domingo, 19 de março de 2023

Missão cumprida

 


Quando Max Verstappen teve problema no semi-eixo do seu Red Bull em meio ao Q2 nesse sábado, Sérgio Pérez ficou com uma missão bem clara para esse domingo na Arábia Saudita: vencer ou vencer. Com o melhor carro disparado do pelotão, Checo tinha que aproveitar o infortúnio de Max para voltar a vencer na F1, um ano depois de ter ficado com a pole no perigoso circuito de Jedá e ter perdido a vitória por causa de um Safety-Ca fora de hora. Novamente o SC atrapalhou o mexicano, que não largou bem, mas rapidamente deixou Alonso para trás, porém Pérez manteve um ritmo muito forte por boa parte da corrida e quando teve Verstappen em segundo, os 6s que abriu permitiu a ele administrar a corrida e vencer pela quinta vez na carreira, quarta num circuito de rua. Alonso fazia uma corrida incógnita, mas sua equipe pôs tudo a perder ao tocar no carro do espanhol enquanto Fernando era penalizado e tardiamente uma segunda punição deixou Alonso fora do pódio, que era seu lugar em condições normais, elevando George Russell ao terceiro posto.


Em certo momento da corrida, a transmissão da corrida resolveu focar na emocionante briga pela décima quinta posição entre Logan Sargeant e a dupla da McLaren. Só isso já explica bastante que a corrida na Arábia Saudita não foi das mais emocionantes. As duas semanas de intervalo entre as duas primeiras provas da F1 no Oriente Médio trouxe alguns questionamentos se o domínio da Red Bull era tão grande assim, afinal, Sakhir e Corniche são pistas muito diferentes e específicas. Será que Sakhir é uma pista que simplesmente potencializou os pontos fortes da Red Bull? O final de semana em Corniche respondeu com um sonoro 'não' à essa questionamento e jogou um verdadeiro balde de água fria a quem sonha com uma temporada emocionante pela frente. Se não fosse o problema com Verstappen no sábado, a corrida desse domingo seria ainda mais fácil para a Red Bull e muito provavelmente o neerlandês venceria. A quebra no carro de Max apenas aumentou a dificuldade da missão da Red Bull, enquanto Sérgio Pérez fez o básico para vencer pela primeira vez em 2023. A ótima largada de Fernando Alonso nem causou maiores sobressaltos para quem acompanhou a corrida, pois além de Alonso ter sido punido por ter encostado seu Aston Martin fora do colchete, o ritmo da Red Bull era nitidamente superior e rapidamente Pérez estava na ponta. Mesmo tendo cometido uma senhora besteira na largada, Alonso tem experiência o suficiente para não brigar com Pérez, como também se aproveitar por algumas voltas o DRS para 'puxa-lo' nas retas, o deixando o suficientes 5s longe de Russell, que era o tamanho de sua punição.


Mais atrás, Verstappen largou de forma convencional, se livrando de algum toque e quando a corrida se assentou, foi ultrapassando a todos que via pela frente, rapidamente chegando ao top-6, após ultrapassar Hamilton. Porém, um Safety-Car mudaria um pouco a cara da corrida e ajudaria sobremaneira Verstappen. Com alguns pilotos já tendo feito suas paradas, o SC fez com os líderes completassem suas paradas e, mais importante, deixasse Verstappen em quarto, colado no pelotão. Com apenas Alonso e Russell separando os dois carros da Red Bull, Pérez sabia que precisava de uma relargada perfeita e assim o fez, deixando Max tendo que lidar com dois carros nitidamente mais lentos, mas combativos, enquanto Checo tinha pista livre para abrir o máximo possível. Quando Max ultrapassou Alonso, Pérez tinha confortáveis 6s de vantagem, que o chicano administrou de forma aconchegante até a bandeirada. Contudo, ambos os pilotos reclamaram de problemas em seus carros, mas o mais importante foi a desconfiança explícita que Pérez nutre por Verstappen. Com Alonso já a longínquos 13s de distância, era até lógico a turma da Red Bull pedir a seus pilotos tirarem o pé. 'Mas Max irá fazê-lo?', perguntou Checo pelo rádio. A última volta de Max mostrou que nem tanto assim. Verstappen poderia estar ouvindo todos os barulhos do mundo no seu carro, mas ele economizou bateria para marcar a volta mais rápida da corrida na passagem derradeira e tirar o ponto de Pérez que o deixaria na ponta do campeonato. Mesmo com um final de semana intranquilo, Verstappen ainda conseguiu se manter na ponta no campeonato, mostrando muita competitividade, talvez maior do que o engenheiro de Pérez poderia prever...


