domingo, 15 de novembro de 2020

Suave na nave Mir

 


Horas depois da conquista de Lewis Hamilton na F1, a MotoGP consagrava seu campeão, porém, um campeão bem diferente do inglês da Mercedes. Se alguém levantar o dedo e dizer que em fevereiro apostava em Joan Mir como campeão da MotoGP em 2020, pode jogar na Mega Sena. O jovem piloto espanhol nem era considerado o primeiro piloto de sua equipe, já que Alex Rins tinha mais experiência e estrada na Suzuki, que com muita boa vontade, poderia ser chamada de terceira força da MotoGP. 

Porém, no esporte muita coisa pode acontecer durante um ano, mesmo com uma pandemia no meio. Logo na primeira corrida do ano, o histórico Marc Márquez vinha tentando se recuperar de uma saída de pista em Jerez e já estava em terceiro quando caiu de sua moto e na queda, foi atingido em cheio pela sua Honda. Braço direito quebrado e cirurgia ainda naquela semana. Márquez tentou uma miraculosa volta, mas estava claro que o problema era mais sério. O espanhol estava fora da temporada. Não faltavam candidatos ao trono vago e um piloto se destacava. Fabio Quartararo surpreendeu a todos com uma temporada de estreia impressionante em 2019, demonstrando um talento que poucos notaram na Moto2 e Moto3. O francês conseguia duas vitórias dominantes em Jerez e se garantia como favorito ao título, porém, ainda havia a raposa felpuda Andrea Doviziozo, que venceu na Áustria e dava mostras que, sem Márquez, poderia finalmente vencer o título. No entanto, um clima ruim dentro da Ducati acabou com a temporada de Dovi, que anunciou que não segue com a Ducati em 2021 e pode até mesmo se aposentar. Depois disso, Doviziozo sequer lutou por mais uma vitória.

Quartararo não parecia se entender com a delicada Yamaha, o mesmo acontecendo com Maverick Viñales, que numa hora lutava pela vitória, na outra, mal conseguia um lugar no top-10. Houveram novos vencedores além de Quartararo, como Brad Binder, Miguel Oliveira e Franco Morbidelli, então segundo piloto de Quartararo. A subida da KTM escondia uma moto muito forte no pelotão. A Suzuki era uma moto equilibrada e muito forte nas segundas metades das corridas. Com experiência e já contando com vitórias na MotoGP, Alex Rins era o primeiro piloto da equipe, mas uma forte queda na primeira corrida fez com que o espanhol perdesse o bom momento da Suzuki. Enquanto isso, Joan Mir fazia um trabalho de formiguinha, conseguindo boas posições, que logo se tornaram pódios. A vitória lhe escapou na Áustria, quando foi ultrapassado na última volta por Oliveira. A falta de consistência dos rivais foi usado por Mir com uma vacina certeira e inversa dos rivais. Mir era constante, nunca se envolvendo em acidentes e problemas. Enquanto Quartararo e Doviziozo caíam pelas tabelas por causa dos seus problemas, Mir ia subindo, mas havia uma questão: ele seria um campeão sem vitória?

O espanhol deu a resposta em Valencia na semana passada, com uma vitória cirúrgica e uma vantagem gigante sobre os rivais no campeonato. Na penúltima etapa do ano, Mir nem precisava vencer para assegurar um título inacreditável, quando se olha seis meses para atrás. Apesar de dizer que não estava pressionado, era nítido que Mir se resguardou o tempo todo. Discreto nos treinos, Mir se aproveitou que seus rivais não fizeram muito melhor do que ele. Franco Morbidelli, em pela ascensão nessa metade final de temporada, entrava na briga pelo título e fez sua parte, com pole e vitória hoje, inclusive derrotando Jack Miller numa bela luta na volta final em Valencia.

Quando viu Quartararo cair mais uma vez, Mir se resguardou ainda mais. Mesmo com Morbidelli dominando na frente, Rins estava logo à frente do espanhol e Viñales fazia outra corrida safada, fora do top-10. Mir ultrapassou Aleix Espargaró para se estabelecer em oitavo, que virou sétimo com a queda de Nakagami. Correndo com o regulamento debaixo do braço, os nove pontos foram mais do que suficientes para que Joan Mir conseguir seu primeiro título na MotoGP. Depois de exatos vinte anos, a Suzuki voltou a vencer na MotoGP e Mir se igualou à lendas como Barry Sheene, Franco Uncini, Marco Lucchinelli, Kevin Schwantz e Kenny Roberts Jr para vencer com a Suzuki.

Com apenas 23 anos de idade, Joan Mir se tornou mais um espanhol a vencer na MotoGP, seguindo os rastros de Alex Crivillé, Jorge Lorenzo e Marc Márquez. Claro que houveram muitas circunstâncias que possibilitaram o título de Mir esse ano, mas não se pode tirar o mérito do piloto da Suzuki, porém, a real prova para Mir acontecerá em 2021, quando deverá ocorrer a volta de Márquez, além do crescimento de Rins e Morbidelli, muito fortes na reta final do campeonato, além do possível amadurecimento de Quartararo, que irá para a equipe de fábrica da Yamaha. Até lá, Joan Mir curtirá esse seu ano de sonho, quando praticamente saiu do anonimato rumo ao título mundial da MotoGP.

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