontos, indicando um bom desempenho de sua literalmente equipe em Monte Carlo. Se a distância entre Norris e Ricciardo é grande dentro da McLaren, o gap entre Ocon e Alonso na Alpine já começa a ficar feio para o espanhol, do qual era esperado esmagar de vez Ocon, mas Alonso vem fazendo corridas opacas em cima de corridas opacas. Giovinazzi pontuou com a Alfa Romeo num bom final de semana do italiano, que superou Kimi Raikkonen em todo o final de semana. A Williams fez seu papel no meio do pelotão, Tsunoda vai entrando no rol das decepções e tomando peias seguidas de Gasly, enquanto que na Haas, surpresa, Nikita Mazepin não apenas não bateu, como ficou à frente de Mick Schumacher.


No fim, Mônaco teve uma corrida normal no quintal dos Grimaldi. Uma bela paisagem, os carros mais sofisticados correndo em suas estreitas ruas e uma corrida longe de ser emocionante. Semanas atrás a F-E correu por lá e teve um final de corrida empolgante, fazendo Lucas di Grassi dizer que Mônaco serve mais para a sua categoria. Olhando que a F-E é mais de 20s mais lenta do que a F1 e seus carros feiosos são pequenos, além dos pilotos errarem bem mais, Di Grassi pode até ter razão. O problema é que a F-E nunca terá o status da F1 e por mais que a corrida de hoje tenha sido modorrenta em muitos momentos, a maioria absoluta dos fãs preferem a F1 ali no principado do que a insípida e sem graça F-E. Porém, os resultados não foram dos mais normais da F1 e o campeonato de 2021 ganhou um tempero especial com a combinação da corrida irretocável de Max Verstappen e a horrorosa prova da Mercedes.    

sábado, 22 de maio de 2021

Grid aleatório

 


Quando a Ferrari marcou os melhores tempos na quinta-feira, parecia que os italianos estavam, sim, bem, mas não a ponto de brigar pela pole, afinal, Red Bull e principalmente a Mercedes não mostram tudo no primeiro dia de atividades. Contudo, o sábado nos mostrou que a F1 em 2021 está realmente surpreendente e do nada, um terceiro fator apareceu no principado com a Ferrari muito forte e Charles Leclerc se tornando o primeiro monegasco a largar na ponta em sua casa. Mesmo que tendo seu carro destruído...

Com o terceiro treino livre mostrando que a Ferrari não era fogo de palha e Lando Norris muito forte, ninguém aliviou em qualquer momento. Todos os dezenove pilotos (Mick Schumacher destruiu seu carro no TL3 e sequer classificou) usaram pneus macios e sempre que podiam, brilhando de novos. Depois de um início promissor na F1, o japonês Tsunoda foi caindo de desempenho e mais uma vez não foi ao Q2. No outro extremo, o que dizer do experiente Fernando Alonso? O piloto da Alpine chegou a ficar um momento atrás da Williams de Latifi e no final ficou distante de passar ao Q2, levando novamente muito tempo de Ocon. Ainda nas grandes diferenças entre companheiros de equipe, Daniel Ricciardo e Sergio Pérez sofrem do mesmo problema e a batata do mexicano começa a assar com fortes temperos de chili.

O Q3 foi o melhor da temporada, com a pole position mudando de mãos várias vezes e sem nenhum prognóstico confiável dessa vez. Lewis Hamilton? O centenário pole teve sua classificação mais opaca dos últimos tempos, tomando meio segundo de Bottas e ficando numa péssima sétima posição. O finlandês da Mercedes foi um dos que tentaram a pole, mas Bottas ficou em terceiro. Norris deu pinta que brigaria pelas primeira posições, mas o jovem inglês que recentemente renovou com a McLaren conseguiu uma boa quinta posição. Sainz andou muito forte o tempo todo, mas na hora decisiva falhou e ficou em quarto. Sua linguagem corporal depois do treinos mostrava toda a sua frustração.

Lembrando os tempos de kart, Leclerc e Verstappen brigavam pela pole com vantagem para o ferrarista, mas com mais uma tentativa para cada, porém, Charles acabou batendo no segundo esse da piscina e terminou o treino ali, conseguindo sua oitava pole na F1 e a mais surpreendente. Os mecânicos da Ferrari sentiam o gosto agridoce de voltar à pole e ter que consertar o carro para domingo. Sempre lhe faltando sorte em casa, Charles Leclerc tentará acabar com isso no domingo. Com Hamilton apenas em sétimo, Max nem precisará forçar tanto na primeira curva, sabendo que Monte Carlo não existe muito segredo após a primeira curva numa pista seca. Normalmente as posições não mudam nas 78 voltas seguintes. A pole da Ferrari significa um renascimento dos italianos? Ou foi tudo fruto das características únicas da pista em Mônaco? Iremos comprovar nas próximas corridas, mas esse treino de Mônaco foi um dos mais aleatórios dos últimos tempos. E isso é ótimo!

domingo, 16 de maio de 2021

Chuva no telhado


 Nada como chuvinha para bagunçar uma corrida hein, pai? O final de semana em Le Mans prometia chuva e os pilotos da MotoGP a esperavam, contudo, a precipitação pluviométrica aconteceu num momento tão específico que fez da prova principal do Mundial de Motovelocidade um evento ainda mais lotérico. A chuva foi forte e breve, caindo já com a corrida em andamento e o sol voltando a brilhar forte minutos depois. A mudança de motos fez que Marc Márquez ressurgisse na ponta depois de muito tempo, mas o piloto da Repsol Honda acabou caindo. E caiu de novo! Jack Miller saiu da pista exatamente na volta em que se encaminhava aos boxes, entrou no pit-lane 14 km/h acima do permitido, foi punido com duas voltas longas e ainda teve tempo para vencer com 5s de vantagem, repetindo o feito do seu compatriota Stoner depois de nove anos. Finalmente Miller está pagando toda a expectativa que a Ducati depositou nele, enquanto os italianos parecem não sentir muito falta de Andre Doviziozo, donde a saída do veterano tinha sido ligada mais a uma pretensa economia de salário, mas os pilotos oficiais da Ducati vem correspondendo muito bem.

