quinta-feira, 23 de maio de 2019

História: 15 anos do Grande Prêmio de Mônaco de 2004

Assim como acontece agora, havia um domínio avassalador na F1 em 2004. A Ferrari estava matando a pau seus concorrentes liderada por Michael Schumacher, que após passar um susto em 2003 ao confirmar o campeonato apenas na última corrida, em 2004 parecia ainda mais forte e motivado. A prova de que a Ferrari não dominava como havia feito em 2002 era que Rubens Barrichello não conseguia andar no mesmo ritmo do alemão, muitas vezes sofrendo com táticas erradas da Ferrari e as esperadas dobradinhas não vinham. Apenas Schumacher que vencia com tranquilidade. A McLaren estava completamente perdida, enquanto a Williams e sua asa dianteira de gosto duvidosíssimo não estava ao nível de 2003, quando Montoya brigou pelo título. Se aproveitando da fraqueza das tradicionais Williams e McLaren, Renault e BAR entraram no bolo para ficar como o melhor do resto, com ambas as equipes conseguindo pódios e andando constantemente entre os cinco primeiros. Em Monte Carlo, a notória dificuldade de se ultrapassar deixava a classificação de sábado praticamente como um enorme passo dado rumo a vitória no domingo.

Em tempos que não deixaram muitas saudades onde o grid era formado com uma única volta e com os carros carregando o combustível que iriam largar no domingo, a estratégia era fundamental e não raro, pilotos sem condições de brigar na frente largavam em posições acima do seu potencial simplesmente por estarem com pouco combustível, muitas vezes sacrificando a corrida. Porém, a Ferrari pareceu ter subestimado Mônaco. Numa pista onde a posição de largada é fundamental, nenhum carro vermelho estava na primeira fila, com Schumacher em quarto e Barrichello apenas em sexto. Trulli foi o único a baixar da casa de 1:14s e conseguiu sua primeira pole na carreira, seguido pela BAR de Jenson Button, já que Ralf Schumacher teve que largar em 12º por causa de uma troca de motor e perder dez posições no grid.  

Grid:
1) Trulli (Renault) - 1:13.985
2) Button (BAR) - 1:14.396
3) Alonso (Renault) - 1:14.408
4) M.Schumacher (Ferrari) - 1:14.516
5) Raikkonen (McLaren) - 1:14.592
6) Barrichello (Ferrari) - 1:14.716
7) Sato (BAR) - 1:14.827
8) Coulthard (McLaren) - 1:14.951
9) Montoya (Williams) - 1:15.039
10) Fisichella (Sauber) - 1:15.352

O dia 23 de maio de 2004 estava quente e ensolarado na beira do Mediterrâneo, criando um belo cenário para a corrida mais glamorosa da F1. Porém, muitas vezes corridas com tempo bom em Mônaco significa também corridas sacais, onde um trenzinho é formado e ninguém passa ninguém. Porém, carreras son carreras. A largada seria crucial para a prova e Sato sabia muito bem disso. Após uma largada banzai, o japonês conseguiu pular de oitavo para quarto de forma estupenda, enquanto Alonso se aproveitava da melhor eletrônica da Renault para tomar a segunda posição de Button, ficando logo atrás do seu companheiro de equipe, que confirmava a pole em Mônaco. Ponto muito à favor para Trulli na corrida.

Contudo, o motor de Takuma Sato soltava muita fumaça ainda na primeira volta e não demorou muito para o motor Honda abrir o bico. A grande nuvem de fumaça cegou por alguns momentos o meio do pelotão e Fisichella acabou batendo em Coulthard. O italiano da Sauber capotou, numa cena preocupante, mas ninguém estava ferido e o safety-car ficou na pista por cinco voltas, até sair da frente de Trulli na passagem de número oito, reiniciando a prova. Alonso tentou um ataque em cima de Trulli, mas como é bem comum em Mônaco, o italiano se defendeu facilmente, o mesmo não acontecendo com Barrichello, que foi ultrapassado por Montoya na relargada e caía para sétimo. Não demorou muito para as estratégias ficarem claras e os porquês das posições de alguns pilotos. A dupla da Renault e Button estavam mais leves do que a Ferrari e McLaren. Após a primeira rodada de paradas, a dupla da Renault permanecia na ponta, mas quem já vinham em terceiro, de forma ameaçadora, era a Ferrari de Michael Schumacher. Button caiu para sexto, mas logo recuperaria uma posição quando Raikkonen abandonou na volta 28. A McLaren além de ter um carro lento, era bastante inconfiável e o tradicional time batia recordes negativos em 2004. Mal sabiam eles...

A corrida ficava estática, com Mônaco mostrando suas eternas dificuldades de ultrapassagem. Porém, a corrida ganharia um colorido especial em sua metade. Mesmo com um carro rápido, Ralf Schumacher não conseguiu evoluir na corrida e estava para tomar uma volta dos líderes. Após abrir para Trulli, o alemão da Williams escolheu o túnel para deixar Alonso passar, mas um toque entre os dois fez o espanhol rodar e bater, abandonando a corrida no local. Alonso ficou furioso! Enquanto rodava, mostrou o dedo do meio para Ralf e quando foi entrevistado, xingou a falecida matriarca da família Schumacher. A maioria dos pilotos procuraram os pits para uma segunda rodada de paradas, menos Michael Schumacher e Juan Pablo Montoya, que assumiam as duas primeiras posições. Então, o escurinho do túnel de Monte Carlo aprontou mais uma. Schumacher tentava esquentar pneus e freios, fazendo rápidos zingue-zagues e aproveitando qualquer trecho rápido para apertar o acelerador e depois frear forte. Quando a câmera da TV mostrava a saída do túnel, a Ferrari de Schumacher apareceu com apenas três rodas e a dianteira destruída. O alemão resolveu aquecer seus freios dentro do túnel, mas não combinou com Montoya. Schumacher acabou se enroscando com Montoya no processo e bateu forte no guard-rail, provocando seu abandono e o fim da esperança de um início perfeito de temporada. Até aquele momento, Schumacher estava com 100% de aproveitamento.

Muitas coisas aconteceram durante um curto espaço de tempo e se faltou emoção das ultrapassagens, a curtição da corrida de quinze anos atrás aconteceu pelos erros dos pilotos. Até mesmo os infalíveis! Com o toque entre Schumacher e Montoya, Trulli reassumia a liderança da prova para não mais perdê-la, conseguindo o que seria sua única vitória na F1. Button ainda tentou um ataque final nas últimas voltas, mas o inglês foi incapaz de ultrapassar e teve que se conformar com a segunda posição. Com tantos abandonos, Rubens Barrichello se viu em terceiro, foi aos pits para uma terceira parada e ainda conseguiu permanecer na posição de pódio, sendo o último a completar a mesma volta dos líderes. Mesmo com o incidente com Schumacher, Montoya salvou um quarto lugar, com Massa e Da Matta completando os seis primeiros numa corrida onde apenas nove carros receberam a bandeirada. Trulli estreou na F1 com jeito de que poderia ser um piloto de ponta, mas sua velocidade normalmente só aparecia nos treinos, com o ritmo de corrida do italiano caindo bastante. Numa prova bastante acidentada, Trulli soube aproveitar o posicionamento que conquistou na classificação para vencer sua única corrida na F1.

Chegada:
1) Trulli
2) Button
3) Barrichello
4) Montoya
5) Massa
6) Da Matta
7) Heidfeld
8) Panis 

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