domingo, 6 de dezembro de 2020

Viva México!

 


Em mais um capítulo desse ano completamente atípico, a F1 nos brindou com uma corrida sensacional, um resultado completamente surpreendente e uma atuação histórica de Sérgio Pérez. O traçado no anel externo do circuito de Sakhir tornou as 87 voltas da corrida numa completa bagunça que afetou até mesmo os homens da Mercedes, que estragaram as corridas dos seus pilotos, contudo, se não fosse o erro mercediano, a incrível corrida de recuperação de Sergio Pérez não seria premiada com uma primeira vitória emocionante e cheia de lágrimas do piloto do México, que não vencia uma corrida faziam mais de cinquenta anos.


Corridas de recuperação já aconteceram aos montes na F1, mas normalmente o piloto está montado, se não no melhor carro do grid, num dos melhores. Apesar das acusações de ter copiado de forma deslavada o carro da Mercedes do ano passado, a Racing Point estava apenas em quarto no Mundial de Construtores e tinha apenas um pódio com Lance Stroll, numa corrida confusa em Monza. Logo na primeira volta Pérez foi atingido por um destrambelhado Charles Leclerc e com o abandono deste e também de Max Verstappen, Checo caía para 18º lugar, o famoso fona. Se Pérez contasse com uma Mercedes ou um Red Bull, era normal uma remontada de Sergio rumo ao pódio, porém, o mexicano contava hoje com seu Racing Point e foi com ele, não nos esqueçamos, atingido com força por Leclerc na primeira volta, que Pérez escalou o pelotão com ferocidade, ao mesmo tempo em que cuidava dos seus pneus. Pérez ia ultrapassando um a um seus rivais do meio do pelotão, muitos com carros do mesmo nível do que o seu. Nas voltas finais, ultrapassou seu companheiro de equipe Stroll e Ocon para assumir a terceira posição. Isso já o faria ser o grande destaque do dia, mas então o destino, que fora tão cruel com Pérez semana passada, quando abandonou com o motor quebrado nas últimas voltas, lhe ajudasse a conquistar uma vitória emocionante.


Como acontecera em toda a temporada, a Mercedes matava à pau a concorrência, ainda mais com seu mais forte rival, Max Verstappen, fora de combate logo na primeira volta. Contudo, ainda haviam surpresas acontecendo nos boxes liderados por Toto Wolff. Mesmo largando do lado sujo, George Russell largou melhor do que Bottas e apontou na primeira curva na frente. Ter um cara que nunca guiara aquele carro ao seu lado seria um fator de pressão para Bottas, que quando se viu superado, passou a trancar a todos que vinham atrás dele. De forma involuntária, Bottas acabou proporcionando a carambola da primeira volta entre Pérez, Max e Leclerc. "Ele conhece o carro e está mais acostumado com um forte ritmo de corrida", falavam todos que esperavam Bottas ir para cima de Russell. Que nada! Russell administrou como se guiasse o W11 desde a primeira corrida e não deu chances à Bottas. Quando o nórdico ganharia fácil o lugar como destaque negativo da corrida, a Mercedes cometeu um erro crasso, que mudou toda a história da corrida. O novato Jack Aitken rodou seu Williams na entrada dos boxes e deixou na última curva sua asa dianteira. Safety-car na pista. Mesmo com ninguém ameaçando, a Mercedes resolveu chamar seus dois pilotos para colocar pneus médios para as últimas voltas. Russell fez sua parada normalmente, mas Bottas demorou mais do que devia. E aparentemente um mecânico viu a caca que haviam feito. Simplesmente colocaram os pneus de Bottas no carro de Russell! O desespero foi tanto que colocaram os pneus antigos no carro de Bottas e mandaram-no de volta à pista, mas o estrago estava feito. Russell teve que retornar aos pits para colocar os pneus certos e tentar uma remontada histórica. E estava no caminho para isso. Primeiro, ultrapassou Bottas após erro do finlandês, colocando outra mácula no final de semana de Valtteri. Russell ultrapassou facilmente Ocon e Stroll, com algumas voltas para o fim, mas com tempo para um ataque em cima de Pérez. Porém, o dia não era de George Russell. Um pneu furado fez com que o inglês retornasse aos boxes por uma quarta vez, sepultando qualquer chance de vitória de George.

