segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Figura(RUS): Alexander Albon

O tailandês Alexander Albon ainda se acostuma com a mudança repentina da Toro Rosso para a Red Bull, após próprio aportar na Toro Rosso em cima da hora. A falta de experiência do carro e uma referência como Verstappen coloca ainda mais pressão no tailandês, que errou feio na classificação e teve que largar na última fila neste domingo. Contudo, Albon aproveitou a situação adversa para outra excelente corrida de recuperação, onde ganhou quinze posições durante a corrida até o quinto lugar. Com um misto de ultrapassagens audaciosas e muita gana, Albon vai conquistando a concorrida vaga para a Red Bull em 2020.

Figurão(RUS): Ferrari

Como você ter o carro mais rápido do final de semana e perder uma corrida, além de causar um estranhamento com seus pilotos. Assim pode ser resumido o final de semana da Ferrari em Sochi, com os italianos sofrendo uma derrota dolorosa e voltando à Maranello com seus dois pilotos em pé de guerra. Desde o início era claro a vantagem da Ferrari na enorme reta dos boxes e mesmo com um carro mais equilibrado, a Mercedes não conseguia devolver nas partes rápidas do insosso circuito de Sochi. Hamilton falava em até oito décimos de déficit nas retas. Leclerc sempre andou mais rápido do que Vettel e marcou a quarta pole consecutiva, igualando uma marca que a Ferrari só havia conquistado nos anos dourados de Michael Schumacher há quase vinte anos atrás. Vettel ainda foi superado por Hamilton na classificação, mas o alemão rapidamente se recuperou na largada e assumiu a ponta da corrida na primeira curva, sem muita combatividade de Leclerc, graças a um acordo celebrado entre os dois pilotos da Ferrari antes da prova. A segunda parte do plano consistia em Vettel devolver a posição para Leclerc, mas o alemão começou a imprimir um ritmo tão forte, que a troca não parecia segura e Leclerc mais uma vez ficou vendo navios. Enquanto isso, Hamilton seguia as Ferraris sem muita chance de ataque. Porém, a quebra do motor de Vettel proporcionou a Hamilton entrar nos pits no momento de safety-car virtual e ganhar a posição de Leclerc. Assustada, a Ferrari efetuou uma segunda parada no carro de Charles, que foi ultrapassado por Bottas. Mesmo com um motor estupidamente potente, Leclerc mal colocou de lado em cima do finlandês da Mercedes. De uma dobradinha da largada, a Ferrari teve que se contentar com um terceiro lugar com sabor de derrota, enquanto Vettel e Leclerc se estranham cada vez mais. Já que estamos na Rússia, terra de Vladimir Putin, a situação interna da Ferrari está russa e Leclerc ficou... Putin! 

domingo, 29 de setembro de 2019

Leclerc Putin

Ao conquistar a pole ontem, Charles Leclerc parecia que estava pronto para conquistar sua terceira vitória em quatro corridas e entrar, pelo menos, na luta pelo vice-campeonato, além de corroborar a grande evolução da Ferrari nessa segunda parte do campeonato. Porém, já que a corrida foi na Rússia, faltou combinar com os russos, como diria Garrincha, ou com a Mercedes. A Ferrari deu outro espetáculo de incompetência num dia que se desenhava toda dela, mas táticas esquisitas, falta de confiabilidade e sorte culminou com uma dobradinha da Mercedes, com Lewis Hamilton mantendo a hegemonia da Mercedes no insosso circuito de Sochi.

Após tantas corridas boas, a F1 chegou num local onde normalmente as corridas não são boas e Sochi não 'decepcionou'. Fatalmente a prova de hoje só não pode ser comparada à tenebrosa corrida de Paul Ricard porque pelo menos Sochi teve alguns itens a serem falados, principalmente fora da pista. A largada foi um dos pontos chaves da prova com Vettel pulando de terceiro para primeiro na freada da primeira curva no que parecia ser uma arrancada fenomenal do alemão. Porém, foi estranho a falta de combatividade de Leclerc quando Vettel colocou de lado para assumir a ponta. Não demorou muito para que os rádios trocados entre Ferrari e seus pilotos escancarassem uma manobra combinada entre Leclerc e Vettel para que a Ferrari conseguisse a dobradinha na largada. Porém, Leclerc lembrou a Ferrari que o combinado era que a troca entre os pilotos seria ainda na segunda volta. Tudo certo, se Vettel simplesmente ignorasse o que estava combinado e resolveu ficar na primeira posição. Multi21? Enquanto Leclerc ficava uma arara atrás de Vettel, Hamilton acompanhava a dupla da Ferrari com seus pneus médios, indicando claramente que pararia depois da Ferrari. Enquanto a Ferrari quebrava a cabeça em como trocar a posição dos seus pilotos, Hamilton tentava fazer a estratégia que a Mercedes tentou em Cingapura funcionar: esperar o safety-car. E hoje deu tudo certo! E com ajuda da Ferrari...

Sem poder trocar seus pilotos na pista, a Ferrari o fez nos boxes e com Leclerc parando três voltas antes de Vettel, o monegasco usou bem seus pneus médios novos para superar o companheiro de equipe, enquanto a dupla da Mercedes ficava na pista. Contudo, o motor de Vettel entregou os pontos logo depois da parada do alemão, trazendo o safety-car virtual que se provou decisivo. A Mercedes trouxe seus carros para os pits e Hamilton emergiu na frente de Leclerc. Com Russell no muro e o safety-car real na pista, a Ferrari ainda tentou diminuir o prejuízo, mas acabou o aumentando. Confiando na potência do seu motor, mas com pneus inferiores (a Mercedes estava calçado de macios e a Ferrari estava com os médios), a Ferrari chamou Leclerc para os pits colocar os pneus macios e enfrentar a Mercedes com os mesmos 'calçados', com a vantagem da maior potência. Tudo certo para Leclerc? Não. Agora atrás da segunda Mercedes de Bottas, mesmo claramente mais rápida na enorme reta dos boxes, a Ferrari tinha nítidas dificuldades no último setor da pista e mesmo podendo abrir a asa, Leclerc não conseguia a aproximação ideal para tentar qualquer manobra em cima de Bottas, que calmamente segurou a segunda posição e garantiu uma improvável dobradinha para a Mercedes. Se em Cingapura a Mercedes foi uma besta, hoje foram bestiais!

Claro que o não cumprimento do acordo de Vettel com Leclerc e a Ferrari reverberá nos próximos dias. O alemão pode parecer gente boa e soltar algumas frases não politicamente corretas, como no abandono de hoje, quando solicitou gentilmente para que a Ferrari trouxesse a porra dos motores V12 de volta! Contudo, não é a primeira vez que Vettel tem problemas sérios de hierarquia com sua equipe e não cumpre algo com o companheiro de equipe. Mark Webber teve que engolir alguns cururus gigantes com algumas atitudes não muito éticas de Vettel nos tempos de Red Bull. Ter gana de vencer é muito importante, mas a postura de Vettel não foi das mais corretas com sua equipe, que perdeu uma vitória que parecia genuína e colocou uma questão: se Leclerc tivesse assumido a ponta no momento combinado, ele teria vantagem suficiente para não ser ultrapassado por Hamilton? Essa pergunta pairá sobre a desobediência de Vettel e a dolorida derrota da Ferrari de hoje. Leclerc sai como vítima da ambição de Vettel, mas subiu ao pódio, com Mattia Binotto com cara de pouquíssimos amigos embaixo do pódio. Mesmo com os dois títulos desse ano sendo algo inalcançável, a Ferrari vinha numa ótima maré, mas a falta de pulso de Binotto causou um constrangimento que poderá por ainda mais fogo no ambiente da Ferrari.

Hamilton não teve nada com isso e a renovação de Bottas fica cada dia mais lógica. O finlandês não coloca dúvidas na cabeça do piloto principal da Mercedes e ainda garante pontos importantes no Mundial de Construtores, além de estar numa confortável vice-liderança do Mundial de Pilotos. Já na Ferrari, pode estar começando a se iniciar uma luta aberta entre um multi-campeão estabelecido e um jovem talento querendo aparecer. Foi justamente isso que Toto Wolff evitou ao liberar Esteban Ocon.