Quando os pilotos estavam alinhados no grid, todos os olhos estavam mais para céu, com as nuvens carregadas se aproximando do circuito e os primeiros pingos caindo. A largada deu sem problemas, mas não demorou mais do que três voltas para a chuva cair de vez e obrigarem os pilotos a trocarem de motos. Nesse momento o pole Fabio Quartararo liderava, com Márquez entrando lado a lado com ele nos pits. Maverick Viñales prova a cada dia que ele só funciona em determinadas e estreitas situações. Quando a pista estava seca, ele brigava pela ponta. Bastou cair os primeiros pingos de chuva e Viñales caiu pelas tabelas. Ótimo piloto de chuva e mais acostumado com essa situação de troca de motos, algo que Quartararo nunca tinha presenciado, Márquez assumia a liderança de uma corrida de MotoGP pela primeira vez em muito tempo e parecia ter a corrida nas mãos, mas acabou caindo na última curva. Numa recuperação como nos bons tempos, Márquez era o piloto mais rápido da pista quando caiu ao se aproximar de Rossi na briga pela décima posição. Porém, o bom e velho Marc Márquez está aos poucos retornando.

Miller já tinha saído da pista quando estava prestes a entrar nos pits e queimar o limite de velocidade de forma escandalosa. O australiano saiu à caça de Quartararo quando teve que pagar sua punição, porém, Miller não demorou para encostar no piloto da Yamaha e assumir a ponta para não mais larga-la. Recuperado de uma operação no braço, Quartararo fez uma corrida tranquila e cautelosa. Ele não se afobou quando Johan Zarco se aproximou feito um furacão e praticamente o deixou passar para garantir o terceiro lugar e a ponta do campeonato. No entanto Fabio não esperava que Francesco Bagnaia fizesse uma excelente corrida. O italiano da Ducati tinha largado mal e repetiu o erro de Miller nos pits, ultrapassando o limite de velocidade dos boxes e sendo punido por isso. O detalhe foi que Bagnaia trocou de moto, mas manteve o pneu dianteiro slick. Uma aposta bem arriscada, mas que se pagou no final quando um sol forte apareceu em Le Mans, deixando as coisas bem confusas para os pilotos, que tiveram que correr com os sensíveis pneus de chuva numa pista seca e quente no final. Com o melhor conjunto no final, Bagnaia ainda beliscou o quarto lugar, o deixando apenas um ponto atrás de Quartararo na luta pelo título. E a próxima corrida será em Mugello, casa da Ducati e de Bagnaia.

Jack Miller venceu uma corrida totalmente lotérica, onde praticamente as quatro estações do ano apareceram em cinquenta minutos de corrida em Le Mans. Franco Morbidelli saiu de sua calma habitual e se envolveu num acidente evitável logo na primeira volta, enquanto a dupla da Suzuki foi ao chão. Com Viñales não conseguindo se firmar e Márquez ainda em recuperação, mas em fase ascendente, o campeonato está ficando uma briga entre os três principais pilotos da Ducati (Bagnaia, Miller e Zarco) contra a Yamaha de Quartararo. Desde 2007 a Ducati não construía uma moto tão boa e naquela ocasião foi um australiano habilidoso quem se sagrou campeão. Ótimas notícias para Miller. 

sábado, 15 de maio de 2021

Viva a geração jovem

 


Em cinco corridas, cinco pilotos diferentes venceram na Indy em 2021. Lembrando a competitividade da categoria, nada de anormal, porém, algo chama atenção nesse início competitivo da Indy. Dos cinco vencedores, quatro tem menos de 24 anos e três estrearam nas vitórias nesse começo de certame. Hoje no circuito misto de Indianápolis foi a vez de Rinus Veekay, jovem holandês de 20 anos, que derrotou o veterano Romain Grosjean para conquistar sua primeira vitória na Indy e consolidar uma incrível geração holandesa no automobilismo.

Já faz algum tempo que a Indy vem se caracterizando em ter como principais estrelas seus pilotos veteranos e por isso é interessante ter tantos jovens talentos despontando na categoria, indicando que o futuro da Indy está praticamente garantido. Contudo, o grande destaque desse final de semana de abertura dos eventos em Indianápolis, foi mesmo Romain Grosjean. Sobrevivente de um dos acidentes mais espetaculares do automobilismo dos últimos trintas anos, Grosjean ainda tem grandes cicatrizes nas suas mãos queimadas pelo acidente no Bahrein, fazendo-o ainda não ter 100% das atividades das mãos. Mesmo com essas dificuldades e estar numa equipe considerada pequena (Dale Coyne), Grosjean conseguiu a pole ontem e liderou boa parte da corrida, sendo superado por Veekay apenas no segundo pit-stop, onde o francês não teve um bom desempenho com os pneus duros, sem contar os problemas com retardatários, em particular Takuma Sato. Contudo o segundo lugar em Indianápolis é um prêmio e tanto para Grosjean, que teve muito o que comemorar.

O trio de ferro da Indy não esteve num bom dia, com Alex Palou ainda salvando um pódio para a Ganassi, com Newgarden logo atrás com a Penske. Por sinal, a equipe de Roger Penske não marcou nenhuma pole ou vitória em 2021, algo bastante incomum. Assim como foi incomum a má corrida de Scott Dixon, que terminou em nono após uma tentativa de estratégia diferente, porém, o piloto da Ganassi ainda é o líder do campeonato.

Se no futebol temos a fantástica geração belga de ótimos jogadores, no automobilismo estamos vendo a fantástica geração holandesa, com Max Verstappen na F1, Nicky de Vries campeão da F2 e mandando bem na F-E e agora Rinus Veekay, ou Rinus van Kalmthout, vencer pela primeira vez na Indy. Junto com Colton Herta, Pato O'Ward e Alex Paloul, Veekay pode estar se consolidando com uma das grandes estrelas da Indy no futuro.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Espanha encontrou a F1

 


A Espanha sedia corridas de F1 desde os anos 1950, mas a realidade era que os espanhóis não se empolgavam com a categoria, preferindo as corridas de motos. Isso, até quinze anos atrás. Fernando Alonso estava ganhando popularidade na medida em que ganhava maturidade para conquistar o título mundial de 2005. No ano seguinte, quando Alonso chegou ao seu país como campeão do mundo, a relação da Espanha com a F1 era outra e com sua personalidade forte, além de ser um dos pilotos mais talentosos daquela geração, fez de Fernando Alonso ser um dos maiores ídolos do seu país, no mesmo nível de Rafael Nadal e Pau Gasol.

Mesmo recebendo bons públicos, aquela Grande Prêmio da Espanha de 2006 tinha um ambiente diferente. Com um piloto seu para torcer, parecia que toda a Espanha se encaminhou para o circuito de Montmeló para torcer pela vitória de Alonso. E ele não decepcionou! Largando na pole, Alonso teve um início de corrida alucinante, marcando treze voltas mais rápidas nas primeiras quinze voltas. Deu-se a impressão até que Alonso estava mais leve e pararia uma vez mais do que os rivais, mas a verdade era que o piloto da Renault estava num dia iluminado e venceu com absoluto domínio na frente do seus extasiados compatriotas. Michael Schumacher se aproveitou de um erro de Giancarlo Fisichella para ser segundo e garantir bons pontos no campeonato, em sua luta com Alonso pelo título.

