Foi até mais fácil do que o imaginado. Numa F1 cheia de surpresas em 2024, Las Vegas viu o domínio da Mercedes, algo que os próprios pilotos da equipe se surpreenderam e não souberam explicar, mas Max Verstappen fez sua própria corrida rumo ao merecido tetracampeonato, fato praticamente consolidado em Interlagos, quando o neerlandês venceu uma prova onde apenas seu talento explicou o triunfo. E foi assim em boa parte do ano, quando a Red Bull perdeu a primazia de ter o melhor carro do plantel da F1 e a McLaren passou a ocupar esse posto. Talvez desacostumada com a equipe atual a estar nessa posição, a McLaren cansou de pisar no tomate, enquanto Max Verstappen foi amealhando pontos, mesmo que em certas ocasiões, tenha se comportado de uma forma agressiva demais, principalmente frente à Lando Norris, seu rival, mas que parecia uma criança na frente do animal competitivo chamado Max Verstappen. Bastou apenas um quinto lugar em Las Vegas para Max Verstappen conquistar o merecido tetracampeonato. Mesma posição que seu sogro Nelson Piquet precisou para garantir o primeiro título quarenta e três anos atrás. Ambos merecidos.
A corrida em Las Vegas esteve longe de empolgar, como aconteceu no ano passado. No frio que faz em Nevada nessa época do ano no momento da corrida fez com que a Mercedes, que vinha em péssima fase a ponto de Lewis Hamilton ter pensado em abandonar a equipe antes do final da temporada, dominasse o final de semana como nos áureos tempos do início da Era híbrida. George Russell ficou com a pole e Lewis Hamilton só largou em décimo por causa de um erro do veterano inglês no Q3. Era esperado um desempenho superior da Ferrari em ritmo de corrida, enquanto a McLaren, talvez ainda traumatizada pela derrota acachapante em Interlagos, era claramente a quarta força do grid. Leclerc soube capitalizar a fechada que Sainz aplicou no surpreendente terceiro colocado no grid Gasly e subiu de quarto para segundo na largada. O monegasco parecia querer provar a teoria que a Ferrari teria mais ritmo em corrida e começou a atacar Russell pela primeira posição, mas George sabia também que estar bem posicionado faria toda a diferença, se defendendo bem dos ataques de Leclerc. Enquanto isso, Gasly era escalado, mas se Verstappen rapidamente se livrou do francês, Lando Norris demorou um pouco mais para efetuar a ultrapassagem, já tendo Tsunoda, Piastri e Hamilton em seu cangote. Com o clima frio em Vegas, achar a famosa janela de desempenho se tornou um desafio para os pilotos e após o ataque inicial de Leclerc, os pneus de Charles foram embora de tal forma, que ele foi ultrapassado por Sainz e Verstappen com certa facilidade. Alguns pilotos do pelotão intermediário mal esperaram completar a décima volta para visitar os pits e então Leclerc abriu o round para os pilotos da frente. Com uma parada tão antecipada, era nítido que a estratégia padrão seria de duas paradas.
Quando todos pararam, a corrida ficou estática e as emoções diminuíram bastante, favorecendo que Max Verstappen concretizasse seu primeiro match point. Mesmo com o neerlandês sofrendo com uma Red Bull que levou uma asa traseira errada para Nevada e teve que fazer uma gambiarra para salvar um desempenho em reta que debitava até seis décimos de desvantagem aos demais, Verstappen via uma McLaren irreconhecível em Las Vegas. Norris esteve longe de estar na briga até mesmo pelo pódio, enquanto Piastri era punido por colocar seu carro no local errada no colchete do grid. Se bastava marcar Norris para ser campeão, Verstappen o fez com imensa facilidade nesse domingo. Hamilton fazia sua melhor corrida do ano e após a primeira parada, o inglês engoliu a diferença que tinha para as Ferraris, executando as ultrapassagens decisivas ainda antes da segunda parada, onde a Ferrari deu outro show de erro operacional, quando Sainz rogava para ir aos pits via rádio, mas quando o espanhol mergulhou para os pits, a Ferrari estava despreparada e Sainz teve que voltar à pista rapidamente, perdendo ainda mais tempo. Hamilton ultrapassou um cuidadoso Verstappen após a segunda parada e iniciou uma bela sequência de voltas mais rápidas, recortando a desvantagem de Russell de 12s para 5s, mas George tinha a corrida sob controle e ao ser avisado pelo rádio da aproximação do companheiro de equipe, Russell aumentou o ritmo e controlou o resto da corrida até a bandeirada para conquistar sua terceira vitória na carreira, com Hamilton completando a dobradinha da Mercedes. Toto Wolff pedirá mais corridas no inverno...
