domingo, 10 de setembro de 2023

Fim de festa

 


Dificilmente a Indy chega à sua última etapa tão relaxada como aportou em Laguna Seca para o derradeiro final de semana da temporada 2023. Os dois primeiros colocados do campeonato já estavam definidos e apenas definições secundárias estavam pendentes, deixando os pilotos mais soltos do que o normal, transformando a prova na California num verdadeiro caos, com múltiplos acidentes, a maioria deles evitáveis. Mesmo envolvido numa das confusões e recebendo uma punição para lá de discutível, Scott Dixon terminou a temporada com mais uma vitória, fazendo de Laguna Seca mais um lugar de vitória para esse neozelandês insaciável.

A prova em Laguna Seca teve oito bandeiras amarelas, com as confusões iniciando na largada, quando Christian Lungaard iniciando uma reação em cadeia que jogou dois carros da Penske para fora (McLaughlin e Newgarden) da pista e causou o abandono dos outros dois carros da Rahal (Graham e do novato Juri Vips). Dixon acabou tocando-se com Riinus Veekay e fez o neerlandês rodar, num incidente aparentemente de corrida, mas causou um Drive-Through à Dixon. Em condições normais, poderia ser o fim da corrida para o neozelandês da Ganassi, mas a corrida teve tantos incidentes que isso afetou a estratégia e quando os táticos entram em ação, o time da Ganassi sempre se sobressai e Dixon faz milagres, acabando por vencer a prova em Laguna Seca, vencendo três das últimas quatro provas do campeonato, fazendo Scott terminar o campeonato muito bem, mas o título já era de Palou.

O espanhol chegou a liderar a corrida desse domingo e se não fosse a penca de bandeiras amarelas, Palou teria vencido com a mesma tranquilidade do qual dominou a prova do ano passado. Isso apenas refletiu como Palou dominou esse campeonato, vencendo cinco corridas e tendo um oitavo lugar como pior resultado, se colocando constantemente entre os primeiros, corrida após corrida. O apoio da Ganassi foi fundamental para o sucesso de Palou e até segunda ordem, Alex estará na equipe em 2024. As constantes confusões com o que Palou vem se metendo nos últimos dois anos o colocam como um piloto não muito confiável fora das pistas, mas extremamente consciencioso dentro delas e com uma Indy tão competitiva, essa é uma arma forte de Palou para os próximos anos. Dixon começou o ano devagar e parecia que ele teria seu recorde de vitórias em temporadas consecutivas quebrado, mas nunca é bom subestimar Scott Dixon. O neozelandês pôde não ter vencido nos primeiros dois terços de campeonato, mas sempre se manteve entre os primeiros e quando a oportunidade veio, Dixon empilhou várias vitórias que o transformaram no único rival a derrotar Palou numa temporada próxima da perfeição do espanhol. Pena que a reação de Dixon, com três vitórias em quatro corridas, tenha vindo tarde demais e Palou já estava com a faca e o queijo na mão para conquistar o bicampeonato. Chip Ganassi tem o presente e o futuro garantido com Palou e Dixon. Isso, se Palou não mudar de ideia novamente...

Os outros pilotos da Ganassi não foram tão brilhantes. Marcus Ericsson começou vencendo a primeira corrida e até liderou o começo do campeonato, mas não foi páreo para Palou. O sueco trazia patrocínios para a equipe, mas com a vitória da Indy 500 do ano passado, Ericsson passou a exigir ser pago como os pilotos principais da Ganassi, algo que Chip não concordou, mesmo Ericsson ter ficado perto de conquistar o bicampeonato das 500 Milhas nesse ano. Isso resultou na saída de Ericsson para a Andretti, com Marcus Armstrong assumindo o lugar de Ericsson, para fazer a temporada completa em 2024, enquanto o quarto carro permanece ainda em aberto. Sato fez apenas os ovais e foi uma decepção, mais batendo do que correndo e já está fora da Ganassi.

O melhor momento da Penske foi a vitória de Josef Newgarden nas 500 Milhas de Indianápolis, tirando um peso do norte-americano, pois mesmo tendo já dois títulos e brigando pelo campeonato nos últimos anos, faltava o definitivo reconhecimento de Josef como vencedor em Indianápolis. Mesmo sendo reconhecido como um piloto completo da Indy, Newgarden venceu apenas em ovais, chegando a ameaçar Palou quando venceu a quarta corrida seguida em ovais, mas uma batida em Gateway, o último oval do ano, acabou com as chances de Newgarden, que baixou os braços e terminou apenas em quarto no campeonato. McLaghlin fez um campeonato mais constante, voltou a vencer uma corrida (Birmigham) e mais equilibrado, acabou por superar Newgarden no final, sendo o melhor piloto Penske do campeonato, em terceiro, garantido com o segundo lugar de hoje em Laguna Seca. Um bom aproveitamento do neozelandês, no qual a Penske aposta muito. O atual campeão Power teve problemas particulares que atrapalharam sua defesa do título a ponto de ver sua sequencia de pelo menos uma vitória desde 2007 terminar esse ano, numa temporada opaca de Power, onde o australiano se mostrou bastante nervoso várias vezes. Um ano abaixo da Penske, mas como dizem que Roger Penske se importa mais com a Indy 500 do que com o campeonato, não se pode dizer que foi uma temporada fracassada.

