segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Figura(MEX): Alexander Albon

A história de Alexander Albon é daquelas de se colocar nos contos. O tailandês tinha acabado sua terceira temporada na F2 e não tinha muitas expectativas a ponto de aceitar um lugar na horrorosa F-E. Foi então que Albon foi surpreendido com um chamado da Red Bull de última hora para sentar no segundo carro da Toro Rosso em 2019. Albon era um velho conhecido da marca austríaca e fora uma das várias vítimas de máquina de moer piloto comandada por Helmut Marko. Sem pestanejar, Albon aceitou a proposta! Foram alguns treinos para se acostumar com o carro totalmente novo a ele e mesmo enfrentando um piloto já experiente (Kvyat, cadeira cativa da parte debaixo da coluna...), o tailandês rapidamente andou no ritmo do companheiro de equipe, surpreendendo a todos que viam em Albon apenas um pay-driver melhorado. As boas exibições de Alexander, junto com a má exibição de Gasly na equipe principal, fez Albon ter outra surpresa. Ainda no meio da temporada Albon se graduaria para a Red Bull e correria ao lado de Max Verstappen. Mesmo sem conhecer o carro, Albon aceitou a proposta e não vem decepcionando. No México o tailandês se acidentou no segundo treino livre, mas conseguiu se classificar bem, algo que vem se repetindo e na corrida foi ainda melhor. Albon se livrou dos incidentes da primeira curva e surgiu em terceiro, logo atrás das Ferraris. Num ritmo muito bom, Albon não deixava Vettel escapar na sua frente e não se intimidou quando no seu espelho retrovisor surgiu o número 44 do multi-campeão Lewis Hamilton. Como um piloto maduro, Albon fez um ótimo primeiro stint e somente pelo erro estratégico da Red Bull o tailandês não conseguiu brigar pelo pódio, porém, mais uma vez Albon superou Verstappen na corrida. Mesmo não tendo o mesmo talento do holandês, Albon já marcou mais pontos do que Max nas corridas em que estiveram juntos na Red Bull e o tailandês vem fazendo direitinho o serviço que lhe foi posto: marcar bons pontos no Mundial de Construtores. Com isso, Albon está bem melhor do que Gasly e em seu primeiro ano na F1, vai garantindo sua vaga numa equipe de ponta.

Figurão(MEX): Daniil Kvyat

Quando Pierre Gasly foi sacado da Red Bull no meio dessa temporada, o substituto natural do jovem francês seria Daniil Kvyat, que havia acabado de conquistar um pódio em Hockenheim, mas Helmut Marko optou por trazer o novato Alexander Albon para a equipe principal. 'Nós já conhecemos Daniil', argumentou Marko. E devem conhecer mesmo! Mesmo sem conhecer bem o seu novo carro, Gasly andou de imediato no mesmo nível de Kvyat na Toro Rosso, muitas vezes superando o russo. No México ainda voltamos a ver uma face bem distinta de Kvyat: o torpedo russo. Na última volta  da corrida Kyvat perseguia Nico Hulkenberg para ganhar a nona posição do alemão. Numa manobra totalmente estabanada na última curva, o russo acertou a Renault de Hulk na traseira, jogando o alemão contra o muro. De forma até justa e lógica a manobra de Kvyat foi rapidamente punida pelos comissários, fazendo o russo perder os pontos conquistados na pista com os 10s de penalidade, mas o pior veio depois. Mesmo claramente estando errado no cartório Kvyat reclamou de sua punição e não se desculpou com Hulkenberg. Somente pelo fato do próprio Helmut Marko ter dispensado vários pilotos do programa de jovens pilotos da Red Bull que Kvyat ainda tem um lugar na Toro Rosso. Simplesmente Marko não tem ninguém para colocar no carro! Pelo menos o sisudo austríaco conhece o russo a ponto de deixa-lo esquentando a cadeira de algum piloto num futuro próximo da Red Bull...

domingo, 27 de outubro de 2019

Mais um dia normal na Nascar...

Denny Hamlin e Joey Logano trocando gentilezas após a corrida em Martinsville.

Táticas variadas, resultado igual

O Grande Prêmio do México desse domingo teve como principal característica a variedade tática entre pilotos e equipes, com graus diferentes de sucesso. Porém, quem não mudou foi o vitorioso no final do dia. Lewis Hamilton arriscou uma tática de parar apenas uma vez nos boxes depois de um pit-stop mais cedo do que o recomendado e com pneus duros bem desgastados, segurou a ponta até a bandeirada, enquanto Vettel e Bottas, tendo parados apenas uma vez, mas com uma tática mais equilibrada, completaram o pódio. Quem saiu perdendo nisso tudo foi o pole Leclerc, que fez duas paradas, mas não teve fôlego para alcançar os líderes.

A corrida de hoje foi bastante tensa e extremamente tática. Não houveram grandes ultrapassagens entre os cinco primeiros, mas as posições do top-5 mudaram ao longo da corrida. A largada não foi das mais calmas e Hamilton se envolveu em dois incidentes distintos. Primeiro o inglês largou melhor do que Vettel e quando estava a ponto de colocar ao lado da Ferrari, Vettel não teve nenhum pudor em jogar Lewis para a grama. Com o tempo perdido, Hamilton acabou atacado por Verstappen e os dois se tocaram na primeira chicane e saíram da pista. Quando tudo assentou, Vettel ainda bateu de leve na traseira de Leclerc e a classificação estava toda modificada, com a dupla da Ferrari ainda na frente, mas com Albon pulando para terceiro, Sainz para quarto, Hamilton apenas em quinto, com Verstappen despencando para oitavo, atrás de Norris e Bottas. Nesse momento nada indicava que Hamilton venceria a corrida, mas um piloto genial como o inglês nunca pode se menosprezar, ainda mais tendo o apoio massivo de uma equipe Mercedes que já entrou para a história. Primeiro Hamilton deixou Sainz para trás e encostou no surpreendente Albon, que acompanhava de perto as duas Ferraris na ponta. Quando o tailandês fez sua parada, juntamente com Leclerc, Hamilton foi aos boxes, porém, os dois jovens pilotos indicavam claramente que parariam outra vez, enquanto Lewis não pararia mais. Foi o que bastou para Hamilton reclamar pelo rádio e teoricamente o inglês estava certo. Era cedo demais para fazer uma parada e levar o carro com um ritmo decente até a bandeirada. Ou não? Hamilton algumas vezes dá a impressão que se subestima. O inglês controlou o desgaste dos seus pneus de forma esplêndida sem perder muito ritmo para os demais adversários. Vettel foi chamado logo depois de Hamilton, mas peitou a equipe e resolveu ficar mais tempo na pista, algo que Bottas seguiu. Vettel e Bottas pensavam na lógica: ou Hamilton pararia mais uma vez ou chegaria ao final da prova praticamente sem pneus. Porém, Hamilton reverteu toda a lógica e conseguiu manter Vettel à distância, numa corrida de futuro hexacampeão.

Sim, pois com Bottas chegando em terceiro, Hamilton não garantiu matematicamente o título de 2019 no México, o que seria mais apropriado pelo apoteótico pódio construído pelos mexicanos, um dos mais legais de todos os tempos. Porém, a matemática para Hamilton conquistar o título não precisa de derivadas ou integrais. Lewis só não sairá de Austin hexacampeão semana que acabar abaixo do oitavo lugar, junto a uma vitória de Bottas com direito a melhor volta. Valtteri tentou a mesma tática de Vettel, mas a força do motor Ferrari tornou a ultrapassagem do finlandês algo difícil demais e Bottas teve que se conformar com a terceira colocação. Como todo grande campeão, Hamilton precisou de sorte e numa corrida tão apertada e decidida na estratégia, Lewis viu dois momentos que lhe foram muito favoráveis envolvendo os dois pilotos da Ferrari. Quando estava prestes a entrar nos pits, Vettel se meteu numa animada briga entre Gasly e Sainz, com o segundo tirando tanto o pé para tomar uma volta de Vettel, que o piloto da Ferrari acabou perdendo bastante tempo. Toda a operação para deixar a briga entre os dois retardatários para trás fez Vettel perder em torno de 3s. Bastava a Ferrari ter visto que o bicho estava pegando entre Sainz e Gasly para trazer Vettel antes dele encontrar a dupla. A Ferrari não o fez e Vettel perdeu um tempo precioso e que faria muita diferença no final da corrida, bastando observar a diferença que o separou para Hamilton no fim. Já o pole Leclerc fez sua segunda parada faltando poucas voltas, mas os mecânicos da Ferrari tiveram dificuldades em apertar a roda traseira direita. Olhando a média de paradas dos demais, o monegasco perdeu 4s na operação, que lhe custou caro no final, pois Leclerc não teve fôlego sequer para se aproximar de Bottas no fim. Ou seja, Hamilton fez sua parte na pista com um ritmo surpreendente na pista, mas a sorte lhe foi favorável para conquistar a corrida de hoje. A sorte dos campeões.

