domingo, 9 de outubro de 2022

Zona

 


Mohammed bin Sulayem terá muito trabalho pela frente na presidência da FIA. Não bastasse ter que administrar o ego dos chefes de equipe da F1 e uma provável crise por causa do teto de gastos, ainda terá que dar muitas explicações pelo o que aconteceu nesse domingo em Suzuka. Corridas na chuva sempre ocorreram na F1, com pouca ou muita intensidade, faz parte da natureza. Não faço parte daqueles que romantizam tudo o que acontecia no passado, incluindo na F1. Uma foto com um carro de F1 na beira do precipício e a pessoa coloca 'ah, isso que era F1, isso que era piloto'. Pensar na morte como algo inerente no automobilismo é não ter empatia ao próximo e ligar pouco para a vida, mesmo com algumas décadas de atraso. Porém, é inacreditável a FIA não pressionar equipes e a Pirelli para projetar um pneu de chuva forte decente. É um absurdo que oito anos após a trágica morte de Jules Bianchi aparecer um trator numa pista encharcada em Suzuka. É um desatino que ninguém soubesse que o título estava sendo decidido a ponto de Max Verstappen demorar alguns minutos para saber que tinha sido bicampeão mundial.


Suzuka nos entregou outra corrida caótica por causa da chuva e Max Verstappen conquistou sua décima segunda vitória na temporada com uma pilotagem soberba, muito superior aos demais, explícita pelos mais de 22s de vantagem em pouco menos de quarenta minutos de prova, encurtada por causa do aguaceiro que caiu em Suzuka e pela bandeira vermelha de duas horas que interrompeu o Grande Prêmio do Japão. A F1 é uma pessoa de 72 anos traumatizada, principalmente pelos ocorridos recentes. Ninguém queria uma repetição de Spa no ano passado e mesmo com a pista molhada, a largada aconteceu na hora marcada quando as condições eram similares à situação belga de 2021. Porém, bastou Carlos Sainz aquaplanar e bater para ficar claro que a corrida seria interrompida. Foi então que um grande trauma foi revivido. Em 2014 o Grande Prêmio do Japão era ameaçado por um tufão, mas na época se falava que a F1 tinha que correr de qualquer jeito. 'Ah, antigamente....' Com esse mote, falava-se que deveria-se correr de qualquer forma e mesmo com a pista encharcada, deu-se a largada ao Grande Prêmio do Japão daquele ano e quando Adrian Sutil bateu, um trator foi colocado na pista para tirar o carro do alemão. Foi então que tragicamente Jules Bianchi aquaplanou e entrou direto no trator, custando a vida do jovem francês meses depois após longa agonia. A F1 passou ter muito cuidado com pista molhada, inclusive não deixando largar em Spa ano passado. As críticas foram gigantescas em 2021 com a não-corrida em Spa. Hoje deu-se a largada, Sainz bateu forte após o hairpin e o que apareceu na pista com os carros ainda rodando? Um trator. Talvez do mesmo modelo que matou Bianchi. Pierre Gasly esbravejou pelo rádio com toda a razão. Como a FIA tem vários cuidados para usar procedimentos com pista muito molhada e simplesmente deixa acontecer o mesmo erro de 2014? Logo com os metódicos japoneses? Foi uma cena marcante para essa corrida em Suzuka, mostrando que a FIA está mais perdida que uma freira num baile funk.


Porém, as trapalhadas da FIA ainda não tinha terminado, mas antes falaremos da estrela do dia. Sim, hoje Max Verstappen ratificou sua condição de campeão dominante da temporada 2022 com uma corrida sublime, onde não deu chances a ninguém desde a largada, quando deu uma passadão por fora em cima de Leclerc daquela para se lembrar, só não liderando de ponta a ponta por causa da tentativa de Alonso e Mick Schumacher de tentar fazer diferente no momento em que os carros procuram os pits para colocar pneus intermediários. Na pista molhada Max fez uma corrida sem erros, mas contou com um para garantir o campeonato. Leclerc tinha problemas de pneus e era pressionado por Sergio Pérez nas voltas finais quando saiu da pista na última volta na famosa chicane Causio, cortando caminho e cruzando na frente de Checo. Uma clara violação e Charles foi rapidamente punido pela manobra temerária. Porém, em outra presepada da FIA, todos pensavam que Verstappen iria para Austin com uma vantagem ainda maior para ser campeão nos States, onde não faltaria pirotecnia e chapelões texanos. Porém, ninguém se atentou que por causa da corrida 'Viúva Porcina' em Spa no ano passado, alguns procedimentos foram mudados. Mesmo com a corrida encurtada para não exceder o tempo limite do evento, os pontos seriam dados completos, pois a prova terminaria e os pontos só seriam dados pela metade se a corrida fosse suspensa. Naquele momento, ninguém tinha percebido que a pataquada de Leclerc (mais uma) tinha sido decisiva para o campeonato. Até mesmo Verstappen e a Red Bull não sabiam que o campeonato estava no papo. Outro ponto negativo para a FIA, que muda tanto de regras que acaba se perdendo nelas. Porém, isso não tira o merecimento do título de Max Verstappen. Em toda a temporada o neerlandês se mostrou um degrau acima dos rivais e somado ao carro da Red Bull, esse conjunto se mostrou imbatível. E ainda mostrando um reflexo do que foi 2022, Leclerc errou na hora H para facilitar as coisas para Max.