Contudo, essa atuação de George Russell indica que o futuro da Mercedes está bem encaminhado, com um ótimo piloto debaixo de sua asa. Já o presente de Bottas não é dos mais agradáveis. Mesmo com mais experiência com o carro e com a equipe, foi totalmente dominado por Russell, incluindo uma ultrapassagem desmoralizante na única parte lenta do circuito. Por mais que Hamilton elogie Bottas, fica cada vez mais difícil justificar o finlandês na Mercedes após 2021. Quiçá, após essa temporada!


Com tudo isso acontecendo, as portas para Pérez estavam abertas para uma vitória consagradora. O mexicano esteve perto da vitória em Sepang/2011, mas saiu da pista nas voltas finais quando estava nos calcanhares de Alonso. Depois muita coisa aconteceu na carreira de Pérez, que chegou à F1 como pay-driver e hoje é um piloto consolidado da categoria. Faltava uma corrida como a de hoje. Após 189 GP's, Sergio Pérez se tornou o piloto mais corridas antes de vencer na F1. E o fez em grande estilo. No entanto, o futuro do mexicano ainda é uma grande incógnita. Mesmo sendo muito mais piloto do que Stroll (a ultrapassagem de Pérez sobre o canadense foi bem parecida com o que Russell fez sobre Bottas), o sobrenome do dono da equipe também é Stroll e Pérez acabou dispensado da equipe. Seu único lugar para estar na F1 seria a Red Bull, mas a equipe teima em não divulgar seus planos para 2021. Verstappen leva a equipe nas costas praticamente sozinho, enquanto Albon (outro ultrapassado na pista por Pérez...) faz outra corrida medíocre a cada semana, demonstrando que não tem estofo para ocupar o lugar que está. Outro detalhe é que Lawrence Stroll dispensou um piloto que acabou de vencer uma prova num desempenho monstruoso e contratou um piloto que não vai ao Q3 fazem doze corridas. E nas corridas a performance de Vettel não melhora muito ultimamente...


Completando um pódio completamente aleatório, Esteban Ocon conseguiu seu primeiro pódio com o segundo lugar. Piloto de origem humilde, Ocon sempre precisou mostrar serviço para estar associado a alguma academia e ter chance de ascender à F1. Nesse ano ele foi constantemente superado por Daniel Ricciardo na Renault, mas utilizando uma estratégia diferente, Ocon conseguiu a melhor posição da Renault no ano, ultrapassando Stroll após sua única parada. Carlos Sainz era terceiro no primeiro stint, mas com uma estratégia de duas paradas, terminou apenas em quarto, colado em Stroll. Pietro Fittipaldi fez uma estreia decente num carro ruim e que não conhecia. O brasileiro teve sérias dificuldades de adaptação, principalmente em ritmo de corrida, mas fez o essencial: não errou.


O ano de 2020 ficará marcado por outro dominante da Mercedes e de Lewis Hamilton, mas não se pode acusar da F1 de não ter histórias boas para contar e ótimas corridas para se assistir. Ao contrário do que ocorreu no domínio da Ferrari no começo dos anos 2000, essa temporada foi pródiga em histórias para se lembrar. Hoje vimos mais uma. Como um piloto desempregado teve a exibição de sua vida, se aproveitou dos erros de uma equipe tida como infalível, levou uma equipe que, contando outras encarnações, não vencia desde 2003 e quebrou um tabu de cinquenta anos sem vitória do seu país. Sérgio Pérez merece um lugar na F1 em 2021, enquanto o México deve estar em festa com muita taco e tequila. E por resultados como esse, que eu digo: F1, eu te amo sua linda!   

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