Max Verstappen fez o seu arroz-com-feijão após largar em nono devido à sua punição pelo troca de motor para chegar na quarta posição, mas o holandês e a Red Bull estão focados mesmo em Suzuka, pista caseira da Honda e que onde os japoneses farão de tudo para vencer. Porém, o grande nome da Red Bull hoje foi Alexander Albon. Após o erro de ontem, o tailandês largou dos boxes rumo a um excelente quinto lugar, efetuando várias ultrapassagens no caminho e se tornando o favorito a ser o companheiro de equipe de Max em 2020. A principal dificuldade de Gasly sempre foi as ultrapassagens e o francês mostrou isso novamente na Toro Rosso, simplesmente não tendo vantagem em luta por posições, ficando atrás até mesmo do piloto da casa Kvyat, que largou em último. Carlos Sainz fez uma largada tão boa que chegou até mesmo ficar na frente de Hamilton antes do inglês se impor na freada da primeira curva. O espanhol foi logicamente ultrapassado pelos carros de Bottas e da Red Bull, mas garantiu a posição de melhor do resto com facilidade, derrotando mais uma vez Lando Norris, que começou muito bem esse ano sua carreira na F1, mas Sainz vai mostrando que experiência faz muita diferença, ainda mais combinada com velocidade. A dupla da Renault não conseguiu brigar com a McLaren para ser o melhor do resto, com Ricciardo sendo atingido por Giovinazzi na curva 4, furando seu pneu. Hulkenberg fazia uma corrida consistente, mas um pit-stop muito ruim atrapalhou o alemão, enquanto a Haas conseguiu marcar pontos com Magnussen. Já Grosjean foi vítima de Giovinazzi e trouxe o primeiro safety-car do dia. Num dia em que a dupla da Williams abandonou, a Alfa Romeo ficou brigando com a Toro Rosso como a pior equipe da corrida num dia particularmente infeliz para Kimi Raikkonen, que queimou a largada de forma grosseira e ainda teve um péssimo pit-stop.

Sochi continuou sua tradição de corridas ruins, mas ao contrário de Paul Ricard, houve muita história para contar, principalmente com as presepadas ferraristas, muito bem aproveitada pela Mercedes e Lewis Hamilton, que capitalizou a clara chance que lhe apareceu e agarrou com as duas mãos. Se alguém der qualquer brecha para Hamilton, ele a agarra e hoje o inglês ainda foi ajudado pela sorte de um safety-car na hora correta. Quando Michael Schumacher vencia seguidamente, muita gente falava de sorte. Existe campeão azarado? Não, existe competência premiada pela sorte, enquanto a Ferrari deixou escapar a vitória e ainda viu seus pilotos estranharem. Se o presidente Putin não deu as caras hoje, Leclerc o fez se representar ficando... Putin! 

sábado, 28 de setembro de 2019

Férias aproveitadas

Muitas vezes vamos às férias para um merecido descanso, onde não pensamos muito em trabalho ou em se cansar. Porém, na F1 isso é muito diferente e mesmo com as equipes sendo fechadas por regulamento, muito trabalho ainda é feito nos bastidores, longe dos olhos da FIA. O que a Ferrari andou fazendo nas três semanas de folga é pouco sabido, mas a realidade é que os italianos retornaram das férias como uma nova equipe, principalmente com o seu novo darling Charles Leclerc. O monegasco conseguiu sua quarta pole consecutiva em Sochi com uma boa vantagem sobre Hamilton, que estragou um pouco a festa ferrarista.

A classificação na Rússia foi de poucas surpresas, principalmente por causa dos pilotos ligados à Red Bull. Correndo em casa, Kvyat nem treinou por causa da punição que o fará largar na última posição amanhã, onde terá ao lado Alexander Albon, que não se encontrou na pista russa e acabou batendo enquanto ainda procurava uma volta realmente rápida no Q1. A má posição de largada do tailandês é mais um capítulo dos constantes erros de avaliação de Helmut Marko no programa de jovens pilotos da Red Bull, o que está se tornando um drama para a empresa austríaca, que hoje se sustenta unicamente em Verstappen. Também punido, mas com apenas cinco posições, Verstappen não pode lutar com as Ferraris. Dominando todo o final de semana, principalmente com Leclerc, os italianos não desperdiçaram a chance hoje. Leclerc não deu chances a ninguém e conseguiu a pole com quatro décimos de vantagem para Hamilton. Vindo de uma bela vitória, Vettel cometeu vários pequenos erros e no fim foi superado por Hamilton. A Mercedes largará com pneus médios amanhã e provavelmente Lewis apostará nisso para enfrentar a enorme potência da Ferrari, além do ótimo ritmo de corrida da Mercedes.

Sainz ficou como o melhor da F1B num dia em que McLaren e Renault brigaram pelo posto de melhor do resto. Parceiras até 2020, McLaren e Renault se divorciarão e os ingleses retornarão para a antiga parceria com a Mercedes, num ousado movimento para definitivamente voltar ao pelotão da frente. Para brigar pelo título, uma equipe tem que estar ligada a uma montadora, com raras exceções nos últimos 35 anos. A McLaren tentará acabar com esse tabu desde 2009 (quando a Brawn foi campeã usando um motor cliente da Mercedes), mas será que a Mercedes aceitará fogo amigo?

Essa preocupação Toto Wolff só terá em 2021. No momento o dirigente austríaco tem que se preocupar com a ótima volta de férias da Ferrari, que tentará a quarta vitória consecutiva, mas ninguém pode subestimar a força da Mercedes, a genialidade de Hamilton e a perspectiva de chuva para amanhã.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

História: 20 anos do Grande Prêmio da Europa de 1999

McLaren e Ferrari tinham os melhores carros da temporada 1999, mas não haviam muitas dúvidas de quem era o piloto daquele ano: Heinz-Harald Frentzen. O alemão tido como até melhor do que Michael Schumacher quando ambos competiam nas categorias de base alemã, teve uma chance de ouro quando a Williams estava competitiva, mas Frentzen nunca apresentou o que dele se esperava e acabou obscurecido por Jacques Villeneuve numa relação turbulenta com o canadense. Porém, logo depois Frentzen achou abrigo na Jordan, equipe no qual competiu nos tempos da F3000, e o alemão renasceu para fazer uma temporada espetacular em 1999, com direito a duas vitórias e estar surpreendente na luta pelo título daquele ano com um carro que era, na melhor das hipóteses, a quarta força do campeonato. Hakkinen e Coulthard naufragavam nos seus próprios erros e também da McLaren, enquanto a Ferrari ainda se recuperava do baque da fratura na perna de sua estrela Michael Schumacher.

Vindo de vitória em Monza e correndo em casa, Frentzen não teve uma classificação fácil, com o alemão passando boa parte dos sessenta minutos parados nos boxes e a Jordan procurando o melhor acerto. Frentzen foi à pista no fim e corroborando com sua ótima fase, conseguiu uma ótima pole. Ralf Schumacher também surpreendeu ao brigar pela pole, mas o alemão teve que se contentar com a quarta posição com seu Williams, com a dupla da McLaren separando os alemães. Irvine teve uma classificação para esquecer, onde saiu da pista e teve que se conformar com a quinta fila, sendo o pior dos postulantes ao título em Nürburgring.

Grid:
1) Frentzen (Jordan) - 1:19.910
2) Coulthard (McLaren) - 1:20.176
3) Hakkinen (McLaren) - 1:20.376
4) R.Schumacher (Williams) - 1:20.444
5) Panis (Prost) - 1:20.638
6) Fisichella (Benetton) - 1:20.781
7) Hill (Jordan) - 1:20.818
8) Villeneuve (BAR) - 1:20.825
9) Irvine (Ferrari) - 1:20.842
10) Trulli (Prost) - 1:20.965

O dia 26 de setembro de 1999 amanheceu com sol em Nürburgring, mas há um ditado que naquela região da Alemanha muitas vezes as quatro estações do ano aparecem em apenas um dia. A instabilidade climática seria um dos grandes protagonistas de uma corrida que entraria para a história. A primeira largada foi abortada quando a Minardi de Marc Gené apresentou problemas, mas a segunda largada seria ainda mais problemática. Frentzen não faz uma largada fantástica, mas mantém a liderança à frente de Hakkinen, Coulthard e Ralf Schumacher. Mais atrás Hill tem um problema elétrico em seu Jordan e fica lento no meio do pelotão. Wurz acaba atingindo a traseira de Hill e depois bate em Pedro Paulo Diniz. O piloto da Sauber acaba capotando na grama, mas a grande preocupação foi que o rollbar, mais conhecido como santo-antônio, da Sauber de Diniz quebrou-se no impacto e o brasileiro passou por momentos aterrorizantes, com sua capacete deslizando rente ao asfalto e a grama. Foi um acidente potencialmente perigoso, mas felizmente Diniz apenas machucou o ombro e rapidamente foi liberado pelos médicos.

O safety-car ficou seis voltas na pista antes que a corrida realmente começasse. Os quatro primeiros colocados (Frentzen, Hakkinen, Coulthard e Ralf) andavam próximos e muito rápidos, mas não haviam ataques entre eles, com Frentzen mostrando um ritmo sólido na ponta. Mais atrás Fisichella liderava o segundo pelotão e era atacado por um desesperado Irvine, que tentava evoluir na corrida, mas Fisichella, que ansiava pelo lugar do irlandês no ano 2000, segurava a quinta posição sem maiores sustos. Irvine aproveitou-se de um ligeiro erro de Fisichella para assumir a quinta posição na volta 18, mas enquanto a corrida estava morna na pista, o clima mudava rapidamente. O sol dava lugar a nuvens pesadas e por volta da vigésima passagem, os primeiros pingos começaram a cair em Nürburgring. A chuva não era muito forte, mas provocava muitas escorregadas dos pilotos. Parar no momento correto seria crucial. E foi numa dessas paradas que a gigante Ferrari entrou para o folclore da F1. Irvine entrou na volta 21 para colocar os pneus de chuva. Tudo certo, se não fosse um detalhe: faltava o pneu traseiro direito! Os mecânicos tinham acabado de trocar os pneus de Salo, além da asa dianteira do finlandês. Irvine entrou logo em seguida, deixando todo o processo muito apertado. Conta a lenda que foi uma repórter italiana que apontou para o angustiado mecânico onde estava o pneu perdido. Irvine, que já se aproximava de Ralf Schumacher, perdeu um tempo precioso com a cômica parada ferrarista.

