segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Figura(BAH): Halo

 Quando o Halo foi instalado nos carros da F1 em 2018, não faltaram quem torcesse o nariz por causa da marmota. Por mais que seja um aparato de segurança, que foi trazido por causa de péssimas experiências anteriores (a morte de Bianchi em Suzuka/2014 e o incidente que matou Justin Wilson na Indy em 2016), esteticamente o Halo esteve longe de agradar. Pilotos, dirigentes e fãs reprovaram o aparato, porém, aqui e ali o Halo se mostrava útil para evitar que um acidente mais sério tivessem consequências piores para os pilotos envolvidos. Então Romain Grosjean ganhou uma nova data de nascimento nesse domingo, quando seu carro entrou feito um foguete rumo ao guard-rail em Sakhir. Com um impacto de 53G, Grosjean causou um enorme buraco no rail e viu seu carro explodir. Em imagens que tão cedo sairão das retinas dos que acompanham a F1, Grosjean conseguiu sair do inferno que se formou ao seu redor e se recupera num hospital militar com queimaduras nas mãos. Quando o fogo foi extinto, ficou claro que o Halo salvou literalmente sua primeira vida. Sem a peça, a cabeça de Grosjean estaria totalmente exposta e muito provavelmente estaríamos lamentando mais uma morte na F1. Mesmo os que criticaram o Halo (como eu) tem que dar o braço a torcer e dar Graças a Deus que o equipamento, que tanto fere nossos olhos, não causou ferimentos fatais em Grosjean.

Figurão(BAH): Ferrari

 Em uma corrida marcante pelos motivos errados, não faltaram candidatos a estar nessa posição (Bottas, Kvyat, o próprio Grosjean em que uma manobra maluca sua quase lhe custou a vida), porém, vamos mais do mesmo. A Ferrari vinha em franca recuperação nas últimas corridas, incluindo um pódio com Vettel na prova anterior, na Turquia. Contudo, os ventos do deserto barenita não fizeram muito bem à trupe de Mattia Binotto e a Ferrari teve outro final de semana horroroso em 2020. Na classificação os dois carros ficaram por muito pouco de fora do Q3, indicando que na corrida as coisas poderiam ser melhores, contudo, o ritmo de corrida da Ferrari foi muito abaixo do esperado. Vettel relargou com pneus duros e chegou a ser ultrapassado pela Haas de Kevin Magnussen, enquanto Leclerc, que fizera uma boa largada, era ultrapassado por quem lhe aparecia na traseira. No final, Leclerc só conseguiu um pontinho pelo abandono tardio de Sergio Pérez, enquanto Vettel esteve longe da zona de pontuação as 57 voltas da corrida. Foi outro final de semana ruim da Ferrari em 2020, mas nada que esteja ruim pode piorar. Na largada, Vettel reclamou acidamente de uma manobra de Leclerc, até mesmo insinuando que deveria ter provocado um acidente (mais um...) entre eles. Contando com o pior motor da atualidade, a Ferrari terá um enorme desafio na próxima corrida no próprio circuito de Sakhir, quando a corrida será no veloz anel externo da pista, onde a velocidade de ponta será essencial. Velocidade essa que o motor Ferrari não tem, além de ter harmonia nenhuma com seus pilotos.

domingo, 29 de novembro de 2020

Estado de choque

 


A cara que as pessoas da F1 faziam enquanto os replays do incrível acidente de Romain Grosjean era mostrado nos telões no Bahrein dizia tudo. Susto. Horror. Choque. Particularmente o acidente de Grosjean foi o mais impressionante que eu já assisti ao vivo na F1. Hoje poderia ter chovido canivete durante a prova, mas o que ficará para sempre da corrida desse domingo foi como Romain Grosjean terá duas datas de nascimento a partir de hoje. A primeira em 17 de abril de 1986 e a segunda no dia 29 de novembro de 2020.


Há de ser dito uma coisa. Mais uma vez Grosjean se meteu num forte acidente por causa de uma trapalhada sua, quando jogou seu carro para direita como se estivesse sozinho na pista e acabou tocado pela Alpha Tauri de Daniil Kvyat. O que se viu depois nos remeteu à tempos nada saudosos de uma F1 extremamente mortífera. Grosjean foi reto rumo ao guard-rail num ângulo ingrato e com pouco espaço de desaceleração. O Haas do francês não transcorreu mais do que cem metros antes de se desintegrar no guard-rail, separando o carro em dois e praticamente detonando uma explosão, quando o tanque de combustível explodiu em chamas. Na transmissão ao vivo, dava para perceber o tamanho do acidente, mas poucos segundos depois apareceu uma imagem de Romain Grosjean assustadíssimo dentro do carro-médico. Tudo parecia menos horrível, quando a transmissão da TV resolveu passar os replays. E foi assustador.


O carro de Grosjean passou debaixo do guard-rail, destruindo o aparato. Grosjean sofreu um impacto de 53G e ficou exatos 27s dentro de um enorme fogaréu. Os pneus dianteiros voaram longe, por sorte não atingindo ninguém. O motorista do carro médico, o ex-piloto Alan van der Merwe, correu para o fogo, junto com dois fiscais portando dois insuficientes extintores para tamanho fogo. Em meio ao cockpit em chamas e irreconhecível dentro do buraco do guard-rail, Grosjean conseguiu sair do carro por si só e ajudado por um corajoso Van der Merwe, pulou sobre o guard-rail e rumo à segurança, mas com o macacão e o capacete tostados, com a sapatilha esquerda perdida e abanando as mãos, que foram queimadas. Apagado o incêndio, era assustador o que tinha sobrado do cockpit de Grosjean, emaranhado entre um enorme furo no guard-rail. Milagrosamente Grosjean não desfaleceu no momento do acidente e teve um grande aliado: o tão criticado Halo. Sim, o criticado Halo ajudou que, ao entrar debaixo do guard-rail, a cabeça de Grosjean não tivesse sido atingida, como acontecera tragicamente em Watkins Glen com Cevert e Koinigg.

Levado imediatamente de helicóptero para um hospital maior em Manama, o que se sabe até o momento é que Grosjean teve queimaduras nas mãos e tornozelos, além de uma possível fratura nas costelas. Muito, muito pouco pela magnitude do acidente.