Após perder a pole por causa de suas falas na entrevista coletiva de ontem, onde ingenuamente afirmou que não tirou o pé na última curva, onde Bottas estava atravessado após bater, Verstappen novamente se envolveu em um incidente com pilotos da Mercedes. Primeiro ele tocou-se com Hamilton num acidente sem maiores consequências, mas no afã de se recuperar logo, efetuou uma audaciosa ultrapassagem em cima de Bottas no parte do estádio. Lenta e estreita, ninguém espera alguém se jogar por dentro nesse setor, portanto o toque que Bottas deu em Verstappen foi involuntário, mas o suficiente para furar o pneu do holandês, que caiu para último. Assim como Hamilton o holandês surpreendeu com seus pneus, pois sem fazer mais nenhuma parada, escalou o pelotão e chegou em sexto. Ainda falta a Max Verstappen mais malícia dentro e fora da pista para se livrar de tantos problemas em que se mete vez por outra, lhe debitando pontos importante no campeonato. Albon vislumbrou um pódio em alguns momentos, mas ao escolher a mesma estratégia de Leclerc, o tailandês não teve mais chance de brigar pelo pódio. Contudo, enquanto esteve presente na briga entre Vettel e Hamilton, Albon mostrou personalidade e vai cavando cada vez mais sua vaga na Red Bull em 2020.

A boa largada das duas McLarens foi o melhor momento da equipe hoje, que se mostrou nada competitiva em ritmo de corrida e Lando Norris acabou prejudicado por um erro da equipe, que o soltou com uma roda frouxa, destruindo a corrida do inglês. Pérez levantou a torcida com suas ultrapassagens, segurou como pôde Ricciardo melhor 'calçado' no final e garantiu o título de melhor do resto na frente de sua feliz torcida. Ricciardo levou a Renault até a volta 52 com os pneus duros, chegando a ocupar a sexta posição. O australiano foi para cima de Pérez, chegou a sair da pista numa tentativa banzai de ultrapassagem, mas teve que se conformar com a oitava posição. Hulkenberg vinha em nono, mas na última curva foi atropelado por um destrambelhado Kvyat e o russo pode ser punido a qualquer momento, o que ajudaria bastante Gasly e o próprio Hulkenberg, que cruzou a bandeirada sem a asa traseira. Alfa Romeo fez uma corrida fantasma, enquanto a Haas, prestes a correr em casa na semana que vem, já está andando no ritmo da Williams, mostrando a queda acentuada dos americanos.

Não foi das corridas mais emocionantes, mas a variedade tática entre os pilotos trouxe um tempero todo especial à corrida, com muita tensão para saber quem daria o pulo do gato. Apesar da variedade, os vencedores foram praticamente os mesmos: Hamilton e Mercedes. Com uma pilotagem sensacional, sem precisar ser espetacular (quando é necessário, ele o é), Hamilton garantiu mais uma vitória rumo ao esperado hexa.

Fim da Era dos Tiões

Faziam quinze anos que o WRC vinha numa constância de campeões: eram franceses e se chamavam Sebastien. Os nove títulos da lenda Loeb e os seis de Ogier fizeram com que a França se tornasse o país com mais títulos do Mundial de Rali, superando a Finlândia, país considerado berço do rali.

Esse ano a história foi diferente e um tabu de dezesseis anos foi quebrado. Depois 2003 com Petter Solberg, o estoniano Ott Tänak venceu o WRC nesse domingo com o segundo lugar no Rali da Catalunha, superado pelo atual vice-líder do Mundial Thierry Neuville e quebrando a hegemonia dos 'Tiões'. Ogier tentava o hepta, mas um problema na sexta praticamente acabou com as chances do francês da Citroen. Para quem estranha a nacionalidade de Tänak, a Estônia já teve seu grande piloto na década passada, o antigo piloto de Ford e Peugeot Markko Martin, mas que abandonou sua carreira após a morte do seu navegador Michael Park em 2005. Martin é o mentor de Tänak, o colocando em sua equipe no campeonato estoniano e graças aos contatos que Martin tinha na Ford, Tänak pôde estrear no WRC em 2011.

Porém, os resultados do estoniano demoraram a aparecer e ele fez seu primeiro ano competitivo no WRC em 2017, correndo ao lado de Ogier na M-Sport Ford, subindo ao terceiro lugar no Mundial, posição que repetiria no ano seguinte, já contratado pela equipe oficial da Toyota. Vindo de quatro vitórias em 2018, Tänak era um dos favoritos ao título desse ano ao lado de Ogier, que retornou à Citroen, e Thierry Neuville, da Hyundai. Ao lado do navegador Martin Järveoja, Tanak conquistou cinco vitórias em 2019, além de dois pódios, chegando à Espanha com o título nas mãos e o segundo lugar conquistado hoje foi mais do que suficiente para Tanak levantar o título.

Voltando a 2003, quando o WRC vivia um ótimo momento, Solberg era um piloto muito popular, muitos viam que Loeb era um potencial gênio, além da categoria ainda contar com pilotos do calibre de Carlos Sainz, Marcus Gronholm, Colin McRae e Richard Burns. Todos esses pilotos eram muito carismáticos, populares e entraram para a história do esporte a motor. Mesmo com seis títulos no bolso, Sebastien Ogier não tem um décimo da popularidade de um Colin McRae, por exemplo, o mesmo acontecendo com o recém-coroado Tanak. Após uma enorme crise que colocou o seu futuro em risco, o WRC tenta se reconstruir, mas ainda faltam pilotos carismáticos como haviam há dezesseis anos.

Com 32 anos de idade e tirando a Toyota de uma fila de 25 anos, Ott Tänak pode ser um desses pilotos que podem fazer a popularidade do WRC retornar aos bons tempos. Por sinal, Tänak já fez algo fora do comum ao trocar a Toyota pela Hyundai em 2020, para correr ao lado de Neuville. Seria ótimo ter uma rivalidade forte para apimentar as coisas no WRC.  

Novas facetas

No auge de Valentino Rossi, dava pena de Max Biaggi e Sete Gibernau. Por mais que liderassem as corridas, todo mundo sabia que Rossi daria um bote nas voltas finais e o italiano venceria a corrida. Isso aconteceu várias vezes em meados da década passada. Cada vez mais parecido com Rossi, Márquez vai incorporando esse ponto forte de Valentino. Ao invés de atacar de vez, Márquez vai estudando as linhas e os pontos fracos dos adversários antes de dar o bote decisivo sobre o rival. Fabio Quartararo já sofreu dessa nova faceta de Márquez algumas provas atrás e hoje foi a vez de Maverick Viñales. O espanhol da Yamaha liderou todo o final de semana, fez a pole e após uma má largada, se recuperou até reconquistar a ponta.

Porém, para infelicidade de Viñales, Márquez não se desgrudou da Yamaha de Maverick. Márquez não atacava, apenas esperava. Com um motor muito mais forte do que a Yamaha, era nítido que Márquez segurava sua Honda no final da reta dos boxes, mas o espanhol tinha outros pensamentos. No início da última volta Márquez caprichou na última curva e engoliu Viñales na reta dos boxes, não dando chances ao compatriota. Meio que no desespero Viñales tentou uma manobra banzai na curva 10 e acabou no chão, por muito pouco não levando Márquez consigo. Zero ponto para Viñales e um baita golpe psicológico dado por Márquez. Em segundo chegou Cruthlow, um ano depois de ter destruído seu tornozelo direito num treino em Phillip Island. Correndo em casa Jack Miller completou o pódio numa animada briga com vários pilotos. Largando pela 400º, Rossi chegou a liderar as primeiras voltas, mas foi ultrapassado seguidamente e ficou no segundo pelotão, junto das Ducatis, Suzukis e as surpreendentes Aprilias. Mais para trás, Johan Zarco subia pela primeira vez na vida numa Honda e conseguia pontos com a moto, enquanto Jorge Lorenzo era um distante último colocado, com a mesma moto do vencedor Márquez. No momento, é até incompreensível a Repsol Honda manter o já veterano espanhol para 2020.

