domingo, 11 de setembro de 2022

Bora Will!

 


Quando assumiu o lugar de Hélio Castroneves na Penske, enquanto o brasileiro tentava se explicar com o implacável fisco americano, Will Power mostrou tanto talento, que Roger Penske conseguiu um terceiro carro para o australiano quando Hélio retornou à Indy em meados de 2010. Power já não era mais nenhum garoto, mas em várias ocasiões se portou como um. Piloto rapidíssimo nos mistos, vacilava nos ovais e em momentos de pressão. Por isso que seu primeiro e esperado título demorou tanto e ficou por ali. Power se mostrava ainda um piloto rápido, mas conseguiu domar os ovais a ponto de vencer as 500 Milhas de Indianápolis em 2018 e sempre estar na briga por vitórias. Porém, ainda faltava controlar seus nervos. Power já tinha números impressionantes, foi se mantendo na Penske vendo alguns pilotos chegarem e serem campeões, mas Will muitas vezes vacilava na chamada hora H.

Para 2022 Power não estava entre os favoritos, principalmente com o título de Alex Palou e outros pilotos jovens cada vez mais presentes na luta por vitórias. Contando com 41 anos, Power tinha como companheiros de equipe na Penske pilotos que ainda não estavam na casa dos trinta anos. Porém, Will veio diferente para essa temporada. Se em outros momentos Power era uma espécie de 'win or wall', nesse ano o australiano da Penske era cerebral e foi enfileirando bons resultados, simplesmente terminando todas as corridas da temporada. Várias vezes em 2022 Power pecou na sua maior especialidade, que é a velocidade em ritmo de classificação e teve que largar lá de trás, mas isso não impediu que Will fosse ganhando posições a ponto de estar no pódio oito vezes nesse ano. A única vitória de Power nesse ano foi numa corrida de recuperação em Detroit, após largar em 16º.

Power foi para a decisão do campeonato com uma vantagem razoável sobre dois pilotos com mais de um título e experientes (Newgarden e Dixon). Para mostrar que esse final de semana era mesmo de Power, ele conseguiu uma marca histórica ao conseguir a sua 68º pole da carreira na Indy, ultrapassando a lenda Mario Andretti como o maior pole-man da categoria. Após conseguir o feito, Power parecia nem estar feliz. Will estava focado no título e mais do que entrar definitivamente na história da Indy, Power conseguia mais um ponto de frente para Newgarden e Dixon, que tiveram um sábado difícil. Dixon repetiu suas atuações nos treinos e ficou no meio do pelotão, enquanto Newgarden rodou no Q1 e teve que largar da última fila. Largando na pole, Power estava com a faca e o queijo na mão, mas ele teria que segurar os nervos em Laguna Seca, tradicional palco da final da Indy.

Com um asfalto velho e áspero, os pneus foram a chave para a corrida em Monterey, principalmente em se manter com os pneus duros. Power disparou no primeiro stint, mas não foi capaz de segurar o atual campeão Alex Palou, que fez a melhor corrida de sua carreira na Indy. O piloto da Ganassi queria mostrar serviço, talvez por que precise de alguém para lhe bancar em 2023. Palou destruiu a concorrência hoje e venceu com mais de 30s de vantagem, numa margem rara de ser numa corrida da Indy. Seu movimento de tentar uma vaga na McLaren pensando na F1 se mostrou um tiro n'água e a cara dos seus mecânicos atrás dele após a corrida mostrava bem o constrangimento de alguém sem clima dentro da Ganassi. Foi uma corrida com apenas uma bandeira amarela e muita ação pelas diferentes táticas das equipes por causa dos pneus. Ainda com chances remotas de título, Scott McLaughlin ficou com a missão de marcar de perto Scott Dixon. Se fosse um jogo de futebol, o neozelandês era capaz de ir ao banheiro com o seu compatriota se lá ele fosse. Mas talvez nem fosse preciso. Dixon esteve irreconhecível hoje e nem de longe mostrou a sua genialidade para conquistar títulos ou viradas espetaculares, como foi em 2015.

E quem fez uma corrida espetacular foi Josef Newgarden. O americano da Penske saiu da última fila para a segunda posição basicamente na pista, pois as bandeiras amarelas não foi um fator. Josef ultrapassou quem viu pela frente, não tomando conhecimento dos pilotos que encontrava. Newgarden tinha uma missão e lutou por ela, mas ele não foi páreo para Palou e seu motor novinho em folha e teve que se contentar com a segunda posição na corrida e no campeonato. Se alguém da Alpha Tauri estivesse vendo a corrida, talvez iria trazer Newgarden no lugar de Herta... Com a cabeça claramente fora da Indy, Herta fez outra corrida bem abaixo de suas possibilidades, ficando atrás dos seus companheiros de equipe Grosjean e Rossi, que se despediu da Andretti após longa passagem. A Andretti pode ser chamada de 'Ferrari da Indy', por sempre matar a estratégia dos seus pilotos com pit-stops horrorosos e chamadas piores ainda. Para completar, sua equipe complementar, a Meyer Shenck fez uma temporada bem abaixo e Hélio Castroneves, que teima em não se aposentar, fez uma temporada medíocre. A Ganassi ainda se sustenta pela genialidade de Dixon e bem quando esperava ter encontrado um sucessor, Palou fez toda essa presepada que o deixa numa situação delicada para 2023, pois está clima na Ganassi e pode acabar fora da McLaren, que fez outro bom ano, mas sem a consistência necessária.

Power fez uma prova pensando no campeonato, refletindo como foi sua temporada em 2022. Quando foi ultrapassado por Newgarden e tinha o sempre perigoso Romain Grosjean em seu encalço, muitos pensaram que Will amarelaria novamente, mas o australiano manteve a calma e no último stint colocou pneus duros novos, encostando em Newgarden. Daí em diante foi controlar o companheiro de equipe até a bandeirada, chegando num mais do que suficiente terceiro lugar, seu nono pódio no ano. Foi o segundo título de Power na Indy, que vai consolidando o australiano como um dos grandes dessa era moderna da Indy pós-reunificação. Power teve que mudar seu estilo, mas doze anos após chegar à Indy com muito talento e bastante o que melhorar, Will Power foi se ajeitando e reinventando para vencer novamente quando menos se esperava.

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