Com o guard-rail retirado e colocado um muro no local, a corrida recomeçou uma hora e meia depois para Van der Merwe ser protagonista de outro resgate, quando Stroll capotou logo após a relargada. Talvez nunca Van der Merwe tenha trabalhado tanto numa corrida na F1, que teve domínio total e irrestrito de Lewis Hamilton, que fez outro sunday drive em 2020. Bottas, que havia largado mal na primeira tentativa, teve um pneu furado e fez outra corrida medíocre, onde só terminou em oitavo. Verstappen tentou fazer frente à Hamilton em alguns momentos, mas simplesmente não era possível com o material em mãos e ele teve que se conformar com o segundo lugar. Sergio Pérez fazia uma corrida sólida rumo a mais um pódio, mas seu motor Mercedes lhe deixou nas mãos faltando poucas voltas. Um golpe duro no mexicano, que saiu do carro inconsolado, enquanto nos boxes, o chefe Otmar Szafnauer parecia chorar no pit-wall com tamanha chance desperdiçada, além de ter visto a McLaren encostar na Racing Point no Mundial de Construtores. Com isso, o ameaçado Alexander Albon subiu ao pódio pela segunda vez na temporada, mas o tailandês esteve bem longe de brilhar, pois mesmo com um carro superior, esteve longe de fustigar Pérez durante a prova. Norris foi quarto, seguido por Sainz, que fez ótima corrida de recuperação, superando Gasly nas últimas voltas. A Ferrari teve outra corrida horrorosa esse ano, com Vettel chegando a ser ultrapassado pela outra Haas de Magnussen e terminando fora dos pontos. Leclerc ainda marcou um pontinho, mas foi alvo de críticas fortes de Vettel ao final da primeira volta, devido à alguns movimentos do monegasco. Não bastasse o carro ruim de 2020, o ausente Binotto ainda tem dois pilotos que não se entendem...


A corrida em si não teve muita história, mas para sempre esse Grande Prêmio do Bahrein será lembrado por toda a F1. Mesmo com toda a segurança que a categoria passou a investir em todos esses anos, pela primeira vez em muito tempo a categoria viu um acidente dramático com fogo e uma quase tragédia, onde por muito pouco, após quase 27 anos, veríamos um piloto morrer ao vivo (Bianchi morreu nove meses depois do seu trágico acidente). Para os que criticam a F1 atual de que nada acontece com os pilotos em acidentes, essa pancada de Romain Grosjean é uma prova de que o automobilismo é, sim, um esporte muito perigoso.

sábado, 28 de novembro de 2020

Mais do mesmo

 


A forma contida como os mecânicos da Mercedes comemoraram mais uma pole é apenas outro indicador de como a equipe germânica domina essa temporada, principalmente com Lewis Hamilton, que completou sua pole de número 98. Um número incrível e que nunca deverá ser desprezado, mas que conta com a valiosa ajuda de uma equipe já histórica ao seu lado.

A classificação de hoje no Bahrein foi bem habitual, sem maiores dramas ou grandes surpresas. George Russell vai mostrando que a Williams está pequena demais para ele e desde que entrou na F1, o inglês está invicto nos grids. Ok, até o momento Russell não enfrentou nenhum virtuose ou alguém 100% fisicamente, mas o piloto da Williams vai fazendo um belo trabalho com um carro nitidamente ruim. Outro ponto é que está cada vez mais difícil defender Albon. O tailandês bateu forte ontem e hoje tomou mais de meio segundo de Verstappen, mesmo ficando no P4, no entanto, olhando os tempos da classificação, Albon está mais para o pelotão intermediário do que um cara que esteja próximo de ajudar Verstappen em sua inglória luta contra a dupla da Mercedes. Sergio Pérez marcou uma coletiva para essa segunda. Se o mexicano não anunciar sua aposentadoria, pode ser que seu caminho seja a Red Bull, que também negocia com Hulkenberg.

A prova no Bahrein que estamos esperando é da próxima semana, quando a F1 correrá no anel externo da pista barenita, podendo nos proporcionar uma corrida bem diferente do que a F1 está acostumada, com tempos de volta abaixo de um minuto e briga por vácuo. Até lá, vamos ver se Verstappen terá condição de fazer frente às Mercedes em ritmo de corrida. Algo bem familiar em 2020.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Don Diego

 


Ao final de Copa do Mundo de 1990, convivendo com um sério problema de saúde, havia um inimigo número um para mim: Diego Maradona. Fora ele quem havia derrubado o Brasil com um toque sutil para Caniggia marcar o gol da desclassificação brasileira. Passei a detestar Maradona. Sorte minha que por pouco tempo. O argentino era um ícone mundial e havia um magnetismo em Maradona. Porém, a pior parte da vida de Maradona veio à tona logo depois quando os problemas com as drogas se tornaram públicas e Diego foi suspenso. Veio a Copa de 1994 e Maradona reapareceu no mundo com sua categoria para ajudar a alviceleste. Já restabelecido e com 12 anos, até curti o ressurgimento de Maradona e seu famoso gol contra a Grécia, gritando para a câmera, quase a engolindo. Então veio outro doping e a carreira de Maradona parecia terminada. Terminada? Voltando ao antigo amor, Maradona foi ao Boca Juniors e como tinha o privilégio de ter TV por assinatura, assisti a muitos dos seus jogos finais pelo Campeonato Argentino.

A carreira de Maradona terminou, mas ele nunca deixou as manchetes. Os abusos em sua vida ficavam mais evidentes com sua obesidade e sua quase morte nos anos 2000. Mais uma vez sobrevivendo, Maradona se tornou uma figura folclórica com suas tiradas malucas. O via apenas como uma pessoa doente, de passado glorioso. Achava graça da igreja Maradoniana. Diego se tornou técnico da seleção argentina e as coisas passaram ainda mais loucas, com Maradona estragando uma oportunidade de uma ótima geração que nunca foi campeã, onde fez uma Copa de 2010 completamente errática e tomando de quatro da Alemanha.