Márquez venceu pela 11º vez em 2019, se tornou o terceiro piloto com mais vitórias na categoria principal do Mundial de Motovelocidade. Um gênio em formação e com mais facetas sendo mostradas.

sábado, 26 de outubro de 2019

Botada no favoritismo

Pela já conhecida vantagem de potência sobre as rivais, a Ferrari era favorita graças a enorme reta dos boxes do circuito Hermanos Rodríguez e o ar rarefeito da Cidade do México. Porém, a Red Bull conseguiu as duas últimas vitórias no México e ano passado ficou com a dobradinha na primeira fila do grid. As linhas aerodinâmicas da Red Bull fazem um ótimo efeito no intrincado acerto para a corrida no México, mas ainda assim as Ferraris tinham tudo para garantir a primeira fila. Verstappen era o pole na primeira rodada do Q3, mas Vettel tinha tudo para superar o holandês, porém Valtteri Bottas bateu com vontade no muro da antiga Peraltada e praticamente garantiu a pole de Verstappen, mesmo Max tendo melhorado seu tempo, algo que deverá ser anulado mais tarde, pois havia não apenas uma bandeira amarela, como um Mercedes atravessado no meio da última curva.

Os treinos livres foram ligeiramente atrapalhados pela chuva, mas a Ferrari sempre se mostrou mais rápida, enquanto a Mercedes parecia meio perdida. Com a pista sendo lavada diariamente pela chuva, a aderência nunca era a ideal e as equipes sofreram para conseguir um melhor desempenho. Sofrendo com um carro com problemas de downforce, a Haas ficou logo no Q1 e lembrando o péssimo ritmo de corrida dos carros americanos, não seria surpresa vê-los brigando com a Williams amanhã. Correndo em casa Sérgio Pérez fez de tudo para dar mais motivos para a torcida mexicana vibrar, mas o piloto da Racing Point acabou ficando no Q2, junto com a dupla da Renault, que nesse final de semana recebeu a notícia que a nova CEO da montadora irá reavaliar alguns programas da Renault. Abitebul está se mostrando um dirigente abaixo da crítica, mas terá que ter uma lábia muito grande para convencer a Renault a manter sua equipe na F1.

Com as duplas de McLaren e Toro Rosso brigando pelo melhor do resto no Q3, a batalha pela pole foi mesmo entre o trio de ferro da F1 atual. Com a Ferrari dominando no primeiro setor que compreende a reta dos boxes, a Mercedes muito forte no segundo setor, com as curvas rápidas e a Red Bull mais rápida no último setor, com as curvas mais lentas, havia um bom equilíbrio entre os times top-3, mesmo com a Ferrari com uma ligeira vantagem. Na primeira rodada de voltas rápidas, Verstappen conseguiu superar as duas Ferraris, com a Mercedes fora do top-3. Na segunda volta rápida dos pilotos de ponta, Leclerc errou no final da sua volta, mas logo atrás Bottas bateu forte e praticamente acabou com a chance dos pilotos conseguirem tirar a pole de Max. Vettel e Hamilton vinham muito fortes, mas largarão amanhã na segunda fila, com as jovens estrelas Verstappen e Leclerc sem ter ninguém na frente deles.

A longa distância para a primeira curva pode favorecer a Ferrari, desde que ninguém invente um balé imperfeito, como visto na Rússia e causou uma enorme confusão para os italianos. O fato é que a Honda colocou seus quatro carros entre os dez primeiros e Verstappen brigará para conseguir sua terceira vitória seguida no México.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

A única de Barrichello

Rubens Barrichello cansava de dizer que foi criado ao lado do circuito de Interlagos e por isso conhecia a pista paulistana com a palma da mão, inclusive o instável clima do local, ajudado pela sua avó. Mesmo correndo sempre muito bem em Interlagos, Rubens teimava em ter resultados decepcionantes em sua pista caseira. Porém, quinze anos atrás Barrichello parecia que tinha tudo para acabar o que já era conhecida como a 'maldição de Interlagos'.

O Grande Prêmio do Brasil de 2004 foi realizado no final do ano para que a F1 escapasse das famosas chuvas de março, que tumultuou a corrida do ano anterior. A Ferrari havia dominado o ano, assim como fizera em 2002, com Michael Schumacher conquistando o heptacampeonato de forma contundente. Porém, o alemão teve um final de semana para esquecer em Interlagos, contando com acidentes e quebras em sua Ferrari. Isso tornou Barrichello o grande favorito a corrida brasileira, onde tinha visto a bandeirada uma única vez dez anos antes. Em 2004 tudo levava a crer que Rubinho não apenas completaria a corrida, como também venceria em Interlagos e a pole conquistada no sábado corroborava com essa sensação.

Contudo, a chuva apareceu no domingo e o início da corrida foi confuso, com os pilotos tentando acertar o pneu correto e a melhor tática de acordo com a situação da pista. Isso fez com que Felipe Massa liderasse pela primeira vez uma corrida de F1, mas quando a pista secou e a corrida se assentou, Rubens Barrichello viu a Ferrari cometer um dos poucos erros daquele ano. O brasileiro não entrou nos boxes para colocar os pneus slicks no momento certo e como resultados, Juan Pablo Montoya e Kimi Raikkonen dispararam na frente do piloto da Ferrari. Montoya e Raikkonen, que seriam companheiros de equipe na McLaren em 2005, disputaram a liderança até a bandeirada, com o colombiano vencendo com apenas 1s de vantagem para Kimi. Barrichello teve como consolo a subida ao pódio em Interlagos, sua pista favorita.

Houveram várias despedidas quinze anos atrás, particularmente das equipes Jaguar e Minardi, compradas pela Red Bull e renomeadas a partir de 2005. Com cinco títulos consecutivos, mesmo chegando apenas em sétimo lugar naquele dia, nada parecia que pararia Michael Schumacher, mas 2004 seria o último título do genial alemão. E aquele seria o único pódio de Rubens Barrichello em Interlagos.

domingo, 20 de outubro de 2019

Temos que falar de Rossi

O Grande Prêmio do Japão em Motegi teve o mesmo marasmo que Marc Márquez transformou a MotoGP em 2019. O espanhol da Repsol Honda largou na pole, brincou um pouquinho com o novato Fabio Quartararo nas primeiras voltas para logo depois abrir uma vantagem administrável até a bandeirada. Novidade? Nenhuma. Márquez é o grande dominador da MotoGP nessa década e não enxerga um adversário à sua altura por enquanto.

No começo dessa semana Andrea Doviziozo, atual bi-vice da MotoGP, deu uma polêmica declaração dizendo que Rossi foi mais talentoso do que Márquez quando estava no auge. Uma afirmação muito subjetiva e difícil de se analisar. Rossi é muito mais carismático do que Márquez e tem como vantagem nessa comparação o fato do italiano ter tido a coragem de trocar o conforto da Honda pela incerteza da Yamaha em meados da década passada, garantindo um tricampeonato seguido que deixou a todos de boca aberta. Porém, a forma como Márquez domina uma MotoGP mais equilibrada do que nos tempos de Rossi e com talentos reconhecidos não pode ser ignorado. O espanhol vem conquistando fãs com um pilotagem agressiva e até mesmo revolucionária, onde consegue ângulos impossíveis nas curvas, além de ser o único a dominar a selvagem moto da Honda nesse momento. Nesse domingo, enquanto Márquez dava outro recital em cima dos seus rivais, Rossi teve outra corrida esquecível em 2019. O italiano largou em décimo, caiu quatro posições e já estava brigando pela posição onde largou antes de cair. No momento da queda de Rossi, o italiano era disparado a pior Yamaha do pelotão.

Valentino Rossi é um verdadeiro monumento do esporte mundial. Talentoso, rápido e carismático, Rossi tem vários recordes tangíveis, além de outros não muito tangíveis. O italiano consegue arrastar multidões para os circuitos da MotoGP e é um grande atração da categoria. Porém, com 40 anos de idade, Rossi está ficando cada dia mais para trás em relação aos seus rivais diretos. Mesmo sendo um feito Rossi ainda ser competitivo contra pilotos que tiraram fotos com ele quando criança, enquanto Vale estava no auge, a triste realidade é que o tempo de Valentino Rossi já passou. A revolta de Rossi pelo título perdido em 2015 se justifica cada vez mais pois o italiano sabia que aquele era a sua última oportunidade de conquistar o décimo título de uma carreira gloriosa.

Rossi é tão competitivo que ele mudará de engenheiro-chefe e até está tentando outros estilos de freada. Tudo para tentar voltar às vitórias, mas o tempo é algumas vezes cruel. Quartararo está pedindo passagem na equipe oficial da Yamaha. O jovem francês, que parece ser um novo Stoner, vem garantindo resultados melhores com sua Yamaha satélite do que os pilotos oficiais da montadora. Conta-se que uma troca entre Rossi e Quartararo foi sondada para 2020, mas o italiano não aceitou. Com uma carreira grandiosa dentro da Yamaha e que transcende a própria MotoGP, ninguém dentro da equipe teve coragem de se impor e colocar Rossi na equipe satélite e fazer o lógico movimento de trazer Quartararo para a equipe oficial. Mesmo fazendo todo o possível para voltar aos bons tempos, Valentino Rossi não vem conseguindo obter êxito.

