domingo, 5 de março de 2023

Aproveitando as chances

 


Marcus Ericsson saiu da F1 com a fama de pay-driver e que só lá esteve por causa dos bolsos fundos de sua família. Após alguns anos na Sauber, onde praticamente sustentou a equipe, que estava em estado de penúria, Ericsson foi dispensado quando surgiu no horizonte helvético um contrato com a Alfa Romeo. Sem nunca ter feito nada de impressionante na F1, Ericsson mudou seu foco para os Estados Unidos e foi para Indy, onde rapidamente conseguiu um desejado lugar na Ganassi, ainda usando os fundos de sua família. Sim, mesmo sendo uma equipe enorme, a Ganassi já teve que juntar uns trocados deixando um cockpit para alguém pagar as contas. Porém, Ericsson vai fazendo um trabalho acima das expectativas e após vencer as 500 Milhas de Indianápolis ano passado, o sueco iniciou a temporada 2023 vencendo, mesmo que em nenhum momento ele esteve com o melhor carro do pelotão, mas Ericsson soube aproveitar as chances quando elas surgiram.

A abertura da temporada 2023 da Indy começou com um enorme susto quando um acidente envolvendo vários carros acabou ocasionando uma bandeira vermelha, incluindo uma forte batida que fez Devlin de Francesco sair voando. Nesse melê todo, Helio Castroneves foi envolvido, assim como seu companheiro de equipe Pagenaud e dois pilotos da Foyt. Isso aconteceu na segunda metade do grid, porque na primeira, Romain Grosjean dava um show no seu carro da Andretti. O francês liderou todo o primeiro stint com autoridade, mesmo usando os pneus macios, que simplesmente não funcionavam por muito tempo na abrasiva pista de rua de St Petersburg. Escoltado por Colton Herta no início, Grosjean soube administrar melhor os pneus, enquanto Hertinha perdeu tanto rendimento com os pneus macios, que não apenas perdeu contato com Grosjean, como foi escalado até realizar sua primeira parada. Porém, uma bandeira amarela mudou o status quo da corrida e mesmo saindo com os pneus macios, o vencedor do ano passado Scott McLaughlin surgiu na frente de Grosjean. Para sorte do piloto da Penske, a velha frase 'bandeira amarela traz bandeira amarela' se efetivou e houveram mais três intervenções, incluindo outro voo, agora com Kyle Kirkwood da Andretti, mas quem se machucou foi Jack Harvey, que saiu do carro sentido dores e foi para o hospital. Herta se envolvia num incidente com Will Power e acabava o final de semana no muro. A Andretti estava confiante no final de semana, tanto que se falava em dobradinha na corrida, mas a cada carro que abandonava, a câmera focalizava um Michael Andretti quase puxando os cabelos.

Quando houve uma maior fluidez, McLaughlin segurava com maestria Grosjean e logo os dois se destacavam dos demais, que tinha Pato O'Ward, Marcus Ericsson e Scott Dixon vindos mais distantes. Ainda restava uma parada para todos e querendo fazer o 'undercut', Grosjean parou primeiro, na esperança de ter os pneus aquecidos quando McLaughlin parasse. O neozelandês foi chamado na volta seguinte e saiu bem na frente de Grosjean. Logo após a saída dos pits em St Pete, há a reta oposta e com pneus mais quentes, Grosjean tentou a manobra ali, pois sabia que se Scott aquecesse seus pneus, dificilmente ultrapassaria o piloto da Penske. McLaughlin se colocou por dentro e não aliviou na freada, mas Grosjean tentou uma manobra banzai por fora. Após a corrida, McLaughlin assumiu a culpa, por ter deixado para frear tão por dentro com pneus frios, enquanto Grosjean dizia que 'aquilo não é corrida'. De qualquer maneira, os dois acabaram na barreira de pneus e Michael Andretti saía dos pits fumando numa quenga. O que não dá para negar foi que Grosjean foi otimista ao extremo em tentar uma ultrapassagem por fora num ponto tão perigoso e estreito. Mesmo que McLaughlin tenha errado, Romain arriscou demais quando tinha o melhor carro e os pontos da segunda posição podem fazer falta em setembro...

Com isso, Pato O'Ward assumiu a ponta e poderia salvar o dia da McLaren, que fez um papelão no outro lado do mundo na F1. Zak Brown deve ter ficado todo animado com as últimas voltas do seu pupilo liderando, mesmo com a dupla da Ganassi se aproximando perigosamente. Porém, na abertura da penúltima volta, O'Ward abanou seu McLaren na entrada da reta dos boxes e Ericsson ultrapassou graciosamente Pato, enquanto Brown deveria ter se levantado do sofá na mesma vibe de Michael Andretti. Depois da corrida O'Ward, com cara de pouquíssimos amigos, acusou um ligeiro problema no motor, que entrou no modo errado e permitiu a ultrapassagem decisiva de Ericsson.

Foi na sorte? Foi. Mas o automobilismo, assim como o esporte em geral, a sorte faz parte da definição ou não do vencedor e Marcus Ericsson estava sempre no pelotão da frente. Ele não tinha carro para brigar pela vitória, mas viu um a um seus rivais saindo do caminho e lhe estendendo o tapete para vencer na estreia da temporada 2023, com um desolado O'Ward em segundo, Dixon em terceiro e mais atrás, Alexander Rossi estreando de forma correta na McLaren em quarto. Calum Illott mostra que tem potencial para estar numa equipe grande ao sair de 22º no grid para quinto. Power foi punido pelo toque com Herta e ainda salvou um top10, enquanto Newgarden tentou uma tática diferente, mas seu motor entregou os pontos no final, quando estava atrás até mesmo de Power, numa corrida opaca do americano da Penske. Ericsson faz um trabalho digno e se aproveitando das chances que foram surgindo, lidera o campeonato da Indy em sua primeira corrida em 2023.

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