domingo, 30 de abril de 2023

Street Fighter


 Correr em circuitos de rua, com seus muros próximos, significa estar mais perto do erro e por isso, o piloto precisa ser bastante preciso em sua tocada. Com cinco vitórias em circuitos de rua (sem contar a Sprint de ontem), Pérez já pode ser considerado um especialista em pistas citadinas, mas não foi esse o principal motivo da vitória de Checo hoje. Um Safety-Car na hora errada transformou no que seria em mais uma vitória de Max Verstappen num amargo segundo lugar, com o irascível neerlandês tendo que ser conformado via rádio por Christian Horner, enquanto Checo vencia novamente e completava a dobradinha da Red Bull em Baku, que também teve como característica a dobradinha de corridas soporíferas.


Baku é uma pista de rua com personalidade, com uma sessão de altíssima velocidade bastante longa, uma parte bem capciosa no meio do circuito, onde os pilotos normalmente encostam no muro ou passam muito perto, além da parte estreita do castelo. Ótimas corridas já aconteceram na pista azeri, mas a edição de 2023 esteve longe de entrarem para o rol de provas assim. Mesmo com o SC entrando na pista e praticamente definindo o vencedor, a corrida foi um longo bocejo, mas Sergio Pérez e a Red Bull não tem do que reclamar. Mesmo com Charles Leclerc ficando com a pole e mantendo a ponta na largada, até os postes de Baku sabiam que o monegasco não duraria muito à frente da turma da Red Bull. Bastou que o DRS estivesse ativo, para que a Ferrari de Charles fosse engolida pelo duo da Red Bull sem maiores cerimônias. Nem Max ou Checo forçaram a barra, nem Leclerc dificultou a manobra. Era algo tão natural que Leclerc preferiu nem perder muito tempo segurando a turma austríaca. Rapidamente na ponta, Max e Sergio dispararam na ponta, com o mexicano já acossando Max quando Nyck de Vries, amigão de Verstappen, cometeu um erro básico ao quebrar a suspensão batendo na entrada de uma curva. Mesmo com toda a moral dentro da Red Bull, será difícil para Verstappen defender De Vries. Minutos antes, Verstappen reclamava da falta de aderência do carro e isso seria o motivo de Pérez estar tão próximo. 'Box, box, box', respondeu de imediato a Red Bull. O problema foi que o timing não foi dos melhores. Com De Vries estacionado com a traseira do lado de fora da pista, era claro como um dia de sol no Ceará que o SC real entraria na pista. E quem estava nela, teria uma vantagem. Verstappen parou, o SC veio e Pérez fez sua parada de forma tão tranquila, que não apenas permanecia na liderança, como Max ainda teria que ultrapassar Leclerc novamente.


Verstappen não perdeu muito tempo atrás de Leclerc e logo encostou no seu companheiro de equipe. E assim as demais voltas em Baku viram uma batalha próxima e de alto nível entre Pérez e Verstappen, com os dois andando no limite, com direito e ligeiros toques no muro, mas muito, muito longe de emocionar o público que assistia a corrida in loco ou pela TV. A corrida foi de um bode assustador. Após a única relargada do dia, onde houveram algumas trocas de posições, como a bela ultrapassagem de Alonso em cima de Sainz, a corrida entrou num longo marasmo, onde praticamente nada aconteceu até a bandeirada. Com os pneus duros servindo muitíssimo bem para completar a corrida praticamente inteira, ninguém arriscou uma segunda parada e simplesmente administraram a borracha para chegar bem o bastante para terminar bem a prova. Houveram algumas trocas de melhor volta por parte de dos líderes nas voltas derradeiras, mas lá atrás George Russell se viu incapaz de ultrapassar Lance Stroll e muito na frente do nono colocado. O inglês colocou pneus macios novos e acabou com a brincadeira, mantendo a posição e ainda ganhando um pontinho extra. Pérez venceu, mas no rádio pós-corrida ficava claro de quem é a preferência dentro da Red Bull. Verstappen era consolado por Horner, que com uma voz paternal, dizendo que foi mesmo falta de sorte de Max. Uma situação que deixa clara a situação de Pérez dentro da equipe, mesmo ele estando próximo de Verstappen nos pontos na briga pelo título.