Com dor no coração, já dá para dizer que Rossi poderia muito bem ceder seu lugar na Yamaha oficial e fazer uma última temporada na equipe Petronas em 2020. Seria melhor para todo mundo, inclusive para a MotoGP, que veria se o francês será mesmo o anti-Márquez. Mas quem terá a coragem para dizer isso a uma lenda viva sem trair a nós mesmos? 

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

História: 25 anos do Grande Prêmio da Europa de 1994

Michael Schumacher retornava de sua questionável suspensão de duas corridas em Jerez. O alemão sabia (e na verdade todos sabiam) que sua dura punição foi mais política do que técnica e Schumacher deixava isso claro em suas fortes declarações na entrevista coletiva de quinta-feira, dizendo que a FIA tinha como objetivo tira-lo de algumas corridas para que o final da temporada de 1994 ficasse emocionante de forma artificial. Voltando suas baterias para o seu rival, Schumacher criticou acidamente Damon Hill, dizendo que o inglês não tinha estofo para ser primeiro piloto da Williams e que preferia ter disputado o título com Ayrton Senna. Fora das pistas a Lotus agonizava e desde o início de setembro a tradicional equipe estava sob administração judicial para liquidar suas dívidas. Outra equipe em sérias dificuldades financeiras era a Larrousse, que contratava à troca de muitos ienes o japonês Hideki Noda. Nigel Mansell se apoderava da Williams número dois pela segunda vez nesta temporada, depois de disputar o Grande Prêmio de França. Mas desta vez a volta do velho Leão não despertava tanto entusiasmo. Mansell acabara de completar uma temporada medíocre na Fórmula Indy, sem nenhuma vitória e a léguas do seu épico título de 1993. Enquanto isso o jovem David Coulthard se revelava um piloto de grande futuro, perfeitamente capaz de apoiar e, quando apropriado, pressionar Damon Hill. A Williams claramente indicava que ficaria com Coulthard para 1995, enquanto Mansell procurava outra equipe, seja na F1 ou na Indy.

Schumacher não estava satisfeito em sua primeira sessão de qualificação na sexta-feira, quando teve um suporte de motor quebrado, tendo que se contentar com a terceira posição. Já no sábado Michael encontrou seu Benetton-Ford sem problemas e bem acertado para ficar com a pole position pela quinta vez em 1994. Autor da pole provisória na sexta, Hill ficou com o segundo lugar no dia seguinte, mas apenas 130 milésimos mais lento que Schumacher. Mansell progredia gradualmente ao longo do fim de semana: quinta na sexta-feira, ele subiria no dia seguinte para um satisfatório terceiro lugar. Muito bom desempenho do jovem Frentzen, quarto ao volante de um Sauber-Mercedes finalmente equilibrado. Por outro lado, De Cesaris saiu da pista no sábado e conseguiu apenas um 18º lugar. Jordan-Hart estava muito bem e poderia ganhar bons pontos no domingo com seus dois pilotos no top-10. Como esperado, a Ferrari não se adaptou num circuito travado. Berger estava mais confortável do que Alesi, que no sábado ficou parado no cascalho e depois não pôde pegar o carro do seu companheiro de equipe, sob o pretexto de que suas configurações estavam muito diferentes. Alesi ficou muito irritado com isso. 

Grid:
1) Schumacher (Benetton) - 1:22.762
2) Hill (Williams) - 1:22.892
3) Mansell (Williams) - 1:23.392
4) Frentzen (Sauber) - 1:23.431
5) Barrichello (Jordan) - 1:23.455
6) Berger (Ferrari) - 1:23.677
7) Herbert (Ligier) - 1:24.040
8) Morbidelli (Footwork) - 1:24.079
9) Hakkinen (McLaren) - 1:24.122
10) Irvine (Jordan) - 1:24.157

O dia 16 de outubro de 1994 amanheceu com sol forte em Jerez de la Frontera, na Espanha. O pequeno circuito na Andaluzia substituía o Grande Prêmio da Argentina, adiado para o ano seguinte, mas mantinha sua característica que o fez sair do calendário em 1990: o pouco público. Apenas 10.000 pessoas foram à Jerez ver uma corrida decisiva de F1. No warm-up, Damon Hill foi o mais rápido com ampla vantagem para Schumacher, que testava opções aerodinâmicas. O forte calor prometia castigar carros e pilotos, que testavam opções táticas para uma corrida que tendia ser dura e sem muitas ultrapassagens. Na luz verde, Damon Hill largou melhor e assumiu a ponta da corrida ainda da primeira curva, enquanto Mansell fazia o contrário, perdendo três posições. Katayama e Noda rodaram, mas retornam à corrida, enquanto Christian Fittipaldi teve que ir aos boxes no final da primeira volta para trocar a asa dianteira.

Hill e Schumacher escapavam facilmente do terceiro colocado Frentzen, enquanto Mansell conseguia ultrapassar Berger ainda na segunda volta, subindo para quinto. Quatro voltas mais tarde o inglês ultrapassa Barrichello no hairpin para ser quarto, mas tamanho era o ritmo dos líderes, que na décima volta Frentzen já tomava incríveis 25s para os líderes, que não se desgrudavam. Enquanto atacava Frentzen, Mansell quase bateu no retardatário Noda e perdeu quarta posição para Barrichello. Na 15º volta Schumacher entrou nos pits para a sua primeira parada e ainda retornava confortavelmente na segunda posição. Mansell tenta um ataque em cima de Barrichello e acaba batendo sua asa dianteira na Jordan. O inglês tem que ir aos boxes trocar a peça quebrada e volta à pista em 20º. A má corrida de Mansell faria que o inglês fosse muito criticado depois da prova. Schumacher faz a volta mais rápida da corrida, enquanto seu companheiro de equipe Verstappen rodava ao desviar de De Cesaris na briga pela 13º posição. Jos ficou arrasado ao lado da pista, enquanto Flavio Briatore balançava a cabeça negativamente nos boxes. Na volta 18 Hill faz sua primeira parada, que é 2s mais lenta que a de Schumacher e o resultado era que o alemão tomava a primeira posição num ritmo avassalador, abrindo imediatamente 5s para Hill. Na volta 33 Schumacher completou sua segunda parada e retornou à pista apenas 4s atrás de Hill. A Williams identificou que um sensor havia falhado e nem todo o combustível planejado havia entrado no tanque do carro de Hill, o que fez o inglês antecipar sua segunda e última parada e ficou 17s atrás de Schumacher. A Williams teve que completar o tanque de Hill para que ele completasse a corrida e com o carro pesado, Damon perdia cada vez mais terreno para Schumacher.

Na volta 52 Schumacher faz sua terceira e última parada. À essa altura o piloto da Benetton tinha 33s de vantagem para o inglês, dando tempo ao alemão voltar a pista tranquilamente em primeiro. Com Schumacher aumentando sua vantagem sobre Hill, a corrida fica morna em seu final. Hakkinen parou duas vezes e assumia o terceiro lugar, mas era pressionado pela dupla da Jordan, mas logo apenas Irvine perseguia Mika, com Barrichello tendo que retornar aos pits para trocar um pneu furado. Em sua volta à F1, Schumacher enfiava 25s goela abaixo de Hill, enquanto Mika Hakkinen subia ao pódio pela quarta vez consecutiva. Irvine conquistou um excelente quarto lugar, com Berger em e a sexta posição ficando com Frentzen, que perdeu rendimento após seu primeiro stint promissor. Com a vitória em Jerez Schumacher abria cinco pontos de vantagem sobre Hill no campeonato, mas ainda haviam duas corridas para o fim. E as polêmicas ainda não haviam terminado...

