domingo, 15 de setembro de 2024

Vitória no detalhe

 


Os treinos mostravam uma F1 equilibrada como gostamos de ver e tudo se confirmou na corrida, com uma disputa final entre quatro pilotos de três equipes diferentes e o prodígio Oscar Piastri conseguiu segurar um pelotão feroz atrás de si para vencer pela segunda vez na carreira e se tornar o piloto que mais pontuou nas últimas sete provas do campeonato, deixando a McLaren em situação difícil em priorizar Lando Norris com um piloto mais forte, no momento, do que o inglês. Leclerc foi um dos perdedores do domingo, com uma ultrapassagem decisiva tomada quando o monegasco deveria estar pensando na morte da bezerra. Com 26 poles, Leclerc soma apenas sete vitórias. Muito pouco para alguém tão rápido, mas Charles só garantiu o segundo lugar por causa do forte acidente entre Sainz e Pérez na penúltima volta, elevando um discreto Russell ao pódio, seguido de perto por Norris, que superou Verstappen nas voltas finais e tirando pontos de Max, mesmo largando quase dez posições atrás.


Com sol forte e o Mar Cáspio trazendo uma paisagem deslumbrante para o circuito citadino azeri, as equipes temiam pelo desgaste de pneus, algo que vem assombrando a todos nas últimas corridas e que vem se provando exagerado. Praticamente todos largaram com pneus médios e havia a expectativa de muitos pilotos indo para duas paradas, mas vide o que se passou em Monza, também se pensava  numa única parada, com os pilotos cuidando de suas respectivas borrachas. Mesmo com a pista bem suja no lado par, Pérez e Verstappen saíram muito bem e ganharam posições de Sainz e Russell, respectivamente, enquanto Leclerc mantinha a ponta com facilidade, seguido por Piastri. Largando em 15º, se aproveitando da troca de componente de motor de Hamilton que fizeram o inglês largar dos boxes, Lando Norris executou uma largada cautelosa, mas se serve de consolo, pelo menos ele ganhou posições dessa vez. Um toque entre Tsunoda e Stroll na primeira volta atrasou um pouco o avanço de Norris, mas quando teve pista livre, Lando ia ultrapassando os pilotos do pelotão intermediário, enquanto resguardava seus pneus duros. A corrida ficou estática, mesmo que com os primeiros colocados muito próximos um dos outros. 


Antes da primeira parada dos líderes, Leclerc chegou a quebrar a barreira do DRS e abria de Piastri, quanto o australiano seguiu boa parte dos pilotos e entrou nos pits para colocar pneus duros. Parecia uma parada precoce para todos, mas com o desgaste se mostrando mais baixo, boa parte do pelotão não pararia mais. Leclerc demorou um pouco para reagir à parada de Piastri, mas retornou ainda na frente do australiano, mas com Oscar claramente mais próximo. Checo Pérez fazia sua melhor corrida em meses e se aproximava dos líderes, enquanto Max Verstappen fazia uma corrida miserável. Na volta 19, Piastri estava no vácuo de Leclerc e com o DRS aberto. Algo que já tinha acontecido antes. Porém, Piastri colocou por dentro, freou no limite e efetuou a ultrapassagem sobre um surpreso Leclerc, que pareceu sem reação com a manobra do piloto da McLaren. Parecia até que Charles estava no mundo da lua ou deixou passar na esperança que logo daria o troco. Ainda haviam 32 voltas pela frente e não havia certeza de que todos ali iriam até o fim da corrida. Logo se formou um trio com Piastri, Leclerc e Pérez andando muito próximos. Albon e Norris postergaram suas paradas ao máximo, mas mantinham um ritmo decente e seguravam pilotos que já haviam parado. Norris lutava com Albon, enquanto segurava Verstappen num dia absurdamente ruim do neerlandês. Quando fez sua parada, Max estava colado em Sainz, que ultrapassou Albon e Norris, mesmo com dificuldades. Porém, Verstappen não teve força para atacar Norris e Sainz foi embora, terminando qualquer chance de ordem de equipe, algo que Christian Horner já havia anunciado que faria no sábado. 


Piastri fazia em várias oportunidades o que Leclerc não fez. Não faltaram momentos em que Leclerc entrava na longa reta dos boxes embaixo de Piastri, mas o australiano fechava o lado de dentro, enquanto Pérez assistia a tudo, conservando os seus pneus. Nas voltas finais, quando ficou claro que ninguém mais pararia, os pneus traseiros de Leclerc sentiram o baque de tanto tempo andando no ar sujo de Piastti e o ferrarista perdeu rendimento. Pérez partiu para cima, mas Sainz já havia tirado os 11s que o separavam dos líderes e estava na briga pelo pódio. Alerta, depois da bobeira no primeiro terço de prova, Leclerc se defendeu de Pérez numa manobra no limite, quase se tocando com o mexicano, que ao recuar, permitiu a ultrapassagem de Sainz, quando tentou o troco, Pérez bateu em Sainz num acidente forte na penúltima volta que definiu toda a corrida. Uma disputa de corrida polêmica, pois se quem bate por trás tem culpa (Pérez), também ficou claro que Sainz se moveu quando ainda não tinha o carro inteiro à frente do mexicano e o toque foi inevitável. Uma pena para Pérez, que fazia sua melhor corrida em meses e estava salvando a honra da Red Bull. Com tudo isso, Piastri garantiu sua segunda vitória no ano e que por mais que Lando Norris esteja na frente do campeonato no momento, Piastri é hoje o piloto do futuro da McLaren.