Mais de 131.000 pessoas estiveram naquele dia para ovacionar Alonso. Seguindo a tradição barcelonense, a corrida de 2006 foi terrível em termos de emoção, mas nenhum espanhol reclamou do tédio que foi aquela corrida de uma hora e meia debaixo de muito calor. Alonso venceu com sobras, contudo, ninguém poderia supor que Fernando só voltaria a vencer um Grande Prêmio da Espanha em 2013, voltando a vencer na frente dos seus compatriotas no Grande Prêmio da Europa cinco anos depois, no massante circuito de rua de Valencia. Mesmo com as escolhas erradas de Alonso, ele continuou uma referência na F1 e um ídolo na Espanha, mas aquele dia de maio em Barcelona foi o auge da Alonsomania.  

A Espanha encontra a F1

 


A Espanha sedia corridas de F1 desde a década de 1950, mas o país das touradas sempre preferiu às motos aos carros. Isso, até quinze anos atrás. Fernando Alonso tinha conquistado seu primeiro título na F1 em 2005 e chegava à Barcelona no ano seguinte como um dos maiores ídolos do seu país, ao mesmo nível de Rafael Nadal ou Pau Gasol. Era a Alonsomania!

Mesmo sempre recebendo bons públicos em suas corridas de F1, o Grande Prêmio da Espanha de 2006 tinha um ambiente diferente. Tendo um piloto seu para torcer, parecia que toda a Espanha tinha ido ao circuito de Montmeló torcer para que Fernando Alonso vencesse. E o piloto da Renault não decepcionou! Largando na pole, Alonso marcou treze voltas mais rápidas nas quinze primeiras voltas, conquistando uma vitória esmagadora. Deu-se até a impressão que Alonso pararia três vezes, dando esperanças para Michael Schumacher, mas quando ficou claro que Fernando pararia duas vezes, a mesma tática da Ferrari, o alemão se aproveitou de um erro de Fisichella para assumir a segunda posição, garantindo bons pontos na luta pelo título contra Alonso.

Mais de 131.000 pessoas estiveram naquele domingo em Barcelona. Como é tradição na pista catalã, a corrida foi sofrível em termos de emoção, mas nenhum espanhol estava chateado pelo tédio que foi a uma hora e meia de corrida debaixo de forte calor. Todos estavam extasiados, mas ninguém poderia supor que aquela seria a única vez que Alonso venceria o Grande Prêmio da Espanha, com Fernando só vencendo no seu país cinco anos depois no massante circuito de rua de Valencia, no Grande Prêmio da Europa. Foi uma época de glória para Alonso, no dia em que a Espanha finalmente encontrou a F1.

Espanha descobre a F1

 


Mesmo tendo sediado corridas de F1 desde os anos 1950, a Espanha nunca foi muito afeita à categoria, dando maior prioridade às amadas corridas de moto. Porém, quinze anos atrás havia um cenário único e que cativou os espanhóis: a Alonsomania. Fernando Alonso havia conquistado o título da F1 na temporada anterior e de repente a Espanha se tornou o 'país da F1'. Dono de uma personalidade forte e considerado um piloto acima da média, Alonso se tornou um ídolo do tamanho dos compatriotas Rafael Nadal e Pau Gasol na pátria ibérica.

Apesar de receber ótimos públicos nas visitas da F1, o circuito de Montmeló tinha um ambiente diferente quinze anos atrás para o Grande Prêmio da Espanha de 2006. Tendo um piloto seu para torcer, parecia que a Espanha inteira tinha ido à Barcelona para ver Alonso vencer. E não saíram decepcionados. Autor da pole no sábado, Alonso executou uma corrida dominadora, marcando treze voltas mais rápidas nas primeiras quinze voltas, dando até a sensação de que pararia três vezes, o que não aconteceu. Sem poder enfrentar Alonso naquele dia, Michael Schumacher se aproveitou de um erro de Giancarlo Fisichella para assumir a segunda posição, garantindo bons pontos na luta pelo título contra Fernando, que com a vitória, se consolidou na ponta do campeonato.

Na frente de 131.000 pessoas, Fernando Alonso vencia pela primeira vez o Grande Prêmio da Espanha, para delírio dos seus fãs, mesmo que, seguindo a longa tradição barcelonense, a corrida em Montmeló tenha sido horrível em termos de emoção, mas naquele dia ninguém nas arquibancadas estava reclamando do tédio de uma hora e meia debaixo de muito calor em Barcelona. Aquele era o auge da Alonsomania. O que ninguém poderia imaginar era que Fernando só venceria mais uma corrida na Espanha, mas no Grande Prêmio da Europa no massante circuito de rua em Valencia. Alonso ainda é referência na F1, mas aqueles tempos de 2006 não voltariam mais para Fernando e seus torcedores, que descobriram a F1.

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Figura(ESP): Max Verstappen

 A atitude na volta de apresentação de Max Verstappen já mostrava que o piloto da Red Bull não seria um plácido e conformado segundo colocado em Barcelona. Max sempre que podia colocava de lado em cima de Hamilton, meio que mostrando que naquele dia ele iria para cima. Bastou apagar as cinco luzes vermelhas para Verstappen pegar o vácuo no longo espaço até a primeira curva, emparelhar com Hamilton e frear no limite, dando um chega pra lá no inglês da Mercedes. Contra os prognósticos, Verstappen assumia a ponta da corrida e por lá ficou a maior parte do tempo da prova, segurando enquanto teve pneus o ímpeto de Hamilton. Porém, Max se viu sozinho contra a dupla da Mercedes e quando os táticos alemães perceberam a posição frágil de Verstappen, mudaram a estratégia de Hamilton, trazendo-o para uma segunda e decisiva parada. Mesmo ficando na liderança quase que o tempo todo, Verstappen não teve o que fazer quando Hamilton encostou em sua traseira e já na primeira tentativa, assumiu a ponta rumo à vitória. Verstappen ainda colocou pneus moles para marcar a melhor volta da corrida e garantir um pontinho extra, mas o piloto da Red Bull mostrou que dessa vez Hamilton terá que lutar por cada vitória em 2021.