A corrida havia se transformado num caos, mas Frentzen ainda liderava a corrida com os pneus intermediários. Ralf Schumacher havia subido para segundo com uma parada mais rápida da Williams, enquanto Hakkinen começava um pesadelo. Primeiro o finlandês colocou pneus de chuva forte, mas Hakkinen estava tão lento que teve que retornar aos boxes e colocar pneus intermediários. Por causa disso tudo, Mika estava atrás até mesmo de Irvine. Na volta 22 a corrida se estabilizou quando a chuva diminuiu. Ralf Schumacher era pressionado por Coulthard, mas a pressão aliviou quando o escocês passou reto na chicane. Nove segundos atrás da McLaren vinha Fisichella, com Barrichello outros 9s atrás, seguido de perto por Trulli. Com a pista já secando, Ralf Schumacher foi aos pits na volta 24 para colocar pneus slicks. Frentzen dominava a corrida e mesmo passando reto na chicane, mantinha o segundo colocado Coulthard sob controle. Na volta 32 os dois líderes entraram nos pits e mantiveram as posições nos boxes, mas quando Frentzen retornava à pista, um problema elétrico acabou com os sonhos do alemão. Uma câmera mostrava pelo capacete toda a decepção de Frentzen, que perdia não apenas a vitória, mas a chance real de lutar pelo título nas corridas finais. Porém, enquanto a câmera focava na cara de choro de Frentzen, percebeu-se que a chuva retornava. Com mais força do que antes! Coulthard liderava a prova nesse momento com 6s de vantagem para Ralf. O escocês era o único postulante ao título em boa posição na corrida. Era. Enquanto levava sua McLaren aos boxes para colocar pneus de chuva, Coulthard saiu da pista e acabou preso na caixa de brita. Ao mesmo tempo, Herbert, Trulli e Luca Badoer vão aos pits colocar pneus de chuva. Nomes aparentemente irrelevantes, mas que logo se tornariam protagonistas!

Com tudo isso acontecendo, Ralf Schumacher liderava a corrida com boa vantagem em cima de Giancarlo Fisichella, com Herbert já aparecendo em terceiro, seguido de perto por Trulli. Na volta 44 Ralf entrou nos boxes e retornou à pista logo atrás de Herbert. Fisichella liderava a corrida bom boa vantagem para Herbert, que segurava Ralf, mas não por muito tempo. O alemão tem um pneu furado, sai da pista e retorna lentamente aos boxes para um novo pit-stop, estragando a ótima corrida de Ralf. À essa altura, a corrida havia se transformado numa loteria e um verdadeiro banquete de mendigos. Fisichella liderava a prova, seguido por Herbert, Trulli, Barrichello e... Luca Badoer de Minardi! Porém, a alegria de Fisichella não duraria muito. O italiano acabou saindo da pista e batendo levemente seu Benetton. Fisichella saiu do carro lamentando muito a chance perdida. Herbert assumia a ponta da corrida com 16s de vantagem para Trulli, que era pressionado por Barrichello. Atrás do trio principal vinha Badoer, Ralf, Villeneuve, a segunda Minardi de Marc Gené e só então Irvine e Hakkinen, os dois líderes do campeonato numa corrida medonha para eles. A Minardi estava a ponto de pontuar com seus dois pilotos, mas numa das cenas mais tocantes da história da F1, o carro de Badoer quebra e fica parado na entrada da chicane final. Era a chance do italiano pontuar que se esvaia. Badoer ficou inconformado com o motor quebrado e caiu em prantos ao lado do carro...

Enquanto Barrichello atacava Trulli, as voltas finais foram marcadas pela briga da sétima posição. Hakkinen estava fazendo uma corrida pífia, mas no terço final achou a mão da pista seca-molhada de Nürburgring e partiu ao ataque em cima de Irvine, que tinha um carro nitidamente desequilibrado, mas ainda se aproximando da Minardi de Gené, que lutaria com unhas e dentes pelo ponto. Foi uma briga clássica, com Irvine fazendo um grande trabalho segurando o campeão claramente com menos carro. No ímpeto de ultrapassar o rival, Mika errou algumas vezes, mas na volta 62 ele conseguiu a ultrapassagem quando Irvine travou os freios, permitindo a Hakkinen conseguir a sétima posição. Isso permitiu Gené abrir 6s para Hakkinen, mas como se os deuses das corridas quisessem corrigir a injustiça da dolorosa quebra de Badoer, Villeneuve quebrou no finalzinho da prova e quando Mika deixou Gené facilmente para trás, o espanhol ainda se manteve na zona de pontuação, com a Minardi conseguindo um miraculoso e bastante comemorado ponto. Irvine ainda tentou atacar Gené, mas sua Ferrari estava tão desequilibrada, que ele ficou mesmo fora dos pontos. Mais à frente, Johnny Herbert parou nos momentos certos e aproveitou os infortúnios alheios para conseguir uma popular vitória, no que seria a única da Stewart Grand Prix, que no ano 2000 passaria a ser conhecida como Jaguar. Herbert vinha fazendo uma temporada muito ruim e a Stewart claramente procurava um piloto para o seu lugar, mas com essa vitória o veterano inglês ficaria outro ano na F1. Barrichello que sempre tinha levado a Stewart a boas posições em 1999 acabou tendo que se conformar com o terceiro lugar, mesmo tendo atacado muito Trulli nas voltas finais, mas o italiano sempre posicionava muito bem seu carro no trilho seco, deixando apenas a pista molhada para Rubens tentar uma manobra impossível. Ralf Schumacher chegava em quarto, mas por tudo que tinha feito na corrida, o alemão merecia muito mais, enquanto Hakkinen salvava dois importantes pontos no campeonato. No alto do pódios, três caras não muito usuais ao lado do velho Jackie Stewart, que levava sua equipe ao olimpo da F1. Barrichello via sua primeira vitória escapar e ainda teria que suportar que Herbert, que nada fizera até ali, ter a honra de dar o primeiro triunfo à Stewart GP. A hora de Rubens ainda chegaria. Entre tantas reviravoltas, o que ficará para sempre daquela prova de setembro de 1999 foi uma das corrida mais cheias de reviravoltas e alternativas da história da F1, além de um pódio totalmente diferente e Jackie Stewart comemorando bastante com seus dois pilotos.

Chegada:
1) Herbert
2) Trulli
3) Barrichello
4) R.Schumacher
5) Hakkinen
6) Gené 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Que pena...

Nessa tarde faleceu o argentino John Della Penna, que se tornou conhecido por ter uma equipe no finalzinho dos bons tempos da CART na virada do milênio. Após obter sucesso nas categorias de base americanas, Della Penna levou sua equipe para a CART e mesmo sem obter muito sucesso, conseguiu alguns resultados relevantes, como o terceiro lugar de Richie Hearn nas 500 Milhas de Indianápolis de 1996, num momento de transição na tradicional pista. Desde que vendeu sua equipe em 2004, Della Penna não foi mais visto nas pistas internacionais e hoje ele faleceu aos 68 anos de idade.

História: 25 anos do Grande Prêmio de Portugal de 1994

A F1 chegava à Portugal cheio de notícias e especulações vinte e cinco anos atrás. Michael Schumacher estaria negociando com a Williams, pois o alemão estaria descontente com as suas constantes idas à direção de prova corrida após corrida. Schumacher tinha contrato até o final de 1996 com a Benetton, mas após essas primeiras conversas com a Williams e outras grandes equipes, Michael percebe que havia se tornado uma superestrela e poderia cobrar caro pelos seus serviços. Enquanto isso a Williams anunciava a renovação por apenas um ano com Damon Hill, deixando o inglês apenas preocupado com a sua luta com Schumacher pelo título, com a vantagem do alemão ainda estar cumprindo sua suspensão de duas provas pelas presepadas da Benetton em Silverstone. David Coulthard negociava ficar outro ano com a Williams e dava mostras de merecer o cargo, mas o escocês já sabia que nas três últimas provas de 1994 seu carro seria guiado por Nigel Mansell. Ron Dennis não escondia de ninguém suas idas à Stuttgart para negociar uma parceria com a Mercedes, mesmo a McLaren ainda tendo contrato com a Peugeot. Os homens da montadora francesa ficam irritados com a postura de Dennis e negociavam abertamente com Eddie Jordan para ser parceiros a partir de 1995, com a Jordan tendo como piloto Rubens Barrichello, que havia renovado contrato com o time irlandês, mesmo tendo negociado seriamente com a McLaren. Por fim, Paul Tracy estava nos boxes da Benetton se aprontando para um teste que seria realizado em Estoril depois da corrida. Lehto e Verstappen não haviam mostrado competência para ser o fiel escudeiro de Schumacher e a Benetton corria atrás de um novo piloto e testaria Tracy com esse objetivo.

