domingo, 1 de setembro de 2024

Nó tático

 


Nos últimos anos, a Ferrari se caracterizou por seus diversos erros táticos, que tiraram algumas vitórias das mãos dos seus pilotos. Os Planos A, B, C e etc entraram para o folclore da F1. No entanto, a Ferrari sempre ganha força em Monza, seu lar espiritual e mesmo com a McLaren dominando o final de semana, a Ferrari executou uma estratégia arriscada, mas ao mesmo tempo certeira para derrotar os ingleses, conseguindo uma vitória surpreendente para Charles Leclerc, derrotando a dupla da McLaren para delírio dos tifosi.


A corrida em Monza foi das melhores nessa surpreendente e animada temporada 2024. O recapeamento do asfalto em Monza criou muitas expectativas para o desgaste de pneus, com a tendência para que as equipes deixassem de lado a tradicional estratégia de uma parada e fazerem os pilotos visitarem os boxes duas vezes durante a rápida corrida na região da Lombardia. Mesmo com forte calor, não havia sol à pino nesse começo de outono italiano e surgiu até mesmo a possibilidade de chuva, que não se confirmou. A largada foi bem convencional, com Lando Norris defendendo muito bem a sua pole, enquanto Piastri defendia a honra da McLaren ao fazer uma defesa de posição bastante forte em cima de George Russell, que para não bater no australiano saiu da pista e ao voltar no meio do pelotão, acabou estragando sua asa dianteira num toque com Max Verstappen. A corrida de George acabou praticamente ali. Com Lando setenta pontos atrás de Verstappen no campeonato, a McLaren vindo forte e a Red Bull tendo problemas na Itália, o lógico era pensar que a turma de Zak Brown e seus papaia caps privilegiassem o inglês, mas devem ter esquecido de avisar Oscar Piastri. O australiano partiu para o ataque na Variante Della Roggia e numa manobra arriscada por fora, mas muito bem executada, Piastri tomou a primeira posição do seu companheiro de equipe. Surpreendido pelo fogo amigo, Norris saiu mais lento da chicane, permitindo o ataque de Leclerc, que começava a festa italiana ao assumir a segunda posição. Lando Norris continuava a sua sina de não ter liderado nenhuma volta de abertura na F1, mesmo que dessa vez, o inglês da McLaren tenha largada de forma razoável.

A surpreendente manobra de Piastri deixava a McLaren com um abacaxi nas mãos. O australiano não apenas liderava, como ainda tinha Leclerc entre ele e Norris, impossibilitando qualquer ordem de equipe naquele momento. Leclerc andava na mesma balada de Piastri, enquanto Sainz segurava sem maiores sustos Hamilton e Verstappen. Seis meses depois de um início de campeonato auspicioso, não é nenhum segredo que hoje a Red Bull é quarta força da F1 e Max apenas tentava ficar nas primeiras posições, com Russell e Pérez logo atrás. Precisando trocar a asa dianteira danificada e tendo sido ultrapassado por Pérez, Russell inaugurou a primeira rodada de paradas ainda na volta 11, deixando claro que a Mercedes iria para tática de duas paradas, mas o fato de estar nublado fazia com que as equipes deixassem no ar a opção de parar apenas uma vez. Norris se aproximava de Leclerc e por isso, antecipou sua parada na volta 14, tentando um undercut em Leclerc. A Ferrari trouxe o monegasco para os pits na volta seguinte, mas a manobra da McLaren tinha dado certo, para desespero de Leclerc, enquanto Sainz ficou mais algumas voltas na pista e questionava a tática das equipes de pararem tão cedo. Tentando fazer diferente, a Red Bull largou com pneus duros, enquanto os demais times top saíram com pneus médios. Será que a Red Bull, que dera alguns pulos do gato na estratégia, surpreenderia a todos novamente? Foi com uma enorme decepção que a Red Bull trouxe seus dois pilotos apenas algumas depois dos demais líderes e colocou... pneus duros! Para completar, o pit-stop de Verstappen foi lento, por causa de uma roda traseira direita presa. O soco que Max deu no volante mostrava a sua frustração, assim como o de todos que assistiam a prova. A Red Bull definitivamente decai a olhos vistos em vários setores, passando pela engenharia e as táticas.