Figurão(ESP): Sergio Pérez

 Quando foi contratado pela Red Bull no final do ano passado, Sérgio Pérez tinha muito claro qual seria seu papel em 2021: auxiliar Max Verstappen na sua luta contra a Mercedes. Desde a surpreendente saída de Daniel Ricciardo da equipe que a Red Bull procura alguém capaz de pelo menos andar junto de Verstappen e tira-lo de situações estratégias desfavoráveis nas poucas vezes em que o time austríaco andou no mesmo ritmo da Mercedes. Pierre Gasly e Alexander Albon não foram capazes de executar bem esse papel e a chegada de Pérez, terminando uma prática da Red Bull de mais de dez anos em confiar somente nos seus jovens pilotos, tinha como objetivo evitar deixar Max descoberto em situações táticas. Para melhorar as coisas, a Red Bull fez um ótimo carro e finalmente está andando no mesmo patamar da Mercedes, porém, como foi demonstrado nesse domingo em Barcelona, o fato de Verstappen ficar sozinho contra a dupla da Mercedes faz do neerlandês um alvo fácil. E a pergunta que se faz é: Onde estava Sérgio Pérez. O mexicano teve um final de semana muito abaixo do esperado, classificando apenas em oitavo no sábado e mesmo com a desculpa de uma misteriosa doença, Pérez já iniciava prova longe demais para ajudar Verstappen. Uma boa largada e uma ótima ultrapassagem durante a corrida não serviu para limpar a barra do latino-americano, pois Pérez foi apenas quinto colocado e a mais de 40s de desvantagem para Max Verstappen, que perdeu a corrida espanhola por causa da certeira estratégia da Mercedes, quando percebeu que, se algo desse errado, ainda assim o segundo lugar de Hamilton estava seguro e ele partiu para cima de Max até ultrapassa-lo. Se Pérez estivesse menos de 20s atrás da disputa, dificilmente a Mercedes pensaria em trazer Hamilton uma segunda vez para os pits. Como Pérez estava empacado atrás de Ricciardo, a opção dos táticos de Toto Wolff foi fácil e garantiu mais uma vitória para Hamilton. Enquanto isso, a Red Bull já declara abertamente que precisa do apoio de Pérez para ontem! 

domingo, 9 de maio de 2021

Dois contra um

 


Quando Sérgio Pérez foi contratado pela Red Bull para a temporada 2021, cessando uma prática do time de sempre confiar nos jovens pilotos do seu programa, a equipe austríaca tinha como claro objetivo fazer com que Verstappen tivesse companhia em sua eventual luta contra a Mercedes. Mesmo quando os alemães tinham nitidamente o melhor carro, Max era capaz de incomodar os pilotos da Mercedes aqui e ali, mas acabava sempre derrotado pelo potencial do carro rival e pela estratégia. Veio 2021 e a diferença entre Mercedes e Red Bull caiu bastante, mas a situação de Max ainda é a mesma. Lutando contra um Hamilton que nitidamente subiu seu sarrafo para enfrenta-lo, Verstappen se viu sozinho hoje em Barcelona contra a Mercedes e foi atropelado no final por Hamilton, sem que o neerlandês nada pudesse fazer contra a estratégia da Mercedes. E fica a pergunta: onde estava Pérez?


A corrida em Barcelona foi bem normal para os baixíssimos padrões de qualidade catalães. Não importa a geração de carros, pilotos e motores, as provas em Montmeló normalmente são chatas e desprovidas de emoção. Sabendo disso, a posição de pista é essencial na Espanha e os estrategistas tem um papel fundamental na prova. Max Verstappen fez uma ótima largada, mas o surpreendente foi a passividade de Hamilton ao ficar por fora no aproche da primeira curva e simplesmente tomar a ultrapassagem de Max sem maiores problemas ou dramas. Com Max assumindo a primeira posição, as cartas estavam na mesa para os estrategistas moverem suas peças. Verstappen parecia que tinha uma ligeira vantagem quando Bottas teve que desviar de Hamilton na curva 3 e perdeu a terceira posição para Leclerc, não o ultrapassando até a primeira rodada de paradas. Enquanto isso, Verstappen se manteve confortavelmente na ponta e levava a corrida em banho-Maria até que as movimentações nos boxes começassem. Era claro que Hamilton tinha o carro mais rápido, mas não a ponto de ultrapassar Max na pista naquelas condições. Quando Max parou e Hamilton ficou mais algumas voltas na pista, a Mercedes indicava que Lewis pararia apenas uma vez, deixando a Red Bull numa situação complicada, pois Verstappen teria que dar bem mais voltas do que Hamilton se quisesse chegar a bandeirada sem uma segunda parada. Pensando em igualar a tática da Mercedes, Max baixou seu ritmo, deixou Hamilton ficar na mesma situação de antes da parada, mas havia uma diferença: Bottas era  terceiro. Com a Mercedes tendo a garantia de que não perderia a segunda posição e que tendia a ficar empacada atrás de Verstappen se nada de diferente ocorresse, o time comandado por Toto Wolff trouxe Hamilton para os boxes para uma segunda parada. Sem se preocupar com Bottas, Lewis apenas acelerou muito e andando 1,5s mais rápido por volta, foi engolindo a vantagem de Verstappen, que nada pôde fazer quando Hamilton entrou na famigerada janela em que podia usar o DRS. Bastou uma tentativa para Hamilton fazer a ultrapassagem vencedora e partir impávido rumo a terceira vitória do campeonato e com a liderança do campeonato cada vez mais solidificada.


Restou à Verstappen fazer um segundo pit-stop para garantir o ponto extra para a melhor volta, mas Max esteve em posição desfavorável a partir do momento em que a Mercedes tinha duas cartas alta na mesa, podendo escolher qual seria a próxima jogada para dar a cartada decisiva. Enquanto isso, Sérgio Pérez, piloto de qualidade inquestionável, largou apenas em oitavo, ganhou duas posições na largada, penou atrás de Ricciardo até fazer uma bela ultrapassagem sobre o australiano e terminar num obscuro quinto lugar, longe até mesmo da Ferrari de Leclerc. Apesar de alguns problemas de saúde terem afetado o mexicano no sábado, sua posição dentro da Red Bull já começa a ficar delicada na medida em que ele não consegue andar no ritmo dos líderes justamente quando a Red Bull finalmente tem um carro no mesmo patamar da Mercedes. Deixado sozinho contra os dois carros da Mercedes, Verstappen foi um alvo fácil, enquanto Marko pode estar começando a chegar a conclusão de que Pérez não faz nada de muito diferente de Gasly e Albon. E é bom Pérez ficar ligado no que foi o destino de ambos...


