domingo, 7 de abril de 2024

Sono, pneus e domínio

 


O circuito de Suzuka está entre os grandes palcos da F1, tanto pelas grandes histórias que a pista nipônica já viu e a grande tradição de decidir títulos, como a pista espetacular, de alta velocidade e extremamente desafiadora. Contudo, Suzuka parece ter envelhecido mal e não podemos simplesmente culpar a atual geração de carros da F1, de dimensões exageradas e 'gordo'. Em pista seca, quantas corridas foram realmente boas em Suzuka nos últimos vinte e cinco anos? Sim, tivemos a épica corrida de 2005, muito afetada pela chuva no sábado em tempos de uma classificação diferente, mas de resto, Suzuka nos trouxe corridas soníferas como a de hoje. Claro, Max Verstappen e a Red Bull não têm nada com isso. O fato de Max estar atuando num nível altíssimo e a Red Bull estar com outro carro dominante na sua história não impede de ter corridas boas. Porém, a corrida nipônica teve como característica o alto desgaste de pneus, mas não impediu outra dobradinha da Red Bull e Carlos Sainz novamente como o melhor do resto.


Como dito anteriormente, a corrida em Suzuka não foi das mais emocionantes e quem passou a madrugada vendo a corrida deve ter dado bons cochilos, ainda mais com uma longa bandeira vermelha logo na primeira volta. Daniel Ricciardo deu mais um bom motivo para ser ejetado da Racing Bulls e da própria F1 com um erro bobo para um piloto tão experiente como ele, ao tocar em Albon e os dois baterem forte, destruindo a barreira de pneus. Mais um enorme prejuízo para a Williams, que vem sofrendo com os acidentes nesse começo de temporada, levando James Vowles a puxar os cabelos com tantas peças sobressalentes destruídas. E Sargeant é outro que pode seguir Ricciardo e não ver 2025 empregado na F1, ao sair sozinho da curva Degner e terminar a corrida num distante último lugar. A estreiteza de Suzuka fez com que a segunda largada fosse ainda mais tranquila do que a primeira e o velho script se repetiu: Max Verstappen sustentando a primeira posição para administrar a corrida até o final. Sim, isso foi bem o resumo da corrida do neerlandês, que mais apareceu na transmissão fazendo propaganda do que propriamente na pista. Sergio Pérez teve ligeiramente mais trabalho quando Lando Norris parou cedo e como os pneus se mostraram um fator nesse domingo, o mexicano acabou retornando do primeiro pit-stop atrás do inglês. Sem maiores problemas para Checo, que depois teve que ultrapassar um Leclerc com estratégia diferente para completar mais uma dobradinha para a Red Bull e consolidar a vice-liderança do campeonato.


No começo da semana se falava em chuva no domingo, mas a precipitação só veio na sexta-feira, deixando as equipes sem maiores testes, principalmente em ritmo de corrida, mas com pneus novos de sobra para uma corrida com muitas alternâncias de estratégia. Ao invés de chuva, o domingo amanheceu com sol e o dia mais quente do final de semana, fazendo com que o desgaste de pneus realmente fizesse a diferença. Norris manteve a terceira posição na largada, seguido de perto por Sainz, enquanto Alonso, um dos poucos que largou com pneus macios, se virava para se manter em sexto sem destruir os pneus e se manter competitivo. E mais uma vez Fernando mostrou que é mesmo um piloto diferenciado para manter a posição, mesmo com Piastri e Leclerc lhe fustigando. Norris foi dos primeiros que pararam e mostrou uma clara diferença entre pneus novos e velhos, com Lando conseguindo fazer um tranquilo undercut em cima de Pérez e até mesmo ficando próximo de Verstappen, mas logo a dupla da Red Bull colocou ordem na casa. Largando apenas em oitavo depois de uma classificação miserável, Leclerc tentou fazer uma tática diferente que acabou se pagando. Charles arriscou parar apenas uma vez e mostrando a evolução da Ferrari no quesito desgaste de pneus, Leclerc fez funcionar essa estratégia, só perdendo o lugar no pódio para Sainz no final da prova, com a Ferrari praticamente pedindo para os dois trocarem de posição. Largando atrás de Norris, era nítido que Sainz tinha mais ritmo e que a Ferrari desgastava menos pneus do que a McLaren. Hoje a Ferrari tem o segundo melhor carro do pelotão e em Suzuka isso ficou claro com os dois carros vindo logo atrás da Red Bull, mas o que a cúpula da Ferrari não esperava era que Sainz estivesse constantemente superando Leclerc, piloto do time até 2028, enquanto Sainz cumpre aviso prévio e sem lugar definido para 2025.


Norris terminou em quinto e ao contrário do ano anterior, Piastri não brilhou. O australiano errou bastante, principalmente na chicane. Mesmo com um carro superior, Piastri não fez nenhum ataque mais forte em cima de Alonso, que segurou a sexta posição sem maiores arroubos, enquanto Piastri, atrapalhado por mais um erro na chicane, ainda perdeu a sétima posição para Russell. A Mercedes teve um final de semana bem safado, onde foi coadjuvante o tempo inteiro, com um carro claramente num ritmo abaixo de Red Bull, Ferrari, McLaren e Alonso. Sim, Alonso. Numa pista onde o piloto faz a diferença, o espanhol deu um verdadeiro banho em cima de Stroll, que terminou em 12º e quase um minuto atrás do companheiro de equipe da Aston Martin. Nada acontecerá com Stroll com esse resultado ruim, afinal, o 'Vojvoda da F1' sabe que nada lhe acontece na equipe do papai, de tão acomodado que está. Ao contrário do companheiro de equipe, Tsunoda fez uma corrida boa na frente de sua torcida e apareceu na transmissão o tempo inteiro. A décima posição lhe valeu mais um ponto, que foi comemorado pela equipe e na casa da Honda, Tsunoda vai se consolidando como o piloto principal da montadora japonesa. Com tanta diferença entre pneus novos e usados, as brigas através do pelotão intermediário teve muito mais a ver com o pneu usado, valendo algumas ultrapassagens bonitas no desafiador primeiro setor, mas ainda assim não foi o suficiente para fazer nos acordar. Haas e Sauber fizeram seus papeis, principalmente com a Sauber não errando nenhum pit-stop. A Alpine viu seus dois pilotos se tocarem na largada, mas isso não fez com que a equipe francesa tivesse outro final de semana horroroso, só não ficando nas duas últimas posições pelo erro de Sargeant. Pior do que a atuação da Alpine, somente da transmissão da Band. Talvez o sono tenha atrapalhado o trio, que não estava no seu melhor dia.


Duas semanas depois de uma corrida atípica, a Red Bull colocou as coisas no lugar, assim como ocorrera em 2023, quando um derrota dolorida foi aplacada com uma vitória dominante em Suzuka. Verstappen colocou 20s em cima de Sainz, mostrando que mesmo crescendo, a Ferrari ainda está bem atrás da Red Bull, que correndo na casa da Honda, conseguiu mais uma vitória dominante. Mesmo com os pneus fazendo a diferença, os austríacos continuaram dominando e o sono imperou no domingo.

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