Por mais que o seu segundo lugar tenha sido salvo pelo melê entre Sainz e Pérez, Leclerc saiu do carro da Ferrari com cara de velório e não era para menos. Mais uma vez Leclerc não confirma uma pole e dessa vez o monegasco não poderá culpar sua equipe por algum erro estratégico. A ultrapassagem que Leclerc tomou foi daquelas que um verdadeiro campeão mundial não toma e por mais que seja rápido e talentoso, Charles deixa passar várias oportunidades em sua carreira, lembrando que em 2025 ele receberá na Ferrari um multi-campeão. Com a confusão entre Pérez e Sainz, George Russell levou à Mercedes ao pódio, mas como o próprio inglês falou na entrevista pré-pódio, em condições normais ele chegaria em sexto. Russell conseguiu ultrapassar Verstappen quando o piloto da Red Bull ficou empacado atrás de Norris e depois fez uma corrida discreta, mas que foi recompensada por um pódio inesperado. Ainda assim, George foi bem melhor do que Hamilton. O inglês fez uma corrida medíocre largando dos boxes, onde só reclamou do carros e dos pneus, só marcando pontos pelo acidente na penúltima volta. Norris levou seus pneus duros até onde deu, mas quando Albon parou à sua frente, o inglês pôde aumentar o ritmo e não apenas sair dos boxes na frente do piloto da Williams, como também na frente de Alonso. Com pista livre e pneus médios novos, Norris voou na pista e ultrapassou Verstappen com imensa facilidade. Sem ter o que fazer, Max ainda foi aos pits colocar pneus macios para tirar o ponto da melhor volta de Norris, mas o VSC estragou os planos do neerlandês. Mesmo tirando poucos pontos de Verstappen, ter largado nove posições atrás de Max e ainda chegar na frente pode ter sido um golpe duro em cima do atual tricampeão, além de elevar a moral de Norris, que terminou em quarto, contudo, ele terá que lidar com um companheiro de equipe numa fase esplendorosa.


No pelotão intermediário, Alonso foi o melhor do resto numa corrida incógnita, mas o espanhol não foi o melhor piloto da segunda parte da F1. A Williams colocou seus dois pilotos em estratégias diferentes, com Colapinto saindo com médios e Albon com os duros. O argentino parou junto aos demais pilotos e estava na briga pelos pontos, enquanto Albon ocupou por muito tempo o quinto lugar, só parando no final. Se não teve condições de segurar Norris quando este teve pista livre, Albon partiu para cima dos pilotos do pelotão intermediário, fazendo várias ultrapassagens e chegando bastante próximo de Alonso, só não o ultrapassando pelo acidente na penúltima volta. Uma bela corrida de Albon, que lhe deu um bom sétimo lugar, com Calapinto logo atrás. O argentino fez nas duas últimas corridas do que Sargeant não fez em um ano e meio de F1. Se Logan Sargeant foi uma escolha errada, Colapinto vem se mostrando numa tacada certeira de James Vowles. Outra escolha correta é Oliver Bearman. Já confirmado como piloto da Haas em 2025, o inglês substituiu muito bem o punido Kevin Magnussen e superou Hulkenberg na classificação e na corrida, marcando o último pontinho da corrida e entrando na história, se tornando o único piloto a marcar pontos nas duas primeiras corridas na carreira da F1 em duas equipes diferentes. O toque na primeira volta estragou as corridas de Tsunoda e Stroll, que abandonaram quando estavam sem ritmo. Ricciardo fez outra corrida para esquecer, o mesmo acontecendo com a Alpine e Sauber. Bottas foi o último da corrida de hoje e com Gabriel Bortoleto na liderança do campeonato da F2, fica cada vez mais difícil não escolher o brasileiro para a vaga na Sauber em 2025, mesmo o carro sendo muito ruim no momento.


E a F1 2024 entregou outra corrida para ficar na memória. Piastri foi cirúrgico tanto na corrida, como na ultrapassagem vencedora sobre Leclerc e já vai conseguindo mostrar sua marca na F1, com uma pilotagem fria, como a própria personalidade do australiano, que parecia bastante sereno no pódio. Maior pontuador nas últimas sete provas do campeonato, Piastri mostra que poderá ser o piloto do futuro da McLaren, que com os resultados de hoje superou a Red Bull no Mundial de Construtores e até o final do certame lutará para garantir também que seu futuro do presente, Lando Norris, vença o Mundial de Pilotos, mesmo com poucos pontos debitados hoje. Um campeonato que vai se mostrando imprevisível e cada vez melhor de se acompanhar. 

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