No melhor do resto, Charles Leclerc fez uma corrida esplendida, superando Bottas na largada e o segurando no primeiro stint sem maiores dramas, mostrando a clara evolução do motor Ferrari. Quando Valtteri teve pista livre, Leclerc não teve chances, mas o monegasco segurou a quarta posição sem maiores sustos, ficando à frente de um carro da Red Bull e, o que é melhor, bem à frente dos pilotos da McLaren, grande rival da Ferrari nesse momento pelo posto de terceira força. Daniel Ricciardo se mostrou bem superior à Lando Norris nesse final de semana e segurou até onde pôde Pérez, mas garantiu a sexta posição, logo à frente do piloto da casa Carlos Sainz, ainda tateando o carro da Ferrari em ritmo de corrida. Seu compatriota Alonso fez uma corrida ruim, onde uma parada no final da prova o colocou apenas em décimo sétimo. Muito pouco para um bicampeão da qualidade de Alonso, principalmente quando se olha que Ocon conseguiu salvar uns pontinhos num dia não tão bom para a Alpine, apesar do bom ritmo na classificação. Mesmo punido por ter largado no lugar errado, Gasly ainda salvou um ponto para a Alpha Tauri, chegando colado em Ocon. Após uma estreia promissora, Tsunoda se mostra um piloto de cabeça quente, bem diferente dos seus compatriotas e foi o único abandono do dia, por problema mecânico.


A Aston Martin já vai se tornando uma das decepções do ano, ao não conseguir repetir o desempenho do ano passado, quando era conhecida como Mercedes rosa. Isso apenas aumenta a sensação de declínio de Vettel, que sequer consegue andar na frente de Stroll, que ainda brigou pela última posição pontuável, mas acabou na P11. A Alfa Romeo se atrapalhou todinha em sua primeira parada, jogando Giovinazzi para as últimas posições, enquanto Raikkonen esteve perto de pontuar quando foi o último a parar com pneus médios e estava bem rápido com o composto macio. George Russell estava no bolo que estava na briga pela décima posição, mas acabou mesmo fora dos pontos, enquanto Mick Schumacher fez o dever de casa ao humilhar o péssimo Mazepin.


Se a corrida de hoje não foi das mais emocionantes, respondeu muitas perguntas que ainda pairavam no ar. Por mais que diga que não, a Mercedes ainda tem o melhor carro da F1 e a grande diferença é que a Red Bull nunca esteve tão próxima como agora. Se nos tempos da Ferrari próxima, Hamilton soube administrar muito bem um Vettel já em começo de declínio, dessa vez ele está enfrentando um piloto num momento mais forte. Max Verstappen hoje é um piloto quase completo e ansioso para confirmar o que todos sabem do que ele é capaz: bater a Mercedes e Hamilton para ser campeão. Sabendo disso, Lewis Hamilton aumentou seu sarrafo e ao invés de bater de forma protocolar Bottas, agora o inglês está incomodado e lutando por cada vitória para bater Verstappen. O problema é que o neerlandês olha para o lado e não vê ninguém para auxilia-lo. Enquanto isso, Hamilton vai empilhando vitórias rumo ao oitavo título.  

sábado, 8 de maio de 2021

A primeira marca centenária


 Os números absurdos de Lewis Hamilton na sua já longa carreira na F1 começam a entrar em marcas que pareciam impossíveis não faz tanto tempo, ainda nos tempos de Schumacher. Não bastassem os recordes, agora Lewis vai se aproximando dos três dígitos em certos quesitos e hoje ele conseguiu sua primeira marca centenária ao conquistar a pole em Barcelona, numa luta próxima contra Max Verstappen.

A classificação no circuito de Montmeló não foi das mais surpreendentes e como se fala abertamente que o traçado catalão indica a cara da F1 para uma temporada, algumas respostas já tem respostas. Mercedes e Red Bull disputam uma liga paralela, com um abismo separando as duas rivais do próximo pelotão, composto por Ferrari, McLaren e Alpine. Outrora chamada de Mercedes rosa, a Aston Martin mudou de nome, de cor e, infelizmente para ela, também de patamar, caindo um pouco, lutando com Alpha Tauri e Alfa Romeo, enquanto Williams e Haas lutam na rabeira. 

Outro ponto é que dentro desses pelotão, existem algumas flexibilidades e uma delas é a falta de ritmo de Sergio Pérez, tomando hoje quase 1s de Verstappen e sequer ficando no que seria um normal quarto lugar. O fato de Max ter que lutar sozinho contra as duas Mercedes é claramente um fator complicador para o piloto da Red Bull, mas o time austríaco parece incapaz de encontrar alguém que fique perto da luta de Verstappen e num campeonato tão apertado entre Mercedes e Red Bull, isso tende a ser decisivo. Sainz já chegou andando muito bem na Ferrari, fazendo Leclerc suar para ser o mais rápido no time italiano, enquanto Ricciardo começa a se recuperar frente ao ótimo Lando Norris. No momento, as antigas rivais lutarão pelo terceiro posto do campeonato. A Alpine está logo atrás e Esteban Ocon está se mostrando um companheiro de equipe mais forte do que Fernando Alonso imaginava. Vettel novamente ficou atrás de Stroll, mas é inegável a queda da equipe de Lawrence. Tentando chamar atenção do paddock, George Russell acerta seu carro para fazer ótimas classificações e, quem sabe, beliscar um Q3. Porém isso afeta nitidamente o ritmo de corrida do inglês, mas Russell pode simplesmente apontar que o carro da Williams é ruim desde 2019...

Novamente a luta pela pole teve como protagonistas Lewis Hamilton e Max Verstappen, com o segundo fazendo uma volta absurda no Q2, mas que não repetiu no Q3, enquanto Lewis usou sua vasta experiência para tirar tudo de sua Mercedes para ficar com a pole de número cem e colocar o dia de hoje na história da F1. Se Lewis Hamilton é o melhor piloto da história da F1 ou se seus números são inflados por causa de uma situação única causada pela própria F1 e seus regulamentos, isso deverá ser discutido em alguns anos, o que importa agora é que ninguém pode ficar alheio ao que Hamilton vem fazendo na F1 e pelo jeito, continuará fazendo por algum tempo ainda.

quinta-feira, 6 de maio de 2021

A primeira de Dixon

 


A Indy ainda tentava achar respostas para o vexaminoso cancelamento da corrida no Texas na semana anterior quando chegou à Nazareth, a tradicional casa da família Andretti para uma de suas corridas mais tradicionais. Porém, muito se falava que a pista de uma milha seria limada de um campeonato que começava a entrar numa séria crise que acabaria levando ao seu surpreendente fim ao término daquele ano de 2001.