Chegada:
1) Schumacher
2) Hill
3) Hakkinen
4) Irvine
5) Berger
6) Frentzen

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Figura(JAP): Mercedes

Quando a Mercedes comprou a vitoriosa Brawn no ano de 2010 e apostou na volta de Michael Schumacher, a montadora esperava rapidamente estar brigando por vitórias e títulos, mas a realidade foi bem diferente. Mesmo comandada por Ross Brawn, a equipe Mercedes ainda carecia de uma maior estrutura e Michael Schumacher sentiu os anos fora da F1, mas principalmente sentiu falta dos testes que tanto lhe ajudaram nos tempos de Ferrari. Apesar de não ter tido sucesso como dirigente nos tempos da Jaguar, Niki Lauda foi contratado e uma de suas primeiras ações foi contratar Toto Wolff, jovem dirigente que investia na Williams e graças a essa parceria, viu o tradicional time conquistar sua última vitória na F1. Mesmo perdendo Brawn e Norbert Haug, Lauda continuava prospectando pessoas para montar um super time na Mercedes. Trouxe Aldo Costa, após o italiano sair da Ferrari pelas portas dos fundos e depois contratou Geoff Willis. A parte técnica e administrativa parecia promissora, mas Lauda sabia que as corridas são decididas na pista. O austríaco investiu em Lewis Hamilton, um piloto extremamente talentoso, mas não muito à vontade na sisuda McLaren. Ainda assim a McLaren era muito forte em 2012 e Hamilton sair da equipe que lhe deu a chance de estrear na F1 não parecia um passo lógico, mas Lauda convenceu Hamilton a sair de sua zona de conforto e o inglês entrou no projeto Mercedes. Em anos dominados pela Red Bull, a Mercedes esperou uma grande mudança no regulamento para mostrar todo o seu potencial. Já tomando as rédeas da equipe, Wolff colocou as pessoas certas nos lugares certos e em 2014 com o início da era híbrida, iniciou-se uma das grandes dominações da história da F1. Se no início a Mercedes nadava de braçada frente aos rivais, Wolff teve que segurar Hamilton e Nico Rosberg, que de grandes amigos se tornaram ferrenhos rivais. Mesmo com seus pilotos brigando entre si, a Mercedes não perdeu um único título e quando Nico se aposentou repentinamente no final de 2016, Wolff viu o crescimento da Ferrari e Sebastian Vettel. Apesar de não ter a tradição gigantesca da Ferrari, a Mercedes tinha a experiência de títulos dos últimos anos e a equipe parecia crescer ainda mais nas mãos de Wolff e Lauda. Hamilton derrotou Vettel por erros da Ferrari, que iam sendo capitalizadas pela Mercedes. Esse ano a Mercedes sofreu o abalo da morte de Lauda, mas o ritmo da equipe não diminuiu. Um início de campeonato acachapante fez a Mercedes ter alguns luxos, como diminuir o ritmo das atualizações e ver o crescimento da Ferrari na segunda metade do campeonato, mas nada que diminuísse o número de triunfos dos alemães. Em Suzuka, mesmo com a Ferrari dominando a primeira fila, a Mercedes soube usar seu ritmo de corrida superior para conseguir a vitória com Valtteri Bottas, um piloto regular e que garante importantes pontos no Mundial de Construtores, garantido de forma antecipada em Suzuka. Foi o sexto título consecutivo, igualando o recorde da Ferrari no começo do milênio. Quem foi melhor? A Ferrari de Schumacher, Todt, Brawn e Byrne ou a Mercedes de Lauda, Wolff e Hamilton? Talvez o domínio da Ferrari tenha sido mais enfático, mas a Mercedes tem hoje uma equipe mais forte, onde todos os gaps são preenchidos numa equipe afinada com talentos dentro e fora da pista. Quando Lauda começou a formar a Mercedes que conhecemos hoje no começo dessa década, talvez o austero austríaco não imaginava que estava construindo um super time que já entrou para a história da F1. Pena que Niki não viu o que seu trabalho se transformou. 

Figurão(JAP): Charles Leclerc

O jovem piloto da Ferrari já ocupou algumas vezes a parte de cima dessa coluna, mas hoje Leclerc entrou na parte de baixo pelo o que o monegasco fez nas duas primeiras voltas da corrida em Suzuka. Após a péssima largada no Grande Prêmio do Japão, Leclerc caiu de segundo para terceiro lugar, mas Max Verstappen mergulhou por fora para lhe tomar a posição antes da curva dois. Por dentro, Leclerc aparentemente não viu o holandês e após sair de frente, acertou bem no meio da Red Bull de Verstappen, que saiu da pista com grandes avarias na lateral do carro. Com a asa dianteira avariada, Leclerc ficou na pista duas voltas de forma perigosa, pois a peça solta iria cair a qualquer momento, como realmente se soltou, quase atingindo em cheio o carro de Hamilton e espalhando peças por toda a pista. Uma das vítimas acabou sendo Lando Norris, já que parte da asa dianteira de Leclerc entrou nos dutos de resfriamento dos freios dianteiros da McLaren e, entupido, os freios de Norris superaqueceram. Em poucas curvas Leclerc destruiu as corridas de Verstappen, que abandonou poucas voltas depois com graves danos em seu carro, e Norris, que teve que antecipar sua parada para limpar os dutos de freios da McLaren. Os quinze segundos de punição talvez tenha sido pouco demais pelo estrago que Charles Leclerc fez no início do Grande Prêmio do Japão.

domingo, 13 de outubro de 2019

Como um tufão

O tufão Hagibis mexeu com todo o final de semana do Grande Prêmio do Japão, com a classificação ocorrendo domingo de manhã, horário nipônico, e a corrida menos de três horas depois. Se a Ferrari vai confirmando seu ótimo desempenho em uma volta rápida, a Mercedes ainda se mantém com o melhor ritmo de corrida e os tedescos venceram novamente nesse domingo, desta vez com Valtteri Bottas, ajudado por uma estratégia no mínimo peculiar da Mercedes, que tirou de Hamilton não apenas a chance de vencer, mas ainda ficou atrás de Vettel. O inglês demonstrou sua irritação durante e depois da corrida, mas o hexacampeonato da Mercedes garantido em Suzuka deixou tudo isso para trás. Desde 2014 dominando a F1, esse período glorioso dos alemães já entrou para a história da F1 de como a Mercedes passou como um tufão sobre Ferrari e Red Bull.

Suzuka pode ser uma pista espetacular e sendo a preferida de vários pilotos, mas o tradicional circuito japonês muitas vezes não trás junto a emoção de uma boa corrida para os fãs da F1. Pista de curvas de alta e com poucas retas entre elas, ultrapassar em Suzuka é uma tarefa difícil em tempos de carros muito dependentes da aerodinâmica e assim foi mais uma vez. A classificação ocorrida ainda na noite de sábado no Brasil viu a Ferrari dominar a primeira fila de forma até mesmo surpreendente, já que a Mercedes chegou a enfiar 1s nas rivais nos treinos livres. Vettel desta vez superou Leclerc com direito a recorde da pista japonesa, mas a corrida seria decidida na largada e mais uma vez a Ferrari entregou a rapadura. Primeiro Vettel vacilou na largada e só não foi punido por queima por os comissários estarem bonzinhos demais e, afinal, punir a Ferrari repetidamente não faz muito bem ao delicado equilíbrio político da F1. Mesmo assim o alemão foi ultrapassado facilmente por Bottas, que saiu de terceiro para primeiro ainda antes da freada da primeira curva. Um pouco mais atrás Leclerc também não saiu bem e era atacado por Max Verstappen, numa estupenda largada do piloto da Red Bull. O monegasco alargou sua curva de forma inexplicável e bateu no holandês, que rodou e caiu para último com o carro danificado. Hamilton teve o azar de ficar atrás de Leclerc, que teve a asa dianteira danificada e por duas voltas o piloto da Ferrari correu assim, chegando a destruir o retrovisor direito de Hamilton, com a asa da Ferrari se despedaçando. O toque em Verstappen somado as duas voltas com a asa quebrada fez Leclerc ser punido duplamente depois da corrida. Enquanto isso Bottas disparava na frente, seguido por Vettel e Hamilton. A partir desse momento, a corrida se tornou um tabuleiro de estratégias. Vettel foi o primeiro a parar e como colocou pneus macios, dava a deixa que pararia mais uma vez. Bottas parou logo em seguida e mesmo colocando pneus médios, a Mercedes já entregava que o finlandês pararia outra vez. E Hamilton não.

O inglês ficou na pista mais algumas voltas antes de fazer sua parada e com pneus médios, teria que fazer um longo stint até a bandeirada. Ou não? Quando Bottas e Vettel fizeram suas paradas como o esperado, o nórdico não aumentou seu ritmo, pois foi avisado que Hamilton pararia mais uma vez, para surpresa do próprio Bottas. Com 10s de vantagem e pneus aparentemente em ordem, era claro que Hamilton não necessitava de uma segunda parada com poucas voltas para o fim, mas a Mercedes o chamou mesmo assim. Para desespero de Lewis, ele retornou atrás de Vettel e mesmo quebrando o recorde oficial de Suzuka que durava desde 2005, Hamilton não foi capaz de ultrapassar Vettel na complicada pista de Suzuka. Bottas não se importou muito e numa corrida em que tomou as rédeas desde a largada, voltou a vencer depois de seis meses, praticamente garantindo o vice-campeonato desse ano. Mesmo a Mercedes em festa pelo esperado título, Hamilton não parecia muito feliz, mas a sua segunda parada hoje foi mais política do que tática. Em tempos de mudanças constantes de técnicos de futebol no Brasil, ouvi uma frase muito interessante que teria sido dita por Carlo Ancelotti, famoso técnico italiano: Mais do que saber de tática, um técnico hoje é um gestor de pessoas. Pois Toto Wolff é, muito provavelmente, um dos grandes gestores do domínio da Mercedes nos últimos anos. O austríaco foi trazido da Williams em 2012 para substituir Norbert Haug na Mercedes e ao lado do falecido Niki Lauda, trouxe as pessoas certas para transformar a equipe na potência atual. Ao convencer Lewis Hamilton trocar a zona de conforto que tinha na McLaren para o desafio de fazer a Mercedes superar as então dominantes Ferrari e Red Bull, Wolff garantia a reserva de talento. Olhando para o carro, trouxe pessoas do quilate de Aldo Costa e James Alisson, mesmo preterindo Ross Brawn. Estava garantida a reserva técnica. Quando viu a guerra civil que se tornou a Mercedes na luta aberta entre Hamilton e Nico Rosberg, Wolff percebeu que ter dois galos no mesmo galinheiro poderia trazer graves problemas dentro da equipe.

