domingo, 16 de abril de 2023

Sobrevivência

 


Havia um jogo de tabuleiro chamado 'Resta Um' onde se dizia que era um ótimo treino para se aprender a jogar Dama ou Xadrez, onde o objetivo é deixar apenas um botãozinho no tabuleiro. A corrida da MotoGP em Austin nesse domingo foi bem parecido, onde o asfalto castigado do Texas transformou a prova num teste de sobrevivência, com vários pilotos caindo, incluindo alguns de pilotos de ponta. Alex Rins não tinha começado bem seu relacionamento com a Honda, mas ao se tornar o principal piloto da montadora da asa dourada com mais um acidente de Marc Márquez, Rins começou a se recuperar e numa pista onde o espanhol sempre andou bem, Rins deu um show, dando a primeira vitória da Honda em mais de quinhentos dias, mesmo que aproveitando de mais uma queda de Pecco Bagnaia.

Debaixo de um calor considerável, Austin viu uma corrida mais acidentada do que o normal, muito pela pista extremamente ondulada e que já foi asperamente criticada pelos pilotos. Ainda desfalcado de Márquez e Bastianini, o grid de vinte pilotos teve apenas treze motos recebendo a bandeirada. Vindo de vitória na Sprint no sábado e mordido pela queda solo na Argentina, Bagnaia largou muito bem da pole e mesmo tendo Rins em seu cangote, o italiano da Ducati parecia ter a corrida sob controle quando sofreu uma queda aparentemente boba, onde Pecco nem estava sendo muito pressionado naquele momento. Mesmo vindo de um título onde tirou incríveis 91 pontos de desvantagem, não será todo ano que Bagnaia irá conseguir grandes recuperações e suas quedas solos já começam a preocupar a Ducati, cujo chefe Davide Tardozzi se ajoelhou de frustração. Tudo isso deixava Rins tranquilamente na ponta, porém Bagnaia não foi o primeiro e nem o último a cair, deixando a prova tensa. Quartararo, vindo de uma ótima largada, assumiu a segunda posição, tendo Luca Marini próximo. Companheiro de equipe do líder do campeonato Bezzecchi, Marini não quis saber de ordens de equipe e rapidamente deixou Bezzecchi para trás e correu atrás do seu primeiro pódio na MotoGP.

A força da Ducati ficou clara quando Marini ultrapassou Quartararo como se a Yamaha fosse uma Moto2. Porém, Marini não foi capaz de ir atrás de Rins, mesmo o espanhol se poupando. Único piloto no grid a ter vencido na MotoGP em Austin, Rins fez uma corrida magistral, superando os maus resultados anteriores com uma vitória categórica. Correndo pela equipe satélite da Honda, Rins foi o único piloto da montadora a ver a bandeirada e ver Joan Mir, seu antigo companheiro de Suzuki e pilotando a Honda de fábrica, cair quando estava em décimo segundo é bastante sintomático, que talvez a Honda tenha escolhido o piloto errado da Suzuki para o seu time de fábrica. Resta à Rins uma maior consistência, para que corridas como a desse domingo sejam mais regra e não exceções. Quartararo levou a Yamaha nas costas rumo ao terceiro lugar, enquanto Morbidelli voltou à mediocridade de sempre, mas pelo menos terminou. Jorge Martin mostrou mais uma vez o porquê da Ducati não ter o escolhido como piloto de fábrica por mais uma queda, ainda na primeira volta, levando consigo Alex Márquez. Jack Miller vinha em terceiro, após uma grande largada, mas caiu sozinho e teve que voltar aos boxes à pé pela sexta vez nesse final de semana. 

Mesmo a Ducati tendo a melhor moto do pelotão, isso não foi sinônimo de vitória certa e os italianos viram uma Honda, talvez a pior moto do pelotão, triunfar com uma moto satélite e com um piloto que ninguém levava muito em conta. A MotoGP tem suas surpresas, mas Austin precisa de um recapeamento urgente ou teremos mais corridas como a de hoje, onde o que mais importava era simplesmente sobreviver.

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