Com a saída de Mark Blundell no final de 2000, a equipe PacWest investiu num neozelandês que acabara de conquistar a Indy Lights e se mostrava extremamente talentoso e promissor. Com apenas 20 anos, Scott Dixon estreava na principal categoria de monopostos dos Estados Unidos após uma curta e vitoriosa carreira nas categorias de base americanas. Mesmo a PacWest não ter o peso de uma Penske ou Ganassi, a competitiva Indy de vinte anos atrás era capaz de boas surpresas, principalmente por causa das estratégias.

A PacWest correria a corrida em Nazareth desfalcada do experiente Maurício Gugelmin, uma das vítimas da perigosa pista do Texas e ainda tendo que enfrentar a dor da morte do seu filho de seis anos. Dixon correria sem companheiro de equipe e talvez pela falta da referência de Maurício, conseguiu apenas a 23º posição no grid. Aquele 6 de maio de 2001 não parecia muito promissor ao neozelandês, mas como Dixon mostraria em sua carreira, ele não desistiria fácil, além de se tornar um ótimo piloto tático, principalmente no quesito economia de combustível.

Outro novato largava na pole naquele dia: o brasileiro Bruno Junqueira. Porém, o piloto da Ganassi não resistiria aos ataques de Kenny Brack, que assumiu a primeira posição e liderou boa parte da corrida. O sueco vivia uma excelente fase naquele começo de campeonato. Porém, a primeira metade da prova foi cheia de bandeiras amarelas e isso fez com que a PacWest mudasse a estratégia de Dixon, que arriscou no final numa tática de economia de combustível para subir ao pelotão dianteiro logo depois da metade da corrida. Scott ultrapassou Paul Tracy e com os principais pilotos parando, assumiu a ponta nas voltas finais, mas tendo que economizar muito combustível.

Uma última bandeira amarela faltando dez voltas seria decisiva. Enquanto Dixon ganhava uma boa chance de economizar combustível, o segundo colocado Kenny Brack colaria no novato para uma relargada de tirar o fôlego. Ainda em sua terceira corrida na Indy, Dixon segurou magistralmente um claramente mais rápido Brack para vencer pela primeira vez na carreira na Indy. Com 20 anos, 9 meses e 14 dias de idade Scott Dixon se tornava o piloto mais jovem a vencer uma corrida na Indy até então. Ele se tornaria o Rookie of the year, mas a CART praticamente terminaria naquele ano de 2001, mas não a carreira de Scott Dixon. O neozelandês ficaria com a PacWest no ano seguinte, mas o time encerraria suas atividades no começo de 2002, contudo, um piloto tão talentoso não ficaria à pé por pouco tempo e nos meses seguintes Dixon seria contratado pela equipe Ganassi. O resto é uma história que tornaria Scott Dixon num dos pilotos mais laureados da história do automobilismo e tudo começou naquele começo de maio de 2001 em Nazareth.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Figura(POR): Lewis Hamilton

 A grande maioria das corridas vencidas por Hamilton em sua laureada carreira foi com o inglês não tendo muito trabalho, vencendo de ponta a ponta ou retomando a ponta na base do famoso 'undercut'. Porém, em 2021 Lewis Hamilton não poderá se acomodar no que foi visto nos anos anteriores, pois um rival muito duro e perigoso está à espreita na equipe Red Bull. Em Portimão, Hamilton foi ultrapassado por Max Verstappen na relargada, caindo para terceiro. Esperar pela equipe Mercedes fazer o undercut? Hamilton preferiu mostrar que finalmente está aumentando o sarrafo do seu potencial. Com duas belas manobras na curva um, ultrapassou Verstappen e seu companheiro de equipe Bottas para assumir a ponta da corrida e vencer pela 97º vez na F1, mas mostrando que ele tentará outras vitórias como a deste domingo.

Figurão (POR): Nikita Mazepin

 O próprio nome do russo já é um meme ambulante. Mazepin ou... MazeSpin! Extremamente polêmico fora das pistas, Nikita nunca empolgou ninguém dentro da pista nas categorias de base, mas como seu pai é um bilionário e a Haas precisa de dinheiro, foi fácil para Mazepin conseguir um lugar na equipe americana, sem contar que pintou o carro com as cores da sua bandeira natal. Porém, não demorou muito para perceber que Nikita Mazepin está muito abaixo do nível de um piloto mediano de F1. Lento, desajeitado e desastrado, Nikita Mazepin até que não rodou muito no final de semana português, algo que aconteceu bastante nas duas corridas anteriores, mas chamou atenção que Nikita tomou um (!) minuto do seu companheiro de equipe, o também novato Mick Schumacher na bandeirada em Portimão. Uma clara demonstração do que uma carteira cheia de dinheiro pode trazer um piloto antipático fora das pistas e uma clara chicane ambulante (Sergio Pérez que o diga) dentro dela.

Que pena...

 


Clãs familiares dentro do automobilismo são bastante comuns, particularmente nos Estados Unidos. No Colorado havia uma família que emanava gasolina. Eram os Unser. Desde a década de 1920 eles competiam e o patriarca da família Louis foi um dos percursores da famosa corrida de Montanha em Pikes Peak. O filho de Louis, Jerry, teve quatro filhos e o terceiro se chamaria Robert William, ou simplesmente Bobby. Assim como seus irmãos, pai e tios, Bobby Unser se tornou piloto e na década de 1960 se tornou profissional na USAC, onde disputaria a famosa 500 Milhas de Indianápolis. A primeira vitória aconteceria em 1968, mesmo ano em que venceria o campeonato da USAC. Ainda em 1968 Bobby Unser teve um pequeno contato com a F1 quando foi convidado pela equipe BRM a participar das corridas finais daquele ano. Bobby venceria inúmeras vezes em Pikes Peak, além de voltar a vencer as 500 Milhas em 1975, usando um Eagle, do seu amigo Dan Gurney. Dono de uma tocada agressiva e muito expansivo, Bobby Unser se tornou um dos atletas mais populares dos Estados Unidos na década de 1970, fazendo um contraponto com seu irmão mais novo e também lenda, Alfred, mais conhecido como Al Unser. Bobby tinha como grande rival Mario Andretti, vindo de outro clã famoso do automobilismo americano. O clímax dessa rivalidade veio nas 500 Milhas de Indianápolis de 1981, quando os dois disputaram palmo a palmo a prova, que acabou nas mãos de Bobby Unser, que na época corria com um Penske. Porém, a corrida foi muito controversa e o resultado chegou a ser alterado a favor de Andretti. Meses depois o resultado da pista foi mantido, mas Bobby Unser, aos 47 anos e sendo até então o mais velho a vencer em Indianápolis, ficou demasiado triste com a polêmica e se aposentou das pistas. Bobby permaneceu ligado ao automobilismo ao se tornar um popular comentarista e em 1987 ele estava na cabine da TV comentando a quarta vitória de Al Unser, além de acompanhar as duas vitórias do seu sobrinho, Al Unser Jr. Bobby Unser vivia uma aposentadoria tranquila em Albuquerque até esse domingo, quando faleceu de causas naturais aos 87 anos. Uma verdadeira lenda do automobilismo que nos deixa, mas seu legado ficará para sempre. 