O tempo fez com que os anos gloriosos de Diego Armando Maradona ficassem cada vez mais para trás. Como Pelé, havia o Maradona pessoa e o personagem. O Maradona-pessoa parecia bizarro, confuso pelos excessos. Já o Maradona-personagem ainda aparecia com suas incríveis apresentações vistas através do YouTube pelo Napoli e pela seleção da Argentina, principalmente na mítica Copa do Mundo de 1986. Nesse 25 de novembro de 2020, os excessos da pessoa Diego Maradona cobrou seu preço e o argentino faleceu quando mal completara 60 anos. O personagem Diego Maradona será eterno. 

domingo, 22 de novembro de 2020

Festa portuguesa, com certeza!

 


Na Áustria, a vitória de Miguel Oliveira aconteceu mais pelo o que se sucedeu a frente do português, com Mir e Miller brigando na última curva e Miguel se aproveitando para vencer. Hoje não foi assim. Correndo em casa no magnífico circuito de Portimão, o piloto da KTM teve um final de semana majestoso, onde foi muito rápido nos treinos livres, conseguiu a pole e venceu de ponta a ponta, numa corrida absoluta rumo à uma vitória consagradora, tornando Miguel Oliveira em mais um piloto a ser observado na MotoGP no futuro.

A última etapa do Mundial de Motovelocidade teve como destaque o belo circuito lusitano, localizado no Algarve. Se a F1 tinha fica impressionada com o traçado exigente, técnico e emocionante de Portimão, com as motos a sensação de espetaculosidade foi aumentada com as fortes descidas proporcionando belas imagens, com as motos quase saindo do chão. Para coroar essa festa portuguesa, que infelizmente não teve ninguém nas arquibancadas, Miguel Oliveira foi imperial em todo o final de semana. O piloto da KTM usou o fator casa para dar um show em Portimão. Oliveira não deu quaisquer chances aos rivais e seu ritmo no início da corrida era tão forte que parecia que ele poderia até ficar sem pneus no fim, mas Miguel administrou a prova muito bem e conseguiu sua segunda vitória no ano com extrema tranquilidade e qualidade. A briga pela segunda posição foi exclusiva de Jack Miller e Franco Morbidelli, com vantagem para o australiano na última volta, contudo, Morbidelli não teve do que reclamar, pois com esse resultado garantiu o vice-campeonato, contando com as péssimas corridas dos seus adversários, como Rins e Quartararo, fora até mesmo do top-10. Já o campeão Mir abandonou quando andava nas última posições.

Como toda corrida derradeira, houveram algumas despedidas. Cal Cruthlow se aposentou das corridas para se tornar piloto de testes da Yamaha, enquanto Andrea Doviziozo saiu da Ducati e sem contrato para 2021, pode estar saindo da MotoGP também. Valentino Rossi ganhou um mural de despedida da equipe oficial da Yamaha, que mais uma vez andou muito mal, tanto que Rossi foi apenas 15º no mundial. Quartararo teve outra corrida para esquecer, ficando muito atrás do seu companheiro de equipe Morbidelli. O segundo lugar de Miller deu à Ducati o título de construtores, porém, não foram apenas os italianos que garantiram título hoje. Nas categorias menores tivemos novos campeões. E com emoção! Albert Arenas foi apenas 12º na Moto3 para se sagrar campeão, enquanto Enea Bastianini subirá à MotoGP como campeão da Moto2 de forma apertada, superando Luca Marini por apenas nove pontos, com o seu quinto lugar logrado hoje. Arenas e Bastianini flertaram algumas vezes com a derrota durante a corrida, mas na bandeirada acabaram consagrados.

E assim termina mais uma temporada do Mundial de Motovelocidade, que foi basicamente europeu por causa dessa histórica pandemia. Foi um campeonato atípico em todas as categorias, onde tirando Arenas, Joan Mir e Enea Bastianini estavam longe de serem favoritos ao título de 2020 quando o ano começou. Porém, Arenas, Bastianini e Mir mereceram seus títulos e são campeões dignos. Que venha 2021! 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Figura(TUR): Lewis Hamilton

 Se tivesse conquistado o histórico heptacampeonato com uma quarta posição, Lewis Hamilton também estaria nessa parte da coluna. Porém, para um piloto como Hamilton, conquistar algo tão significativo não seria o mesmo com uma corrida qualquer. Lewis deu um verdadeiro show em condições adversas e que em nenhum momento parecia que venceria. O traiçoeiro novo asfalto do belo circuito de Istambul fez do final de semana da volta do GP da Turquia uma verdadeira loteria, que foi aumentada pela chuva. Com uma pista já naturalmente escorregadia, o piso molhado transformou o circuito de Kurtkoy num rinque de patinação. No sábado, Hamilton fora apenas sexto, longe do surpreendente pole Stroll. No domingo chuvoso, Hamilton fazia uma corrida tranquila, até mesmo porque o ocupante da outra parte da coluna passava vergonha mais atrás. O título era questão de minutos. No entanto o Hamilton não se conformou e passou a planejar arrancar uma vitória mesmo chegando a estar mais de 20s atrás do líder. Preso atrás de Vettel, Hamilton tirou o pé para preservar os seus pneus intermediários. Quando Vettel foi para os boxes para uma segunda parada, Lewis já tinha na alça de mira o então líder Sergio Pérez, facilmente ultrapassado pelo inglês. No entanto, ainda havia muita corrida pela frente e a pista secava. Os pneus intermediários, não projetados para durarem tanto, estavam desgastados, mas Hamilton despachou o mexicano. Hamilton pensou em tudo, em experiências ruins anteriores e usando esse handicap, conseguiu uma vitória histórica que lhe deu um incrível e merecido sétimo título. Muitas vezes apenas a velocidade de Hamilton fora o suficiente para derrotar seus rivais, mas nesse domingo Lewis mostrou o quão completo está hoje em dia. Hamilton foi sábio, paciente e tático, sem deixar de usar seu incrível talento para vencer ontem. Senhores, estamos vendo um gênio das pistas e não curtir isso chega a ser um pecado contra o automobilismo.