Enquanto isso, Verstappen fazia uma corrida calculada e quando a dupla da Ferrari se aproximou, Max nem forçou muito nas defesas, já que Lando Norris vinha 13s atrás, o que ficou ainda melhor quando o inglês foi aos pits colocar pneus macios e garantir a volta mais rápida. A McLaren nem olhava mais para o Mundial de Pilotos, mas para o Mundial de Construtores, pois mesmo com Piastri se recuperando de sua punição e terminando logo atrás de Lando, a McLaren perdeu bastante pontos para a Ferrari, com Sainz terminando na frente de Leclerc. De forma sossegada, Max cruzou a linha de chegada em quinto e garantiu matematicamente o quarto título seguido. No começo da temporada, todos esperavam que Max Verstappen conquistasse o título com antecedência, algo que foi confirmado nesse domingo, mas quando formos analisar a fundo o ano de 2024 da F1, perceberemos que Verstappen colocou o seu carro nas costas para garantir o título com duas provas de antecipação. Claro que os pontos conquistados no início de ano esmagador da Red Bull fizeram toda a diferença, mas Max usou seu talento absurdo para conquistar resultados acima do potencial do carro, com a magnífica vitória em São Paulo como o principal desses momentos. Se ano passado Max dominou a F1 de forma poucas vezes vistas, mesmo numa era de domínios, nesse ano Verstappen teve que se reinventar num momento de declínio da Red Bull, mais refletido em Sérgio Pérez, em outro final de semana medonho do mexicano.
Nico Hulkenberg foi novamente o melhor do resto, fazendo com que a Haas ganhasse um pontinho da Racing Bulls, com Tsunoda em nono, enquanto Lawson fez uma corrida errática dessa vez. A Alpine chegou a sonhar com Gasly conseguindo um terceiro lugar no grid, mas um motor quebrado transformou a carruagem francesa em abóbora e os gauleses saíram sem pontos. Alonso foi o único que largou com pneus macios, já pensando numa estratégia de duas paradas e o espanhol ganhou bastante terreno com isso, mas com uma Aston Martin à deriva, Alonso acabou sem pontos, enquanto Stroll entrou nos pits com a sua equipe totalmente despreparada. A coitada da Williams, que mais faz serviço de funilaria do que de mecânica, viu Albon se tornar o segundo abandono do dia quando estava na zona de pontos, enquanto Colapinto, após destruir seu carro pela terceira vez em dois finais de semana, fez uma prova opaca. A Sauber chegou a sonhar com o primeiro ponto do ano com Zhou, mas uma parada deixou o chinês para trás, enquanto o já demitido Bottas foi sempre o último, confirmando o motivo de sua dispensa.
Quando Nelson Piquet foi quinto colocado em Las Vegas em 1981, o brasileiro iniciou um projeto de desenvolvimento do motor BMW turbo e não teve como defender seu campeonato em 1982. Mesmo se mostrando um piloto superior nesse momento, Max Verstappen corre o mesmo risco do sogro. A queda abrupta da Red Bull em 2024 tem várias explicações, como a fratura dentro da cúpula da equipe e a saída de Adrian Newey da equipe. As confusões de bastidores da Red Bull respingaram no desempenho dentro da pista e somente Max Verstappen minimizou o declínio da Red Bull. O gap que Max conquistou no começo do campeonato fez toda a diferença para o título, além de algumas atitudes discutíveis de Lando Norris e da McLaren ao longo do campeonato. Porém, 2025 tudo começará do zero e Max Verstappen não terá o handcap dos pontos. No entanto, ainda estamos em 2024 e Max Verstappen pensará no grande campeonato que fez. A consolidação da McLaren, o crescimento da Ferrari, as estocadas eventuais da Mercedes e a queda da Red Bull ficarão para depois. Max irá comemorar seu merecido tetracampeonato!
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