sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Será o começo do fim?


Fico imaginando como está a cabeça de um mecânico da Honda nesse momento. Um mês atrás, estava voltando do Brasil já pensando nos testes de pré-temporada de 2009 que estavam marcados para Jerez dali a poucas semanas. A equipe, mesmo numa má fase sem fim, tinha as esperanças depositadas no novo carro projetado por Ross Brawn e os novos regulamentos. Totalmente diferente, o carro chegou à Espanha com várias novidades visuais e dois novos pilotos, que disputaria a vaga que era de Barrichello. Esse mecânico esteve na Espanha vendo a temporada de 2009 se iniciar normalmente e até ouviu Jenson Button falar em vitórias para o ano vindouro. Havia boatos de que a crise poderia afetar a equipe, mas nada demais. "Talvez com menos investimento e pressão, as coisas poderiam melhorar", pensou esse mecânico. Contudo, ele foi chamado para a sede da equipe em Brackley na última quinta-feira. Havia algo de estranho. "O que seria?", pensou esse mecânico. No final do dia, ele estava desempregado.

Nunca tinha visto uma equipe acabar de uma forma tão repentina como a Honda, no dia de ontem. Vi a agonia da Prost, da Arrows e da Super Aguri, mas nada parecido com o que houve ontem. O primeiro rumor surgiu no dia do anúncio oficial! Ou seja, foi algo repentino, que pode ter saído de uma reunião da alta cúpula da Honda em Tóquio após um balancete da crise que abala o mundo. Talvez nem os diretores da equipe Honda de F1 imaginavam que isso pudesse acontecer. A saída da Honda, tão repentina, trará conseqüências ainda desconhecidas.

Primeiro, foi no mercado de pilotos. A saída de Rubens Barrichello da F1, que parecia bastante real, se tornou quase uma certeza. Jenson Button, que há dois anos era um dos pilotos mais valorizados do mercado, pode ficar sem emprego em 2009. Prestes a completar 29 anos, Button pode sair da F1 totalmente pela porta dos fundos. Bruno Senna, favorito absoluto para conseguir a segunda vaga na Honda no ano que vem, terá que mudar de foco rapidamente e de forma radical, mas será difícil ele conseguir algo para o ano que vem. Ross Brawn, trazido a peso de ouro para tirar a Honda do limbo, será disputado a tapa por várias equipes daqui para frente. Serão engenheiros e mecânicos (inclusive o nosso amigo imaginário acima) do mais alto nível procurando emprego nos próximos dias, mas há outro agravante.

A Honda saindo da F1 expôs uma crise existencial da própria categoria, que gasta cada vez mais num mundo em recessão. Ontem, meio que procurando justificar sua saída da F1, a Honda anunciou que perdeu 32% em vendas nos Estados Unidos. Fazendo uma continha bem besta, se percebe o tamanho do estrago. Se um Honda Civic custar 60.000 reais e forem vendidos 300.000 na América, significa um prejuizo de 6 bilhões de reais, aproximadamente, com essa perca. Como há várias marcas com esse mesmo problema (ou até mesmo prejuizo...), ver outras marcas saindo da F1 é uma possibilidade bastante real. A Toyota já estaria repensando seu envolvimento, enquanto a Audi anunciou que saiu da American Le Mans Series. Com tamanha bomba, ninguém se lembrou de uma reunião da FOTA anunciando mudanças radicais de cortes na F1. Tenta-se se livrar da aberração do motor-único e outras marmotas, mas será que a F1 agüenta gastos que superam as centenas de milhões de dólares? É o que perguntamos nesse momento. Querendo ou não, podemos estar vendo uma era na F1 se acabar e vermos uma categoria, que antes era sinônimo de finesse tecnológico, se tornar uma categoria comum e sem graça, apenas sobrevivendo aos balancetes finais de equipes que, hoje, seriam de média para pequenas.

Um comentário:

  1. O começo do fim, em si, não digo. É apenas o final de uma era, a das construtoras, que gastavam rios de dinheiro sem fim, com resultados pífios. O sonho do Bernie Ecclestone de só ter construtoras na Formula 1 está a ir definitivamente abaixo. E este é o primeiro aviso: ou cortam, ou saem. E perfiro que cortem.


    Hoje, o Max Mosley anunciou um contrato com a Cosworth e com a Ricardo, para fonecimento de motores e transmissões à Formula 1. Vão custar 10 milhões por ano, mas pode ser não só a salvação das equipas mais pequenas, como também um facto para o aparecimento de outras. Agora, só falta cair o custo de admissão, os 48 milhões de dólares, para vermos algumas das condições para o reavivar da Formula 1. Mas claro, isso é outra história...

    ResponderExcluir