Figurão(TUR): Valtteri Bottas

 Seis rodadas durante a prova e uma décima quinta posição na bandeirada, enquanto que o mesmo carro, seu companheiro de equipe fazia uma corrida épica rumo à vitória, ao título e à glória. Nesse domingo Valtteri Bottas demonstrou toda a diferença entre um piloto bom e comum como ele e um supercampeão. Para piorar, depois de uma corrida horrorosa e tomar, até o momento, cem pontos de Hamilton no campeonato, Bottas parabenizou o inglês pelo feito e disse que em 2021 brigaria pelo título com Lewis. Detalhe: Hamilton colocou uma volta em Bottas. Bottas lutando contra Hamilton pelo título em 2021? Sei...

domingo, 15 de novembro de 2020

Suave na nave Mir

 


Horas depois da conquista de Lewis Hamilton na F1, a MotoGP consagrava seu campeão, porém, um campeão bem diferente do inglês da Mercedes. Se alguém levantar o dedo e dizer que em fevereiro apostava em Joan Mir como campeão da MotoGP em 2020, pode jogar na Mega Sena. O jovem piloto espanhol nem era considerado o primeiro piloto de sua equipe, já que Alex Rins tinha mais experiência e estrada na Suzuki, que com muita boa vontade, poderia ser chamada de terceira força da MotoGP. 

Porém, no esporte muita coisa pode acontecer durante um ano, mesmo com uma pandemia no meio. Logo na primeira corrida do ano, o histórico Marc Márquez vinha tentando se recuperar de uma saída de pista em Jerez e já estava em terceiro quando caiu de sua moto e na queda, foi atingido em cheio pela sua Honda. Braço direito quebrado e cirurgia ainda naquela semana. Márquez tentou uma miraculosa volta, mas estava claro que o problema era mais sério. O espanhol estava fora da temporada. Não faltavam candidatos ao trono vago e um piloto se destacava. Fabio Quartararo surpreendeu a todos com uma temporada de estreia impressionante em 2019, demonstrando um talento que poucos notaram na Moto2 e Moto3. O francês conseguia duas vitórias dominantes em Jerez e se garantia como favorito ao título, porém, ainda havia a raposa felpuda Andrea Doviziozo, que venceu na Áustria e dava mostras que, sem Márquez, poderia finalmente vencer o título. No entanto, um clima ruim dentro da Ducati acabou com a temporada de Dovi, que anunciou que não segue com a Ducati em 2021 e pode até mesmo se aposentar. Depois disso, Doviziozo sequer lutou por mais uma vitória.

Quartararo não parecia se entender com a delicada Yamaha, o mesmo acontecendo com Maverick Viñales, que numa hora lutava pela vitória, na outra, mal conseguia um lugar no top-10. Houveram novos vencedores além de Quartararo, como Brad Binder, Miguel Oliveira e Franco Morbidelli, então segundo piloto de Quartararo. A subida da KTM escondia uma moto muito forte no pelotão. A Suzuki era uma moto equilibrada e muito forte nas segundas metades das corridas. Com experiência e já contando com vitórias na MotoGP, Alex Rins era o primeiro piloto da equipe, mas uma forte queda na primeira corrida fez com que o espanhol perdesse o bom momento da Suzuki. Enquanto isso, Joan Mir fazia um trabalho de formiguinha, conseguindo boas posições, que logo se tornaram pódios. A vitória lhe escapou na Áustria, quando foi ultrapassado na última volta por Oliveira. A falta de consistência dos rivais foi usado por Mir com uma vacina certeira e inversa dos rivais. Mir era constante, nunca se envolvendo em acidentes e problemas. Enquanto Quartararo e Doviziozo caíam pelas tabelas por causa dos seus problemas, Mir ia subindo, mas havia uma questão: ele seria um campeão sem vitória?

O espanhol deu a resposta em Valencia na semana passada, com uma vitória cirúrgica e uma vantagem gigante sobre os rivais no campeonato. Na penúltima etapa do ano, Mir nem precisava vencer para assegurar um título inacreditável, quando se olha seis meses para atrás. Apesar de dizer que não estava pressionado, era nítido que Mir se resguardou o tempo todo. Discreto nos treinos, Mir se aproveitou que seus rivais não fizeram muito melhor do que ele. Franco Morbidelli, em pela ascensão nessa metade final de temporada, entrava na briga pelo título e fez sua parte, com pole e vitória hoje, inclusive derrotando Jack Miller numa bela luta na volta final em Valencia.

Quando viu Quartararo cair mais uma vez, Mir se resguardou ainda mais. Mesmo com Morbidelli dominando na frente, Rins estava logo à frente do espanhol e Viñales fazia outra corrida safada, fora do top-10. Mir ultrapassou Aleix Espargaró para se estabelecer em oitavo, que virou sétimo com a queda de Nakagami. Correndo com o regulamento debaixo do braço, os nove pontos foram mais do que suficientes para que Joan Mir conseguir seu primeiro título na MotoGP. Depois de exatos vinte anos, a Suzuki voltou a vencer na MotoGP e Mir se igualou à lendas como Barry Sheene, Franco Uncini, Marco Lucchinelli, Kevin Schwantz e Kenny Roberts Jr para vencer com a Suzuki.

Com apenas 23 anos de idade, Joan Mir se tornou mais um espanhol a vencer na MotoGP, seguindo os rastros de Alex Crivillé, Jorge Lorenzo e Marc Márquez. Claro que houveram muitas circunstâncias que possibilitaram o título de Mir esse ano, mas não se pode tirar o mérito do piloto da Suzuki, porém, a real prova para Mir acontecerá em 2021, quando deverá ocorrer a volta de Márquez, além do crescimento de Rins e Morbidelli, muito fortes na reta final do campeonato, além do possível amadurecimento de Quartararo, que irá para a equipe de fábrica da Yamaha. Até lá, Joan Mir curtirá esse seu ano de sonho, quando praticamente saiu do anonimato rumo ao título mundial da MotoGP.

Escorregando para a glória

 


Um título tão importante não poderia ser conquistado com um quarto ou sexto lugar. Teria que vir com uma vitória com V maiúsculo. Lewis Hamilton se sagrou heptacampeão com uma vitória consagradora nessa manhã em Istambul, onde usou todo o seu vasto repertório para derrotar as intempéries de uma pista extremamente escorregadia pela chuva e pelo asfalto ainda não totalmente pronto em Istambul Park. Hamilton foi paciente, cuidou dos pneus, se resguardou, atacou quando podia, imprimiu um ritmo de corrida aceitável dentro do limite da pista, do carro e principalmente dos pneus. Mais uma vitória de Hamilton em 2020? Sim, mas dessa vez uma vitória especial, merecedora de transformar Lewis Carl Davidson Hamilton no maior campeão da história da F1, ao lado de Michael Schumacher.