Na sexta-feira Gerhard Berger marcou o melhor tempo na frente de sua nova namorada portuguesa, chamada Ana. Para alegria do austríaco, fortes rajadas de vento no sábado atrapalham os pilotos de melhorarem seus tempos e Berger confirmava sua décima pole na F1. Muito menos confortável do que seu companheiro de equipe, Alesi era apenas quinto com 1s de déficit. Hill consegue o segundo tempo mesmo após um incidente com Irvine em que capotou seu Williams. Coulthard vinha em terceiro, apenas três décimos atrás. McLaren-Peugeot fez um bom papel na classificação, enquanto a Benetton percebia a falta de Schumacher fazia. Verstappen era apenas 10º e Lehto um obscuro 14º no grid. "Benetton sem Schumacher não é a mesma coisa", dizia Alain Prost, lacônico.

Grid:
1) Berger (Ferrari) - 1:20.608
2) Hill (Williams) - 1:20.766
3) Coulthard (Williams) - 1:21.033
4) Hakkinen (McLaren) - 1:21.251
5) Alesi (Ferrari) - 1:21.517
6) Katayama (Tyrrell) - 1:21.590
7) Brundle (McLaren) - 1:21.656
8) Barrichello (Jordan) - 1:21.796
9) Frentzen (Sauber) - 1:21.921
10) Verstappen (Benetton) - 1:22.000

O dia 25 de setembro de 1994 amanheceu nublado em Estoril, mas não choveu durante a prova, garantindo pista seca todas as 71 voltas da corrida. No warm-up a Williams mostrou toda a sua força, se tornando favorita à corrida, enquanto a Ferrari tinha problemas de estabilidade e era superada inclusive pela McLaren. Mesmo com não muito boas perspectivas, Berger confirmou sua pole e se manteve na ponta na largada, enquanto Hill era ultrapassado por Coulthard e Alesi pulava para quarto. Com Katayama tendo que largar dos pits por um problema de última hora em seu Tyrrell, Barrichello pulava para sexto na primeira volta.

Como era esperado pelo ritmo que a Williams mostrou no warm-up, Coulthard imediatamente foi para cima de Berger, trazendo Hill logo atrás. Alesi não teve chance de se aproximar e se isolava na quarta posição. Com pequenas mudanças no traçado para aumentar a segurança (durante 1994 várias pistas foram modificadas, por causa do trauma de Ímola), Estoril tinha um setor muito travado no miolo do circuito, fazendo que o autódromo luso se transformasse numa pista de baixa velocidade. Coulthard tinha mais equilíbrio do que Berger, mas o motor Ferrari V12 falava alto nas retas e o austríaco ia segurando a ponta até o câmbio da Ferrari quebrar na oitava volta, entregando a ponta para Coulthard, com Hill logo atrás. Ao contrário do esperado, a Williams não manda seus pilotos trocarem do posição e Coulthard chega a abrir 4s de vantagem para Hill quando começou a primeira rodada de paradas. As posição permaneceram basicamente as mesmas, porém Coulthard era um novato na F1 e não tinha muita experiência e colocar volta em retardatários. Na volta 28 Coulthard se atrapalha quando encontra Comas do hairpin e o escocês acaba saindo da linha ideal da pista. Hill não perdeu a chance e com Coulthard escorregando na parte suja da pista, Damon colocou por dentro e assumiu a liderança da corrida, com David não mostrando muita resistência. A Williams nem precisou mandar seus pilotos trocarem de lugar. O neófito Coulthard acabou por errar e evitar o constrangimento...

Hill imediatamente abre 5s para Coulthard, enquanto Alesi vinha 23s atrás do líder. Na volta 39 o francês se aproximava para colocar uma volta em David Brabham na curva 3, mas o australiano não percebeu a presença da Ferrari e o toque foi inevitável, causando o abandono de ambos naquele momento. Com Hakkinen mais de 30s atrás das Williams, Hill e Coulthard tomavam ainda mais cuidado com os retardatários. Quando todos os pilotos completaram a segunda rodada de paradas por volta da 55º passagem, a corrida estava praticamente definida. Hill consegue sua terceira vitória consecutiva e diminui decisivamente sua desvantagem para Schumacher no Mundial de Pilotos. Damon deixa Coulthard se aproximar no final e a Williams comemorava mais uma dobradinha com seus dois pilotos cruzando juntos. Era o primeiro pódio de David Coulthard na F1. Hakkinen ficou com o terceiro lugar, seguido por Barrichello, Verstappen e Brundle. Todos eles bem separados entre si e com as posições definidas após o segundo pit-stop. Justo ou não, Hill encostava de vez em Schumacher e haveria um campeonato a se decidir nas três provas finais de 1994.

Chegada:
1) Hill
2) Coulthard
3) Hakkinen
4) Barrichello
5) Verstappen
6) Brundle

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Figura(CIN): Sebastian Vettel

Após tantas passagens na parte de baixo da coluna, finalmente Sebastian Vettel retornou a um lugar que esteve por demais acostumado a estar: ser o destaque positivo do final de semana. O alemão da Ferrari vinha em sua pior fase na carreira, com erros incomuns e sendo eclipsado por Charles Leclerc dentro da Ferrari. Nas apertadas curvas de Cingapura o monegasco continuava a superar o tetracampeão e mesmo quando Vettel conseguiu uma volta decente na classificação, Sebastian acabou superado pelo seu companheiro de equipe. Porém, os campeões precisam de sorte. Quando Verstappen, que vinha logo atrás de Vettel, foi aos boxes, a Ferrari chamou Seb para defender a posição de um possível ataque do holandês. Vettel se manteve à frente de Max e com um ritmo muito melhor do que os dos líderes, que imprimiam um ritmo lento para economizar pneus, Vettel emergiu na frente de Leclerc e Hamilton, assumindo a ponta de uma corrida de F1 após muito tempo. Porém, ainda havia dois terços de corrida pela frente e Vettel tinha tráfego à frente. O alemão não tomou conhecimento dos pilotos que apareceram pela frente, incluindo uma ultrapassagem forçada em cima de Gasly. Era a demonstração que Vettel não perderia essa chance de vitória por nada. Sebastian Vettel teve uma corrida redentora, segurou Leclerc e todo o pelotão em três tensas relargadas para conseguir vencer após mais de um ano. Depois de tantos erros e atuações ruins, tomara que essa vitória possa ajudar a Sebastian Vettel conseguir a confiança necessária para aparecer outras vezes nessa parte da coluna.

Figurão(CIN): Mercedes

Com uma vantagem gigantesca graças ao domínio imposto aos rivais no começo da temporada pode ter feito a Mercedes relaxar um pouco, o que poderia explicar as vitórias das suas concorrentes nas últimas corridas. Ou o erro cometido neste domingo no Grande Prêmio de Cingapura. Todos os pilotos de ponta vinham num ritmo lento com o claro objetivo de economizar borracha. Hamilton vinha colado no líder Leclerc, enquanto Bottas vinha logo atrás do quarto colocado Max Verstappen. Quando Vettel e Vertappen pararam, ficou claro que a vantagem de ter pneus novos eram enorme e a lógica era que os líderes fossem aos boxes imediatamente. Leclerc e Albon rapidamente foram aos boxes, mas tentando dar o pulo do gato, a Mercedes acabou cometendo um erro crasso de estratégia. Ao deixar seus pilotos algumas voltas a mais na pista, a Mercedes esperava que um safety-car aparecesse e sua dupla conseguisse ganhar uma vantagem decisiva. Era a tal história do besta ou bestial. O safety-car apareceu ainda três vezes durante a prova, mas depois que Hamilton e Bottas trocaram seus pneus. Com seus dois pilotos fora do pódio, a Mercedes acabou como bestas!

domingo, 22 de setembro de 2019

Com regulamento debaixo do braço

A situação de Josef Newgarden na última corrida em Laguna Seca era extremamente cômoda. Bastava um quarto lugar para o piloto da Penske ser bicampeão independente de qualquer outro resultado dos seus rivais, Alexander Rossi e Simon Pagenaud. Porém, desde os primeiros treinos havia um piloto que não estava na briga pelo título que despontava em Laguna Seca. Seguindo a tradição familiar de sempre andar bem no famoso circuito californiano, Colton Herta deu um show em Monterrey e após sair na pole, dominou a corrida até receber a bandeirada em primeiro, conseguindo a sua segunda vitória na temporada e se garantir como um dos destaques do ano.

A corrida em Laguna Seca foi tensa como toda decisão de título, mas com Herta dando uma mão involuntária para Newgarden, que tirando a classificação, nunca andou bem nesse final de semana. Para Rossi e Pagenaud, uma vitória era primordial para pensar em título, enquanto que para Scott Dixon, só um milagre salvaria. Bastava Newgarden largar para que as chances de Dixon acabassem. Os quatro pilotos com chances de título largavam nas três primeiras filas, mas logo percebeu-se que Newgarden e Rossi não tinham bom ritmo para vencer a prova, o que fez o piloto da Penske marcar o compatriota a corrida inteira.

Pagenaud tinha uma sobra e tentou a vitória. Herta passou o primeiro stint pressionado por Dixon, numa luta de gerações. No final da primeira parada, Pagenaud assumiu a terceira posição e partiu para cima de Dixon, mas o neozelandês, já com a briga pelo título descartada, segurava o francês. O terceiro Penske de Will Power fazia uma corrida de espera, sempre alongando seus stint e na última parada o australiano deu o bote para subir para segundo e ser ele a perseguir Herta. Mostrando que não treme quando tem um medalhão atrás de si, Colton não cometeu erros até a bandeirada, garantindo mais uma vitória e demonstrando que ele é mesmo o futuro da Indy.

Mais atrás, Josef Newgarden fazia uma corrida totalmente na defensiva, correndo unicamente com o campeonato em mente. O americano não se meteu em nenhuma briga desnecessária e quando percebeu que Rossi não poderia fazer muita coisa à sua frente, além de ter sido informado que Pagenaud estava preso na terceira colocação, Newgarden diminuiu o ritmo, deixou ser ultrapassado por Bourdais para garantir o bicampeonato com um oitavo lugar. Não foi a corrida mais brilhante da carreira de Josef Newgarden, mas o americano foi o piloto mais regular do ano e com quatro vitórias, foi o maior vencedor de 2019. Pagenaud ainda garantiu o vice-campeonato, coroando um ano completamente irregular, saindo de um mês consagrador em Indianápolis com corridas opacas. Power só acordou no final do campeonato e não pode fazer nada além de um quinto lugar.

Já não é de hoje que Scott Dixon vem levando a Ganassi nas costas e dá para afirmar que os dois últimos títulos de Scott entrou na conta da genialidade do neozelandês. Em outro ano ruim da Ganassi, Dixon ainda conseguiu vitórias, mas quebras incomuns deixou o pentacampeão da Indy com chances remotíssimas na última etapa e isso já foi um feito. Pelo menos Dixon está melhor acompanhado com Felix Rosenqvist, que fez uma ótima segunda metade de temporada e pode ajudar Dixon em reconstruir a Ganassi. Rossi foi outro que correu sozinho dentro da equipe. A Andretti tem quatro carros, mas realisticamente só pode contar com Rossi e Hunter-Reay, sendo que o veterano já deve uma temporada boa com a equipe faz tempo. Zach Veach é muito fraco e Marco Andretti só está na equipe pelo sobrenome. Rossi conseguiu colocar a Andretti no primeiro pelotão o ano inteiro e foi o grande antagonista de Newgarden, mostrando que os pilotos americanos hoje dominam a Indy. Para 2020 Rossi terá a companhia de Herta, que foi efetivado na equipe Andretti e melhorará muito a qualidade da equipe, podendo auxilia-lo na luta pelo título. Ou como falou Herta hoje: ele mesmo brigar pelo título.

O Brasil foi representado pelo veteraníssimo Tony Kanaan e o jovem Matheus Leist, mas ambos foram bastante prejudicados pela ruindade da equipe Foyt, que não representa em nada a grandeza de A.J. Foyt. A temporada da Foyt foi tão ruim que a equipe perdeu seu tradicional patrocinador e a temporada de 2020 está em risco tanto para a equipe, como para os pilotos, que pouco fizeram.

E dessa forma a Indy encerra mais uma temporada coroando um piloto ainda jovem, mas de muito talento e que está numa grande equipe. Newgarden tanto pode ser muito regular, como também é agressivo quando necessita. Tendo uma joia em suas mãos, Roger Penske ainda terá muitos anos de vitórias na Indy pela frente.

Erro de cálculo que deu certo

Nos tempos de Ross Brawn, a Ferrari ficou conhecida por suas táticas vitoriosas que garantiram muitas vitórias para os seus pilotos, mas desde a saída do inglês, a Ferrari passou a viver o inverso da fortuna, onde seus novos táticos ficaram conhecidos por perderem corridas para os seus rivais. Nesse domingo na cidade-estado de Cingapura, a Ferrari cometeu um pequeno erro de cálculo, mas que acabou lhe garantindo uma dobradinha no sudeste asiático, além de ter dado a primeira vitória em mais de um ano para Vettel, enquanto Leclerc, o prejudicado não intencional, teve que engolir um segundo lugar que lhe valeu como uma derrota.

O Grande Prêmio da Cingapura foi cheio de ultrapassagens e entradas do safety-car, mas a corrida foi decidida mesmo pela estratégia das equipes e a administração dos pneus. Os seis primeiros do grid, sem novidade nas equipes top-3 de 2019, largaram calmamente e permaneceram em suas posições nas primeiras voltas. Apesar de ser realizado a noite, Cingapura tem como característica o forte calor e isso desgasta bastante os pneus. Além do mais, estatisticamente sempre entra um safety-car na pista de rua asiática. O que pensaram os táticos de Ferrari, Mercedes e Red Bull praticamente ao mesmo tempo. Vamos alongar ao máximo o primeiro stint com os pneus macios para colocar os duros e, quem sabe, dar a sorte de aparecer um safety-car no meio do caminho. Com tudo mais ou menos 'combinado', os seis primeiros colocados imprimiram um ritmo muito lento no stint inicial da corrida. Os seis primeiros ficaram separados por apenas 5s na maior parte do tempo, enquanto o sétimo colocado Lando Norris vinha apenas 2s atrás, sendo que o normal é que essa diferença fosse aberta em cada volta! Na medida em que os pilotos do pelotão intermediário iam para os boxes, começavam a andar mais rápido do que os líderes! A ordem da corrida tinha Leclerc na ponta, seguido por Hamilton, Vettel, Verstappen, Bottas e Albon. O primeiro pneu a ir embora foi o de Verstappen. Antes que fosse ultrapassado por Bottas, Max foi para os boxes da Red Bull colocar pneus novos. Percebendo que poderia perder a posição para o holandês, Vettel que vinha logo à frente também entrou nos boxes. Quando voltaram à pista, Vettel e Verstappen tinham um ritmo muito superior aos líderes. Leclerc também começava a perder terreno para Hamilton e foi aos boxes. A tática para derrotar o inglês da Mercedes parecia perfeita! Com uma volta com pneus novos, Leclerc sairia na frente de Lewis com certeza quando este parasse. Porém, como diria Garrincha, faltou combinar com os russos. Ou com Vettel. O alemão tinha um ritmo tão mais forte, que simplesmente surgiu na frente de Leclerc.

Com a Mercedes esperando um safety-car cair do céu, a Ferrari conseguiu uma inédita dobradinha em Cingapura muito por um vitorioso erro de cálculo que favoreceu Vettel, que no momento em que entrou nos pits, esperava se defender de Verstappen, mas acabou dando o bote nos dois líderes. Se algum tático ferrarista levantar a mão e dizer que adiantou a parada de Vettel para dar a vitória ao alemão, uma salva de palmas para esse gênio tático, mas tudo leva a crer que a Ferrari acertou errando. Quem saiu cuspindo abelha africana foi Leclerc. O monegasco tinha tudo para conquistar sua terceira vitória consecutiva e, quem sabe, pensar no vice-campeonato, mas o undercut não intencional de Vettel deixou Leclerc completando a dobradinha da Ferrari com a segunda posição. Vettel vinha numa fase nada boa e seu prestígio dentro da Ferrari já tinha ido para o espaço não apenas com o sucesso de Leclerc, mas também com os seus próprios erros. Quando percebeu que tinha uma bela chance de vencer, Vettel botou a faca entre os dentes e a imagem dessa atitude foi a ultrapassagem audaciosa em cima de Gasly. Com os líderes lentos e retornando dos pits no meio do pelotão, a corrida de hoje viu pilotos incomuns ponteando a prova. Antonio Giovinazzi liderou algumas voltas antes de ser alcançado pelos líderes, mas se tornou o primeiro italiano em dez anos a liderar uma corrida de F1, enquanto a Alfa Romeo liderou uma corrida de F1 após quase quarenta anos!

