domingo, 30 de junho de 2024

Nada mal


 A corrida desse domingo no Red Bull Ring lembrou aqueles jogos de basquete de meio de temporada, onde praticamente nada acontece e está dando sono de acompanhar a sucessão de cestas sem muito entusiasmo dos jogadores. No entanto, num estalo, o jogo esquenta, os jogadores se motivam e no que parecia ser uma partida modorrenta, se transforma em algo histórico e inesquecível. Max Verstappen partia para uma vitória dominadora, condizente com todo o final de semana do neerlandês na casa de sua equipe. Pole e vitória na Sprint e pole na corrida principal, Verstappen administrava a prova da mesma forma como fez várias vezes em sua carreira e era algo que não acontecia faz algum tempo. No entanto, o estalo veio num raro erro de pit-stop da Red Bull e Norris, que parecia conformado com a segunda posição, partiu para cima de um Max que parecia não entender o que acontecia. De um carro dominante, Verstappen se viu sem aderência e Norris lhe fustigando em praticamente toda a freada. A corrida que fora sonolenta até então, se transformou numa prova memorável e com consequências ainda imprevisíveis. 


Até a segunda rodada de paradas, a corrida na Áustria era uma das piores de 2024. Max Verstappen largou muito bem e se não repetiu a má saída da semana passada, pelo menos Lando Norris permaneceu na segunda posição, mesmo atacado por George Russell na primeira volta. Isso fez com que Verstappen abrisse a procurada diferença superior de 1s que quebrou a distância do famigerado DRS e Norris nada pudesse fazer contra Max. Mais atrás, o único destaque era o toque entre Piastri e Leclerc, que quebrou a asa dianteira do piloto da Ferrari e o jogou nas profundezas do pelotão, além de deixar a Ferrari sem respostas para ajudar o monegasco, que recebeu a bandeirada com uma parada a mais e longe dos pontos. Russell vinha num solitário terceiro lugar, com Sainz e Hamilton brigando pelo quarto lugar, após Lewis ter que ceder a posição para o espanhol, por ter ultrapassado Carlos por fora da pista. Haviam brigas aqui e ali, mas nem de longe a corrida empolgava. Até que Max e Lando foram aos boxes juntos pela segunda vez, separados por 7s e Verstappen dominando a corrida como fizera várias vezes no começo desse ano e praticamente a temporada anterior inteira. Como se os deuses da velocidade quisessem nos pregar uma peça, a impecável Red Bull, dona do melhor pit-stop do ano e basicamente sem erros dos seus mecânicos, viu a roda traseira esquerda de Verstappen não sair rapidamente. E de um pit-stop que deveria durar entre dois ou três segundos se transformou numa parada de 6.5s. Com uma parada convencional, Lando Norris saiu imediatamente atrás de Verstappen e pareceu ganhar vida vendo a sua segunda vitória tão próxima.


Antes da parada Max Verstappen reclamava pelo rádio sobre alguns probleminhas em seu carro, mas como o seu ritmo não diminuía, parecia mais preciosismo do neerlandês, no entanto Max saiu com pneus médios e parecia não ter mais o ritmo de antes e Lando, ao contrário, contemplou a vitória e partiu para cima de Verstappen. Mais uma vez Max e Lando estavam numa disputa pela vitória, sendo que desta vez havia mais de quinze voltas para o fim. Se na Sprint Lando Norris reclamou de si mesmo por ter deixado a porta aberta para Max, na corrida o piloto da McLaren queria provar que ele havia aprendido mais uma lição e ele teria que forçar a barra para derrotar Verstappen. Como a diferença estava dentro do DRS, Norris fustigou Verstappen várias vezes, principalmente no grampo da curva 3 e na freada forte da curva 4. Verstappen já se mostrou um gênio correndo sozinho, administrando a sua corrida e seu equipamento, mas Max ainda tem a mesma gana do começo da carreira nas disputas de posição, lembrando Ayrton Senna e Michael Schumacher na dureza em que se mete em brigas por posição. Lando Norris, amigo de longa data de Max, é o vice-líder do campeonato e é o piloto que está ameaçando as vitórias de Verstappen nos últimos meses. Max não iria aliviar para Lando, que por sua vez precisava dar algumas respostas sobre sua postura contra Verstappen, nas palavras do próprio inglês, 'amadora' no último sábado. Verstappen mudava de trajetória nas freadas, deu o xis por fora da pista, enquanto Norris, já advertido pelos famigerados track limits, parecia não querer ceder, inclusive com mergulhos ao lado de Max. Num desses mergulhos, Verstappen mais uma vez mudou sua trajetória na freada do grampo da curva 3 e o toque foi inevitável. Com os dois com pneu furado, Max ainda deu uma fechada criminosa em Norris na reta antes da curva 4. Os dois foram aos boxes, mas se Verstappen ainda voltou à corrida, a prova de Lando estava terminada, assim como o bom relacionamento que ambos tinham até esse domingo.