A volta do mítico circuito de Istambul Park para a F1 foi bastante comemorada por todos que seguem a categoria, mas bastou algumas voltas no belo traçado turco para que a comemoração acabasse. Um recapeamento de última hora transformou a pista num verdadeiro sabão, mesmo com pista seca. Na sexta à noite, a organização alugou carros para ficar andando na pista, tentando colocar alguma borracha no asfalto que seja. E se chovesse? No sábado Lance Stroll já havia surpreendido quando a pista estava molhada, mas a chuva tornou a aparecer no domingo, prometendo uma corrida caótica e divertida. Felizmente, apenas a segunda parte se confirmou. Claro que houveram muitas rodadas, mas apenas um SC virtual apareceu e os abandonos ocorridos foram por problemas mecânicos. Numa situação difícil, os pilotos se comportaram muito bem hoje e deram um belo espetáculo. Lance Stroll largou muito bem de sua primeira pole e rapidamente disparou na frente, seguido de perto do companheiro de equipe Sergio Pérez. Tínhamos que admitir: o canadense estava muito bem nos primeiros dois terços da prova. Porém, um bom piloto também se caracteriza por saber se adaptar às condições. Enquanto a pista esteve escorregadia ao extremo, Stroll foi absoluto na corrida, porém, quando o asfalto começou a secar, o piloto da Racing Point perdeu completamente a mão. Stroll só não foi ultrapassado por Pérez porque foi chamado aos boxes antes para colocar pneus intermediários novos, contudo, depois da sua segunda parada Stroll caiu pelotão abaixo, não repetindo a boa prova no começo.


Ao contrário do companheiro de equipe, Pérez, sem muito a perder e sem emprego para 2021 também, ficou na pista com os pneus intermediários, mas já vinha acossado por Max Verstappen, talvez o grande favorito antes da largada. O neerlandês da Red Bull largou pessimamente saindo de segundo e ficou muito tempo atrás de Sebastian Vettel, que ao contrário de Max, largara de forma soberba. Verstappen foi um dos últimos a colocar os pneus intermediários e saiu na frente de Vettel, indo para cima de Pérez, mas acabou rodando quando atacou o mexicano, praticamente acabando com suas chances de vitória naquele momento. Faltando vinte voltas para o fim, Hamilton estava meio conformado em garantir o título sem vitória. Valtteri Bottas, seu único concorrente, fazia uma corrida medonha! O finlandês rodou na primeira curva, bateu em Ocon algumas curvas depois e rodou inúmeras vezes. Porém, para um supercampeão como Hamilton, garantir um título tão especial como o sétimo não seria perfeito sem uma exibição de gala. Preso atrás de Vettel, Hamilton se distanciou um pouco do alemão para resguardar seus pneus intermediários e quanto a Ferrari chamou Seb para uma segunda parada, Lewis já estava em posição de ataque em cima de Pérez. Facilmente Hamilton ultrapassou o mexicano e mesmo com pneus desgastados, imprimiu um ritmo seguro que o colocou até em posição de parar sem perder a ponta para Pérez. Com 256 largadas no lombo, Hamilton tem a experiência necessária para pensar em tudo. Enquanto guiava o fino, Hamilton falou sobre o tempo, lembrou de sua sofrida vitória em Silverstone com três rodas e até da triste lembrança de Xangai em 2007, quando perdeu o título na entrada dos pits. Cada vez mais consciente, Hamilton levou seu carro na maciota, colocando volta num horroroso Bottas, meio que para mostrar que por melhor que a Mercedes seja, o piloto ainda faz muita diferença. Lewis Hamilton levou a bandeirada e logo depois desabou em lágrimas de felicidade. O inglês sabia que estava fazendo história e por isso lembrou das dificuldades que teve no começo de sua vida, do sacrifício do pai e dele mesmo para chegar aonde havia chegado. 


Mais atrás uma briga encarniçada pelo segundo lugar terminava com Pérez conseguindo segurar a posição e Vettel se aproveitar do afobamento de Leclerc para conseguir seu primeiro pódio em um ano, além do melhor resultado da Ferrari em 2020. Sainz saiu do pelotão intermediário para ser um sólido sexto lugar, à frente dos dois carros da Red Bull. Em certo momento da prova, parecia que Albon calaria seus críticos. O tailandês era o piloto mais rápido da pista e alcançava a dupla da Racing Point no que poderia ser uma vitória consagradora. Porém, Albon destruiu seus pneus no processo, teve que fazer uma segunda parada e ainda rodou sozinho. Está difícil defender Albon e o segundo lugar de Pérez faz com que o mexicano esteja pedindo energético com tequila uma hora dessas.


Vettel fez sua melhor corrida nos últimos tempos, conseguindo um ritmo muito forte a ponto de se segurar à frente de Hamilton e Verstappen por longas voltas sem muito sofrimento. Mesmo ultrapassado por Leclerc, manteve-se próximo do monegasco e contou com o açodamento de Leclerc para conseguir o lugar no pódio e ser um dos primeiros a congratular Hamilton pelo enorme feito conseguido hoje. 



Sete títulos. Quando comecei a acompanhar F1 no final dos anos 1980, os cinco títulos de Fangio pareciam imbatíveis, mas veio Schumacher para destruir esse recorde. O alemão parecia que tinha reunido tudo o necessário para destroçar a concorrência, porém, isso não se repetiria. Só que surgiu Lewis Hamilton. Do piloto de uma talento gigantesco, mas com claros problemas de cabeça, Hamilton foi evoluindo na F1. Conseguiu um título de forma precoce, saiu de sua zona de conforto na McLaren para aceitar o desafio da Mercedes. Parecia loucura na época, mas Toto Wolff e Niki Lauda estavam construindo uma equipe tão forte como a construída por Jean Todt e Michael Schumacher anos antes. E Hamilton seria parte essencial desse processo. Ele sofreu um pouco, aprendeu ao lado do ex-amigo Nico Rosberg e se tornou o piloto completo de hoje, além de perceber o seu tamanho para se tornar um cidadão melhor. Podemos apontar esse ou aquele senão dos números superlativos de Hamilton, mas ninguém poderá negar que o inglês está entre os gigantes do esporte. 

domingo, 8 de novembro de 2020

Consagrando a família


Na longa história da Nascar, apenas duas famílias tiveram como campeões pai e filho. E são duas famílias famosas. Lee Petty e o grande Richard Petty, além de Ned Jarrett e Dale Jarrett eram os únicos campeões de diferentes gerações. Até hoje. Chase Elliott conseguiu uma vitória convincente em Phoenix nesse começo de noite e igualou ao seu pai Bill, vencedor da categoria principal da Nascar em 1988.