domingo, 2 de maio de 2021

Arrancada para a vitória

 


Normalmente as vitórias de Lewis Hamilton são conseguidas de forma tão natural, que poucos triunfos do laureado inglês realmente levantam sobrancelhas. Vitórias de ponta a ponta ou com uma ultrapassagem surgida de um undercut nos boxes estão na maioria do menu de Hamilton em suas quase cem vitórias. Contudo, numa temporada onde Hamilton está explorando ainda mais seu potencial para poder derrotar um rival perigoso e muito forte, o inglês da Mercedes teve que fazer duas ultrapassagens na pista para se colocar em primeiro e aí, sim, comemorar seu triunfo na bandeirada, porém, Hamilton viu que Max Verstappen conseguiu um incômodo segundo lugar, deixando o campeonato ainda em aberto num final de semana claramente à favor da Mercedes.


Se as duas primeiras corridas foram bastante emocionantes, a prova em Portimão ficou ligeiramente abaixo, mas ainda assim foi uma boa corrida para se assistir, principalmente nas primeiras voltas. A curva um em descida e não sendo uma freada muito forte proporcionou belas manobras em toda a corrida, sendo que os protagonistas fizeram ali suas principais manobras. A primeira foi de Verstappen. Mesmo largando melhor do que o segundo colocado Hamilton, o neerlandês não conseguiu a ultrapassagem na primeira volta, mas o piloto da Red Bull não perdeu a oportunidade na relargada, quando Bottas claramente atrapalhou Hamilton e Max foi por fora na curva para ser segundo. Contudo, poucas voltas depois, Hamilton daria o troco em Verstappen quando o piloto da Red Bull errou na curva 14, o deixando fragilizado frente a Hamilton, que emulou a manobra do rival para ser segundo. À essa altura, era nítido que Bottas não tinha ritmo para liderar a corrida e a partir de então ficou o clima de que Toto Wolff mandaria um 'Lewis is faster than you' a qualquer momento. Não foi necessário. Com pressa de não destruir seus pneus ao ficar no vácuo do companheiro de equipe, Hamilton ultrapassou Bottas na pista para assumir a ponta da corrida e administrar a prova até o final. 


A alegria de Hmailton só não foi maior por causa de Verstappen, que ao não conseguir ultrapassar Bottas na pista, trocou de estratégia ao antecipar sua parada. A Mercedes foi rápida no gatilho e trouxe o nórdico para os boxes, o colocando na frente de Max. Porém, com os pneus duros ainda frios, Bottas foi um alvo fácil para Verstappen e o neerlandês assumiu a segunda posição metros depois para segurar a pseudo-pressão de Bottas. Pseudo porque Bottas nunca esteve em posição real de ultrapassar Max, mesmo tendo claramente o carro mais rápido. Bottas ainda levou um susto quando sofreu com um problema de motor, mas Valtteri ainda salvou um pouco a lavoura ao ficar com o ponto da volta mais rápida. Só que Michael Masi, o STJD da F1, resolveu dar as caras. Bottas e Verstappen colocaram pneus macios no final da prova para marcar a volta mais rápida da corrida e ficar com o ponto extra. Max conseguiu por muito pouco, porém, ele saiu com as quatro rodas da pista, trazendo à baila a estúpida regra do 'track limits'  e Verstappen perdeu o ponto da volta mais rápida. E se o campeonato se decidir por um ponto no final do ano, sr Masi?


Essa briga por cada ponto possível, algo que até Hamilton cogitou, é um claro sinal da briga fratricida entre Hamilton e Verstappen, algo que os fãs a muito tempo desejam. Os segundos pilotos poderiam influenciar isso, mas até o momento Valtteri Bottas e Sérgio Pérez pouco fizeram para realmente fazer a diferença. Do total de pontos em disputa, Bottas conseguiu tirar apenas dois pontos de melhores voltas. De resto, Hamilton tem duas vitórias, um segundo lugar e um ponto extra, enquanto Verstappen tem uma vitórias e dois segundos lugares. São apenas três corridas, mas os protagonistas já estão claramente na cabeceira da mesa.


Enquanto os segundos pilotos de Mercedes e Red Bull derrapam, Lando Norris vai se mantendo num interessante terceiro lugar no campeonato e hoje o piloto da McLaren terminou em quinto lugar, ou seja, no melhor do resto. Norris fez uma corrida valente, pois foi um dos poucos a colocar pneus macios após a primeira parada e completou a corrida com essa borracha, segurando a Ferrari de Charles Leclerc, que estava com a borracha mais adequada. Sainz foi outro que escolheu ir com pneus médios e se arrependeu, saindo da zona de pontuação após largar em quinto e chegado a tomar o quarto lugar de Pérez na largada. A Alpine conseguiu sua melhor corrida do ano com Ocon e Alonso marcando bons pontos, sendo que o espanhol se recuperou de uma má classificação. Outro que se recuperou foi Ricciardo, que ficou no Q1 no sábado e colocou a segunda McLaren nos pontos. Porém, é inegável que o australiano está levando um banho de Norris. Pierre Gasly salvou um pontinho para a Alpha Tauri no que vem sendo uma temporada abaixo da equipe que deu pinta que poderia andar no ritmo da Red Bull, mas está mesmo no coração do pelotão intermediário.


Após conseguir, finalmente, ir ao Q3 Vettel fez outra corrida medíocre, ficando fora dos pontos e conseguindo uma ultrapassagem na última volta sobre o fraco companheiro de equipe valendo a P13. Se Bottas é um leão de treino, o mesmo vale para George Russell, que largou em décimo primeiro, mas em ritmo de corrida caiu drasticamente e nem de longe esteve perto dos pontos. Giovinazzi ficou por pouco fora dos pontos, enquanto Kimi Raikkonen foi o único abandono do dia numa barbeiragem incrível do nórdico, ao bater na traseira do seu companheiro de equipe no complemento da primeira volta. Inacreditável para um campeão do mundo. Mick Schumacher começa a mostrar o 'algo a mais' ao ficar na frente de uma Williams, enquanto Mazepin passou a corrida inteira sem rodar, mas foi punido por atrapalhar Pérez e tomou um minuto do seu companheiro de equipe. O russo claramente está vários níveis abaixo de um real piloto de F1.


