domingo, 23 de junho de 2024

Administração


 Desde os treinos livres estava claro que o desgaste de pneus seria um fator importante na corrida em Barcelona e sua pista de ultrapassagens complicadas. Quem administrasse melhor a borracha e fizesse uma melhor tática, teria bastante vantagem na corrida. Contudo, a Red Bull conta com outro fator que faz muita diferença: Max Verstappen. O neerlandês foi cirúrgico quando ultrapassou George Russell na volta três e pôde controlar a corrida, mesmo que Lando Norris demonstrasse mais uma vez a grande evolução da McLaren, assim como a de sua confiança, terminando em segundo lugar, no mesmo take de Max, depois de uma perseguição implacável no último stint.


A corrida no circuito de Montmeló foi mais tática do que emocionante, com um momento fundamental para a prova espanhola sendo decidida na largada. Separados por dois centésimos na classificação, Lando Norris e Max Verstappen largaram muito bem no apagar das luzes vermelhas, mas tendo o carro por dentro, Max deu um estilingada e estava claramente na frente do inglês, que imediatamente convergiu para cima da Red Bull, chegando a fazer Verstappen ir pela grama, fazendo 'um pouco de rali na reta', como Max disse depois da corrida. Isso fez com que ambos se aproximassem da primeira curva lado a lado, mas com Verstappen em clara vantagem. O que nenhum dos dois percebeu no momento foi que George Russel executava a melhor largada do ano até o momento. O piloto da Mercedes imediatamente ultrapassou Hamilton e pegou o vácuo de Max e Lando, com ambos bem à direita na reta, o que fez Russell ir para a esquerda, no traçado convencional da curva um. Com uma freada no limite, Russell ultrapassou aos dois ponteiros numa bela manobra, com Lando Norris tendo juízo o suficiente para tirar o pé e evitar um acidente com três carros praticamente lado a lado na primeira curva. Mesmo com Max não assumindo a liderança da prova, ficou claro que o grande derrotado do dia já estava definido: Lando Norris.


Assim como aconteceu no ano passado, a McLaren deu um passo gigantesco no desenvolvimento do seu carro, num grande mérito do time comandado por Andrea Stella. Mesmo com Oscar Piastri tendo feito uma corrida medíocre (novamente...), o time papaia inegavelmente é hoje a segunda força da F1 e ao contrário da Aston Martin em 2023, a McLaren incomoda bastante a Red Bull, fazendo o time austríaco suar bastante para manter Verstappen na ponta. Tendo deixado Norris para trás, a ordem para a Red Bull era clara para Max: ultrapassar o mais rapidamente possível George Russell. Bastou que o famigerado DRS estivesse à disposição de Max para ele ultrapassar George no final da reta dos boxes, numa manobra agressiva, mas cirúrgica, principalmente para a estratégia da corrida. Correndo com cara para o vento, Max não se preocuparia com o superaquecimento dos pneus ao ficar preso atrás de alguém, enquanto Lando Norris não teve a mesma facilidade quando se encontrou poucas voltas mais tarde com o compatriota, pois a borracha de Lando não estava na mesma temperatura com que Verstappen encontrou Russell na volta três. Norris e a McLaren teriam que usar a estratégia para deixar Russell para trás. Mesmo Barcelona sendo uma pista de ultrapassagens difíceis, a McLaren arriscou numa tática diferente do grupo que tinha a dupla da Mercedes e também da Ferrari, que brigaram entre si, com vantagem para Sainz após um toque com Leclerc. Enquanto essa turma e Max pararam cedo, indicando uma estratégia de duas paradas, Lando e Leclerc postergaram ao máximo suas paradas, até mesmo imaginando uma tática de uma única parada, mas a realidade era que Norris queria ter pneus em condições bem melhores do que os rivais para efetuar as ultrapassagens necessárias. Mesmo perdendo tempo num primeiro momento, caindo para trás de Hamilton e Sainz, o ritmo de Lando Norris era muito superior e ultrapassou os dois sem maiores problemas.

Porém, George ofereceu bastante resistência ao compatriota, no melhor momento da corrida, quando Russell e Norris percorreram metade de volta trocando posições, até Lando se impor e imediatamente abrir a segura vantagem de 1s para não ser mais atacado por George. Nesse momento, a vantagem de Max era de 9s, a maior que o neerlandês obteve. Mais uma vez Norris mostrou o crescimento da McLaren, tirando a vantagem de Verstappen de forma contínua. Na segunda rodada de paradas, Norris ficou duas voltas a mais do que Max, no que pôde ter sido decisivo no final, pois com pneus macios novos, Max abriu novamente 8s quando Lando parou, desta vez com o inglês em segundo, saindo dos boxes milimetricamente na frente de Russell. As últimas voltas viram uma briga de alto nível, com Norris tirando tudo do seu carro e dos seus pneus, enquanto Max Verstappen administrava sua vantagem com uma pilotagem cerebral, onde não destruiu os pneus e se mantendo rápido. No fim, Max recebeu a bandeirada com pouco mais de 2s de vantagem sobre Lando Norris, numa briga que deverá se repetir outras vezes. Para a nossa alegria. As duas voltas a mais na pista fizeram a diferença a favor de Max? Se Lando tivesse mantido a ponta na largada, a vitória seria sua? Demonstrando o nível que está no momento, Norris saiu do carro chateado, pois ele sabe que poderia ter marcado mais uma vitória, mas o inglês já está num merecido segundo lugar no Mundial de Pilotos.