Foi uma corrida onde os quatro contendores lideraram e ocuparam praticamente o tempo todo o top-5 da prova final, com uma ou outra exceção. Nessa bizarra forma de definir seu campeão, a Nascar conseguiu a proeza de alijar da disputa Kevin Harvick, dono de nove vitórias do longo do ano, mas após duas corridas problemáticas, se viu sem chances de título na última etapa da Cup. Algo totalmente surreal, mas isso em nada macula o título de Elliott.

O piloto da Hendrick teve um dia árduo e que não começou da melhor maneira. Enquanto seus três rivais, Joey Logano, Brad Keselowski e Denny Hamlin largavam nas duas primeiras filas, Elliott teve seu carro reprovado em duas inspeções, fazendo-o largar de 38º. Nunca alguém havia vencido largando tão atrás em Phoenix, mas a forma como Chase estava determinado ficou clara quando chegou ao top-10 em trinta voltas. Quando chegou ao pelotão da frente, Elliott teve que lhe dar com a dupla da Penske e Hamlin, porém, se Logano e Keselowki ocuparam ao menos uma vez a ponta da corrida, Hamlin não ficou nessa posição em momento nenhum e mesmo que lutando entre os quatro primeiros, parecia o que tinha menos condições de vencer. Com sete vitórias, mais uma vez Hamlin nadou e morreu na praia, aumentando sua fama de amarelão.

Chase chegou a perder a ponta na última parada, mas ultrapassou Logano faltando pouco menos de quarenta voltas e liderou até o fim. Era até esperado (inclusive por Elliott) uma bandeira amarela 'por detritos', mas ela não veio e mesmo com Keselowski aparecendo forte no final, Chase manteve a vantagem em 3s para entrar para a história da Nascar e colocar o nome Elliott entre os grandes da categoria.

Outro destaque foi a corrida de despedida da lenda Jimmie Johnson, companheiro de equipe de Elliott. Aos 45 anos de idade, Johnson não vence na Nascar desde 2017 e estava falhando em chegar até mesmo aos play-offs, sistema que se consagrou e venceu todos os seus sete títulos. Percebendo que seu tempo na Nascar havia terminado, JJ fez uma temporada de despedida, recebeu várias homenagens e foi um brilhante quinto colocado, sem se meter na briga pelo título, mas saindo muito bem da Nascar rumo à Indy. Despedidas também de Matt Kenseth e Clint Bowyer.

Aos 24 anos de idade, Chase Elliott era mais conhecido como o filho do grande Bill Elliott, até hoje dono do recorde de volta mais rápida com um carro da Nascar. Muito jovem ele foi descoberto pela poderosa equipe Hendrick e foi lapidado, vencendo a Xfinity e subindo a Cup rapidamente. A primeira vitória demorou, mas quando veio Chase não parou mais, se tornando definitivamente um piloto de ponta da Nascar. Em sua primeira final, Elliott não se intimidou com a experiente dupla da Penske e fez uma tremenda corrida de recuperação, saindo de último para primeiro e segurar a pressão para se consagrar como o mais novo campeão da Nascar.

Tem alguma coisa errada


Um ano depois do campeonato Superbike Brasil ter sido interrompido por falta de segurança, a categoria viu a morte mais uma vez. Com apenas 22 anos de idade, Matheus Barbosa estava em quarto lugar quando perdeu o controle da sua moto na curva da Junção em Interlagos e foi reto. Mesmo com área de escape, Barbosa não teve a sua velocidade diminuída, bateu forte e de frente... num portão de ferro!

O jovem goiano não teve chance e morreu praticamente na hora. De 2015 para cá, são seis mortes em corridas de moto no Brasil, sendo cinco somente em Interlagos, também conhecida como 'Intermuros' para quem corre de moto. Tem alguma coisa errada em Interlagos, na escolha dos pilotos, na estrutura do campeonato ou em todas as opções anteriores. O fato é que há algo de muito errado no motociclismo de velocidade no Brasil.

Essas mortes recorrentes já passaram de limite do aceitável!

Quem poderia apostar?


Quando foi confirmada o gravidade da fratura de Marc Márquez, não faltaram candidatos ao título da complicada temporada 2020 da MotoGP, porém, pouquíssimos colocariam suas fichas no número 36. Joan Mir estreou de forma até surpreendente ano passado na MotoGP após apenas um ano na Moto2, vindo de um título na Moto3. O espanhol entraria logo na equipe oficial da Suzuki, ao lado do seu compatriota Alex Rins. No começo da temporada Fabio Quartararo parecia que substituiria Márquez como o dominador da MotoGP, mas o tempo mostrou que falta à Fabio a experiência e a paciência de um grande campeão. Se falta experiência à Mir, lhe sobra paciência. O piloto da Suzuki usou o bom trato dos pneus de sua moto para conseguir ótimos finais de corrida, galgando posições, inclusive com vários pódios seguidos. A vitória escapou na última curva na Áustria. Hoje, Mir agarrou a chance que teve e venceu pela primeira vez na MotoGP, dando um passo decisivo rumo ao título.

Com a corrida realizada com o inverno batendo na porta, Valencia recebeu uma corrida de certa forma morna nesse domingo, com os pilotos preocupados com a aderência e tendo muitas quedas. Logo na primeira volta uma queda já indicava o mau dia da Yamaha. Largando no pelotão intermediário, Quartararo caiu sozinho, junto com Aleix Espargaró, mas sem toques, lembrando a clássica queda sincronizada de Doohan e Chili no começo dos anos 1990. Com Viñales tendo que cumprir uma punição por usar o sexto motor e largando do pit-lane, o dia da Yamaha foi horroroso, onde Franco Morbidelli foi o melhor colocado, mas fora do top-10, enquanto Rossi abandonou quando estava numa decepcionante 14º posição, com problemas na moto. Como Viñales falou de forma dura, mas certeira, não é possível lutar pelo título com uma moto que oscila de desempenho dessa maneira.

