domingo, 18 de setembro de 2022

Desobedece quem não tem juízo

 


Com a saída de Jack Miller da equipe oficial da Ducati, logo se estabeleceu uma briga silenciosa entre Enea Bastianini e Jorge Martin para ascender ao posto do australiano. Martin era o favorito, mas Enea conseguiu três vitórias com sua moto de 2021, que somado ao fato de ser italiano, ajudou bastante a escolha da Ducati por ele para ser companheiro de equipe de Bagnaia em 2023. Pecco vinha de quatro vitórias consecutivas e largava na pole em Aragão. Com a queda prematura de Quartararo, o italiano da Ducati poderia encostar de vez no campeonato e com o seu viés de alta, poderia embalar rumo ao título. Porém, Bastianini estava colado em Bagnaia. Em Misano, foi claro que Enea segurou o seu ritmo para fazer um jogo de equipe. Ele faria novamente? Já com contrato assinado para 2023, Bastianini segurou o quanto pôde, mas claramente mais rápido, executou a ultrapassagem decisiva na última volta para garantir sua quarta vitória no ano e sorrisos amarelos dentro do boxe da Ducati.

Após mais de cem dias fora das pistas para tentar uma decisiva cirurgia no braço direito, Marc Márquez retornava às corridas em Aragão, numa pista que conhece bastante e que poderia lhe ajudar nessa sua enésima volta. Se vendo em sérias dificuldades no campeonato, Quartararo torcia para a volta de Márquez para, até mesmo, ser decisivo no certame. E realmente Marc foi decisivo, mas não da forma como Quartararo esperava. Mesmo largando em 13º, Márquez saiu muito bem no apagar das luzes vermelhas e ainda na segunda curva estava em sexto, colado em Brad Binder, que também largara muito bem. Os dois haviam ultrapassado Quartararo, que estava colado em Márquez, que acabou vendo a sua traseira querer passar a dianteira. O espanhol da Honda tirou a mão, mas não deu chances a Quartararo a fazer o mesmo, enchendo a traseira da Honda. Quartararo caiu de forma dramática, no meio do pelotão e ainda viu sua moto passar por cima dele. Felizmente ninguém atingiu Fabio, que chegou nos pits com o peito todo ralado. Porém, Márquez não tinha acabado ainda. Com um pedaço da Yamaha de Fabio em sua traseira, Márquez viu sua moto entrar no modo largada, desequilibrando sua Honda. Marc acabou batendo em Nakagami, que se desequilibrou também no meio do pelotão, mas assim como Quartararo, todo mundo se livrou do japonês.

Com dois pilotos fora por sua causa, Márquez recolheu aos boxes para abandonar e procurar se desculpar pelos erros que mudaram com o campeonato. Enquanto tudo isso ocorria, Bagnaia mantinha sua primeira posição e tirava 25 pontos inteiros para Quartararo, encostando de vez na luta pelo título. Já se fala abertamente em jogo de equipe dentro da Ducati e em Misano, Bastianini claramente se segurou para não ultrapassar Bagnaia. Porém, com a queda de Quartararo, abriu-se uma fresta para Enea, que mesmo ainda um pouco inconsistente, ainda pode brigar pelo título. A prova da mudança de mentalidade foi a ultrapassagem de Bastianini ainda nas primeiras voltas pela ponta, mas um erro logo depois devolveu a primeira posição para Pecco. Seria já um jogo de equipe? Com Miller perdendo rendimento, o australiano permitiu a aproximação de Binder e Aleix Espargaró, que se recupera de um dedo mindinho quebrado. O espanhol da Aprilia lutou bastante e nas últimas voltas deixou Binder para trás para ficar no lugar mais baixo do pódio e mais importante, se manter próximo da luta pelo título.

Com a vitória, Bagnaia conseguiria a incrível marca de cinco vitórias consecutivas e o mesmo número de pontos atrás de Quartararo, que não vence desde o começo do campeonato. A lógica dizia para Bastianini repetir a tática de Misano e ficar logo atrás. Na Moto2 o jovem Pedro Acosta não ligou muito para a briga do título de Augusto Fernández e ficou na frente do companheiro de equipe para vencer. Bastianini tinha um ritmo melhor e lutava para não ultrapassar Bagnaia, principalmente no final da reta oposta. Quando todos esperavam para o mesmo resultado de Misano, Bastianini atacou na última volta. O ritmo de Enea era tão melhor, que não permitiu qualquer réplica de Bagnaia, que se viu em segundo e com a desvantagem para Quartararo dobrar para dez pontos. Dentro dos boxes da Ducati, não havia muita alegria, mesmo com a confirmação do título de Construtores. Os chefes se entreolhavam com cara de quem chupou limão bem azedo. E servido pelo piloto que acabaram de contratar. Se Bagnaia perder o campeonato por cinco pontos, o clima dentro dos boxes da Ducati em 2023 será nada agradável...

2 comentários:

  1. E se lembrar que a própria Ducati enrolou ao máximo possível a escolha do substituto do Miller pra encontrar um pretexto pra justificar a escolha do queridinho dela(Jorge Martin) em prol do Bastianini, a vida do Enea na equipe de fábrica ano que vem promete ser um inferno vivo daqueles caso essa desobediência de hoje custe o título do Bagnaia.

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  2. Mesmo gostando do Bastianini eu não poderia aprovar o que ele fez hoje. Emular Gabor Talmacsi(entendedores entenderão) foi a pior coisa que Enea poderia fazer nessa hora.
    Agora, a Ducati sabe que nessa luta do Pecco contra o Fábio não poderá mesmo contar com Bastianini pra tirar o máximo de pontos possível do francês pra ajudar Bagnaia.

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