quinta-feira, 26 de setembro de 2019

História: 20 anos do Grande Prêmio da Europa de 1999

McLaren e Ferrari tinham os melhores carros da temporada 1999, mas não haviam muitas dúvidas de quem era o piloto daquele ano: Heinz-Harald Frentzen. O alemão tido como até melhor do que Michael Schumacher quando ambos competiam nas categorias de base alemã, teve uma chance de ouro quando a Williams estava competitiva, mas Frentzen nunca apresentou o que dele se esperava e acabou obscurecido por Jacques Villeneuve numa relação turbulenta com o canadense. Porém, logo depois Frentzen achou abrigo na Jordan, equipe no qual competiu nos tempos da F3000, e o alemão renasceu para fazer uma temporada espetacular em 1999, com direito a duas vitórias e estar surpreendente na luta pelo título daquele ano com um carro que era, na melhor das hipóteses, a quarta força do campeonato. Hakkinen e Coulthard naufragavam nos seus próprios erros e também da McLaren, enquanto a Ferrari ainda se recuperava do baque da fratura na perna de sua estrela Michael Schumacher.

Vindo de vitória em Monza e correndo em casa, Frentzen não teve uma classificação fácil, com o alemão passando boa parte dos sessenta minutos parados nos boxes e a Jordan procurando o melhor acerto. Frentzen foi à pista no fim e corroborando com sua ótima fase, conseguiu uma ótima pole. Ralf Schumacher também surpreendeu ao brigar pela pole, mas o alemão teve que se contentar com a quarta posição com seu Williams, com a dupla da McLaren separando os alemães. Irvine teve uma classificação para esquecer, onde saiu da pista e teve que se conformar com a quinta fila, sendo o pior dos postulantes ao título em Nürburgring.

Grid:
1) Frentzen (Jordan) - 1:19.910
2) Coulthard (McLaren) - 1:20.176
3) Hakkinen (McLaren) - 1:20.376
4) R.Schumacher (Williams) - 1:20.444
5) Panis (Prost) - 1:20.638
6) Fisichella (Benetton) - 1:20.781
7) Hill (Jordan) - 1:20.818
8) Villeneuve (BAR) - 1:20.825
9) Irvine (Ferrari) - 1:20.842
10) Trulli (Prost) - 1:20.965

O dia 26 de setembro de 1999 amanheceu com sol em Nürburgring, mas há um ditado que naquela região da Alemanha muitas vezes as quatro estações do ano aparecem em apenas um dia. A instabilidade climática seria um dos grandes protagonistas de uma corrida que entraria para a história. A primeira largada foi abortada quando a Minardi de Marc Gené apresentou problemas, mas a segunda largada seria ainda mais problemática. Frentzen não faz uma largada fantástica, mas mantém a liderança à frente de Hakkinen, Coulthard e Ralf Schumacher. Mais atrás Hill tem um problema elétrico em seu Jordan e fica lento no meio do pelotão. Wurz acaba atingindo a traseira de Hill e depois bate em Pedro Paulo Diniz. O piloto da Sauber acaba capotando na grama, mas a grande preocupação foi que o rollbar, mais conhecido como santo-antônio, da Sauber de Diniz quebrou-se no impacto e o brasileiro passou por momentos aterrorizantes, com sua capacete deslizando rente ao asfalto e a grama. Foi um acidente potencialmente perigoso, mas felizmente Diniz apenas machucou o ombro e rapidamente foi liberado pelos médicos.

O safety-car ficou seis voltas na pista antes que a corrida realmente começasse. Os quatro primeiros colocados (Frentzen, Hakkinen, Coulthard e Ralf) andavam próximos e muito rápidos, mas não haviam ataques entre eles, com Frentzen mostrando um ritmo sólido na ponta. Mais atrás Fisichella liderava o segundo pelotão e era atacado por um desesperado Irvine, que tentava evoluir na corrida, mas Fisichella, que ansiava pelo lugar do irlandês no ano 2000, segurava a quinta posição sem maiores sustos. Irvine aproveitou-se de um ligeiro erro de Fisichella para assumir a quinta posição na volta 18, mas enquanto a corrida estava morna na pista, o clima mudava rapidamente. O sol dava lugar a nuvens pesadas e por volta da vigésima passagem, os primeiros pingos começaram a cair em Nürburgring. A chuva não era muito forte, mas provocava muitas escorregadas dos pilotos. Parar no momento correto seria crucial. E foi numa dessas paradas que a gigante Ferrari entrou para o folclore da F1. Irvine entrou na volta 21 para colocar os pneus de chuva. Tudo certo, se não fosse um detalhe: faltava o pneu traseiro direito! Os mecânicos tinham acabado de trocar os pneus de Salo, além da asa dianteira do finlandês. Irvine entrou logo em seguida, deixando todo o processo muito apertado. Conta a lenda que foi uma repórter italiana que apontou para o angustiado mecânico onde estava o pneu perdido. Irvine, que já se aproximava de Ralf Schumacher, perdeu um tempo precioso com a cômica parada ferrarista.