Numa pista escorregadia e diferente da maioria do calendário, Portimão viu Lewis Hamilton dominar a corrida, mas não da maneira usual. O piloto da Mercedes teve que arrancar rumo à vitória e o fez com sucesso. Porém, Hamilton terá que enfrentar um rival muito mais duro do que o dócil companheiro de equipe Bottas. Max Verstappen estará sempre por perto para garantir uma vitória ou aproveitar qualquer vacilo de Hamilton. A temporada está no começo, mas ainda passará muita água por debaixo dessa ponte. 

Dobradinha vermelha


 Após três etapas do Mundial 2021 da MotoGP, o australiano Jack Miller já começava a ser questionado dentro do paddock. Líder da pré-temporada após ser promovido à equipe oficial da Ducati, Miller colecionava resultados ruins e uma queda, enquanto seu companheiro de equipe e piloto menos badalado Pecco Bagnaia exibia fortes performances e brigava pela liderança do campeonato. Comparado ao compatriota Casey Stoner, Miller precisava dar uma resposta imediata e o local não seria o mais apropriado, afinal, a Ducati não vencia em Jerez faziam quinze anos. A travada pista andaluz não combina em nada com a potência da Ducati, mas os italianos conseguiram uma incrível dobradinha liderada por Miller, que não tomou conhecimento da queda acentuada de Quartararo.

O francês da Yamaha largava como favorito à vitória, onde garantiria um duplo hat-trick, pois Quartararo venceria pela terceira vez consecutiva no campeonato e em Jerez. O começo da prova de Fabio foi bastante promissor, não ligando ao ser ultrapassado pelos pilotos da Ducat e seu incrível sistema de largada. Quartararo ultrapassou um a um até chegar à primeira posição e se manter na ponta com decisão, confirmando o favoritismo. Mesmo numa pista que parecia desfavorável à sua moto, Miller se manteve em segundo e não muito distante de Quartararo, mas quando o francês começou a perder rendimento, Miller foi o primeiro a capitalizar os problemas do representante da Yamaha e liderar a corrida até a bandeirada. Bagnaia brigou boa parte da corrida com Franco Morbidelli e quando assumiu a segunda posição, até tentou se aproximar do companheiro de equipe, mas Bagnaia completou a dobradinha da Ducati, além de se colocar como o novo líder do campeonato.

Quartararo foi perdendo rendimento até cair para a décima terceira posição e ao cruzar a bandeirada, as câmeras chegaram a flagrar lágrimas do francês. Como acontecera ano passado, Quartararo perdeu a consistência e a liderança do campeonato, enquanto Viñales fez outra corrida burocrática após outra largada ruim. Problema de pneus para Fabio? Pode até ser, mas ele foi o único. O melhor piloto da Yamaha foi Morbidelli, que ficou com o degrau mais baixo do pódio, muito à frente de um decepcionante Valentino Rossi. Talvez falte à Yamaha um piloto mais consistente e para os japoneses nem precise fazer uma contratação milionária para isso, pois esse piloto (Morbidelli) já corre com suas motos. Márquez continuou sua volta justamente na pista onde sofreu seu acidente que tanto o marcou. O espanhol da Honda caiu duas vezes no final de semana e ainda sem confiança, Márquez só garantiu uma nona posição, ficando logo à frente do seu companheiro de equipe Pol Espargaró, mas a melhor Honda ficou com o quarto colocado Nakagami. O acidente de Márquez ainda parece afetar o emocional do espanhol e essas cicatrizes são ainda mais difíceis de curar do que sua grave contusão no braço direito.

Enquanto suas rivais sofrem com seus problemas, a Ducati garantiu uma dobradinha num lugar incomum e com um piloto que estava pressionado, mas que com essa vitória, Jack Miller talvez consiga a confiança necessária para entrar na briga pelo título. 

sábado, 1 de maio de 2021

Quando ninguém esperava...

 


Antes da classificação desse sábado, pensava como a chegada de Max Verstappen como rival verdadeiro pelo título tinha feito Lewis Hamilton subir finalmente o sarrafo e mostrar ainda mais do seu talento. Afinal, derrotar Bottas não fazia Lewis usar a totalidade do seu potencial e nas duas primeiras corridas o nórdico esteve à léguas do seu companheiro de equipe. Porém, o escorregadio circuito de Portimão fez com que Bottas surgisse do nada e tirasse a centésima pole de Hamilton na F1, num dia em que a Red Bull não se mostrou no mesmo nível das corridas anteriores.

Além de Bottas, outros pilotos começavam a ser questionados e continuarão a se-lo pelos resultados de agora em Portugal. Contratado como estrela da McLaren, Daniel Ricciardo vem se mostrando uma enorme desilusão e nesse sábado o simpático australiano ficou de fora de Q2, um segundo mais lento do que Lando Norris. Desolado, Ricciardo foi flagrado sentado num canto do boxe da McLaren, como querendo entender um desempenho tão ruim. Algo que Fernando Alonso já começa a querer entender também. Pela segunda corrida consecutiva o espanhol da Alpine tomou tempo de Ocon, sendo que hoje foram nada mais, nada menos do que oito décimos. Prestes a chegar na barreira dos 40 anos, os reflexos já não são os mesmos e somado aos dois anos fora da F1 pode estar afetando o desempenho de Alonso, sem contar seu humor. Em entrevista à Mariana Becker, foi mal educado nas respostas. E sejamos justos. Quinzena passada Nikita Mazepin fora tão babaca quanto e malharam muito mais o russo do que Alonso. O pau que bate em Francisco, deveria bater no Chico também...

Já Vettel deu sinais de vida e após longo e tenebroso inverno o alemão conseguiu vaga no Q3, enquanto o péssimo Lance Stroll não passou do Q1. Outro destaque positivo vai para George Russell, que por centésimos não foi para o Q3, mas garantindo com a 11º posição seu melhor lugar no grid em sua carreira. Na briga pela pole, a Red Bull nunca pareceu estar no páreo contra a Mercedes, que conseguiu o melhor tempo do final de semana no Q2 com os pneus médios. Max Verstappen sentiu o golpe e como seu antigo companheiro de equipe Ricciardo, ficou sentado um tempo, tentando digerir a superioridade da Mercedes em Portimão. Menos mal para Max que o pole ficou com Bottas, mas os últimos anos mostraram que Valtteri raramente repete o ritmo de sábado no domingo, com Hamilton normalmente subindo para primeiro em algum momento da corrida rumo à vitória. A F1 torce para que o visto em Portimão não se torne um novo normal. Ou nesse caso, um velho normal.