O Grande Prêmio do México desse domingo teve como principal característica a variedade tática entre pilotos e equipes, com graus diferentes de sucesso. Porém, quem não mudou foi o vitorioso no final do dia. Lewis Hamilton arriscou uma tática de parar apenas uma vez nos boxes depois de um pit-stop mais cedo do que o recomendado e com pneus duros bem desgastados, segurou a ponta até a bandeirada, enquanto Vettel e Bottas, tendo parados apenas uma vez, mas com uma tática mais equilibrada, completaram o pódio. Quem saiu perdendo nisso tudo foi o pole Leclerc, que fez duas paradas, mas não teve fôlego para alcançar os líderes.
A corrida de hoje foi bastante tensa e extremamente tática. Não houveram grandes ultrapassagens entre os cinco primeiros, mas as posições do top-5 mudaram ao longo da corrida. A largada não foi das mais calmas e Hamilton se envolveu em dois incidentes distintos. Primeiro o inglês largou melhor do que Vettel e quando estava a ponto de colocar ao lado da Ferrari, Vettel não teve nenhum pudor em jogar Lewis para a grama. Com o tempo perdido, Hamilton acabou atacado por Verstappen e os dois se tocaram na primeira chicane e saíram da pista. Quando tudo assentou, Vettel ainda bateu de leve na traseira de Leclerc e a classificação estava toda modificada, com a dupla da Ferrari ainda na frente, mas com Albon pulando para terceiro, Sainz para quarto, Hamilton apenas em quinto, com Verstappen despencando para oitavo, atrás de Norris e Bottas. Nesse momento nada indicava que Hamilton venceria a corrida, mas um piloto genial como o inglês nunca pode se menosprezar, ainda mais tendo o apoio massivo de uma equipe Mercedes que já entrou para a história. Primeiro Hamilton deixou Sainz para trás e encostou no surpreendente Albon, que acompanhava de perto as duas Ferraris na ponta. Quando o tailandês fez sua parada, juntamente com Leclerc, Hamilton foi aos boxes, porém, os dois jovens pilotos indicavam claramente que parariam outra vez, enquanto Lewis não pararia mais. Foi o que bastou para Hamilton reclamar pelo rádio e teoricamente o inglês estava certo. Era cedo demais para fazer uma parada e levar o carro com um ritmo decente até a bandeirada. Ou não? Hamilton algumas vezes dá a impressão que se subestima. O inglês controlou o desgaste dos seus pneus de forma esplêndida sem perder muito ritmo para os demais adversários. Vettel foi chamado logo depois de Hamilton, mas peitou a equipe e resolveu ficar mais tempo na pista, algo que Bottas seguiu. Vettel e Bottas pensavam na lógica: ou Hamilton pararia mais uma vez ou chegaria ao final da prova praticamente sem pneus. Porém, Hamilton reverteu toda a lógica e conseguiu manter Vettel à distância, numa corrida de futuro hexacampeão.