Mais atrás, Lewis Hamilton conseguia o primeiro pódio da temporada, concluindo uma sequência incrível de dezoito temporadas seguidas subindo pelo menos uma vez no pódio na F1. Lewis teve seu melhor final de semana de longe em 2024, indicando também o crescimento da Mercedes, mas também escancarando uma divisão no time comandado por Toto Wolff. Nessa semana a Mercedes recebeu e-mails dizendo que Hamilton está sendo boicotado, mas hoje quem pode reclamar é Russell. Tendo sido um dos primeiros a parar, após ter forçado bastante para se manter na frente de Norris, George viu Hamilton encostar após sua bela batalha com Lando. Algumas voltas antes, Hamilton estava se defendendo de Norris, mas sem poder contar o DRS por estar a mais de 1s de Russell, virou presa fácil para a McLaren. Custava George ter tirado o pé e ter dado DRS para Hamilton se defender por mais tempo de Norris? Quando as duas Mercedes iniciavam uma briga, o time chamou Russell aos pits, colocando pneus duros no carro de George. A escolha parecia lógica, pois seria um stint longe, se Russell não quisesse parar. Porém, o jovem inglês teve dificuldades com os pneus e como resultado, se viu alcançado por Hamilton, que usou pneus macios usados no último stint. Com um ritmo bem melhor, era lógico a Mercedes pedir a George passar, mas Russell lutou com o compatriota, que efetuou a manobra na curva um, fechando com gosto George, além de tirar o companheiro de equipe da posição de pódio que esteve por dois terços de prova. A Ferrari também viu uma briga próxima entre seus dois pilotos, com um leve toque entre Sainz e Leclerc no começo da corrida, mas com táticas diferentes, a Ferrari escolheu a mesma tática de Russell para Sainz, deixando o espanhol sem ter o que fazer se não deixar Leclerc passar, na frente de sua torcida. 


Na última briga da corrida, Leclerc se aproximou bastante de Russell, mas a corrida acabou antes de um ataque mais incisivo do monegasco, mas fica claro que a Ferrari já está não apenas atrás da McLaren, como vê a Mercedes encostar de forma decisiva nas últimas semanas. Red Bull, Ferrari e McLaren estão separadas por menos de cem pontos no Mundial de Construtores e a razão é que a Red Bull está pontuando basicamente com apenas um piloto, enquanto Ferrari e McLaren tem dois pilotos marcando pontos, mesmo com Piastri tendo feito uma corrida bem mequetrefe nesse domingo. Tão mequetrefe quando Sergio Pérez, que fez uma corrida opaca, sendo até mesmo ultrapassado por Nico Hulkenberg no primeiro stint, fazendo a Red Bull o colocar numa rara estratégia de três paradas, onde Checo teve bastante trabalho antes de ultrapassar a dupla da Alpine, sendo que Gasly só foi deixado para trás na última volta. Muito, muito pouco para um piloto que tem o melhor carro do pelotão, mesmo que não sendo mais tão dominante como no início do ano. Será difícil para Horner justificar a renovação de Pérez, caso a Red Bull perca o Mundial de Construtores esse ano.


Coincidência ou não, a Alpine voltou a marcar pontos com seus dois pilotos no primeiro final de semana com Flavio Briatore como um dos chefes do confuso time gaulês. A Alpine se aproveitou de outro final de semana horroroso da Aston Martin, que deu uma verdadeira marcha ré em comparação ao ano passado e de equipe que pensava em vitória, o time comandado por papa Stroll agora luta para retomar a quinta posição no Power Ranking da F1/2024. Tudo isso, na frente da torcida de Alonso, que não deve estar nada feliz com tamanha queda. Hulkenberg andou bastante tempo na décima posição, mas acabou saindo da zona de pontuação, mas o fato foi que o alemão deu um banho em Magnussen, provavelmente sabendo que está de aviso prévio. Racing Bulls e Williams também caíram bastante em comparação às últimas corridas, fazendo-os entrar na briga com a Sauber para se livrar das últimas posições, numa corrida onde os vinte carros que largaram viram a bandeirada.


Num circuito que sempre favoreceu aos carros projetados por Adrian Newey, mais uma vez o inglês viu uma obra sua vencendo em Barcelona, porém, não se pode negar que o time austríaco já não tem a vantagem de antes, com a chegada de outros times, a McLaren em particular, alavancada pela super confiança que Lando Norris ganhou com a primeira vitória na F1. Porém, a Red Bull ainda pode contar com Max Verstappen para potencializar ainda mais seu conjunto e mesmo sem dominar como antes, Max pode caminhar a passos largos rumo ao tetracampeonato.   

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