Com a Red Bull tão superior aos demais, a corrida atrás dos austríacos foi bem animada, certo? Bom, basta dizer que após a relargada na metade da corrida, afora as ultrapassagens de Max, o pelotão permaneceu o mesmo, com Alonso liderando na frente de três pares: Mercedes, Ferrari e Alpine, nessa ordem. Foi uma corrida longe de empolgar os mais aguerridos fãs da F1, mas eles teriam outro motivo para estar desejando fazer outra coisa nessa tarde de domingo. Na quinzena anterior Esteban Ocon fez uma corrida horrorosa, cheia de punições e parece que Alonso quis imitar seu antigo companheiro de equipe. Assim como o francês, Alonso largou fora do lugar no grid e foi punido por isso. E como aconteceu com Ocon, quando foi cumprir a punição, Alonso foi derrubado por sua equipe e aqui vale uma crítica à FIA. No Bahrein, poucas voltas após a Alpine falhar em cumprir corretamente a punição para Ocon, a punição foi praticamente imediata. Nesse domingo, havia uma câmera bem atrás de Alonso no pit-stop e foi nítido que o mecânico do macaco traseiro encostou seu instrumento na traseira do carro de Alonso. Punição clara. Porém, a FIA esperou mais da metade da corrida para punir o espanhol, tirando dele toda a chance de reverter a punição, como fez no primeiro stint. Foi uma pisada de bola da FIA, assim como da Aston Martin, que perdeu um pódio fácil para Alonso, que comemoraria seu centésimo troféu, como ainda viu Lance Stroll provocar o único Safety-Car do dia ao ter um problema em sua unidade de potência. Com um carro tão bom, sair apenas com um quarto lugar é muito pouco para a Aston Martn.


Com as punições alonsianas, George Russell herdou um pódio inesperado, mesmo o inglês tendo largado em terceiro. A Mercedes se mostrou atrás da Aston Martin em ritmo de corrida e fez uma prova discreta, com Hamilton terminando em quinto. A Ferrari veio logo atrás, com Sainz na frente de Leclerc, sendo que o monegasco teve que pagar uma punição precoce por troca de peças do motor e apesar de largar com pneus macios, fez sua parada depois de Sainz, que largara com borracha média, denotando uma performance superior ao do companheiro de equipe. Contudo, quando Leclerc calçou os pneus duros, nada fez para superar Sainz, que fez outra corrida sem sal. A Alpine colocou seus dois pilotos no Q3 e os viu marcar pontos em oitavo e nono, numa corrida nem burocrática de ambos, mas que trouxe pontos para deixar os franceses como quinta força do ano nesse momento. Magnussen batalhou bastante com Tsunoda pelo último ponto do dia, só conseguindo a ultrapassagem decisiva nas voltas finais, para tristeza do nipônico, que pela segunda corrida consecutiva recebeu a bandeirada em 11º, um posto atrás dos pontos. A McLaren continua em seu calvário e chegou a ocupar as duas últimas posições com seus jovens pilotos, que devem estar se perguntando se era necessário brigar tanto para estar na McLaren, quando tiveram chances concretas de estar em outros lugares.


No final, Pérez se consolidou como um 'menino de rua' com mais uma vitória num circuito citadino, porém, o mexicano sabe muito bem que o triunfo veio muito pelo problema com Verstappen, que vinha dominando todo o final de semana até o Q2. A cúpula da Red Bull foi colocada acima do pódio hoje e é dessa posição que a equipe austríaca vê seus rivais em 2023: bem no alto, longe de serem alcançados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário