domingo, 4 de setembro de 2022

Fatiando a diferença

 


Por mais que Fabio Quartararo esteja fazendo uma temporada brilhante e carregue nas costas sua Yamaha, a força da Ducati vai levando Pecco Bagnaia para cada vez mais próximo do atual campeão mundial e com sua quarta vitória consecutiva, Bagnaia se tornou de fato e de direito o rival direto de Fabio pelo título de 2022.

A corrida em Misano foi um mau sinal para Quartararo. Contando com a maioria do grid e com motos muito bem acertadas, a Ducati dominou o final de semana e mesmo com algumas quedas aqui e ali, a montadora italiana soube segurar bem a liderança de Bagnaia e colocar vários pilotos entre Pecco e Quartararo, apenas quinto colocado. A cena de Fabio chegando chateado nos seus boxes é um reflexo da impotência do jovem representante da Yamaha. Não bastasse a inferioridade de sua moto, Quartararo é um cavaleiro solitário enfrentando uma horda de Ducatis. Quando o rival era Aleix Espargaró, a briga era mais igual, pois o espanhol não tinha tantas motos lhe apoiando, mas contra Bagnaia, além de Quartararo vê o italiano enfileirar vitórias, ainda tem várias motos entre eles, enquanto a diferença no campeonato vai se esvaindo rapidamente.

O pole Jack Miller caiu nas primeiras voltas, facilitando um pouco a vida de Bagnaia, mas um intruso apertou o italiano da Ducati. Cada vez mais adaptado com a Aprilia, Maverick Viñales usou sua boa adaptação ao circuito de Misano para atacar Bagnaia nos primeiros dois terços de corrida, deixando Pecco sob pressão numa pista onde o italiano caiu ano passado quando foi atacado por Marc Márquez. Enquanto isso, Quartararo fazia das tripas, coração para manter contato com o pelotão da frente. Menos mal que Fabio ultrapassou Aleix Esparagaró num erro do espanhol, mas ali valeu apenas a quinta posição. Por mais que tenha se aproximado de Luca Marini no final, a força da Ducati nunca permitiu um ataque mais incisivo de Fabio, que viu catorze pontos de vantagem indo embora. Enquanto isso, Bagnaia viu a aproximação de Bastianini, que após ultrapassar Viñales, se aproximou de Bagnaia nas voltas finais. Claramente mais rápido, Bastianini deve ter se lembrado que fora promovido pela Ducati e em 2023 será companheiro de equipe de Pecco. Era nítido que Bastianini se segurou para não ultrapassar Bagnaia e sua tentativa final na reta de chegada apenas indicou que tinha moto para completar a ultrapassagem, mas preferiu jogar pela equipe.


Parêntese para a despedida de Andrea Doviziozo. Um dos pilotos mais subvalorizados do século 21, Dovi foi capaz de enfrentar Marc Márquez no auge e o derrotou em várias disputas mano a mano. Andrea praticamente salvou o projeto Ducati quando assumiu a moto depois da saída de Valentino Rossi, que não se adaptou à máquina italiana. Doviziozo lutou como nos tempos das 250cc, quando enfrentou o pelotão espanhol com Pedrosa e Lorenzo com uma Honda muito inferior à Aprilia. Doviziozo era conhecido como 'calculadora' pela forma fria de pensar a corrida, ganhando várias vezes usando a cabeça. Em litígio com a Ducati desde a atabalhoada passagem de Jorge Lorenzo, Doviziozo chegou a dar um tempo na MotoGP, mas acabou voltando na equipe satélite da Yamaha. Numa moto tão diferente e já passando dos 35 anos, Doviziozo nem de longe foi o piloto combativo e inteligente dos seus áureos tempos da Ducati. Correndo em sua Misano local, Doviziozo terminou sua bela carreira no Mundial de Motovelocidade. 

Com a inédita quarta vitória consecutiva, Bagnaia amealhou cem pontos e somente enxerga um impotente Fabio Quartararo à sua frente no campeonato. Se a Aprilia se manteve forte, o mesmo não acontece com Espargaró e provavelmente Maverick Viñales tomará as rédeas da equipe no próximo ano. Pior para Quartararo, que simplesmente não tem uma única Yamaha a ajuda-lo na briga na frente, enquanto as Ducatis se colocam entre ele e Bagnaia, que vai fatiando a diferença.

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