domingo, 13 de novembro de 2022

O que é isso, companheiro?


 Ao conseguir vencer a Sprint Race nesse sábado com autoridade, George Russell deu a dica que viria muito forte para a corrida e que a Mercedes finalmente venceria em 2022. Não deu outra! Russell dominou a prova em Interlagos com a calma de um veterano, largando (e relargando) muito bem e praticamente não foi sequer ameaçado durante as 71 voltas de um GP de São Paulo que começou animado e acidentado, mas que no fim foi definido pela estratégia das equipes e que terá muita polêmica na reunião pós-corrida de várias equipes.


A semana inteira se falou em chuva durante todo o final de semana paulistano, mas a precipitação só deu as caras mesmo na sexta-feira, quando a F1 ficou chocada com a primeira pole de Kevin Magnussen, mas já na primeira volta da corrida, realizada com sol entre nuvens, o danês da Haas voltou ao mundo real quando foi abalroado por um atrapalhado Daniel Ricciardo, que deve estar encerrando sua passagem na F1 com um senhor viés de baixa. Largando na pole, Russell deu uma resposta aos seus rivais logo na saída, conseguindo abrir uma bela vantagem para Hamilton antes que o Safety-Car entrasse na pista pela primeira vez para retirar os carros de Magnussen e Ricciardo. Na relargada, Russell não se intimidou em ter Hamilton no seu retrovisor e como um piloto experiente de várias vitórias, esperou até o último momento para acelerar, o que acabou atrapalhando Hamilton, deixando o inglês como um alvo fácil da dupla da Red Bull, que vinha logo atrás dele. Já no sábado ficou claro que Max Verstappen ainda não se recuperou de toda a tensão que se envolveu com Hamilton em 2021 e brigar com o inglês faz com que Max aumente um degrau na graduação de agressividade. Hamilton se colocou por dentro, enquanto Verstappen tentou uma manobra agressiva por fora, tentando se colocar por dentro na segunda perna do esse do Senna. Hamilton percebeu a manobra e deixou o mínimo espaço para Max, fazendo com que o toque fosse inevitável. Ambos saíram da pista, com Verstappen sendo o mais prejudicado e tendo que trocar a asa dianteira, além de ter sido punido. Hamilton perdeu tempo, mas permaneceu na pista e numa boa posição para iniciar uma recuperação. Russell liderava à frente de Pérez e tudo levava a crer que o mexicano sairia de Interlagos com o vice-campeonato nas mãos, pois mais atrás Leclerc se envolvia num incidente com Norris, fazendo com que o monegasco saísse da pista e batesse de leve no muro. Leclerc retornou à pista, trocou a asa dianteira e caiu para último.


A corrida se concentrou numa luta distante entre Russell, Pérez e Sainz, mas o espanhol sofreria uma falta de sorte terrível quando um sobreviseira entrou no duto do seu freio traseiro direito, fazendo com que Sainz tivesse que fazer uma parada não-programada, mas não tirando-o totalmente da briga pelo pódio, enquanto Hamilton aproveitava a sua nova situação de cidadão brasileiro honorário e fazia uma bela corrida de recuperação na frente do público que vibrou muito com ele, ultrapassando Vettel e Norris para ser quarto, subindo para terceiro com a parada de Sainz. A corrida parecia um jogo de gato e rato entre Mercedes, Red Bull e Ferrari. Cada vez que alguém parava, a outra equipe logo chamava seu piloto para evitar o undercut. Contudo, o ritmo da Mercedes era muito forte no clima mais agradável que fez no final da tarde em Interlagos, com Hamilton rapidamente se aproximando e ultrapassando Pérez. Sainz fez sua segunda parada mais cedo e com pneus melhores, quase surpreendia Russell, pois George saiu de seu segundo pit-stop apenas 1s na frente do espanhol. Mais um pouquinho e a Ferrari conseguia sua melhor manobra tática do ano. Mas como sempre, a Ferrari não fez acontecer com 100% de precisão. Com pneus mais novos e macios (contra os desgastados médios de Sainz), Russell parecia que partiria para uma vitória tranquila, mas o abandono de Norris faltando um punhado de voltas para o fim fez com que houvesse ainda algum suspense no fim, com a entrada do segundo SC. Sainz foi aos boxes colocar pneus macios e relargaria em quarto, enquanto Hamilton teria uma nova chance para atacar. Teria?