A corrida havia se transformado num caos, mas Frentzen ainda liderava a corrida com os pneus intermediários. Ralf Schumacher havia subido para segundo com uma parada mais rápida da Williams, enquanto Hakkinen começava um pesadelo. Primeiro o finlandês colocou pneus de chuva forte, mas Hakkinen estava tão lento que teve que retornar aos boxes e colocar pneus intermediários. Por causa disso tudo, Mika estava atrás até mesmo de Irvine. Na volta 22 a corrida se estabilizou quando a chuva diminuiu. Ralf Schumacher era pressionado por Coulthard, mas a pressão aliviou quando o escocês passou reto na chicane. Nove segundos atrás da McLaren vinha Fisichella, com Barrichello outros 9s atrás, seguido de perto por Trulli. Com a pista já secando, Ralf Schumacher foi aos pits na volta 24 para colocar pneus slicks. Frentzen dominava a corrida e mesmo passando reto na chicane, mantinha o segundo colocado Coulthard sob controle. Na volta 32 os dois líderes entraram nos pits e mantiveram as posições nos boxes, mas quando Frentzen retornava à pista, um problema elétrico acabou com os sonhos do alemão. Uma câmera mostrava pelo capacete toda a decepção de Frentzen, que perdia não apenas a vitória, mas a chance real de lutar pelo título nas corridas finais. Porém, enquanto a câmera focava na cara de choro de Frentzen, percebeu-se que a chuva retornava. Com mais força do que antes! Coulthard liderava a prova nesse momento com 6s de vantagem para Ralf. O escocês era o único postulante ao título em boa posição na corrida. Era. Enquanto levava sua McLaren aos boxes para colocar pneus de chuva, Coulthard saiu da pista e acabou preso na caixa de brita. Ao mesmo tempo, Herbert, Trulli e Luca Badoer vão aos pits colocar pneus de chuva. Nomes aparentemente irrelevantes, mas que logo se tornariam protagonistas!

Com tudo isso acontecendo, Ralf Schumacher liderava a corrida com boa vantagem em cima de Giancarlo Fisichella, com Herbert já aparecendo em terceiro, seguido de perto por Trulli. Na volta 44 Ralf entrou nos boxes e retornou à pista logo atrás de Herbert. Fisichella liderava a corrida bom boa vantagem para Herbert, que segurava Ralf, mas não por muito tempo. O alemão tem um pneu furado, sai da pista e retorna lentamente aos boxes para um novo pit-stop, estragando a ótima corrida de Ralf. À essa altura, a corrida havia se transformado numa loteria e um verdadeiro banquete de mendigos. Fisichella liderava a prova, seguido por Herbert, Trulli, Barrichello e... Luca Badoer de Minardi! Porém, a alegria de Fisichella não duraria muito. O italiano acabou saindo da pista e batendo levemente seu Benetton. Fisichella saiu do carro lamentando muito a chance perdida. Herbert assumia a ponta da corrida com 16s de vantagem para Trulli, que era pressionado por Barrichello. Atrás do trio principal vinha Badoer, Ralf, Villeneuve, a segunda Minardi de Marc Gené e só então Irvine e Hakkinen, os dois líderes do campeonato numa corrida medonha para eles. A Minardi estava a ponto de pontuar com seus dois pilotos, mas numa das cenas mais tocantes da história da F1, o carro de Badoer quebra e fica parado na entrada da chicane final. Era a chance do italiano pontuar que se esvaia. Badoer ficou inconformado com o motor quebrado e caiu em prantos ao lado do carro...

Enquanto Barrichello atacava Trulli, as voltas finais foram marcadas pela briga da sétima posição. Hakkinen estava fazendo uma corrida pífia, mas no terço final achou a mão da pista seca-molhada de Nürburgring e partiu ao ataque em cima de Irvine, que tinha um carro nitidamente desequilibrado, mas ainda se aproximando da Minardi de Gené, que lutaria com unhas e dentes pelo ponto. Foi uma briga clássica, com Irvine fazendo um grande trabalho segurando o campeão claramente com menos carro. No ímpeto de ultrapassar o rival, Mika errou algumas vezes, mas na volta 62 ele conseguiu a ultrapassagem quando Irvine travou os freios, permitindo a Hakkinen conseguir a sétima posição. Isso permitiu Gené abrir 6s para Hakkinen, mas como se os deuses das corridas quisessem corrigir a injustiça da dolorosa quebra de Badoer, Villeneuve quebrou no finalzinho da prova e quando Mika deixou Gené facilmente para trás, o espanhol ainda se manteve na zona de pontuação, com a Minardi conseguindo um miraculoso e bastante comemorado ponto. Irvine ainda tentou atacar Gené, mas sua Ferrari estava tão desequilibrada, que ele ficou mesmo fora dos pontos. Mais à frente, Johnny Herbert parou nos momentos certos e aproveitou os infortúnios alheios para conseguir uma popular vitória, no que seria a única da Stewart Grand Prix, que no ano 2000 passaria a ser conhecida como Jaguar. Herbert vinha fazendo uma temporada muito ruim e a Stewart claramente procurava um piloto para o seu lugar, mas com essa vitória o veterano inglês ficaria outro ano na F1. Barrichello que sempre tinha levado a Stewart a boas posições em 1999 acabou tendo que se conformar com o terceiro lugar, mesmo tendo atacado muito Trulli nas voltas finais, mas o italiano sempre posicionava muito bem seu carro no trilho seco, deixando apenas a pista molhada para Rubens tentar uma manobra impossível. Ralf Schumacher chegava em quarto, mas por tudo que tinha feito na corrida, o alemão merecia muito mais, enquanto Hakkinen salvava dois importantes pontos no campeonato. No alto do pódios, três caras não muito usuais ao lado do velho Jackie Stewart, que levava sua equipe ao olimpo da F1. Barrichello via sua primeira vitória escapar e ainda teria que suportar que Herbert, que nada fizera até ali, ter a honra de dar o primeiro triunfo à Stewart GP. A hora de Rubens ainda chegaria. Entre tantas reviravoltas, o que ficará para sempre daquela prova de setembro de 1999 foi uma das corrida mais cheias de reviravoltas e alternativas da história da F1, além de um pódio totalmente diferente e Jackie Stewart comemorando bastante com seus dois pilotos.

Chegada:
1) Herbert
2) Trulli
3) Barrichello
4) R.Schumacher
5) Hakkinen
6) Gené 

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