domingo, 27 de agosto de 2023

Tudo normal no caos neerlandês

 


Pode chover, relampejar, raio cair... mas Max Verstappen continuará sua temporada dominante na F1. Em meio ao caos que marcou o início e o fim da corrida em Zandvoort, Max Verstappen soube passar por cima de qualquer intempérie para vencer novamente, se igualando ao recorde que foi de outro piloto da Red Bull, Sebastian Vettel dez anos atrás, com nove vitórias consecutivas. Contudo não se pode afirmar que foi outro passeio domenical do neerlandês, com a chuva atrapalhando os planos de Max de uma vitória sossegada na frente do seus sempre animados torcedores.


Havia previsão de chuva para todo o final de semana neerlandês e se no sábado os meteorologistas laranjas foram certeiros, no domingo foram ainda mais precisos. Quando os pilotos estavam saindo para a volta de apresentação, já se enxergava pingos nas câmeras de TV e no apagar das luzes vermelhas, ainda com pista completamente seca, Max saiu calmamente, se aproveitando da estreiteza da pista em Zandvoort, onde ninguém se arrisca ao extremo pelo simples fato de não haver espaço. Porém, quando o pelotão de carros se aproximou do último terço da primeira volta, a pista estava bastante molhada, pegando todos de surpresa. Tanto que poucos pilotos tiveram a iniciativa de ir aos pits colocar pneus intermediários, liderados por Sergio Pérez. No entanto, a previsão era que a chuva fosse passageira, deixando os estrategistas de cabelo em pé. O que fazer? Arriscar ficar na pista molhada com os pneus slicks ou ir imediatamente aos pits? Boa parte do grid optou pela segunda opção e quanto mais tempo os pilotos ficassem na pista com slicks, poderia perder ainda mais tempo. Verstappen foi um dos que pararam na segunda volta, levando uma clara desvantagem de quem parou na primeira volta. Max chegou a ficar 13s atrás de Checo, que rapidamente chegou à liderança da corrida. Enquanto isso, os 'pajés' de McLaren e Mercedes comeram mosca e deixaram seus carros mais uma volta e só então os trouxeram aos pits, fazendo com que Hamilton, Norris e Russell perdessem muito tempo. 'Minha previsão era ir ao pódio e agora estou nas últimas posições', bodejou via rádio Russell. Já Albon, Piastri, Hulkenberg e Sargeant arriscaram a primeira tática e talvez a mais arriscada, que era não parar e ficar na pista molhada com os pneus slicks.


Com menos de dez voltas, o sol já brilhava em Zandvoort e com os pilotos que arriscaram ficar com slicks até 4s mais rápidos, estava na hora dos pilotos que colocaram pneus intermediários 'destrocar' para slicks. Nesse momento Verstappen já havia deixado Zhou e Gasly para trás com uma ferocidade incrível e com a mesma fome, diminuiu a vantagem de Pérez de 13s para menos de 5s. Não querendo encrencas na pista entre seus pilotos, a Red Bull foi bem prática ao trazer Max primeiro aos pits, só trazendo Checo uma volta mais tarde, para tristeza do mexicano, que questionou a manobra via rádio, mesmo que se tudo fosse resolvido na pista, Verstappen atropelaria Pérez como fizera em Miami. Apesar das reclamações, não se pode afirmar que Pérez ficou no rol dos prejudicados nas caóticas primeiras voltas, pois largando em sétimo, com tudo isso Sérgio completava a dobradinha da Red Bull, com Alonso em terceiro, após uma largada agressiva do espanhol, ganhando duas posições na primeira volta e parando na mesma volta de Max. Leclerc tocou rodas com Norris na primeira volta e se aparentemente só quebrou parte do bico, não estava à olho nu a quebra do assoalho, estragando de vez a corrida do monegasco. Contudo, não se pode falar de uma corrida em 2023 sem uma atrapalhada da Ferrari. Charles foi um dos que foram aos pits na primeira volta. Leclerc tinha tudo para capitalizar, assim como fizera Pérez, Zhou e Gasly. Só esqueceram de avisar a Ferrari, que quando viu Leclerc emergir no pit-lane, simplesmente não tinham os pneus intermediários prontos. Mais uma cena inacreditável que entrará para o folclore da F1 e da Ferrari. O vexame só não foi maior porque, com o problema no assoalho, Leclerc abandonou melancolicamente, quando levava pressão do novato Liam Lawson.