Enquanto isso o pole Pol Espargaró não aguentou a pressão das duas Suzukis e foi ultrapassado pelos compatriotas nas primeiras voltas, porém, o piloto da KTM sempre ficou próximo. Rins liderou boa parte da corrida, mas Mir parecia estar apenas aguardando a chance de dar o bote certeiro, que veio no último terço da corrida. Sem dar chances ao azar, Joan Mir tratou de abrir uma vantagem administrável para conseguir a primeira vitória na MotoGP e a Suzuki conseguir sua primeira dobradinha em muitos anos. Para completar o dia da montadora de Hamamatsu, o segundo lugar de Rins o colocou na mesma posição no campeonato. Um domínio quase completo da Suzuki!

Com as Yamahas oscilando e tendo dois pilotos (Quartararo e Viñales) sem a força mental de um Marc Márquez, a Suzuki tem tudo para conquistar um título que não vê desde o ano 2000. A próxima corrida será já na próxima semana na mesma pista de Valencia, o que já é uma vantagem para a Suzuki, mas há outros ingredientes que podem ajudar ainda mais Mir. Com a temida segunda onda do Covid-19 já sendo uma realidade na Europa, a última etapa em Portimão estaria em risco e Jerez poderia receber uma terceira corrida ou até mesmo a prova ser cancelada. Com 37 pontos de vantagem, Mir tem boas chances de se tornar campeão já na próxima semana. Quem poderia apostar nisso?

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Figura(EMI): Toto Wolff

 A Mercedes teve nesse domingo mais uma exibição marcante, onde saiu de uma situação desfavorável rumo a mais uma dobradinha nessa temporada. Líder da equipe desde 2012, Toto Wolff conseguiu canalizar o melhor de uma equipe de elite formada por ele e Niki Lauda ao longo dos anos, transformando a Mercedes numa máquina de vitórias. Tirando o melhor dos seus subordinados, Wolff também entrosou a equipe a ponto da Mercedes ter hoje uma armadura contra erros que impressiona pelo fato de não dar nenhuma brecha aos seus rivais, seja eles quem forem, não importando sua força. Em Ímola a Mercedes garantiu o sétimo título consecutivo do Mundial de Construtores, um recorde absoluto da F1 e Wolff teve todos os méritos de manter a equipe unida, entrosada e focada em continuar ganhando depois de tantos anos, tendo uma mudança de regulamento no meio disso. Sem fazer nenhuma comparação histórica, já podemos incluir Toto Wolff na mesma prateleira dos gigantes chefes de equipe da história da F1, como Alfred Neubauer, Colin Chapman, Ken Tyrrell, Luca di Montezemolo, Frank Williams, Ron Dennis e Jean Todt.

Figurão(EMI): Helmut Marko

O experiente dirigente austríaco teve o olho clínico (sem ironias) para trazer à F1 pilotos do quilate de Sebastian Vettel (no auge, para deixar bem claro), Daniel Ricciardo e Max Verstappen. O programa de jovens pilotos da Red Bull parecia um sucesso e com uma fórmula certa, porém, Marko resolveu intensificar sua busca por novos pilotos jovens não os dando muito tempo para realmente se desenvolver. Imitando o modus operandi de Flavio Briatore, Marko pressionava ao máximo seus jovens pupilos, deixando-os muitas vezes em situações de extrema pressão. Pensando que a fonte de jovens pilotos nunca iria se esgotar, Marko passou a descartar esses pilotos a ponto da Red Bull estar sem maiores opções hoje em dia. Quando Ricciardo surpreendeu e saiu da Red Bull no final de 2018, Marko promoveu Pierre Gasly, que então tinha apenas uma temporada completa na F1. Foi um fiasco. O jovem francês foi esmagado por Verstappen e fazia corridas bem abaixo da crítica. Na então Toro Rosso, um tailandês que estava com o pé na F-E e era piloto do programa fazia uma boa temporada de estreia na F1. Da mesma forma como fez em 2016, Marko trocou de pilotos no meio da temporada, promovendo Albon para a Red Bull e Gasly indo para a Toro Rosso. Enquanto Gasly se desenvolveu num ambiente de menos pressão e hoje é um dos destaques do pelotão intermediário, Albon desaba a olhos vistos. O tailandês simplesmente não consegue andar no mesmo ritmo de Verstappen e Albon não vem marcando pontos para a Red Bull, como nesse domingo, quando rodou sozinho quando vinha em sexto. A situação de Albon colocou o programa comandado por Marko em check. A falta de paciência do austríaco não apenas queimou vários pilotos que se destacam em outras categorias (Buemi, Vergne), como deixou a Red Bull tendo apenas Max Verstappen para enfrentar todo o poderio da Mercedes. Com Gasly confirmado na Alpha Tauri em 2021 e Albon com um pé fora da Red Bull, encontrar o companheiro de equipe de Verstappen dentro do programa de jovens pilotos se tornou algo impossível para Marko, que já olha com bastante seriedade pilotos de fora do programa, tendo Sérgio Pérez como principal favorito. Contudo, se houvesse paciência com Gasly, ou até mesmo com Vergne, Buemi entre outros, dando tempo para eles se desenvolverem, faria com que a Red Bull tivesse fartura, não falta de pilotos para encaixar em suas equipes, mas Helmut Marko não pensou assim e a equipe hoje sofre com a situação criada pelo seu consultor. 

domingo, 1 de novembro de 2020

Em outro patamar

 


Novamente a Mercedes mostrou o porquê está entre as grandes equipes da história da F1. Mesmo com o furo de pneu de Max Verstappen, a corrida, que não começara promissora para a equipe chefiada por Toto Wolff, já estava no papo e a saída do neerlandês apenas confirmou a dobradinha que deu à Mercedes o sétimo título consecutivo do Mundial de Construtores, um recorde absoluto na F1. Usando duas estratégias diferentes, a Mercedes garantiu a vitória quando deixou Lewis Hamilton na pista por mais tempo e o inglês saiu na frente de um problemático Bottas e um combativo Verstappen para garantir a vitória de número 93 na F1, sua primeira em Ímola.