Hoje não o melhor dos dias para a Ferrari, que viu Verstappen garantir o título por um erro do seu piloto e ainda foi praticamente a única a sair no prejuízo pelo clima inclemente nipônico, com a forte batida de Carlos Sainz. Já pensando em 2023, a Ferrari necessita de uma grande reflexão. Inclusive se Leclerc é mesmo o piloto da Ferrari no futuro. A ultrapassagem que levou de Verstappen na largada foi daquelas de se fazer pensar se o monegasco tem mesmo estofo para bater de frente com o antigo rival no kart nesse momento. Já a Mercedes teve uma corrida medíocre, onde Hamilton tinha mais ritmo do que Ocon, mas simplesmente não conseguiu a ultrapassagem pelo grande arrasto do carro nas retas, impedindo o avanço de Lewis. Já Russell foi atrapalhado no momento do pit-stop, quando praticamente todo o grid foi aos boxes colocar pneus intermediários, em outro antigo drama da F1. Com a restrição de testes por motivos financeiros, a Pirelli fica praticamente de mãos atadas para corrigir um problema crônico: os pneus de chuva extrema. A F1 camufla como pode esse problema, postergando largadas com pista muito molhada para que as equipes coloquem os pneus intermediários, por sinal, o tipo de pneus onde todos largaram quando as cinco luzes vermelhas apagaram, mesmo com a pista encharcada. Porém, a pista não comportava esse tipo de pneus e como os pilotos fogem dos pneus 'extremos' como o diabo foge da cruz, ocorreu um verdadeiro impasse. Hoje, tivemos mais de duas horas de impasse, na bandeira vermelha. A direção de prova obrigou a todos a largarem com pneus de chuva extrema, mas bastou a bandeira verde dar as caras para que todos rapidamente procurassem os pits para colocar os intermediários, que mesmo com a pista nitidamente molhada, eram mais rápidos. A Pirelli já se defendeu dizendo que são as próprias equipes que acham que testar pneus de chuva forte é uma perca de tempo e sem dados, nada pode fazer para melhorar os chamados pneus azuis, que hoje tem a mesma serventia de mostrar a beleza da catedral de Notre Dame a um jumento...


A Alpine se recuperou dos pontos perdidos em Cingapura, usando táticas diferentes para seus dois pilotos. Largando muito bem, Ocon se fixou na quarta posição e segurou o rojão de Hamilton a corrida toda, preferindo uma estratégia mais conservadora, que se mostrou acertada. Não tendo saído tão bem, Alonso foi para táticas mais arriscadas e não podemos dizer que 'El Plan' deu errado. Inicialmente Alonso arriscou ficar mais tempo com os pneus de chuva extrema, na esperança de que uma pancada mais forte de chuva terminasse a corrida a qualquer momento, mas como São Pedro não estava alinhado com os táticos da Alpine, Alonso perdeu tempo e caiu para sétimo, atrás de Vettel, que foi o primeiro a colocar pneus intermediários após rodar na primeira curva e sair de último para sexto. Sem conseguir ultrapassar Vettel, Alonso arriscou novamente ao fazer uma segunda parada. Mesmo com pouco mais de trinta minutos numa pista longe de secar, os pneus intermediários acabaram e alguns pilotos foram aos pits colocar pneus novos, entre eles, Fernando, que perdeu apenas duas posições, ultrapassou Norris, Latifi e Russell, recebendo a bandeirada ao lado de Vettel. Mais especificamente, onze milésimos atrás do alemão da Aston Martin. Como falado, a McLaren perdeu toda a vantagem no Mundial de Construtores que tinha, sofrendo uma nova virada da Alpine, com Norris ainda salvando uns pontinhos e Ricciardo fazendo outra corrida medíocre. Em sua última corrida em Suzuka, sua pista favorita, Vettel terminou num honroso sexto lugar ao arriscar colocar pneus intermediários antes de todo mundo após rodar na primeira curva, aposta que lhe rendeu uma digna despedida de Suzuka. Russell fez belas ultrapassagens quando perdeu tempo em seu pit-stop, mas é inegável que ficou o final de semana inteiro atrás de Hamilton. Latifi conseguiu seus primeiros pontos da temporada ao emular a tática de Vettel, que lhe pagou com um belo nono lugar, mas não apagando sua presepada de sexta-feira, quando simplesmente errou a entrada dos boxes na chuva. Tsunoda foi um dos heróis do final de semana, como todo japonês em Suzuka, mas o nipônico nem de perto lembrou performances como a de Suzuki, Sato ou Kobayashi. A Alfa Romeo ficou outra corrida sem pontos, mas garantiu a melhor volta com Zhou, a primeiro do chinês.


Numa corrida cheia de problemas e erros da FIA, Max Verstappen cumpriu sua meta de assegurar o campeonato no Japão, casa da Honda, que voltou a estampar sua marca no carro da Red Bull dando claros sinais de que irá voltar à F1 em breve, além de mostrar de mostrar a importância da montadora à fase atual da Red Bull e de Verstappen, que se mostrou um piloto grandioso e digno de se igualar à Alberto Ascari, Jim Clark, Emerson Fittipaldi, Mika Hakkinen e Fernando Alonso como bicampeões mundiais. E pela idade e pelo talento, Max pode conquistar ainda mais! 

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