Quando Nico se aposentou de forma abrupta no final de 2016, Wolff aproveitou para deixar Hamilton ainda mais confortável dentro da equipe. Sendo agente de vários pilotos, o austríaco trouxe para o time Valtteri Bottas, um piloto capaz de vencer corridas, mas não encher o saco de Hamilton, que mesmo cada vez mais maduro, demonstra funcionar melhor quando tem a equipe em torno de si. E Bottas vai ajudando a Mercedes a conseguir outro título importante, mesmo que para o público em geral tenha menor importância: o Mundial de Construtores. Com o hexacampeonato garantido hoje, a Mercedes iguala a Ferrari nos primeiros anos do milênio. Fica a pergunta: quem é melhor? A Ferrari de Schumacher, Todt, Brawn e Byrne ou a Mercedes de Hamilton, Wolff e Lauda? Apesar do domínio da Ferrari ter sido mais enfático, a Mercedes hoje tem uma base mais forte e parece cobrir todos os gaps que podem aparecer dentro e fora das pistas. Vendo o que acontece dentro da Ferrari na batalha entre a estrela consolidada Vettel e o novo leão Leclerc, Wolff não hesitou em contrariar a lógica em manter Bottas ao lado de Hamilton em 2020, mesmo que isso signifique perder o talentoso Esteban Ocon para a Renault. A Ferrari está mais forte após as férias de verão? A Mercedes não deixou de derrotar os italianos capitalizando todos os erros da Ferrari e/ou seus pilotos, sem contar que os alemães já estão concentrados no carro de 2020 e até mesmo no modelo de 2021, que terá mais mudanças por causa do novo regulamento. Para manter a harmonia da equipe, Wolff preferiu perder a dobradinha hoje, mas dar a vitória para Bottas. Hamilton vai reclamar? Vai e com razão, mas o inglês já está com o hexa no papo e uma hora dessa estará comemorando bastante com muito Chandon o incrível sexto título da Mercedes.

Vettel teve um final de semana muito produtivo ao conseguir uma excelente pole e saber segurar um Hamilton muito mais rápido do que ele nas voltas finais em Suzuka. Noves fora o erro na largada, o alemão sai de Suzuka fortalecido em outro final de semana forte. Correndo em casa a Honda esperava bem mais de sua equipe principal, mas o toque de Leclerc em Verstappen destruiu qualquer maior pretensão dos japoneses, mas a Red Bull não saiu do Japão de mãos abanando. Albon vem demonstrando ter sido uma escolha acertada, mesmo que desesperada, de Marko. Na classificação o tailandês marcou exatamente o mesmo tempo de Verstappen e na corrida fez outra boa prova, superando a dupla da McLaren de formas diferentes. Norris na pista, numa ultrapassagem agressiva na chicane Causio. E Sainz numa estratégia bem arquitetada pelo time e Albon consegue seu melhor resultado na F1 com o quarto lugar. Sainz foi outro que se destacou e ficou como o melhor do resto, chegando relativamente próximo de Albon e segurando Leclerc, que acabaria punido e perderia a sexta posição para Daniel Ricciardo, que efetuou uma grande corrida de recuperação após ter ficado no Q1 de domingo pela manhã. Conhecidos pela organização e precisão, hoje os japoneses cometeram um erro daqueles na bandeirada. Num erro ainda investigado pela FIA, a bandeirada foi dada uma volta antes do previsto numa falha do sistema. Para quem não sabe, a bandeirada mostrada é apenas simbólica, o que vale é a bandeirada eletrônica, que apareceu uma passagem antes, tanto que ninguém percebeu a presepada imediatamente, mas houve mudanças no meio do pelotão. Na entrada do que seria a última volta, Pérez saiu da pista enquanto brigava com Gasly pela oitava posição. O mexicano ficou espetado no muro de pneus, mas como a corrida tinha 'acabado' antes do incidente, Pérez acabou com os pontos do nono lugar, com Hulkenberg logo atrás. Quem acabou prejudicado com o erro foi justamente o companheiro de equipe de Pérez, Lance Stroll. Desde que saiu da Red Bull Gasly voltou a andar bem, mostrando que realmente existe a história do piloto de equipe grande e pequena. Enquanto isso Kvyat vai ficando na F1 unicamente por falta de opção da Red Bull em quem colocar no lugar do russo. Haas e Alfa Romeo fizeram corridas medíocres, enquanto a Williams fez um ótimo trabalho ao consertar o carro semi-destruído de Kubica após o polonês sair da pista e bater na classificação.

Num pódio camuflado, Bottas comemorou sua quinta vitória na F1, enquanto mais embaixo a Mercedes comemorava seu sexto título. Assim como ocorreu quando Schumacher venceu o campeonato de 2004 com uma Ferrari que parecia imbatível, a pergunta que fica agora é: quem pode segurar a Mercedes? A Ferrari demonstra força nessa metade final. A Honda investirá muito para voltar a vencer títulos na F1 com a Red Bull, enquanto a Renault, agora concentrada unicamente na sua própria equipe, ainda tentará dar o próximo passo rumo ao pelotão da frente. Enquanto isso, Toto Wolff vai gerindo toda a engrenagem de uma equipe que já entrou para a história, não sem antes dedicar esse título ao inesquecível Niki Lauda.

sábado, 12 de outubro de 2019

Que pena...

Na tarde desse sábado foi anunciado a morte do italiano Nanni Galli, piloto de F1 e Endurance no início dos anos 1970. Nascido em Bologna em 2 de outubro de 1940, Galli começou sua carreira nos karts e quando se mudou para os carros, se tornou um piloto muito forte nas corridas de Endurance, chegando em segundo lugar na Targa Florio em 1968 e finalizando em quarto nas 24 Horas de Le Mans do mesmo ano, com uma Alfa Romeo. Correndo paralelamente na F2 pelo Tecno, Galli fez sua estreia na F1 em 1970 na equipe McLaren, em Monza. Em 1971 o italiano assinou com a March, fazendo a temporada completa, mas sem grande destaque. Após correr pela Tecno na F2, Galli faria algumas corridas pela equipe italiana em 1972, ano em que fez uma prova pela Ferrari. Em 1973 Galli fez algumas corridas pela equipe de Frank Williams, onde conseguiu seu melhor resultado na F1, um nono lugar no Grande Prêmio do Brasil. Após abandonar as pistas, Galli se dedicou aos negócios de sua família na região de Prato, se tornando um grande empresário. Ele nos deixou hoje aos 79 anos de idade.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

História: 40 anos do Grande Prêmio EUA-Leste de 1979

Após uma temporada muito competitiva, em que o dono do melhor carro mudou de equipe algumas vezes durante o ano, 1979 terminava com praticamente tudo definido em Watkins Glen, com a Ferrari sorrindo com uma temporada perfeita, com os dois títulos em jogo conquistados e Gilles Villeneuve já definido como vice-campeão, atrás do campeão Jody Scheckter. Com apenas uma semana separando a corrida canadense e a prova em Glen, havia uma clima mais leve entre equipes e pilotos, mas também de algumas definições. Na McLaren Teddy Mayer decidiu substituir Patrick Tambay por Alain Prost, campeão europeu de F3, em 1980, mas Tambay ainda faria uma última corrida pela equipe inglesa. Mesmo sofrendo com dificuldades financeiras e vindo de uma temporada horrorosa, a Copersucar dos irmãos Fittipaldi negociava a compra da Wolf, equipe que começou muito bem sua trajetória na F1, mas em 1979 teve de longe seu pior ano e Walter Wolf colocava sua equipe à venda. Como toda corrida derradeira da temporada, havia também despedidas e a mais sentida era de Jacky Ickx. Reconhecidamente talentoso, o genioso belga não cumpriu o que dele esperava e ele anunciou que estava abandonando definitivamente a F1 para se dedicar as provas de Endurance.