Leclerc não fez maiores esforços para se manter em terceiro, numa corrida solitária e onde teve como maior emoção ser ultrapassado três vezes por um carro da Red Bull. Porém, foi o primeiro pódio da Ferrari no ano e Leclerc vai se consolidando como um dos especialistas em Baku. Já Carlos Sainz viveu uma corrida ainda mais burocrática, onde levou uma ultrapassagem daquelas de Alonso e ainda se viu motivado a atacar o conterrâneo pelo seu engenheiro via rádio. Não sei o que Carlos entendeu, mas o fato foi que ele terminou longínquos 22s atrás de Alonso e tendo que se defender de Hamilton. Sainz vai se consolidando como um segundo piloto da Ferrari. Embalado pelas músicas de Taylor Swift, Alonso fez uma corrida decente, depois dos problemas que a Aston Martin enfrentou no final de semana, chegando a esboçar um ataque à Leclerc nas voltas finais, mas Fernando teve que se conformar com o quarto lugar, terminando fora do pódio pela primeira vez em 2023. Stroll chegou a receber dicas alonsianas durante a corrida. 'O acerto de freio está bom assim', falou Fernando para Lancinho... que saiu da pista e foi ultrapassado por Hamilton. Quase 30s atrás de Alonso, Stroll vai mostrando a diferença que o separa de Alonso. Após todo o auê de ontem, a Mercedes teve um desempenho bastante discreto, com Hamilton iniciando a corrida de forma bem sem graça, seguindo Verstappen no SC e com isso perdendo tempo, mas Lewis despertou após a relargada e efetuou quatro ultrapassagens, incluindo uma bem apertada em cima de Russell, mas mesmo com mais carro, Hamilton ficou empacado atrás de Sainz a corrida quase inteira, o mesmo acontecendo com Russell em relação à Stroll.


No pelotão intermediário, Esteban Ocon e Nico Hulkenberg largaram dos pits com pneus duros, esperando e rezando que um segundo SC entrasse na pista e os salvasse. O primeiro já tinha elevado-os à zona de pontuação e ambos ficaram a corrida inteira com os pneus duros, mas como nada aconteceu, Ocon e Hulk pararam já nas voltas finais e saíram da zona de pontuação, entregando a nona e décima posições para Norris e Tsunoda. Porém, destaque negativo para a parada de Ocon. O francês esperou a última volta para entrar no pit-lane e deu de cara com a FIA se preparando para o pódio, fechando a passagem e com vários fotógrafos no local. Numa cena perigosa, Ocon passou perto de várias pessoas, que chegaram a pular para não serem atingidas. Outro destaque negativo vai para Bottas, que desde que entrou nessa onda naturista, viu sua carreira ir por água abaixo. Último lugar para o nórdico, que andou o tempo todo atrás de Zhou, até o abandono do chinês.


E assim foi o Grande Prêmio do Azerbaijão de 2023. Sem muitas linhas a serem escritas, pois pouca coisa aconteceu na pista. Pérez ganhou e se aproximou de Verstappen no campeonato, mas se quiser ser campeão, o mexicano teria que fazer um campeonato onde teria que derrotar não apenas Max, uma missão por si só bastante complicada, mas também sua própria equipe, já que a Red Bull praticamente vive em torno de Max Verstappen. Será possível que Pérez emule o que Nelson Piquet fez em 1987 e Fernando Alonso quase fez em 2007? Checo desequilibraria Verstappen como Nico Rosberg fez em 2016? O tempo dirá, mas a próxima corrida será numa pista de rua. Chance para Checo dar um xeque em Verstappen, ou o neerlandês colocar ordem na casa. Em 2023, tudo se resume ao que acontece dentro da Red Bull.

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