Na luta que trava para entrar na F1, a Andretti acabou se atrapalhando na Indy, com várias performances boas estragadas por táticas ruins, erros de pit-stops além dos seus pilotos normalmente se metendo em confusões. Se Colton Herta era cotado para estar na F1, hoje ninguém mais fala no jovem americano migrando de categoria. Da mesma forma como sua equipe, Colton pensou demais na F1 e se esqueceu de focar na Indy, onde fazia bons treinos, mostrando sua velocidade e talento, mas se perdendo nas corridas. O abandono de hoje, onde foi atingido por um destrambelhado Helio Castroneves só foi mais um exemplo do quão ruim foi a temporada de Hertinha. Grosjean começou o ano dando pinta que até poderia brigar pelo título, mas no fim o francês terminou a temporada com a mesma fama que colheu na F1: de trapalhão. E foram tantas trapalhadas que Grosjean não teve seu contrato renovado na Andretti e procura um lugar na Indy. Com os dois principais pilotos teóricos da Andretti tendo problemas, as duas únicas vitórias da equipe coube ao jovem Kyle Kirkwood. Prodígio da Road to Indy, Kyle venceu em Long Beach e Nashville, mas nem de longe Kirkwood exibiu uma constância para se manter entre os primeiros no campeonato. Se antes a Andretti se orgulhava de fazer parte do trio de ferro da Indy, hoje o time de Michael Andretti se vê cada vez mais distante de Ganassi e Penske, além de ser constantemente rejeitada por todas as equipes da F1.

A McLaren é quem começa a querer tomar esse posto de terceira força da Andretti, mesmo que tenha passado o ano em branco na Indy. Pato O'Ward foi o principal piloto da equipe, começou o ano muito bem, sempre foi um nome forte na luta pela vitória, mas o mexicano sempre era atrapalhado por alguma coisa, o deixando sem vitórias no campeonato, mas ainda garantindo uma boa posição. Alexander Rossi estreou na equipe de forma discreta, continuando a toada que vinha na Andretti, enquanto sua vitória na Indy 500 vai ficando mais e mais distante. Rosenqvist só ficou na equipe para esquentar o banco de Palou, só que o espanhol não irá mais para a McLaren e o sueco resolveu ir para a Meyer & Shank, com seu lugar ocupado por David Malukas em 2024. A Rahal viveu um ano literalmente de altos e baixos. Indianápolis foi uma incrível decepção para o time do tio Bobby, inclusive com seu filho Graham, bumpado da classificação, pensando em aposentadoria. No entanto, se sofria em ovais, em mistos a equipe Rahal revivia, liderado pelo jovem Christian Lundgaard, que conseguiu uma vitória em Toronto e Graham quase venceu no misto de Indianápolis.

O Brasil viu a aposentadoria de Tony Kanaan nas 500 Milhas de Indianápolis pela McLaren, na qual o baiano se tornou consultor. Teimosamente Helio Castroneves ainda segue na Indy, agora como sócio da equipe Meyer & Shank e só competindo nas 500 Milhas. Aos 48 anos de idade, era nítido que Helio se tornou um 'ex-piloto em atividade' e não tinha mais condições de permanecer como piloto full-time da Indy, porém, Castroneves se manterá na ativa como um dos sócios da Meyer & Shank e tentará reavivar sua magia em Indianápolis. Helio terá muito trabalho, pois a equipe entrou em parafuso após sua vitória em 2021 e Simon Pagenaud, que seria o líder natural da equipe, após seu acidente em Mid-Ohio nem retorna mais em 2024, por causa de uma forte concussão. Nas categorias de base, destaque para o título de Nicolas Giaffone na USF Junior, mas o filho de Felipe ainda está nos primeiros passos da Road to Indy e demorará bastante para vê-lo querer substituir os quase cinquentões Tony e Helio num futuro próximo, sem contar Kiko Porto e Victor Franzoni, que já estão na Indy NXT (antiga Indy Lights).

Foi uma temporada com boas corridas, como normalmente acontece na Indy, mas onde houve um raro domínio por parte de Alex Palou, que se não fosse os entreveros fora das pistas, poderia ser ainda mais impressionante. Para 2024, os motores híbridos estrearão na categoria, novas pistas serão adicionadas e alguns pilotos debutarão em equipes fortes. O que não faltará são emoções, mas que estarão reservadas para março de 2024.

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