Verstappen fez uma corrida no bolo dos líderes e no final teve que segurar o seu lugar no pódio dos ataques de Hamilton. Vendo que as suas duas rivais estavam numa estratégia parecida, a Mercedes tentou fazer diferente. Seria a velha tática do besta ou bestial. Como o safety-car não apareceu na hora certa, a trupe de Toto Wolff ficou mesmo como bestas e com seus dois pilotos fora do pódio. Mesmo com o título praticamente assegurado, a Mercedes não está tendo o domínio que mostra os números de 2019. Albon fez seu papel de segundo piloto da Red Bull e finalizou em sexto, à frente das equipes do meio do pelotão, que garantiram a animação da corrida. Dois incidentes e uma quebra nessa área do pelotão trouxeram o safety-car para a pista na metade final da prova três vezes, trazendo também a tensão de uma relargada, mas que Vettel controlou muito bem e não houveram trocas de posição na frente. Enquanto os pilotos das equipes top-3 se comportaram como bom beneditinos, no pelotão de trás o tiroteio foi forte. Logo de cara Nico Hulkenberg e Carlos Sainz bateram na curva 4, mas o alemão fez uma boa corrida de recuperação após duas paradas e fechou nos pontos, além de mostrar sua bela namorada. Com pneus novos Gasly tentou um ataque em cima de Norris, mas teve que se contentar com os pontos, mas o francês dá mostras que está mais à vontade na Toro Rosso do que na Red Bull. Giovinazzi ainda garantiu um pontinho, enquanto Raikkonen batia em Kvyat e abandonava, enquanto russo praticamente fechava o pelotão. Com o contrato recém renovado, Grosjean contribuiu para o primeiro abandono da Williams num entrevero com Russell, mas pior corrida do que a Haas teve a Racing Point, com Pérez abandonando por problema mecânico quando estava nos pontos e Stroll tendo um pneu furado, caindo para as últimas posições.

A corrida de hoje não teve o agito de outras provas que vem caracterizando esse bom campeonato de 2019, mas esteve longe de ser chata. Hamilton vai garantindo seu título muito pelas oportunidades que a Mercedes construiu para agarrar na primeira metade da temporada e agora o inglês apenas administra sua enorme vantagem para os demais, mas Red Bull e Ferrari cresceram a ponto de equilibrar as corridas, além de trazer vários vencedores diferentes. Esse ano já são cinco pilotos que venceram pelo menos uma prova. Vettel vinha numa fase muito ruim, mas o alemão teve corridas de destaque e não merecia passar 2019 em branco.

Ocaso de um campeão

Qual a novidade de Marc Márquez vencer uma corrida em 2019? Absolutamente nenhuma. O espanhol passeou em Aragão numa corrida totalmente sem graça e o sexto título poderá ser confirmado já na próxima etapa, tamanha o domínio de Márquez na MotoGP atual. No box ao lado, com 47s de desvantagem para o companheiro de equipe, Jorge Lorenzo entrou no festivo pit da Repsol Honda amargando uma triste vigésima posição, o que significou a penúltima colocação do Grande Prêmio de Aragão nesse domingo.

Exatamente um ano atrás, Lorenzo contava três vitórias na temporada 2018 e estava tudo assinado para compor um Dream Team na Repsol Honda ao lado de Márquez, porém, numa disputa com o seu compatriota, Lorenzo caiu na primeira curva de Aragão, iniciando um longo calvário de contusões. Antes mesmo de estrear pela nova equipe Lorenzo quebrou a mão num treinamento particular, atrapalhando sua adaptação à arisca moto da Honda, reconhecida por ter sido construída em torno da agressividade toda peculiar de Marc Márquez. Dono de uma tocada completamente inversa, Lorenzo simplesmente não se adaptava à Honda e para piorar, um seríssimo acidente em Assen fez o espanhol perder duas corridas por uma contusão nas costas.

Enquanto Jorge Lorenzo sofria para ficar entre os dez primeiros, Márquez fazia uma temporada impecável e ganhará o sexto título com alguma facilidade. Após retornar do acidente em Assen, Lorenzo viu sua confiança ficar ainda mais abalada com atuações pífias, culminando com a penúltima posição de hoje, apenas 1.3s na frente do último colocado, o inexpressivo Syahrin, da KTM. 

Jorge Lorenzo merece todo o respeito que um tricampeão merece. Suas atuações magnificas com a Yamaha ficaram na história, mas o espanhol tem começar a fazer uma reflexão do que vem fazendo na sua carreira. Com apenas 32 anos de idade, Lorenzo tem muita lenha para queimar, mas sua personalidade difícil vai fazendo o espanhol caminhar para ter um final de carreira parecido com o de Alonso, quando todos sabiam de seu talento, mas ninguém o queria na sua equipe. Lorenzo já se fez o favor de discutir com o chefão da Honda, Alberto Puig. Contudo, se Alonso ainda entregava resultados, Lorenzo nem isso, ficando difícil defende-lo, além da antipatia pelos anos em que Jorge foi o grande antagonista do super carismático Valentino Rossi.

A Honda já pensa abertamente em outros pilotos e com Johann Zarco dando sopa no mercado, a troca parece até fácil, mesmo o francês não tendo feito um bom trabalho na KTM. Um Lorenzo forte seria muito importante para a MotoGP, ainda mais com Marc Márquez reinando sozinho e sem ninguém para lhe fazer sombra a curto/médio prazo. Porém, ainda muito jovem, Jorge Lorenzo já está no ocaso de uma vitoriosa carreira.

sábado, 21 de setembro de 2019

Hat trick

Quando a ótima fase da Ferrari terminaria com o fim das pistas rápidas, eis que os italianos conseguiram uma impressionante pole em Cingapura e Charles Leclerc conseguiu sua terceira pole seguida numa volta espetacular no Q3, superando as estrelas Hamilton e Vettel por muito pouco.

O Q3 de hoje foi um dos melhores da temporada, com muito equilíbrio e até mesmo imprevisibilidade no final. Após as duas vitórias de Leclerc em Spa e Monza, era esperado que a festa da Ferrari terminaria com o chegar de pistas menos afeitas a potência estúpida do motor V6 italiano. Os treinos livres mostraram Mercedes e Red Bull na ponta, mas Leclerc foi o mais rápido no TL3. Fogo de palha? Nem tanto. A Ferrari se mostrou forte em toda a classificação e se Verstappen ficou um pouco para trás na briga pela pole e Bottas errou quando não podia (sem novidade nenhuma), Hamilton se manteve impávido na luta pelo primeiro lugar. Na primeira volta rápida dos competidores do Q3, Vettel parecia que mostraria do que é feito um tetracampeão e conseguiu ficar em primeiro, enquanto os dois pilotos da Mercedes vacilavam e tomavam 1s da Ferrari. Se em Monza todos se atrapalharam na última volta rápida, no apertado circuito de Cingapura ninguém quis perder tempo, mas Vettel começou errando em sua volta e nem a completou. Mais atrás, Hamilton e Leclerc faziam voltas espetaculares.

Como está acontecendo várias vezes esse ano, a Ferrari tinha uma clara vantagem nas parciais com retas, mas perdia nos trechos mais travados. Leclerc conseguiu ser mais rápido do que Vettel e superou seu infeliz companheiro de equipe no final da volta, mas Hamilton tinha tudo faturar a pole nas demais parciais, contudo o inglês acabou superado por um décimo no trecho final e Leclerc conseguiu sua terceira pole consecutiva. Vettel esteve apagado em todo o final de semana e quando parecia que poderia superar Leclerc na hora que importa, acabou derrotado novamente. Sua cara na entrevista pós-corrida mostrava um piloto derrotado já na véspera, enquanto Hamilton sabe que a Mercedes tem um melhor rendimento na administração de pneus e pode muito bem superar Leclerc em ritmo de corrida. Bottas errou demais e Verstappen fechará a segunda fila amanhã, mas o holandês com certeza esperava mais nos treinos. McLaren e Renault foram para o Q3 e brigarão para serem o melhor do resto.

Leclerc conseguiu sua terceira pole consecutiva, mas no domingo a história poderá ser bem diferente, com a Mercedes tendo um carro mais afeito ao circuito de Cingapura, sem contar o desgaste de pneus, com os alemães tratando melhor da borracha do que os italianos. Porém, Leclerc deu outro recado à F1: ele e Verstappen serão o futuro o próximo da categoria. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Volta vitoriosa

Enquanto muitos estranhavam a escolha da Haas em renovar com Romain Grosjean e manter sua polêmica dupla, Robert Kubica anunciava que no final do ano encerraria seu contrato com a Williams e provavelmente se despediria da F1. Quando entrou na F1 em 2006, Kubica deu pinta que seria uma futura estrela com atuações destacadas mesmo ainda não estando num carro de ponta, porém, em 2011 ele partiria para uma temporada tampão na Renault antes de ser contratado pela Ferrari. Pelo menos, era o que se dizia na época. Muito amigo de Alonso, Kubica faria uma dupla muito forte com espanhol em 2012, mas isso nunca aconteceria por causa de um sério acidente de rali que feriu o polaco gravemente, principalmente na mão direita. Após salvar o membro da amputação, Kubica passou por uma longa recuperação e aos poucos retornou ao automobilismo, primeiro justamente nos ralis, mas não demorou para Robert pensar na F1. Algo que parecia impossível por causa das condições de Kubica.

Ano passado Kubica foi derrotado pelos rublos de Sirotkin, mas em 2019 Kubica pôde retornar à F1 após oito anos do seu acidente. Foi uma volta auspiciosa? Longe disso. Juntando um carro péssimo da Williams com um jovem e talentoso companheiro de equipe como George Russell, Kubica ocupou boa parte da temporada a última posição. Porém, Robert sobressaiu-se em conseguir correr novamente com tamanhas limitações e mesmo estando longe de ter um retorno glorioso em termos de resultado, há de se elogiar o que Kubica fez nesse ano. Olhando para o começo de sua carreira, pode-se até falar num final de carreira abaixo do esperado, mas por tudo que Kubica passou, o polonês já é um grande vitorioso nessa sua volta!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Que pena...

Neste domingo faleceu Anísio Campos, um dos maiores personagens da história do automobilismo brasileiro, tanto dentro como fora da pista. Além de piloto de sucesso na década de 1960, Anísio foi chefe de equipe e projetou carros que entraram para a história, em particular o Puma. Aos 86 anos, Anísio Campos se juntou a uma leva de grandes campeões que marcaram as pistas brasileiras. 

domingo, 15 de setembro de 2019

Como se fosse basquete

Aproveitando que a final do mundial de basquete masculino está acontecendo nesse momento entre a Argentina de Luís Scola e a Espanha de Marc Gasol, o mundial de MotoGP teve uma corrida em Misano que lembrou algumas partidas de basquete. Partida renhida, numa luta equilibrada para alcançar rebotes e conseguir bons arremessos de média e longa distância, o bom do basquete normalmente fica para os segundos finais, quando partidas parelhas são decididas. Não importa muito o que aconteceu durante os trinta e nove minutos iniciais de partida, mas sim o que acontece no final do último quarto. Assim foi a corrida em Misano nessa manhã. Fabio Quartararo e Marc Márquez passaram a corrida inteira juntos, com boa vantagem sobre Maverick Viñales, mas sem ataques. Os dois ponteiros andaram forte, administraram aonde foi possível e mantiveram as posições até a volta final. 

Foi quando a emoção realmente começou no Grande Prêmio de San Marino. Numa prova até mesmo morna, mas parelha, Márquez resolveu acabar com sua sequência de segundos lugares e partiu para cima de Quartararo, que perseguindo sua primeira vitória, não baixou a guarda. Os dois trocaram de posição duas vezes durante a volta final, mas cansado de ser superado na última curva, Márquez usou sua já vasta experiência e deu um pequeno break test em cima de Quartararo nas curvas finais para garantir um bom espaço para receber a bandeirada. Quartararo chegou em segundo liderando um pelotão de Yamahas, que tinha Viñales, Rossi e Morbidelli nessa ordem. Porém, o domínio da Yamaha foi totalmente sobrepujado pelo talento de Márquez. O ataque do espanhol da Honda era cristalino desde que ele se estabeleceu na segunda posição e despachou o terceiro colocado Viñales, mas o ataque não veio logo. Márquez estudou as linhas de Quartararo durante toda a prova antes de dar o bote final. Novato e ainda com muito a aprender, o francês foi para o tudo ou nada, mas acabou superado pela malandragem de Márquez.

Mesmo sendo o mais jovem da trupe da Yamaha, Quartararo parece ser mesmo o piloto que dará mais trabalho a Márquez, enquanto Viñales vai perdendo o posto de anti-Márquez na MotoGP. Andrea Doviziozo, ainda se recuperando do seu perigoso acidente em Silverstone, fez uma corrida opaca e ficou logo atrás das Yamahas, mas com a vitória de Márquez, o sexto título do espanhol virou uma contagem regressiva.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Figura(ITA): Charles Leclerc

Semana passada Charles Leclerc teve que colocar de lado toda a dor da perda de um amigo que começou a correr ao seu lado para vencer pela primeira vez na F1. Mau recuperado do choque e ainda em luto, Leclerc chegou à Monza disposto a aproveitar outra pista de velocidade e capitalizar a potência do motor Ferrari. Porém, na frente da enlouquecida torcida italiana, a Ferrari não esteve dominante como esperado e com Vettel tendo outro final de semana daqueles, Leclerc teve que enfrentar sozinho a dupla da Mercedes numa incrível e tensa batalha de gato e rato pelas retas e curvas de Monza. Leclerc se comportou de forma magnífica ao mostrar uma tática defensiva que tiraria aplausos da lenda ferrarista Gilles Villeneuve. Logo na largada o monegasco mostrou seu cartão de visitas ao espremer Hamilton na freada da primeira curva. Quando o inglês começou a atacar de forma mais incisiva, Leclerc só cometeu um erro na freada da primeira chicane e soube jogar duro quando Hamilton colocou de lado na Variante della Roggia. Usando a exuberante potência do motor Ferrari, Leclerc foi frio e acabou induzindo o pentacampeão Hamilton a cometer dois erros. O primeiro foi sair reto na primeira curva. A segunda foi derreter seus pneus enquanto perseguia o monegasco. Porém, havia a segunda Mercedes. Utilizando uma tática diferente, Bottas se aproveitou do erro de Hamilton e com pneus em muito melhores condições, foi para cima de Leclerc nas últimas voltas. Porém, Charles se manteve impávido, repetindo a tática contra Hamilton e novamente induziu um piloto da Mercedes a errar. Este domingo foi a prova de fogo de Leclerc. Contra um carro melhor, Charles Leclerc soube usar as armas que tinha e derrotou uma dupla fortíssima para vencer na frente dos tifosi da Ferrari. Esse garoto tem futuro!

Figurão(ITA): Sebastian Vettel

Se a Ferrari viveu um final de semana de raro domínio nos últimos anos e de muita festa no domingo, o ponto contrastante ficou com Sebastian Vettel. O alemão teve outro final de semana horrível em Monza, exatamente um ano depois de sua rodada na primeira volta na Variante della Roggia. Dessa vez o erro de Vettel foi em outra Variante, mas foi igualmente marcante. Vettel vinha andando no mesmo ritmo de Leclerc, mesmo que ligeiramente abaixo do companheiro de equipe em todo o final de semana. Sebastian foi uma das vítimas da atabalhoada final de classificação no sábado e não teve chance de melhorar seu tempo e por isso largou em quarto. Depois de perder uma posição na largada, Vettel se aproximava do terceiro colocado Bottas quando rodou sozinho na Variante Ascari. Se o erro em si já foi feio, o que veio a seguir foi ainda pior. Após esperar passar a dupla da Renault, Vettel voltou à pista de forma irresponsável na frente de Lance Stroll, jogando o jovem canadense para fora da pista, além de quebrar sua asa dianteira. O erro de Vettel foi decisivo. O piloto da Ferrari foi justamente punido e após passar um bom tempo na rabeira do pelotão, Vettel ainda subiu para 13º, mas logo à frente de um Williams, o que nos dias de hoje chega a ser um baita ponto negativo. Com a segunda vitória consecutiva de Leclerc, bem na frente dos tifosi e ultrapassado no mundial de pilotos pelo monegasco, a situação de Vettel começa a ser bastante debatida dentro da Ferrari. Contratado para ser campeão com os italianos da mesma maneira de que Michael Schumacher vinte anos antes, Vettel vem mostrando uma fraqueza que Schumacher não tinha: a solidez psicológica. Schumacher apanhou bastante antes de dominar a F1 e não perdeu o foco quando estava por baixo, enquanto Vettel se vê perdido ao ter um piloto bem diferente do subserviente Raikkonen dividindo as atenções. Assim como aconteceu quando Ricciardo chegou na Red Bull em 2014 e começou a incomodar o então tetracampeão, Vettel está claramente bastante incomodado com Leclerc. Vettel precisa ser a prima-dona da equipe e ter todo o time moldado em torno dele. Com a chegada de Leclerc, essa situação se esvaiu e o resultado foi a pífia corrida de Vettel nesse domingo.  

domingo, 8 de setembro de 2019

Um contra dois

Após as impressionantes vitórias de Max Verstappen no final do verão europeu, parecia que o novo dominador da F1 estava apenas esperando o carro certo para começar a vencer. No entanto, Max tem um rival desde os tempos do kart que também já aparece na ponta da F1 e hoje provou que Verstappen não terá uma vida tão fácil num futuro a médio prazo. Se a vitória de Charles Leclerc em Spa foi conseguida nos detalhes, a de hoje em Monza foi conseguida com um talento defensivo de deixar orgulhoso um Gilles Villeneve. O jovem monegasco não teve sossego em momento algo do Grande Prêmio da Itália, sendo sempre acossado pela dupla da Mercedes, mas Leclerc soube usar a potência superior do motor Ferrari para garantir sua segunda vitória consecutiva na F1.