O segundo stint tinha as duas McLarens na ponta. Hora de trocar as posições dos pilotos capitalizar a corrida ruim da Red Bull, certo? Andrea Stella não pensou assim e deixou os dois correrem soltos, sendo que claramente Piastri estava mais veloz do que Norris, que tinha Leclerc em seu encalço. E foi o inglês que iniciou a segunda rodada de paradas, sendo seguido por Piastri e as duplas de Red Bull e Mercedes. Faltavam pouco mais de quinze voltas e a McLaren pareceu ter acordado de supetão para o que via na pista. A Ferrari arriscaria para uma tática de uma parada para os seus dois pilotos. Se ano passado a Ferrari devorava pneus, com um carro mais equilibrado e a torcida de todo um país empurrando, os italianos tinham condições para se manter na pista e tentar uma vitória inesperada. Ao perceber isso, a McLaren mandou seus dois pilotos acelerarem, se esquecendo de qualquer ordem de equipe, até porque Piastri estava mais rápido. Norris suou para ultrapassar Verstappen, em tática diferente. Sainz fez o que pode, mas com Oscar 1,5s mais rápido, o espanhol viu primeiro Piastri, depois Norris, o ultrapassar como se o espanhol estivesse parado. Porém, faltavam menos de dez voltas e Piastri não tirava o suficiente para chegar em Leclerc. O monegasco, que duvidou da estratégia da Ferrari, se assegurava como vencedor do Grande Prêmio da Itália pela esperteza de sua equipe, além de uma pilotagem vencedora, onde Charles não errou, mesmo Piastri se aproximando e recebendo a bandeirada menos de 3s atrás. A festa que os italianos fizeram, principalmente no hino italiano, foi daquelas para se lembrar para sempre, ainda mais com a Ferrari vencendo em 2024 em Mônaco, Le Mans e Monza. E duas com Leclerc!


Assim como os tifosi não esquecerão esse dia, a turma da McLaren não esquecerá essa derrota, uma das mais amargas dos últimos tempos. Piastri usou a palavra 'doloroso' para demonstrar seus sentimentos, enquanto Norris parecia cabreiro por tudo que tinha acontecido. Após renunciar a uma vitória na Hungria, Norris provavelmente esperava uma maior atenção de sua equipe, algo que não aconteceu. O ataque de Piastri e a não troca de posições pode custar muito caro num campeonato que vai para o seu terço final indefinido. Superado por Sainz e uma das Mercedes, Verstappen foi apenas sexto, longínquos 37s atrás do líder e ainda perdeu o ponto da volta mais rápida para Norris no giro final. Pérez foi oitavo, dessa vez andou próximo de Max, mas ele ficou mais próximo do nono colocado Albon do que o sétimo colocado Russell, que o ultrapassou no terço final de prova. No Mundial de Construtores, a Red Bull ainda lidera por apenas oito pontos e já não se pode descartar a Ferrari, menos de quarenta pontos atrás. No Mundial de Pilotos, Max ainda sustenta uma diferença de 62 pontos, superior a duas corridas, mas o próprio neerlandês já falou que, nesse momento, a Red Bull não tem ritmo para vencer qualquer corrida. E ainda faltam oito provas, mais duas Sprints.


No pelotão intermediário, destaque para o nono lugar de Alexander Albon, confirmando a boa forma da Williams em circuitos de baixo downforce, com Franco Colapinto terminando num decente 12º lugar, na frente de pilotos bem mais experientes do que ele, além de superar a dupla da Alpine, que andou junta o tempo todo, mas sem maiores incidentes entre Albon e Ocon. Os funcionários da Renault se manifestando nas arquibancadas com o possível fim do projeto do motor gaulês chamou mais atenção do que a Alpine fazia na pista. Hulkenberg teve problemas com os dois pilotos da Racing Bulls, sendo vítima no caso de Ricciardo e culpado no caso de Tsunoda, único abandono do dia. O outro carro da Haas fez uma corrida agressiva, mas no fim Kevin Magnussen ainda amealhou um pontinho, mas o dinamarquês tanto aprontou que somou mais pontos na carteira e pela primeira vez na história desse regulamento, um piloto foi banido de uma corrida por ter tantas punição. Em sua última temporada na F1, Kevin Magnussen deixou sua marca. Aston Martin fez outra corrida medíocre e ficou zerada, o mesmo com a Sauber, mas no caso dos suíços, isso nem é mais novidade.


A temporada 2024 entregou mais uma corrida surpreendente e de uma campeonato parecia decidido ao final da primeira corrida, temos um certame completamente aberto, com quatro equipes podendo vencer corridas. Em Monza, tudo levava a crer que a vitória seria da McLaren, mas a Ferrari surpreendeu a todos e conseguiu o triunfo num verdadeiro nó tático perpetrado pelos italianos.  Max Verstappen sofre com a falta de ritmo do seu carro e suas esperanças recaem nas pisadas de tomate que a McLaren vai fazendo, mesmo que o carro laranja hoje claramente o melhor do pelotão. Ainda teremos muitas corridas pela frente e estão cada vez melhores. Gostamos!

2 comentários:

  1. Foi uma baita corrida hoje, diria que a melhor do ano no ponto de vista estratégico

    Aliás, seria legal se você também comentasse sobre o fim de semana do Bortoleto em Monza, onde ele foi do erro dele no qualy e a expectativa dele terminar zerado para no final pontuar mais que os rivais e ainda vencer hoje largando de último

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    1. Oi Lucas! Foi realmente uma baita corrida do Bortoleto. Bem que ele poderia estar no lugar do Bottas em 2025...

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