O final de semana na região de Nova Iorque foi marcada pela chuva quarenta anos atrás. Uma das histórias mais conhecidas de Gilles Villeneuve ocorreu na sexta-feira, quando a pista estava completamente alagada e ele colocou vários segundos sobre Scheckter e os demais, deixando todos no autódromo boquiabertos. No sábado a classificação ocorreu com pista seca e Alan Jones conquistou sua terceira pole seguida, colocando mais de um segundo em cima da Brabham-Ford de Nelson Piquet, demonstrando o potencial do novo conjunto que apareceu com força no Canadá. Villeneuve lutou com problemas de equilíbrio da Ferrari e ficou em terceiro à frente de Laffite, muito rápido em Glen, mas sobrecarregado com problemas mecânicos. A terceira fila era ocupada pela Williams de Regazzoni e a Lotus de Reutemann, num bom desempenho do argentino num ano difícil da Lotus. Como em Montreal, a Renault estava na quarta fila, com Arnoux na frente de Jabouille. Em sua segunda aparição na F1, Zunino conseguiu um bom nono lugar, à frente das Tyrrell de Pironi e Jarier. Muito gripado Tambay era apenas 22º e em sua última corrida de F1, Ickx largaria em último com sua Ligier, tendo ao seu lado o contemporâneo Emerson Fittipaldi.

Grid:
1) Jones (Williams) - 1:35.615
2) Piquet (Brabham) - 1:36.914
3) Villeneuve (Ferrari) - 1:36.948
4) Laffite (Ligier) - 1:37.066
5) Regazzoni (Williams) - 1:37.128
6) Reutemann (Lotus) - 1:37.872
7) Arnoux (Renault) - 1:38.195
8) Jabouille (Renault) - 1:38.218
9) Zunino (Brabham) - 1:38.509
10) Pironi (Tyrrell) - 1:38.823

O dia 7 de outubro de 1979 amanheceu chuvoso em Watkins Glen, aumentando a expectativa de pilotos e equipes para a corrida que aconteceria no período da tarde. A chuva não era tão intensa como na sexta-feira e como fazer pit-stops não era a coisa mais rápida do mundo quarenta anos atrás, alguns pilotos arriscaram táticas diferentes. Andretti e Piquet escolheram pneus slicks, enquanto Arnoux optou pelos intermediários. No momento da largada, a pista estava claramente molhada, mas não chovia no momento da luz verde. Jones larga bem, ao contrário de Piquet, sem aderência com os seus pneus slicks. Porém Jones foi surpreendido por Villeneuve, que largou na segunda fila e na primeira freada habilmente tomou a ponta de Jones, enquanto colocava duas rodas na grama. Mas Jones estava logo atrás dele, seguido por Laffite, Reutemann e Regazzoni. Scheckter saiu da pista na primeira curva e caiu para último.

Com a pista bem molhada, a visibilidade não era boa, mas Reutemann ainda conseguiu ultrapassar Laffite para assumir o terceiro lugar. Rapidamente Villeneuve e Jones abrem sobre os demais, mas o canadense tinha uma boa vantagem de 5s sobre o piloto da Williams. Ainda na terceira volta a gloriosa carreira de Ickx termina quando ele bate na última curva do circuito e sai rapidamente do seu Ligier. Numa espetacular corrida de recuperação, Scheckter ultrapassava quem via pela frente e na quarta volta ele já era sétimo, se aproveitando da rodada de Laffite, que fez a Ligier arrumar as malas de volta para casa ainda no início da prova. Na sétima volta um incidente bizarro acabou com a corrida de Reutemann, quando o extintor do seu carro disparou inesperadamente, desconcentrando o argentino, que saiu da pista e bateu. À essa altura Scheckter já alcançava as duas Renaults e após ultrapassar Arnoux e Jabouille, era o quarto colocado, 6s atrás do terceiro colocado Regazzoni, mas o sul-africano tira toda a diferença e na 13º volta já subia para um incrível terceiro lugar! Como a chuva tinha parado desde a largada, a pista começou a secar. Na volta 20 Regazzoni e Scheckter foram aos boxes colocar pneus slicks, enquanto Pironi e Rosberg se tocavam e o finlandês teve que abandonar.

A tática de Scheckter e Regazzoni não dá certo no início e Jody toma uma volta de Villeneuve, que estava disparado na ponta. Na volta 25 o terceiro colocado Jabouille abandona com problemas no distribuidor de seu Renault. Gilles perde tempo ultrapassando retardatários e Jones fica a ameaçadores 2s do canadense. Regazzoni batia no retardatário Piquet e abandonou na metade da prova. Na volta 32 Jones emparelha com Villeneuve na entrada dos Esses, com o canadense deixando apenas o espaço da Williams. Era tudo o que Jones precisava e numa belíssima manobra por fora, o australiano assumia a ponta da corrida. Duas voltas depois Villeneuve foi aos boxes colocar pneus slicks. Na volta 37 é a vez de Jones fazer o seu pit-stop, mas a troca da Williams foi uma verdadeira calamidade, com os mecânicos tendo dificuldades de trocar o pneu traseiro direito. Quando Villeneuve apontou na reta dos boxes, o mecânico chefe sinalizou para Jones voltar a pista, mas não demorou um quilometro antes de Jones sentir que a roda defeituosa não estava corretamente apertada e o australiano encostou seu Williams na grama. Com isso Villeneuve liderava com mais de um minuto de vantagem sobre Scheckter, enquanto Arnoux, que acabara de colocar pneus slicks, atacava a dupla da Tyrrell, que permanecia na pista seca com pneus de chuva.

Faltando dez voltas para o fim, o pneu traseiro esquerdo de Scheckter explodiu e o sul-africano encostou sua Ferrari na grama. Era o primeiro abandono de Scheckter desde a primeira etapa na Argentina, demonstrando o tamanho da regularidade de Jody em 1979. Gilles Villeneuve obteve sua terceira vitória em 1979 e a quarta de sua carreira na F1. Arnoux terminou em segundo depois de ter feito uma corrida soberba. Em sua última corrida pela Tyrrell, Pironi subiu ao pódio com o terceiro lugar. O jovem Elio de Angelis concluiu sua temporada de estreia na F1 com um excepcional quarto lugar com sua modesta Shadow. Negociando com a Lotus, essa exibição na chuva do italiano praticamente convenceu Colin Chapman a contrata-lo. Stuck terminou em quinto sem trocar de pneu e salvou a temporada da ATS com esses dois pontos. Watson termina em sexto e marcou o último ponto daquela corrida. Nelson Piquet marcou sua primeira volta mais rápida na F1 já no finalzinho da corrida, mas o brasileiro sofreria uma quebra no semi-eixo e não completaria a prova. Emerson Fittipaldi finalizou a corrida em sétimo e último lugar, com cinco voltas de desvantagem com o seu carro completamente sem freios. Mesmo Jody Scheckter tendo merecido o título em 1979, outros pilotos mereciam destaque. Alan Jones era o piloto com o maior número de vitórias na temporada e mostrava todo o potencial da Williams para 1980. Mesmo com o vice-campeonato, essa vitória em Watkins Glen apenas confirmava o que muitos diziam na época: Gilles Villeneuve tinha sido o melhor piloto de 1979. O canadense animava cada uma das corridas e seu duelo com René Arnoux em Dijon, sua tentativa de voltar aos boxes com três rodas em Zandvoort, além de sua exibição em Long Beach deixaram os fãs da F1 apaixonados pelo canadense. Scheckter poderia ser o campeão, mas Gilles Villeneuve era o piloto mais querido da F1 e também considerado o melhor.

Chegada:
1) Villeneuve
2) Arnoux
3) Pironi
4) De Angelis
5) Stuck
6) Watson

domingo, 6 de outubro de 2019

Qual seu tamanho na história?

O sexto título da MotoGP de Marc Márquez era apenas uma questão de formalidade e aconteceu nessa madrugada na insossa pista de Chang, na escaldante Tailândia. Foi da forma como o espanhol mais gosta, numa vitória com direito a ultrapassagem na última volta sobre Fabio Quartararo. Contando todas as categorias, são oito títulos na conta do jovem de apenas 26 anos de idade, com incríveis quatro corridas de antecedência numa categoria top e reconhecidamente competitiva como a MotoGP. Que Marc Márquez já está na história do motociclismo, não há nenhuma contestação. Mas qual o tamanho do espanhol de Cervera no esporte a motor?

