domingo, 3 de agosto de 2025

A réplica de Lando

 


O clima em Hungaroring não estava parecido com as clássicas corridas no verão da F1, com forte calor e sol à pino, no entanto, a histórica pista magiar viu uma bela prova protagonizada pela dupla da McLaren antes das férias de verão da F1 e com Lando Norris dando uma réplica em cima de Oscar Piastri, uma semana depois do australiano ter freado a reação de Lando na Bélgica. Após superarem um frustrado Charles Leclerc, a dupla da McLaren foi por caminhos diferentes e mesmo executando uma pobre primeira volta, Norris deu a volta por cima e superou seu companheiro de equipe por menos de sete décimos de segundo na bandeirada, após últimas voltas bem tensas com os dois carros da McLaren bem próximos.


A expectativa de chuva que havia na cidade de Mogyoród, sede do reformado circuito de Hungaroring, não se confirmou, mas o clima ameno e o tempo nublado poderia favorecer quem escolhesse uma tática onde cuidar dos pneus fosse essencial. Numa prova longa e com o asfalto escorregadio, a tática de duas paradas era praticamente unânime entre os primeiros colocados, mas tudo começou a mudar com a primeira volta ruim de Lando Norris. Enquanto o pole Charles Leclerc manteve sua posição sem maiores problemas, Piastri não largou tão bem e Lando tentou capitalizar o vacilo do companheiro de equipe, mas Oscar trancou o caminho de Norris por dentro. Para piorar a situação de Lando, ele deixou a porta aberta por fora e Russell conseguiu a fácil ultrapassagem sobre o compatriota e até mesmo George ficando lado a lado com Piastri na primeira curva. Sem espaço, Norris se viu ultrapassado também por Alonso, perdendo duas posições na primeira volta, complicando mais uma vez sua corrida logo de cara. Era o 'Dando Mollis' reaparecendo com força na Hungria, mas como dito mais cedo, clima ameno ajudaria bastante o jovem inglês da McLaren.

O primeiro stint de corrida foi tranquilo, com Leclerc surpreendendo novamente ao abrir uma boa diferença para Piastri, que manteve uma vantagem segura para Russell. Não demorou muito para Lando ultrapassar Alonso e encostar em Russell, mas o duo inglês se manteve nas mesmas posições, enquanto mais atrás uma briga pela quinta posição começava com Alonso segurando todo o pelotão, mas com raríssimas chances de ultrapassagem. Verstappen ultrapassou Lawson e Stroll, mas nada fez contra um inspirado Bortoleto, que já havia deixado Stroll para trás na primeira volta. As notórias dificuldades de ultrapassagem em Hungaroring se sobressaíram e a corrida passou a ser bem tática. Dos quatro primeiros colocados, Russell foi o primeiro a parar, seguido por Piastri e Leclerc, dando um claro sinal que visitariam os boxes duas vezes. Sem muito o que perder, pois Alonso e sua trupe estava longe demais, sem contar que o asfalto não estava tão quente a ponto de maltratar os pneus, Lando postergou sua parada e passado pouco mais de metade da corrida, o inglês foi aos boxes fazer sua primeiro e único pit-stop. As cartas estavam na mesa e a situação havia virado dramaticamente. Lando era o piloto mais rápido da pista e tirando a diferença dos pilotos da frente, mesmo que economizando borracha. Engenheiros perguntaram a Charles, Oscar e George se podiam ficar na pista até o fim e o ritmo dava uma resposta bem clara: seriam ultrapassados por Lando Norris como se estivessem parados. Não restava outra alternativa se não parar novamente, como planejado, jogando Norris novamente para a ponta. Não antes que o ritmo de Leclerc caísse assustadoramente e ele fosse ultrapassado por Piastri, deixando a briga pela vitória dentro do feudo da McLaren.


Quando retornou do seu segundo pit-stop, Piastri estava apenas 9s atrás de Norris, mas naquele momento era Oscar que tinha a vantagem dos pneus. Inicialmente Piastri foi tirando a diferença aos poucos, mas faltando dez voltas a vantagem de Lando foi caindo dramaticamente e o final de prova seria dos mais tensos de 2025 até agora. Circuito 'old school', Hungaroring tem a reputação de difícil ultrapassagem e mais uma vez vimos essa fama se estabelecer. Mesmo quando Piastri diminuiu a vantagem de 4s para menos de 1s em pouco tempo, o australiano não teve uma chance real de efetuar a ultrapassagem. Afora um mergulho banzai na penúltima volta, Piastri não teve chances de ataque real frente a um Lando Norris impecável na defesa de posição e der feito uma estratégia que parecia impensável funcionar muito bem. Depois de uma primeira volta ruim, Lando deu a volta por cima e conseguiu a terceira vitória nas últimas quatro corridas, deixando o campeonato ainda aberto, pois a F1 vai para as férias de verão com os dois pilotos separados por meros nove pontos e dez corridas para fazer. 


Na luta pelo pódio, ouvimos Charles Leclerc lamuriar via rádio e o monegasco tinha razão quando foi ultrapassado por Russell nas últimas voltas, após muita resistência do piloto da Ferrari, que até foi punido pela sua defesa de posição agressiva ao extremo. Depois da corrida a Ferrari revelou que um problema de chassi, não de estratégia, minou a corrida de Leclerc e o tirou do pódio. Após várias corridas ruins da Mercedes, Russell voltou ao pódio com uma prova correta, se mantendo próximo da Ferrari, que é a rival direta dos alemães. Contudo, os segundos pilotos de Ferrari e Mercedes decepcionaram. Sim, segundos pilotos. Após se autodeclarar como 'inútil' e que 'talvez precise-se trocar de piloto' após mais uma classificação decepcionante, Hamilton fez uma prova medíocre no domingo. Optando por uma estratégia de uma parada, Lewis largou com pneus duros, perdeu duas posições e ficou a corrida inteira preso no chamado 'trem de DRS'. No final, Hamilton chegou na mesma posição em que largou e não se duvide de outra entrevista dramática do inglês. Antonelli ficou preso no meio do pelotão, mas pelo menos ganhou algumas posições e beliscou um pontinho, porém, bem longe do seu companheiro de equipe. 


Como falado em outra oportunidade, a Red Bull só não vai perder a quarta posição no Mundial de Construtores por falta de quórum. Na Hungria nem o talento sobrenatural de Verstappen pode fazer algo a mais frente a um carro desequilibrado e com uma janela de desempenho estreita ao extremo. Max até iniciou a corrida com duas ultrapassagens na apertada da chicane na parte alta da pista, mas parou de evoluir. Escolhendo fazer duas paradas, enquanto os pilotos ao seu redor optaram por parar uma vez, a corrida de Verstappen estava condenada e o neerlandês foi apenas nono colocado, enquanto Tsunoda fez outra corrida tenebrosa, terminando na antepenúltima posição dos que receberam a bandeirada. Um final de semana que deve fazer Max Verstappen pensar se valeu a pena ficar na Red Bull pelo menos em 2026.


No pelotão intermediário, a situação foi mais aberta com a má fase da Red Bull e os problemas de Hamilton e Antonelli. A Aston Martin foi um dos destaques positivos, com uma classificação excelente, com seus dois pilotos na terceira fila, mas se Alonso brilhou como sempre, Stroll... patinou como sempre. Enquanto Alonso liderou o pelotão atrás dos quatro primeiros o tempo inteiro, escolhendo parar uma vez e controlando sua corrida rumo a um ótimo quinto lugar, Stroll foi ultrapassado por Bortoleto na primeira volta e ainda levou uma ultrapassagem de Verstappen num ponto que dificilmente se ultrapassa. Sorte do canadense foi que a Red Bull não estava inspirada na estratégia e Lance ainda salvou o sétimo lugar, que junto aos pontos de Alonso, fez a Aston Martin angariar ótimos pontos na Hungria. E falando em inspiração, Gabriel Bortoleto vai mantendo sua sistemática de sempre crescer durante a temporada, algo visto em seus anos de F3 e F2, que lhe deram os respectivos títulos. Bortoleto vai se reputando como um ótimo piloto em volta lançada e na medida em que vai ganhando confiança na administração dos pneus, as corridas do brasileiro vão melhorando. Na Hungria, Bortoleto fez uma ótima corrida do começo ao fim. Largou bem e deixou Stroll para trás rapidamente. Gabriel não se intimidou em ficar no meio de um sanduíche de lendas, atrás de Alonso e na frente de Verstappen, se comportando muito bem. Inicialmente a tática de Sauber parecia errada, mas Bortoleto a fez funcionar muito bem e o brasileiro se manteve entre os dois carros da Aston Martin rumo a um sexto lugar, a melhor posição de chegada de Gabriel. As atuações de Bortoleto já chamam a atenção e mesmo numa corrida cheia de destaques, ele foi escolhido como o 'Piloto do dia'. E de forma merecida.


Hulkenberg deu a pinta de que daria o pulo do gato ao fazer a primeira parada logo nas primeiras voltas e como estava com pista livre, ganhou bastante terreno. O problema foi que o alemão deu um pulo fora de hora e acabou punido em 5s por queima de largada, acabando com suas chances de pontuar. Liam Lawson fez mais uma prova correta, parando apenas uma vez e segurando Max Verstappen nas últimas voltas para se manter na nona posição, marcando mais alguns pontinhos para a Racing Bulls. Hadjar mais uma vez ficou atrás do companheiro de equipe e só foi visto reclamando de levar uma pedrada na mão no começo da prova. Numa corrida onde apenas Bearman abandonou, Williams, Haas e Alpine pouco fizeram a não ser brigar pelas últimas posições entre si.


Sete dias depois de Piastri responder com uma vitória a reação de Lando Norris, o inglês deu uma réplica na Hungria, vencendo pela quinta vez em 2025 e pela terceira vez nas últimas quatro corridas, ficando a apenas uma vitória de empatar com o companheiro de equipe e, mais importante, estando somente nove pontos atrás de Piastri no campeonato, deixando tudo em aberto. Com a McLaren dominando a arte de conservar pneus e marcando a sétima dobradinha do ano, além de Verstappen ficar cada vez mais para trás no campeonato, a luta entre Norris e Piastri poderá se estender até o final do ano, numa briga apertada e com os dois correndo soltos, sem 'papayas rules', e nos trazendo corridas interessantes como as desse domingo.    

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