O Grande Prêmio da Itália de 2019 foi um dos mais tensos dos últimos tempos, prolongando o ótimo momento da F1 nas últimas corridas. Para quem apostava na morte da F1, está na hora de rever alguns conceitos históricos e apostar fichas em outras coisas. A corrida foi um incrível jogo de gato e rato protagonizado por Charles Leclerc e a dupla da Mercedes, com o monegasco se defendendo o tempo inteiro dos ataques de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas. Leclerc não largou bem, mas mostrou a Hamilton suas táticas defensivas ao espremer o inglês na freada para a primeira curva deixando ainda o legal espaço de um carro, não deixando muitas alternativas para o inglês, a não ser recolher. A potência do motor Ferrari garantia uma vantagem para Leclerc, mas os pneus se mostraram primordiais para a Mercedes equilibrar a disputa. Ao contrário do que indicava a previsão, o sol se fez presente em Monza e não demorou muito a Hamilton encostar em Leclerc, antes que eles trocassem os pneus. Foi então que a Ferrari deu o pulo do gato. Percebendo o desgaste de pneus, a Ferrari colocou os pneus duros no carro de Charles, enquanto a Mercedes, que tentou blefar sem sucesso, colocou os médios no bólido de Hamilton. Leclerc permaneceu na ponta, mas Hamilton foi com tudo para o ataque. O inglês colocou de lado, abriu a asa, mas Leclerc foi quase perfeito. O quase foi pela ligeira saída de pista na primeira chicane. Ontem na prova de F2, Sergio Sette Câmara foi punido por manobra idêntica. Derek Warwick (ou qualquer comissário) não teria peito para punir um piloto da Ferrari liderando em Monza. Além do que, Leclerc não obteve vantagem. Bola para frente. Enquanto isso, a Mercedes adotava uma tática diferente com Bottas, esticando ao máximo a permanência do nórdico, para deixa-lo com pneus em melhores condições nas voltas finais. Quase deu certo.

Enquanto Hamilton vazava a Variante Della Roggia ao ser espremido por Leclerc, Bottas chegou rapidamente e quando se imaginava qual seria o comportamento da Mercedes, Hamilton errou na primeira chicane e Bottas assumiu a segunda posição. Tantas voltas colado em Leclerc derreteram os pneus da Mercedes e Hamilton saiu da luta pela vitória, não sem antes colocar pneus macios e garantir o ponto da melhor volta, no lugar mais baixo do pódio. Bottas esperou um pouco antes de dar o bote. O finlandês tinha pneus sobrando em comparação com Leclerc, mas se o piloto da Ferrari induziu a Mercedes mais forte ao erro, porque não com a mais fraca? Bottas atacou, mas cometeu pequenos erros que se mostraram decisivos, mostrando bem a diferença entre um bom piloto e um campeão. Ou futuro campeão. Charles Leclerc recebeu a bandeirada para delírio dos tifosi, além de um grande alívio, pois as 53 voltas em Monza foram de intensa pressão para o monegasco, que se comportou muito bem na sua segunda vitória. Enquanto comemorava com o público, Leclerc foi cumprimentado pelo 13º colocado de forma tímida. Sebastian Vettel teve outro final de semana para esquecer. Um ano depois do erro decisivo na mesma Monza, Vettel errou feio na Variante Ascari quando já se aproximava das duas Mercedes, com um ritmo até melhor. Se o erro do alemão foi feio, o que veio a seguir foi ainda pior. Depois de esperar passar a dupla da Renault, Vettel voltou a pista de forma irresponsável e quase provocou um sério acidente com Lance Stroll, que repetiu a trapalhada metros mais tarde ao voltar à pista na frente de Gasly, fazendo o francês quase bater. Devidamente punido, Vettel caiu para as últimas posições e no final, com o mesmo carro do vencedor, tomou uma volta e ficou 14s arás da Williams de George Russell. Já não é mais possível não comparar a chegada de Leclerc na Ferrari à chegada de Ricciardo à Red Bull em 2014. O alemão estava tranquilo com um dominado Kimi Raikkonen, mas com Leclerc chegando como um furacão dentro da Ferrari, Vettel saiu de sua zona de conforto e o alemão vai se mostrando tão latino quanto os italianos, cometendo erros em cima de erros, nada comuns para um tetracampeão. A segunda vitória seguida de Leclerc coloca ainda mais pressão em Vettel, que se vê numa situação nada boa dentro da Ferrari.

Com a Red Bull com problemas, a Renault ficou nas duas posições seguintes aos lugares do pódio, conseguindo o melhor resultado do ano para a equipe da montadora francesa, dando um pouco de alento numa temporada aquém do esperado. Quem esperava um show de Max Verstappen largando da última fila se decepcionou com uma corrida burocrática do holandês, que avariou seu bico na primeira volta e atrapalhou toda a sua corrida, mas Max ainda foi capaz de conseguir um oitavo lugar. Albon tentou outra manobra bonita sobre Carlos Sainz, mas o espanhol jogou duro e o tailandês acabou fora da pista, contudo Albon ainda foi capaz de conseguir um sexto lugar. Entre os dois carros da Red Bull, um dos destaques do meio do pelotão. Sérgio Pérez teve o motor quebrado na classificação e largou na penúltima fila. O mexicano usou a potência do motor Mercedes para fazer uma bela corrida de recuperação para ficar em sétimo, garantindo mais pontos para a Racing Point. Stroll foi vítima da besteira de Vettel, mas o canadense acabou se tornando infrator ao quase bater em Gasly, acabando por ser punido e perdendo a chance de pontuar. Outro que jogou fora a chance de pontuar bem foi a McLaren, com a equipe mandando Carlos Sainz ir para a pista sem ter apertado um pneu direito, fazendo-o abandonar na saída dos pits. Antonio Giovinazzi salvou a honra da Alfa Romeo marcando pontos, enquanto Kimi Raikkonen largou dos boxes e ainda foi punido por ter largado com os pneus errados. O motor Honda esteve longe de brilhar e ainda viu o motor de Kvyat explodir quando o russo estava na zona de pontos. A Haas continuou seu desempenho pífio em ritmo de corrida, com Grosjean ainda destruindo seus pneus numa rodada nas primeiras voltas, enquanto Magnussen abandonou no final da prova. 

Foi outra grande prova nesse ano de 2019, que se não está tendo uma boa disputa pelo campeonato, pelo menos está nos oferecendo ótimas corridas. Numa disputa em que teve pela frente a dupla da Mercedes, Charles Leclerc se mostrou vitorioso atuando sozinho, sem a ajuda do seu companheiro de equipe Vettel, que vai se afundando numa má fase sem fim. Com essa segunda vitória consecutiva, dessa vez na frente dos tifosi da Ferrari, Charles Leclerc mostra que tem ainda muito futuro pela frente na F1. 

sábado, 7 de setembro de 2019

Erro de cálculo

A Moto3 tem como característica o grande equilíbrio e a grande presença do vácuo, principalmente nos treinos. Não raro, os momentos derradeiros da classificação da Moto3 vê os pilotos andando lentamente e em grupo, cada piloto buscando o melhor posicionamento para conseguir o necessário vácuo para melhorar seu tempo na última volta. Nesse final de semana em Monza o vácuo se tornou preponderante, com ganhos de até três décimos de segundo, o que num terceiro treino livre bastante apertado, poderia fazer toda a diferença. Porém, os táticos da F1 erraram as contas e o que vimos no final do Q3 beirou o ridículo, mas os tifosi e Charles Leclerc não tiveram do que reclamar.

Com Max Verstappen previamente punido e Sergio Pérez tendo outro problema no motor, o Q1 foi morno e sem maiores surpresas, mesmo que indicando que a batata de Romain Grosjean está assando e o francês já até falou em outras categorias para 2020. A Renault surpreendeu com um ritmo muito forte em todos os treinos, algumas vezes se metendo entre as equipes top-3 e colocou seus dois carros facilmente no Q3. Correndo também em casa, a Alfa Romeo viu seus dois pilotos separados apenas dois milésimos, só que como a briga valia a décima posição, apenas Raikkonen foi ao Q3, mas o finlandês não aproveitou e bateu em sua primeira volta.

Até o momento a Ferrari vinha dominando todos os treinos, principalmente com Charles Leclerc, mas a Mercedes não estava com déficit da semana passada em Spa e prometia incomodar. Quando os pilotos completaram a primeira volta rápida, Raikkonen bateu e trouxe a bandeira vermelha. Pista limpa, os minutos passando e nada dos carros irem à pista. Leclerc liderava, seguido pela dupla da Mercedes e Vettel. Albon sequer tinha volta completada. Quando os carros resolveram ir para a pista, a confusão foi geral. Com dois minutos faltando para o fim, os carros andavam lentamente pela pista, procurando um melhor posicionamento para conseguir o vácuo do companheiro de equipe ou de quem quer que seja. O resultado foi um final patético, com apenas Sainz e Leclerc conseguindo abrir volta rápida, enquanto os demais sete pilotos ficaram pelo caminho.

Tomara que essa sessão não cause mudanças na classificação, trazendo de volta as chatas voltas únicas. A Mercedes reclamou um bocado, mas Leclerc não teve do que se queixar e largará na ponta amanhã, mesmo tendo que enfrentar o duo da Mercedes em outra decepção de Vettel. Mesmo com o sol forte de hoje, amanhã a previsão é de chuva. São nesses momentos que a Ferrari costuma se embananar e a Mercedes se sobressair, mesmo que na casa da Ferrari.