Com sol brilhando, a corrida entrou numa fase mais tranquila, quando Logan Sargeant estampou sua Williams no muro, trazendo o primeiro Safety-Car do dia. O jovem americano, que quebrou um jejum de trinta anos de um piloto ianque largando entre os dez primeiros numa corrida de F1, mais uma vez bateu forte seu Williams no final de semana e ficou a corrida inteira introspectivo, pensando na vida e no que fazer em 2024, o que pode ser bem longe da F1.  Isso fez com que alguns pilotos que se aproveitaram do caos das primeiras voltas vissem pilotos prejudicados encostarem, como foi o caso de Hamilton e Norris, enquanto Russell pensou um pouco diferente e colocou pneus duros, numa tentativa de levar sua Mercedes até o final. Ou quem sabe até a próxima pancada de chuva. Afinal, como anunciadores do apocalipse, as equipes sempre davam previsões de que a chuva viria em algum momento no final da corrida. Enquanto isso, Max liderava tranquilamente, tendo Pérez como escudeiro e Alonso fechando o pódio provisório. Na única Ferrari minimamente competitiva, Sainz sofria com um carro com acerto ruim em pistas de alto downforce e era superado por um Gasly que capitalizou bastante na estratégia nas tateantes primeiras voltas. Hamilton e Norris subiam pelo pelotão, já se aproximando da zona de pontuação, enquanto Albon fazia outra corrida assombrosa. Enquanto seu companheiro de equipe sofria ao lado da pista, pensando na morte da bezerra, Albon passou da metade da corrida sem fazer um único pit-stop, se segurando na pista com pneus não compatíveis com a situação e depois levando essa mesma borracha a durar mais do que o esperado. É por essas e outras que Albon já desperta a cobiça de equipes grandes na F1.


Ao horizonte, uma nuvem pesada vindo do Oceano Atlântico se aproximava da pista de Zandvoort. O céu escureceu e faltando dez voltas para o fim, uma chuva ainda mais forte do que uma hora e meia antes despencou em Zandvoort. Foi outro Deus-nos-acuda. Pérez fez o mesmo que a primeira volta e entrou nos pits antes de todos, talvez sem avisar à equipe, que deu uma de Ferrari e esqueceu dos pneus, fazendo Pérez perder muito tempo na operação. Sorte de Checo foi que a Aston Martin já tinha falhado com Alonso na parada do espanhol e Fernando estava mais longe do que o normal. Aconteceu outra procissão aos pits, mas a chuva era tão forte, que não demorou que alguns pilotos aquaplanassem, entre eles Pérez, que dessa vez perdeu a posição para Alonso. Ocon colocou os pneus para chuva forte e quando o francês reclamou com sua equipe, o que era uma chuva forte se transformou em dilúvio, fazendo com que alguns pilotos imitassem o francês da Ocon, antes de Guanyu Zhuo bater forte sua Alfa Romeo na curva Tarzan, causando uma bandeira vermelha. Até mesmo com os pilotos levando seus carros aos pits, alguns saíram da pista, tamanho era a quantidade de chuva.


Faltando sete voltas para o fim, em outros tempos essa bandeira vermelha significaria o fim da corrida, mas em tempos de Liberty Media, o show tem que continuar, mesmo com alguns empecilhos. A grande realidade é que Zandvoort só está no calendário da F1 atual por causa da 'Verstappenmania' e mesmo na década de 1980, já haviam reclamações do pouco espaço no pit neerlandês. Com um pit-lane tão apertado, seria um risco os pilotos largarem com pneus para chuva extrema e na volta seguinte, como vem sendo comum, irem procurar, todos ao mesmo tempo, os pneus intermediários. Então se esperou quarenta minutos para que a chuva diminuísse e a pista se tornasse praticável para os intermediários, com os pilotos sendo obrigados a largarem com os pneus de tarja verde. Assim que foi dada a relargada, foi anunciado uma punição de 5s para Pérez, por excesso de velocidade nos pits. Verstappen teve a presença incômoda de Alonso na relargada, mas como o próprio espanhol relatou depois da corrida, as condições estavam tão difíceis que um acidente poderia tirar os dois da corrida. E talvez Alonso tivesse que sair da pista num camburão de polícia. As últimas voltas foram marcadas pela tentativa frutífera de Gasly se manter menos de 5s de Pérez para conseguir um muito comemorado pódio, enquanto Hamilton tentava e não conseguia ultrapassar a Ferrari de Sainz, tendo que se conformar com a sexta posição. Albon marcou bons pilotos, condizentes com sua bela pilotagem em todo o final de semana. Norris largou na primeira fila, mas foi derrubado por erros estratégicos da McLaren e pelo melhor ritmo da Mercedes para ser oitavo, tendo se envolvido num toque com Russell nas últimas voltas, que fez o piloto da Mercedes cair para último. Piastri teve a mesma estratégia de Albon, mas não brilhou como o anglo-tailandês, mas pelo menos terminou nos pontos, enquanto Ocon melhorou ainda mais o dia da Alpine conseguindo um pontinho.


Foi uma corrida caótica, onde muita coisa aconteceu. Só não mudou o vencedor. Enquanto os pilotos esperavam a pista melhorar e completarem a corrida, a torcida neerlandesa começou uma festa incrível, meio que esperando que o grande motivo deles estarem ali completasse o serviço. Mesmo com algumas dificuldades, Max Verstappen torna tudo muito fácil e transformou uma corrida caótica em outra vitória dominante. Da mesma forma como a torcida neerlandesa, a F1 parece saber que pode acontecer de tudo numa corrida na temporada 2023. Chover, relampejar, nevar, os oceanos entrarem em ebulição, mas o vencedor será Max Verstappen. 

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