Com tudo isso, George Russell acabou sendo o grande favorecido do domingo, com a vitória caindo no seu colo. O inglês fazia uma corrida discreta, correndo sozinho em terceiro e por lá ele esperava terminar, se não fosse todo o melê que aconteceu à sua frente, mesmo que bem distante. Foi a primeira vitória da Mercedes em um ano e meio, mesmo que tenha sido circunstancial, mas não há como negar que o time de Toto Wolff está evoluindo nitidamente. Porém, Russell teve uma pitada extra de sorte em sua vitória. Por causa dos detritos deixados por Lando e Max, o SC Virtual apareceu nas voltas finais. Um pouco antes Piastri tinha ultrapassado Sainz e estava ameaçadores 2,5s atrás de Russell, mas a neutralização da corrida foi bastante prejudicial ao australiano, que ainda vacilou na relargada e mesmo mais rápido, com pneus médios em melhores condições, faltou tempo para Piastri atacar Russell, tendo que se conformar com a segunda posição, enquanto Sainz levou a Ferrari ao pódio, num final de semana onde os italianos eram, sem sombra de dúvidas, a quarta força. Verstappen ainda salvou um quinto lugar e com o abandono de Norris, viu sua vantagem aumentar, porém, a Red Bull tem que se mexer, pois a dominância do começo do ano parece ter ido embora, mesmo com a exibição de Max nos primeiros dois terços de prova. E a Red Bull também tem que observar que Verstappen bateu, se arrastou pela pista, fez um pit-stop, tomou 10s de punição e ainda assim chegou na frente de Sérgio Pérez. Que por sua vez chegou atrás de uma Haas. Está cada dia mais difícil defender Checo...


A Haas foi a melhor equipe do pelotão intermediário, colocando Hulkenberg numa ótima sexta posição, com Magnussen em oitavo, marcando pontos preciosos. Praticamente com seu futuro assegurado fora da Racing Bulls e provavelmente da própria F1, Daniel Ricciardo ainda tenta sobreviver e hoje claramente andou à frente de Tsunoda, marcando dois pontinhos para a equipe, enquanto o nipônico mal apareceu na transmissão. Já a Alpine mais uma vez esteve em evidência por causa dos seus dois pilotos. No momento mais modorrento da prova, Ocon e Gasly brigaram como se não fossem companheiros de equipe, mas felizmente para Briatore e Famin, sem maiores danos, mas com Ocon aumentando a sua fama de péssimo companheiro de equipe. Alonso teve um final de semana para esquecer, onde sempre andou fora da zona de pontuação e ainda bateu em Zhou numa manobra mais característica do seu companheiro de equipe. A Aston Martin vive uma fase para lá de tenebrosa, agora mais próxima de Sauber e Williams, as lanterninhas da F1 2024.


De uma corrida monótona e totalmente sem graça, o Grande Prêmio da Áustria se tornou uma das melhores da temporada 2024, numa luta que promete mais consequências. Verstappen claramente vê Lando Norris como uma ameaça e hoje mostrou que não dará muito espaço ao inglês, que por sua vez, já declarou que 'não respeita mais Max'. Para uma temporada que prometia dominante da Red Bull e de Max Verstappen, em onze corridas temos cinco vencedores diferentes de quatro equipes distintas. Sem contar que podemos ver crescer uma nova rivalidade. Nada mal!

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