Sim, pois com Bottas chegando em terceiro, Hamilton não garantiu matematicamente o título de 2019 no México, o que seria mais apropriado pelo apoteótico pódio construído pelos mexicanos, um dos mais legais de todos os tempos. Porém, a matemática para Hamilton conquistar o título não precisa de derivadas ou integrais. Lewis só não sairá de Austin hexacampeão semana que acabar abaixo do oitavo lugar, junto a uma vitória de Bottas com direito a melhor volta. Valtteri tentou a mesma tática de Vettel, mas a força do motor Ferrari tornou a ultrapassagem do finlandês algo difícil demais e Bottas teve que se conformar com a terceira colocação. Como todo grande campeão, Hamilton precisou de sorte e numa corrida tão apertada e decidida na estratégia, Lewis viu dois momentos que lhe foram muito favoráveis envolvendo os dois pilotos da Ferrari. Quando estava prestes a entrar nos pits, Vettel se meteu numa animada briga entre Gasly e Sainz, com o segundo tirando tanto o pé para tomar uma volta de Vettel, que o piloto da Ferrari acabou perdendo bastante tempo. Toda a operação para deixar a briga entre os dois retardatários para trás fez Vettel perder em torno de 3s. Bastava a Ferrari ter visto que o bicho estava pegando entre Sainz e Gasly para trazer Vettel antes dele encontrar a dupla. A Ferrari não o fez e Vettel perdeu um tempo precioso e que faria muita diferença no final da corrida, bastando observar a diferença que o separou para Hamilton no fim. Já o pole Leclerc fez sua segunda parada faltando poucas voltas, mas os mecânicos da Ferrari tiveram dificuldades em apertar a roda traseira direita. Olhando a média de paradas dos demais, o monegasco perdeu 4s na operação, que lhe custou caro no final, pois Leclerc não teve fôlego sequer para se aproximar de Bottas no fim. Ou seja, Hamilton fez sua parte na pista com um ritmo surpreendente na pista, mas a sorte lhe foi favorável para conquistar a corrida de hoje. A sorte dos campeões.
Após perder a pole por causa de suas falas na entrevista coletiva de ontem, onde ingenuamente afirmou que não tirou o pé na última curva, onde Bottas estava atravessado após bater, Verstappen novamente se envolveu em um incidente com pilotos da Mercedes. Primeiro ele tocou-se com Hamilton num acidente sem maiores consequências, mas no afã de se recuperar logo, efetuou uma audaciosa ultrapassagem em cima de Bottas no parte do estádio. Lenta e estreita, ninguém espera alguém se jogar por dentro nesse setor, portanto o toque que Bottas deu em Verstappen foi involuntário, mas o suficiente para furar o pneu do holandês, que caiu para último. Assim como Hamilton o holandês surpreendeu com seus pneus, pois sem fazer mais nenhuma parada, escalou o pelotão e chegou em sexto. Ainda falta a Max Verstappen mais malícia dentro e fora da pista para se livrar de tantos problemas em que se mete vez por outra, lhe debitando pontos importante no campeonato. Albon vislumbrou um pódio em alguns momentos, mas ao escolher a mesma estratégia de Leclerc, o tailandês não teve mais chance de brigar pelo pódio. Contudo, enquanto esteve presente na briga entre Vettel e Hamilton, Albon mostrou personalidade e vai cavando cada vez mais sua vaga na Red Bull em 2020.
A boa largada das duas McLarens foi o melhor momento da equipe hoje, que se mostrou nada competitiva em ritmo de corrida e Lando Norris acabou prejudicado por um erro da equipe, que o soltou com uma roda frouxa, destruindo a corrida do inglês. Pérez levantou a torcida com suas ultrapassagens, segurou como pôde Ricciardo melhor 'calçado' no final e garantiu o título de melhor do resto na frente de sua feliz torcida. Ricciardo levou a Renault até a volta 52 com os pneus duros, chegando a ocupar a sexta posição. O australiano foi para cima de Pérez, chegou a sair da pista numa tentativa banzai de ultrapassagem, mas teve que se conformar com a oitava posição. Hulkenberg vinha em nono, mas na última curva foi atropelado por um destrambelhado Kvyat e o russo pode ser punido a qualquer momento, o que ajudaria bastante Gasly e o próprio Hulkenberg, que cruzou a bandeirada sem a asa traseira. Alfa Romeo fez uma corrida fantasma, enquanto a Haas, prestes a correr em casa na semana que vem, já está andando no ritmo da Williams, mostrando a queda acentuada dos americanos.
Não foi das corridas mais emocionantes, mas a variedade tática entre os pilotos trouxe um tempero todo especial à corrida, com muita tensão para saber quem daria o pulo do gato. Apesar da variedade, os vencedores foram praticamente os mesmos: Hamilton e Mercedes. Com uma pilotagem sensacional, sem precisar ser espetacular (quando é necessário, ele o é), Hamilton garantiu mais uma vitória rumo ao esperado hexa.
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