As comparações possíveis de Márquez são com verdadeiras lendas do esporte de duas rodas. Giacomo Agostini venceu quinze títulos em tempos bem mais perigosos, mas também menos competitivos. O interminável Valentino Rossi tem apenas um título a mais do que Márquez e na corrida de hoje demonstrou que somente um milagre fará o italiano conquistar 'la décima'. O auge do italiano foi parecido com o de Márquez, com direito a troca de montadoras (Honda para a Yamaha) no meio do caminho. Rossi se manteve competitivo por quatorze anos, quase conquistando o título no polêmico ano de 2015, perdido por Lorenzo. Quando conquistou seu sexto título da MotoGP em 2008, Rossi tinha 29 anos de idade e vários pilotos com enorme potencial para destrona-lo, o que acabou acontecendo nos anos seguintes com Lorenzo e Stoner. Já Márquez é três anos mais jovem e não há muitos pilotos capazes de derrota-lo em curto prazo.

O surpreendente Quartararo se mostra muito talentoso e que melhora corrida após corrida, mas na prova de hoje Márquez deu uma nova lição no jovem francês com uma ultrapassagem antológica por fora. Viñales, trazido pela Yamaha para ser o anti-Márquez, até agora mostrou muita velocidade, mas com pouca cabeça para derrotar alguém do tamanho de Márquez. Doviziozo, a ponto de ser vice-campeão pela terceira vez seguida, sofre com as limitações da Ducati e também suas. Andrea é um piloto cerebral e que já derrotou Márquez várias vezes em disputas mano a mano, mas Doviziozo não tem aquele instinto assassino que Marc mostrou ter ao longo dos anos. Sem contar que o italiano já conta com 33 anos nas costas e uma hora isso vai pesar. A idade que já pesa para Rossi, que sequer acompanha as demais Yamahas do pelotão. Jorge Lorenzo só é contado aqui por seus títulos e sua velocidade comprovada, mas tomar 40s novamente do companheiro de equipe demonstra que os tempos do espanhol na MotoGP já passaram. Apesar de jovens como o citado Quartararo, Alex Rins, Joan Mir e Jack Miller demonstrarem algum potencial, ninguém parece ser capaz de segurar Márquez, que ainda conta a potência de uma Repsol Honda por trás, que projeta suas motos ao estilo inigualável de Marc e que os demais pilotos da Honda não conseguem imitar.

Os números de Marc Márquez tendem a ficarem ainda mais impressionantes. Mesmo ainda sofrendo muitos acidentes, Márquez se mostra uma rocha difícil de ser quebrada tanto física, como mentalmente. Seu estilo de pilotagem também já entrou para os livros de história. O espanhol está fazendo uma temporada 2019 impecável e tirou toda a emoção pela luta do título da MotoGP, mesmo a categoria vivendo um ótimo momento. Porém, Carmelo Ezpeleta sabe que não pode pedir para Márquez maneirar para que seu campeonato seja competitivo até o fim. A lenda viva Marc Márquez simplesmente não deixa!

terça-feira, 1 de outubro de 2019

História: 30 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1989

Menos de uma semana após toda a controvérsia ocorrida em Estoril, a F1 chegou à Andaluzia falando basicamente sobre duas: a batida entre Senna e Mansell, além da batalha pelo título de 1989. Uma reunião de emergência foi convocada pela FISA e foi decidido suspender Mansell por uma corrida. O inglês foi à Espanha para dar uma tensa entrevista coletiva, ameaçando abandonar a F1 por tudo o que ocorria. A sórdida batida entre Senna e Mansell prejudicou sobremaneira o brasileiro, que tinha poucas chances de revalidar seu título. Senna precisava vencer as três corridas restantes. Bastava uma derrota e Prost já seria campeão. Porém, de saída da McLaren, Prost ficou extremamente irritado quando soube que haveria apenas um carro reserva na McLaren e este era de Senna. 'O clima aqui é insuportável!', resmungou Prost. Todos esses acontecimentos praticamente deixou todas as novidades num segundo escalão. John Barnard foi anunciado pela Benetton a partir de 1990 e a Williams correria em Jerez com o modelo FW12C com Patrese, enquanto o novo FW13 ficaria com Boutsen.

As sessões de treinos são realizadas com clima seco, mas os pilotos foram prejudicados por fortes rajadas de vento. Terceiro colocado no Estoril, Stefan Johansson precisou fazer as malas depois da pré-qualificação, com problemas no motor Cosworth do seu Onyx. Senna consegue facilmente a 40ª pole position de sua carreira, um segundo à frente do terceiro colocado Prost. O paulista, no entanto, foi multado em US$20.000,00 por não parar na bandeira vermelha causada por Foitek durante os treinos. Berger estava particularmente animado graças ao excelente equilíbrio de sua Ferrari e ficou em segundo. Como em Portugal, Martini (quarto) surpreendia com seu Minardi graças aos pneus ultra macios fornecidos pela Pirelli. Alliot cria uma ótima sensação com o quinto tempo mais rápido, o melhor desempenho da Lola-Lamborghini. Enquanto Patrese colocava o velho FW12C em sexto, Boutsen sofria com o FW13 e era apenas 21º no grid. 

Grid:
1) Senna (McLaren) - 1:20.291
2) Berger (Ferrari) - 1:20.565
3) Prost (McLaren) - 1:21.368
4) Martini (Minardi) - 1:21.479
5) Alliot (Lola) - 1:21.708
6) Patrese (Williams) - 1:21.777
7) Piquet (Lotus) - 1:21.922
8) Brundle (Brabham) - 1:22.133
9) Alesi (Tyrrell) - 1:22.363
10) Pirro (Benetton) - 1:22.567

O dia primeiro de outubro de 1989 amanheceu com bom tempo em Jerez de la Frontera, mas nem isso animou os espanhóis acompanharem uma corrida decisiva de F1. Desde sempre a pista andaluz sempre teve poucos expectadores e trinta anos atrás não foi diferente. Prost foi o mais rápido no warm-up quando uma chuva forte surpreendeu a todos na hora do almoço, mas quando os carros foram para o grid, o sol já aparecia forte e a pista estava seca. A largada não teve um único problema e os três primeiros mantiveram suas posições, com Patrese pulando de sexto para quarto. Durante a primeira volta Satoru Nakajima rodou no final do pelotão e foi atingido por Capelli. Apesar da muita poeira que se levantou, os dois foram os únicos a abandonar.

Senna não dispara num primeiro momento da corrida, administrando o seu ritmo, mas sem dar muita chance a Berger, que o acompanhava de perto. Prost vinha isolado em terceiro, apenas observando o que seu rival iria fazer naquelas primeiras voltas. A corrida se mostrava morna e o único momento de maior emoção foi quando Alesi atacou Brundle pela oitava posição. Senna aumenta o seu ritmo, mas Berger acompanha o brasileiro, mas logo Prost fica para trás, ficando 6s atrás de Berger. Quando a hora das paradas se aproximou, Senna aumentou ainda mais seu ritmo e finalmente abriu de Berger. Após as paradas, Senna tinha 2.5s de vantagem para Berger, mas Prost estava definitivamente fora de qualquer briga 13s atrás. Alesi fazia uma ótima corrida, após garantir o campeonato da F3000, e já era quarto após a parada de Patrese. Na entrada dos boxes, a dupla da Arrows batem entre si e ambos foram aos boxes, perdendo muito tempo para consertos. Quando Alesi vai trocar seus pneus, a Tyrrell leva 17s para efetuar a troca e o francês cai para sexto, enquanto Emanuelle Pirro, em sua melhor corrida na F1 até então, assumia o quarto lugar. Tentando despachar Berger de vez, Senna marca a volta mais rápida da corrida, mas dá de cara com o retardatário Alliot, que o bloqueia algumas curvas, deixando o brasileiro indignado dentro do cockpit. 

Uma pequena fumaça azul saía da traseira da Ferrari de Berger, mas o ritmo do austríaco ainda era bom. Senna passou a ter problemas de freios e Prost de câmbio. Eram tempos em que os carros de F1 quebravam... Na volta 60 Pirro termina sua bela corrida por causa de um problema pouco usual. O cockpit da Benetton tinha sido projetado para Johnny Herbert, que é bem mais baixo do que Pirro. Mal alocado dentro do carro, Pirro começa a sentir fortes câimbras e acaba fazendo o italiano errar a freada da penúltima curva, acabando por rodar. Numa corrida totalmente sem graça, Senna consegue sua vigésima vitória na F1 na frente de Berger e Prost. Ao chegar nos pits, a Ferrari percebe que todo o óleo do motor de Berger tinha vazado e uma quebra era iminente. Alesi consegue um excelente quarto lugar, alguns décimos à frente de Patrese, que fez uma segunda parada, mas não teve tempo para ultrapassar Alesi nas voltas finais, enquanto Alliot conseguia o primeiro ponto da Lola-Lamborghini. Foi uma corrida chata, mas Senna ainda tentava salvar suas últimas esperanças de título em 1989.

Chegada:
1) Senna
2) Berger
3) Prost
4) Alesi
5) Patrese
6) Alliot