terça-feira, 25 de setembro de 2018

História: 30 anos do Grande Prêmio de Portugal de 1988

Após a surpreendente corrida em Monza, onde a McLaren conheceu sua única derrota em 1988, a F1 se encaminhava para conhecer seu campeão daquela temporada e tudo levava a crer que seria Senna. Se o brasileiro vencesse uma corrida nas quatro restantes, seria campeão, enquanto Prost quebrava a cabeça com os pontos que teria que descartar no final do ano. Com um carro tão superior aos demais, a McLaren sugere a Honda que forneça um motor mais confiável, para evitar uma quebra como a vista com Prost em Monza. Os japoneses prontamente atende sua parceira. Outros tempos. Mansell se recuperava de sua catapora, enquanto sua futura equipe, a Ferrari, testava o revolucionário câmbio semi-automático, tendo como piloto de testes principal o então campeão da F3000 Roberto Moreno. 

Senna foi o mais rápido na sessão oficial de sexta-feira, enquanto Prost tinha problemas de motor. No dia seguinte, o francês desfrutou de um motor perfeito e consegue a pole, com Senna não conseguindo melhorar seu tempo. O brasileiro estava arredio dentro dos boxes da McLaren, ainda lamentando a vitória perdida em Monza. O herói de sábado fora Capelli. O jovem italiano colocou seu March-Judd em terceiro lugar, enquanto seu companheiro de Gugelmin ocupava um ótimo quinto lugar. Os pilotos da Ferrari (Berger em 4º e Alboreto em 7º) sofriam de uma falta crônica de aderência. Os Williams-Judd estavam fortes num circuito mais travado, mas Mansell (6º) tropeçou no trânsito e Patrese (11º) quebrou um motor. Piquet não pode fazer nada melhor do que o oitavo lugar com o seu Lotus, mas domina muito claramente Nakajima, apenas 16º. Se já estava chateado com a derrota em Monza, a perca da pole para Prost no Estoril deixava Senna arrasado nos boxes da McLaren.

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:17.411
2) Senna (McLaren) - 1:17.869
3) Capelli (March) - 1:18.812
4) Berger (Ferrari) - 1:18.903
5) Gugelmin (March) - 1:19.045
6) Mansell (Williams) - 1:19.131
7) Alboreto (Ferrari) - 1:19.372
8) Piquet (Lotus) - 1:19.551
9) Nannini (Benetton) - 1:19.572
10) Warwick (Arrows) - 1:19.603

O dia 25 de setembro de 1988 amanheceu quente e ensolarado no Estoril, num clima perfeito para uma corrida. Mesmo largando em primeiro, Prost reclamou bastante por estar largando na parte suja da pista e chegou a pedir que a McLaren varresse seu lugar no grid. A corrida começou muito confusa e foi necessário três largadas. A primeira foi adiada por problemas com Andrea de Cesaris antes mesmo da luz verde. Quando ela apareceu na segunda largada, um acidente no meio do pelotão suspendeu a corrida novamente. Warwick ficou parado no grid e foi atingido por De Cesaris, Luiz Perez-Sala e Nakajima. Depois de mais de meia hora a corrida finalmente teve seu início. Na segunda largada, Prost rapidamente percebeu a vantagem que Senna teve ao largar do lado limpo e por isso, na terceira tentativa o francês jogou seu carro para a esquerda, tentando intimidar Senna, porém o brasileiro se manteve firme e as duas McLaren chegaram lado a lado na primeira curva. Prost se mantinha por dentro, mas num corajoso mergulho por fora, Senna assumiu a primeira posição.

Mesmo não inteiramente satisfeito com o acerto do seu carro, Prost sentia que estava melhor equipado do que Senna. Após ameaçar no final da primeira volta, Prost pegou o vácuo de Senna na reta dos boxes e partiu para a ultrapassagem. Corroborando com seu estilo agressivo, Senna não titubeou em espremer Prost contra o muro dos boxes. No filme oficial daquela temporada, dá para ouvir claramente um português gritando 'ai, ai, ai'. Dessa vez foi Prost que não se intimidou e completou a ultrapassagem. Senna tinha problemas na bomba de combustível do seu carro, que consumia mais do que o normal e se quisesse chegar ao fim, Ayrton precisava andar num ritmo mais ameno. Prost rapidamente abre vantagem, enquanto Senna era atacado por Capelli e Berger. Era uma cena inimaginável, mas uma McLaren atrasava todo o pelotão. Capelli sofria com a pouca potência do seu carro no final da reta, enquanto Senna jogava duro. Após várias tentativas, Capelli finalmente ultrapassa Senna na volta 22, quando já se formava um pequeno pelotão atrás da McLaren. Imediatamente Capelli marca a volta mais rápida da corrida, até mesmo para fugir de Berger, que não demorou uma volta para ultrapassar Senna. Na volta 33, enquanto perseguia Capelli, Berger aciona sem querer seu extintor de incêndio, quase congelando suas pernas, mas o austríaco permanece na corrida. Porém, com o cockpit da Ferrari cheio de espuma, Berger acaba escorregando no pedal de freio na volta 35 e roda, acabando com sua corrida. Como diria o filósofo, há coisas que só aconteciam com Gerhard Berger...

Prost também economizava combustível, permitindo Capelli chegar bem próximo do francês, mas o piloto da McLaren logo aumentava o seu ritmo, controlando sua distância na ponta da corrida. Com um motor raquítico, Mansell não conseguia ultrapassar Senna, da mesma maneira em que ficava cada vez mais impaciente. O inglês atacava em praticamente toda a freada, mas Senna continuava aplicando fechadas. Na volta 54 Mansell tenta se aproveitar de um lento Jonathan Palmer, mas acaba se atrapalhando e bate na traseira de Senna. Para sorte do brasileiro, ele pôde continuar na corrida, mas era o fim de corrida para Mansell. Senna vai aos boxes para uma rápida averiguação e mesmo com um braço de suspensão torto, o brasileiro retorna à corrida em sétimo, que logo viraria sexto quando o motor de Gugelmin quebra na volta 60. Sentindo o motor superaquecer, Capelli vê no abandono do companheiro de equipe um sinal para abrandar o ritmo. Alboreto tentou uma aproximação em cima de Capelli, acreditando no seu computador de bordo, que lhe dizia que tinha combustível o suficiente. Contudo, a máquina falhou e Alboreto acabou ficando sem gasolina na volta final. Alain Prost venceu pela trigésima terceira vez na carreira, com Capelli ficando com um esplêndido segundo lugar com seu March-Judd. Boutsen ficou com a terceira posição, com Warwick em quarto, enquanto Alboreto salvou por pouco o quinto lugar. Senna chegou em sexto, mas sua manobra na segunda volta já tinha causado um belo estrago. Até então a atmosfera dentro da McLaren era respirável, apesar da competitividade dos seus dois pilotos, mas Prost saiu reclamando bastante da manobra de Senna ao joga-lo contra o muro dos boxes. Senna também reclamou da manobra de Prost na largada que valeu. Ambos foram chamados por Ron Dennis para se explicar. Com o final do campeonato tão próximo do fim, nada demais aconteceu entre Senna e Prost, mas a semente havia sido plantada para uma das rivalidades mais ferozes e fantásticas da história da F1.

Chegada:
1) Prost
2) Capelli
3) Boutsen
4) Warwick
5) Alboreto
6) Senna

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