domingo, 9 de abril de 2023

Desenterrando esqueletos

 


Injustiças acontecem aos montes no esporte e muitas vezes, quem merece vencer, acaba sendo derrotado por circunstâncias do próprio esporte. 

Voltando quinze anos no tempo, a F1 teve um digno campeão mundial, mesmo Lewis Hamilton ainda padecendo de alguns problemas que lhe atrapalharam bastante antes do inglês se tornar um piloto praticamente completo nos últimos anos. Hamilton estava em sua segunda temporada na F1 e cometeu alguns erros básicos, como no Canadá, quando não respeitou um sinal vermelho no final do pit-lane. Tudo isso culminando para a apoteótica final em Interlagos, onde Hamilton ultrapassou Timo Glock na última curva e conquistou o título que era de Massa por alguns segundos.

No entanto, em agosto de 2009 veio à tona o que ficaria conhecido como 'Singapore-gate', quando Nelsinho Piquet, recém-demitido da Renault, admitiu que batera de propósito na corrida de estreia em Cingapura para beneficiar Fernando Alonso, além de dar a primeira vitória à Renault depois de dois anos. Foi o maior escândalo da história da F1 e Flavio Briatore nunca mais retorno à categoria. Graças a Deus! Se fizermos uma continha básica, se a corrida cingapuriana fosse cancelada, Massa seria o campeão de 2008, mas nem a Ferrari se animou muito em tentar algo para reverter o título de 2008. E a vida continuou para todos os envolvidos.

Nas últimas semanas Bernie Ecclestone falou a uma publicação alemã que considerava Schumacher o maior campeão da história da F1, pois achava que o título de 2008 não deveria ter sido de Hamilton por toda a polêmica envolvida. Até aí, opinião do antigo dirigente. O diferencial foi Ecclestone ter dito que soube de toda a marmelada orquestrada por Briatore ainda em 2008 e contou à Max Mosley, então presidente da FIA. E ambos se calaram. Há uma regra não escrita na F1 de que resultados não podem ser mudados ou contestados após a festa anual da FIA para os seus campeões. Como Reginaldo Leme soltara a bomba em agosto de 2009, teoricamente nada poderia ser feito para o ano anterior, mas com a nova informação de que Ecclestone e Mosley sabiam da tramoia de Briatore ainda em 2008 e se calaram, surgiu uma das polêmicas mais vazias dos últimos tempos.

A reação de Felipe Massa ao perder um título por tão pouco foi admirável e foi bastante elogiada na época. Porém, Massa resolveu usar essa afirmação de Ecclestone para contestar o título de 2008, inclusive usando meios judiciais. Gosto de me colocar na situação de pessoas prejudicadas e se fosse Felipe, com certeza estaria muito puto por saber que, além de ter perdido o título por tão pouco, ainda havia uma chance do resultado ter sido revertido se Bernie e Max não tivessem convenientemente se calado naquela época. 

Porém, desenterrar um esqueleto após quinze anos não irá acrescentar em nada de bom à Felipe Massa. Lembrando que se Hamilton errou em 2008, Massa errou muito mais. Uma rodada solo na Malásia e uma atuação bisonha em Silverstone não ajudaram em nada Massa. Na Bélgica, uma vitória caiu no colo de Massa no tapetão e de forma para lá de injusta, com uma punição ridícula para Hamilton na ocasião. Somando a isso tudo, a Ferrari demorou a colocar pneus certos em Monte Carlo e a explosão do motor na Hungria, quando Massa estava com a vitória a apenas duas voltas de distância. Colocando em miúdos, Hamilton mereceu o título daquele ano mais do que Massa, mesmo Felipe ter tido seu melhor ano na F1. O erro (da Ferrari) em Cingapura e a corrida zerada de Massa seria apenas mais um em uma temporada atípica, onde os protagonistas erraram demais.

Por mais que tenha razão em reclamar e ficar chateado, não seria bom para Felipe Massa se tornar o primeiro campeão no tapetão da história da F1.  

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