domingo, 26 de maio de 2024

Quanto mais lento melhor


 Mônaco para sempre será uma corrida especial nesse dia especial com tantas corridas icônicas, no último final de semana de maio. Porém, se você esperar emoção, ultrapassagens e adrenalina na prova do principado, dificilmente você irá encontrar, ainda mais nas circunstâncias da corrida de hoje. No entanto, há outras situações que podem tornar uma corrida emocionante. Mesmo nascendo em Mônaco, Charles Leclerc não veio de uma família milionária, mas conviveu com alguns pilotos que lá moravam e com certeza várias vezes assistiu à corrida no meio da torcida. Logicamente Charles tinha como um dos objetivos quando se tornou piloto de vencer em Monte Carlo, mas o triunfo teimava a escapar, algumas vezes de forma cruel. Porém, com uma pilotagem segura e ajudado pela bandeira vermelha logo na primeira volta, Leclerc quebrou a maldição em casa e de ponta a ponta se tornou o segundo monegasco a vencer na frente do príncipe regente.


Como falado anteriormente, a corrida em Mônaco esteve léguas de distância de emocionar alguém ávido por ultrapassagens e emoção. Além da dificuldade natural de se ultrapassar no principado, um fator foi preponderante e aconteceu logo na primeira volta, no lance mais polêmico do domingo. Após uma classificação trágica, pelas próprias palavras de Sergio Pérez, o mexicano largava na rabeira do pelotão e estava próximo da dupla da Haas, desclassificada por irregularidades no DRS. Kevin Magnussen sempre foi um piloto que joga duro e não sem motivo está pendurado para receber um inédita suspensão por vários pontos na carteira. Pérez saiu cauteloso da St Devote, tendo Magnussen ao lado. Checo tracionou melhor e estava na frente de Magnussen, mas não tinha o carro inteiro à frente. Com carros bastante largos e a Subida do Cassino um dos pontos mais estreitos da pista, Magnussen não tirou o pé e na visão do dinamarquês, foi espremido por Sergio. Porém, temos que lembrar à Kevin que quando você vê o espaço à frente se extinguindo, tirar o pé pode evitar todo o destroço que veio em seguida. Pérez foi tocado por Magnussen, virou para a direita e atravessou com o seu carro destruído para a esquerda, atingindo Nico Hulkenberg, que não tinha nada a ver com a conversa. A pancada destruiu o carro de Pérez, além de acabar com a prova da Haas, enquanto Zhou praticamente estacionou seu Sauber para não ser atingido pelo melê. Um acidente grave, mas felizmente sem consequências físicas aos envolvidos, mas podendo ter desenlaces. Magnussen pode ser punido e ser suspenso para a próxima corrida, enquanto Pérez caiu para quinto no Mundial de Pilotos, deixando sua renovação de contrato com a Red Bull ainda mais complicada.


Como se tudo isso não bastasse, Carlos Sainz saiu da pista no Cassino devido a um pneu furado num toque com Piastri na St Devote, enquanto Esteban Ocon permanecia em sua constância de se envolver em acidentes com seus companheiros de equipe, ao tentar achar um espaço inexistente ao lado de Pierre Gasly na Portier e acabou voando, além de estragar o carro do companheiro de equipe. A bandeira vermelha salvou as corridas de Sainz e Gasly, o mesmo não acontecendo com Ocon, que foi o quarto e último abandono do dia, mas o francês não escapará de um carão da confusa cúpula da Alpine. A bandeira vermelha de quarenta minutos fez com que as equipes trocassem os pneus dos pilotos sem terem que fazer o pit-stop obrigatório por regulamento, deixando praticamente todo o grid livre para ir até o fim da corrida sem parar. Isso causou um dano enorme à qualquer chance de emoção da corrida, pois com os pilotos tendo que fazer os pneus funcionarem por 76 voltas, o ritmo foi bastante lento e quando alguém vislumbrava em fazer uma parada, bastava que o piloto da frente diminuísse ainda mais o ritmo para evitar que fossem abertos os 23s necessários para fazer o pit-stop e voltar à corrida. Sem pit-stops para os pilotos, o momento em que poderia ter mudança de posição terminou antes mesmo da segunda largada.


O resultado disso foi um procissão que nem se pode dizer que foi em alta velocidade, bastando dizer que dez primeiros do grid chegaram nas mesmíssimas posições na bandeirada. Houveram tentativas de fazer algo diferente, como os pit-stops de Verstappen (que pediu um travesseiro para dormir, tamanha chatice que estava a sua corrida) e Hamilton, mas nada mudou, pois por mais rápidos que estavam, bastava chegar no seu adversário mais próximo para ficar empacado na pista. Foi uma prova totalmente desprovida de emoção, mas claro que Charles Leclerc não tem do que reclamar. O monegasco fora dominante em todos o final de semana e espantando todos os seus demônios, venceu no quintal de sua casa de forma dominante, administrando bem os pneus e a diferença para Oscar Piastri, que fez o mesmo com Sainz, que voltou à corrida após o furo de pneus da primeira largada. Norris tentou fazer um pit-stop para tentar atacar o espanhol no final, mas o astuto Sainz percebeu a manobra e diminuiu seu ritmo, deixando seu amigo numa situação onde nada poderia fazer. Russell não parou, mas não se pode dizer que o inglês teve muito trabalho para segurar Verstappen e Hamilton, bem mais rápidos com pneus novos nas voltas finais. Tsunoda teve bem grande em seu retrovisor Albon, mas segurou o piloto da Williams para marcar mais pontos, enquanto Albon e o sobrevivente Gasly marcaram seus primeiros pontos em 2024. A Aston Martin teve mais um dia ruim, onde esteve longe marcar pontos e ainda viu Stroll errando, fazendo-o ir aos pits duas vezes, o único em todo o pelotão. Ricciardo foi o primeiro a perder posição e a imagem dele ao lado de Liam Lawson mostra bem o futuro e o passado na Racing Bulls lado a lado. A Sauber parou seus dois pilotos, Bottas chegou a andar 4s mais rápido do que os líderes, mas no fim, nada valeu, com Zhou ficando em último praticamente o tempo todo. 


Para o campeonato, não deixa de ser interessante ver essa oscilação da Red Bull e até o momento não se pode afirmar se foi algo pontual ou se o time austríaco chegou ao platô de desenvolvimento mais rápido do que o imaginado. Leclerc tirou bons pontos de Verstappen, num discretíssimo sexto lugar, mas ainda está longe do neerlandês no campeonato, mas a pergunta que fica é se esse momento da Red Bull irá perdurar. Sem contar que a Ferrari não chegou sozinha junto à Red Bull, pois a McLaren mostrou mais uma vez que está na briga por pódios e eventuais vitórias. Piastri fez uma corrida segura para conquistar seu primeiro pódio em Mônaco. A próxima corrida será em Montreal, outra pista de características peculiares. Mesmo com Verstappen e Red Bull bem à frente em ambos os campeonatos, está parecendo que a dominação esperada dos dois não está se confirmando.


Foi uma corrida sonolenta, onde praticamente nada aconteceu, principalmente na frente. Tudo foi decidido no momento em que Magnussen viu uma brecha em que Pérez fechou ao simplesmente seguir sua trajetória. Com os pilotos precisando conservar seus pneus, não teve mais corrida e quanto mais lentos andassem, melhor e assim foi para praticamente todo mundo até a bandeirada. Mas Leclerc emocionou a todos com sua genuína alegria pela vitória em casa, que contagiou até mesmo o Príncipe Albert.

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