A corrida denominada de Emilio Romagna estava parecida com as provas em San Marino. Mesmo com a saída da variante baixa, o circuito de Ímola permaneceu estreito e sem pontos claros de ultrapassagem. Com os carros bastante largos e compridos, essa missão ficou ainda mais complicada, dando a sensação que apesar de um ótimo traçado, a pista de Ímola está defasada para a F1 atual. Mesmo com tudo isso, a Mercedes conseguiu mais dobradinha em 2020, mas não foi exatamente um passeio no parque. Bottas manteve a pole, mas Hamilton teve que lutar muito para ficar em terceiro, já que Verstappen quase que imediatamente tomou a segunda posição de Lewis. A partir daí foi uma briga à três, com os demais pilotos longe demais para fazer algo e dando mais motivos para a Red Bull lamentar não ter um segundo piloto de bom nível. Numa luta dois contra um, ficou fácil para a Mercedes mexer com sua tática e colocar Verstappen numa situação difícil. Bottas ficou boa parte da corrida com um pedaço de Ferrari pregado no seu difusor, tirando muito desempenho do nórdico e com isso, Verstappen se viu preso atrás de Valtteri. Contudo, a vantagem da Mercedes é tão grande que mesmo com esse problema, Bottas foi capaz de sair na frente de Max quando o piloto da Red Bull antecipou sua parada numa tentativa do famoso undercut. Vendo o que acontecia na sua frente, Hamilton pediu encarecidamente para ficar na pista. E destroçar o recorde da pista em Ímola de forma seguida, conseguindo uma ótima posição para não apenas ultrapassar Verstappen, como assumir a ponta da corrida. Contudo, como todo campeão precisa de sorte, um safety-car virtual provocado por Ocon fez com que Hamilton fizesse sua parada de forma ainda mais confortável para liderar a corrida até o fim.


Verstappen não se deu por vencido e se aproveitando de erros de Bottas, conseguiu uma bela e rara ultrapassagem sobre o finlandês, mas 13s atrás de Hamilton, tudo o que Max poderia fazer era mesmo separar as duas Mercedes. Contudo, um pneu traseiro furado estragou os sonhos da Red Bull. Para completar, Albon fazia outra corrida apagada e na relargada do SC provocado pelo seu companheiro de equipe, acabou rodando sozinho, jogando mais pontos pelo ralo. O planejamento da Red Bull de apostar em seu programa de jovens pilotos está em check novamente. A tática da Mercedes funcionou perfeitamente por que Verstappen não tinha nenhum apoio contra os dois carros da montadora tedesca. Apesar das críticas, Bottas consegue trazer bons pontos para a Mercedes e atrapalhar a estratégia alheia, como mostrado mais uma vez hoje. Albon é apenas mais uma vítima da falta de paciência de Helmut Marko com seus jovens pilotos. Nem todo jovem talento vai desabrochar rapidamente como Vettel, Verstappen ou Ricciardo, da mesma forma que podem ser descartados tão repentinamente, algo que vem acontecendo nos últimos anos na Red Bull e Albon poderá ser a próxima vítima. Percebendo o erro, a Red Bull está tendo mais cuidado com Gasly, o deixando mais um ano na Alpha Tauri, onde faz um ótimo trabalho. Além de procurar um piloto que possa realmente apoiar Max Verstappen na sua luta inglória contra a Mercedes. Sergio Pérez seria o grande favorito a essa vaga. Porém, parece sempre faltar ao mexicano um pouco mais de estrela. Com o abandono de Verstappen, Pérez estava bem próximo do seu primeiro pódio de 2020, mas a sua equipe errou na estratégia ao colocar pneus macios novos no carro de Sergio na entrada do SC. Pérez ganhou posições na relargada, mas foi basicamente impossível retornar à sua posição de origem, tendo que se conformar com o sexto lugar. Já Stroll bateu na primeira volta e como não poderia deixar de ser, cometeu uma 'strollada' ao quase atropelar um mecânico do time do seu pai.


Com o vacilo da Racing Point, Daniel Ricciardo conseguiu seu segundo pódio em três corridas, garantindo um ótimo quarto lugar no Mundial de Pilotos. O australiano teve que segurar a pressão de Daniil Kvyat, que estava com pneus macios e mais novos, mas Ricciardo se segurou sem maiores dramas. O russo foi quarto, mostrando que a Alpha Tauri estava com um carro bem acertado para Ímola, mas seu principal piloto, Gasly, abandonou ainda no começo da prova com problemas mecânicos, algo que atingiu também Ocon, que estava bem atrás de Ricciardo quando encostou seu Renault. Leclerc segurou um quinto lugar para a Ferrari no quintal de sua casa, mais uma vez andando acima do potencial do carro. Já Vettel fez outra corrida safada, onde ficou atrás de carros clientes da Ferrari, mas o alemão pode muito bem reclamar da Ferrari, que errou feio em seu pit-stop, perdendo 10s preciosos. Com os abandonos no final da corrida, a turma da Alfa Romeo conseguiu pontuar com seus dois pilotos, ficando logo atrás da dupla da McLaren, sendo que Sainz teve muita sorte em não acertar em cheio a Red Bull de Albon quando o tailandês rodou na sua frente. Contudo, o pior abandono do dia foi de George Russell. O inglês da Williams tinha chances totais de pontuar pela primeira vez na F1, mas um erro bisonho durante o período de SC acabou com o sonho de Russell, que ficou sentado e sem palavras após um erro tão elementar. Com Latifi em décimo primeiro, Russell com certeza pontuaria hoje. 


Apesar de todas as intempéries, a Mercedes conseguiu mais uma dobradinha hoje em Ímola. O time comandado por Toto Wolff sabe cobrir todas as pontas de um campeonato de uma corrida, não deixando quaisquer brechas para as suas rivais. São sete títulos consecutivos, algo que não pode ser ignorado. Toto Wolff já está no patamar de lendas como Jean Todt, Colin Chapman, Frank Williams e Ron Dennis.