domingo, 29 de novembro de 2020

Estado de choque

 


A cara que as pessoas da F1 faziam enquanto os replays do incrível acidente de Romain Grosjean era mostrado nos telões no Bahrein dizia tudo. Susto. Horror. Choque. Particularmente o acidente de Grosjean foi o mais impressionante que eu já assisti ao vivo na F1. Hoje poderia ter chovido canivete durante a prova, mas o que ficará para sempre da corrida desse domingo foi como Romain Grosjean terá duas datas de nascimento a partir de hoje. A primeira em 17 de abril de 1986 e a segunda no dia 29 de novembro de 2020.


Há de ser dito uma coisa. Mais uma vez Grosjean se meteu num forte acidente por causa de uma trapalhada sua, quando jogou seu carro para direita como se estivesse sozinho na pista e acabou tocado pela Alpha Tauri de Daniil Kvyat. O que se viu depois nos remeteu à tempos nada saudosos de uma F1 extremamente mortífera. Grosjean foi reto rumo ao guard-rail num ângulo ingrato e com pouco espaço de desaceleração. O Haas do francês não transcorreu mais do que cem metros antes de se desintegrar no guard-rail, separando o carro em dois e praticamente detonando uma explosão, quando o tanque de combustível explodiu em chamas. Na transmissão ao vivo, dava para perceber o tamanho do acidente, mas poucos segundos depois apareceu uma imagem de Romain Grosjean assustadíssimo dentro do carro-médico. Tudo parecia menos horrível, quando a transmissão da TV resolveu passar os replays. E foi assustador.


O carro de Grosjean passou debaixo do guard-rail, destruindo o aparato. Grosjean sofreu um impacto de 53G e ficou exatos 27s dentro de um enorme fogaréu. Os pneus dianteiros voaram longe, por sorte não atingindo ninguém. O motorista do carro médico, o ex-piloto Alan van der Merwe, correu para o fogo, junto com dois fiscais portando dois insuficientes extintores para tamanho fogo. Em meio ao cockpit em chamas e irreconhecível dentro do buraco do guard-rail, Grosjean conseguiu sair do carro por si só e ajudado por um corajoso Van der Merwe, pulou sobre o guard-rail e rumo à segurança, mas com o macacão e o capacete tostados, com a sapatilha esquerda perdida e abanando as mãos, que foram queimadas. Apagado o incêndio, era assustador o que tinha sobrado do cockpit de Grosjean, emaranhado entre um enorme furo no guard-rail. Milagrosamente Grosjean não desfaleceu no momento do acidente e teve um grande aliado: o tão criticado Halo. Sim, o criticado Halo ajudou que, ao entrar debaixo do guard-rail, a cabeça de Grosjean não tivesse sido atingida, como acontecera tragicamente em Watkins Glen com Cevert e Koinigg.

Levado imediatamente de helicóptero para um hospital maior em Manama, o que se sabe até o momento é que Grosjean teve queimaduras nas mãos e tornozelos, além de uma possível fratura nas costelas. Muito, muito pouco pela magnitude do acidente.


Com o guard-rail retirado e colocado um muro no local, a corrida recomeçou uma hora e meia depois para Van der Merwe ser protagonista de outro resgate, quando Stroll capotou logo após a relargada. Talvez nunca Van der Merwe tenha trabalhado tanto numa corrida na F1, que teve domínio total e irrestrito de Lewis Hamilton, que fez outro sunday drive em 2020. Bottas, que havia largado mal na primeira tentativa, teve um pneu furado e fez outra corrida medíocre, onde só terminou em oitavo. Verstappen tentou fazer frente à Hamilton em alguns momentos, mas simplesmente não era possível com o material em mãos e ele teve que se conformar com o segundo lugar. Sergio Pérez fazia uma corrida sólida rumo a mais um pódio, mas seu motor Mercedes lhe deixou nas mãos faltando poucas voltas. Um golpe duro no mexicano, que saiu do carro inconsolado, enquanto nos boxes, o chefe Otmar Szafnauer parecia chorar no pit-wall com tamanha chance desperdiçada, além de ter visto a McLaren encostar na Racing Point no Mundial de Construtores. Com isso, o ameaçado Alexander Albon subiu ao pódio pela segunda vez na temporada, mas o tailandês esteve bem longe de brilhar, pois mesmo com um carro superior, esteve longe de fustigar Pérez durante a prova. Norris foi quarto, seguido por Sainz, que fez ótima corrida de recuperação, superando Gasly nas últimas voltas. A Ferrari teve outra corrida horrorosa esse ano, com Vettel chegando a ser ultrapassado pela outra Haas de Magnussen e terminando fora dos pontos. Leclerc ainda marcou um pontinho, mas foi alvo de críticas fortes de Vettel ao final da primeira volta, devido à alguns movimentos do monegasco. Não bastasse o carro ruim de 2020, o ausente Binotto ainda tem dois pilotos que não se entendem...


A corrida em si não teve muita história, mas para sempre esse Grande Prêmio do Bahrein será lembrado por toda a F1. Mesmo com toda a segurança que a categoria passou a investir em todos esses anos, pela primeira vez em muito tempo a categoria viu um acidente dramático com fogo e uma quase tragédia, onde por muito pouco, após quase 27 anos, veríamos um piloto morrer ao vivo (Bianchi morreu nove meses depois do seu trágico acidente). Para os que criticam a F1 atual de que nada acontece com os pilotos em acidentes, essa pancada de Romain Grosjean é uma prova de que o automobilismo é, sim, um esporte muito perigoso.

2 comentários:

  1. o abandono do Pérez e o pódio do Albon me lembrou muito o GP da Hungria de 2008, quando o Massa abandonou e o Kovalainen ganhou, com a mesma sensação de frustação que pode acabar com o Pérez fora em 2021.

    Mas para vc, qual foi mais dolorida, o abandono do Massa que custou um titulo por um ponto, ou o abandono do Pérez, que pode ficar de fora do grid por bastante injustiça?

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    1. Massa, sem sombra de dúvidas! Ele largou super bem naquele dia e liderou de ponta a ponta.
      Acho que nem vencendo mudaria alguma coisa para o Pérez

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