Russell chegou a perguntar à Mercedes se os dois pilotos prateados estavam livres para lutar, no que foi confirmado pela Mercedes, mas George fez sua parte com outra grande relargada e Hamilton segurou bem às pontas ao administrar bem a vantagem sobre Sainz, não forçando em demasia uma situação de ataque sobre Russell. O jovem inglês da Mercedes fez uma corrida de gente grande, não se intimidou com as situações de relargada e conseguiu sua primeira vitória na F1, dando à Mercedes sua merecida vitória em 2022, além de encostar na Ferrari no Mundial de Construtores, mesmo que uma virada ainda não seja das tarefas mais fáceis. Russell saiu do carro emocionado, numa cena bem diferente da vista em Sakhir em 2020, quando a vitória dele escapou por muito pouco. Uma vitória bem representativa para a Mercedes, que começou o ano de forma muito mais modesta do que habitual e no final da temporada, conseguiu uma dobradinha dentro da pista, sem precisar de uma combinação de sorte e quebras de suas rivais. Toto Wolff não estava em São Paulo nesse final de semana, mas ele falou com seus pilotos e provavelmente a Mercedes será a única equipe que partirá para Abu Dhabi feliz após os resultados desse domingo.


Seja por resultados ruins ou por problemas internos com seus pilotos, as demais nove equipes do grid da F1 terão pequenos problemas a serem resolvidos nos próximos dias. A luta pelo vice-campeonato ainda está aberta entre Charles Leclerc e Sérgio Pérez, com ambos saindo empatados em pontos e igualmente bastante chateados com seus respectivos companheiros de equipe. Nas últimas voltas chegou a ser constrangedor a forma como Leclerc mendigava por uma troca de posição com Sainz, sendo que o espanhol andou a corrida inteira na frente, mesmo com a bela recuperação de Leclerc, que saiu da última posição para ser quarto. A Ferrari desconversava e com Sainz 4s na frente, os italianos deixaram como estava. Para sorte de Leclerc, a situação de Pérez foi a mesmo e bem mais tensa. O mexicano perdeu bastante desempenho após a segunda relargada e foi sendo ultrapassado por quem vinha atrás, incluindo Verstappen. A Red Bull deixou Max passar na esperança do neerlandês alcançar Leclerc, mas havia uma pedra no caminho, chamado Fernando Alonso, que fez da tática da Red Bull no mínimo duvidosa. Para piorar, a equipe prometeu naquelas poucas voltas uma inversão de posições, mas Verstappen simplesmente ignorou a chamada da equipe e para quem quisesse ouvir, reclamou com o time de que não cederia posições. Pérez não deixou por menos, sendo bastante irônico em suas colocações sobre o companheiro de equipe. Um clima nada amistoso dentro da Red Bull para a última corrida e a próxima temporada se aproxima. Até mesmo Christian Horner entrou no rádio para acalmar Checo, mas a reunião da Red Bull não será a única tensa.


Vettel fazia uma bela corrida em sua despedida em Interlagos, chegando a ficar em quinto, mas o alemão foi perdendo rendimento e quando colocou os pneus médios na última relargada, a situação ficou ainda pior para Seb. Quem vinha atrás de Vettel era Stroll, que ontem jogou o companheiro de equipe na grama. A Aston Martin, cujo dono, não devemos esquecer, é pai de Lance, pediu para Vettel ceder sua posição para Stroll para que ele atacasse Bottas e que caso Lance não conseguisse a ultrapassagem sobre a Alfa de Valtteri, as posições seriam invertidas. Vettel deixou passar, Stroll não conseguiu ultrapassar Bottas, mas permaneceu à frente de Vettel, fazendo com que outra reunião pós-corrida seja bem animada, assim como será na Alpine. Por causa das trapalhadas dos seus pilotos, a equipe gaulesa viu sua dupla largar na penúltima fila, mas com um baita ritmo e com Alonso num dia inspirado, a Alpine marcou pontos com seus dois pilotos, com destaque para o quinto lugar de Fernando. Porém, na última relargada, novamente Ocon e Alonso estavam juntos e foi preciso a equipe se impor para que ambos soubessem o que fazer. E principalmente não se tocarem! Entre mortos e feridos, Alonso chegou bem à frente de Ocon, que foi apenas oitavo, à frente de Bottas e Stroll. 


Foi uma corrida animada como é comum em Interlagos e também marcante para George Russell, que conseguiu sua primeira e merecida vitória na F1 com uma corrida correta, como foi toda a sua temporada. Sempre ficará a dúvida se Hamilton deixou ou não Russell vencer, mas o certo é que há harmonia dentro da Mercedes, o mesmo não acontecendo em várias outras equipes, até mesmo na super campeã Red Bull.

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