terça-feira, 29 de novembro de 2022

Sem surpresas

 


Conhecendo a paciência latina, pode-se afirmar que até mesmo demorou. Após semanas de especulações, a Ferrari anunciou nessa terça-feira a saída de Mattia Binotto após 27 anos do ítalo-suíço na equipe italiana, começando de estagiário até o cargo de chefe de equipe. Foram muitos títulos conquistados Binotto nos áureos tempos de Schumacher e Mattia sempre fora considerado um grande engenheiro, quando fez parte dos motores da escuderia em meados dos anos 2000. Porém, nem todo técnico se torna um grande gestor.

Usando o próprio automobilismo como exemplo, sempre surgem jovens pilotos rápidos nas categorias de base, mas essas revelações muitas vezes 'batem no teto' numa categoria acima. Quem não se lembra de Antônio Pizzônia fazendo misérias na F3, mas já não sendo tão dominante na F3000 e fazendo um papelão na F1? Pois bem, Binotto pode ser um ótimo engenheiro ou chefe de departamento, mas cuidar de uma grande empresa, no que se tornou as equipes de F1, com todas as suas complexidades e políticas é um trabalho verdadeiramente para poucos. Binotto chegou à chefia da Ferrari num momento de transição, com a morte de Sergio Marchionne em 2018. Binotto teve um ano muito bom em 2019, mas a polêmica do motor 'apimentado' da Ferrari e um acordo secreto fez com que a Ferrari tivessem dois anos complicados em 2020 e 2021. A mudança de regulamento fez com que a Ferrari desse um passo à frente em 2022, mas não faltaram problemas que um chefe mais experiente e forte poderia resolver. E Binotto não resolveu.

Ainda em 2019, com a chegada de Charles Leclerc, o monegasco teve alguns arranca-rabos com Vettel, praticamente fazendo com que o alemão saísse da equipe no final de 2020. A Ferrari perdeu alguns pontos naquela época por pura falta de administração de seus pilotos. Ponto negativo para Mattia. Veio 2022 e a Ferrari parecia que nadaria de braçada com um carro bem nascido com o novo regulamento técnico, mas não demorou muito a desandar a maionese. Erros táticos básicos deixaram Leclerc, hoje a aposta da Ferrari, ainda mais pressionado, fazendo-o errar dentro da pista. Nesse círculo vicioso, Max Verstappen e Red Bull aproveitaram para dominar uma temporada que parecia vermelha no começo do ano. Graças a isso, a confiança da Ferrari e do presidente do grupo Agnelli John Elkann foi decaindo cada vez mais em torno da liderança de Binotto, que ainda se viu envolvido em problemas com Leclerc, cansado de ver a Ferrari cometer erros absurdos de estratégia.

Binotto não apareceu na maiorias das corridas finais, já indicando que ele não permaneceria no posto de chefe da Ferrari por muito tempo, algo alimentado pela imprensa italiana. Em comum acordo, hoje foi anunciado a saída de Binotto da Ferrari, que consta que foi de Binotto o pedido de desligamento dele. Rei morto, rei posto. Segundo a mesmo imprensa italiana, o favorito a ocupar o cargo de Binotto seria Fred Vasseur, chefe da Alfa Romeo, que passará por momentos de transição com a chegada da Audi nos próximos anos. A Ferrari ainda não se pronunciou quem será o novo chefe, assim como não se sabe o que Binotto fará da vida. A Ferrari evoluiu bastante com a mudança de regulamento, isso é um fato, mas também não dá para contestar que a liderança da Ferrari estragou um ano que poderia ser ainda melhor. Sem surpresas, sobrou para o chefe e Binotto procurará o que fazer em 2023.

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