segunda-feira, 7 de outubro de 2019

História: 40 anos do Grande Prêmio EUA-Leste de 1979

Após uma temporada muito competitiva, em que o dono do melhor carro mudou de equipe algumas vezes durante o ano, 1979 terminava com praticamente tudo definido em Watkins Glen, com a Ferrari sorrindo com uma temporada perfeita, com os dois títulos em jogo conquistados e Gilles Villeneuve já definido como vice-campeão, atrás do campeão Jody Scheckter. Com apenas uma semana separando a corrida canadense e a prova em Glen, havia uma clima mais leve entre equipes e pilotos, mas também de algumas definições. Na McLaren Teddy Mayer decidiu substituir Patrick Tambay por Alain Prost, campeão europeu de F3, em 1980, mas Tambay ainda faria uma última corrida pela equipe inglesa. Mesmo sofrendo com dificuldades financeiras e vindo de uma temporada horrorosa, a Copersucar dos irmãos Fittipaldi negociava a compra da Wolf, equipe que começou muito bem sua trajetória na F1, mas em 1979 teve de longe seu pior ano e Walter Wolf colocava sua equipe à venda. Como toda corrida derradeira da temporada, havia também despedidas e a mais sentida era de Jacky Ickx. Reconhecidamente talentoso, o genioso belga não cumpriu o que dele esperava e ele anunciou que estava abandonando definitivamente a F1 para se dedicar as provas de Endurance.

O final de semana na região de Nova Iorque foi marcada pela chuva quarenta anos atrás. Uma das histórias mais conhecidas de Gilles Villeneuve ocorreu na sexta-feira, quando a pista estava completamente alagada e ele colocou vários segundos sobre Scheckter e os demais, deixando todos no autódromo boquiabertos. No sábado a classificação ocorreu com pista seca e Alan Jones conquistou sua terceira pole seguida, colocando mais de um segundo em cima da Brabham-Ford de Nelson Piquet, demonstrando o potencial do novo conjunto que apareceu com força no Canadá. Villeneuve lutou com problemas de equilíbrio da Ferrari e ficou em terceiro à frente de Laffite, muito rápido em Glen, mas sobrecarregado com problemas mecânicos. A terceira fila era ocupada pela Williams de Regazzoni e a Lotus de Reutemann, num bom desempenho do argentino num ano difícil da Lotus. Como em Montreal, a Renault estava na quarta fila, com Arnoux na frente de Jabouille. Em sua segunda aparição na F1, Zunino conseguiu um bom nono lugar, à frente das Tyrrell de Pironi e Jarier. Muito gripado Tambay era apenas 22º e em sua última corrida de F1, Ickx largaria em último com sua Ligier, tendo ao seu lado o contemporâneo Emerson Fittipaldi.

Grid:
1) Jones (Williams) - 1:35.615
2) Piquet (Brabham) - 1:36.914
3) Villeneuve (Ferrari) - 1:36.948
4) Laffite (Ligier) - 1:37.066
5) Regazzoni (Williams) - 1:37.128
6) Reutemann (Lotus) - 1:37.872
7) Arnoux (Renault) - 1:38.195
8) Jabouille (Renault) - 1:38.218
9) Zunino (Brabham) - 1:38.509
10) Pironi (Tyrrell) - 1:38.823

O dia 7 de outubro de 1979 amanheceu chuvoso em Watkins Glen, aumentando a expectativa de pilotos e equipes para a corrida que aconteceria no período da tarde. A chuva não era tão intensa como na sexta-feira e como fazer pit-stops não era a coisa mais rápida do mundo quarenta anos atrás, alguns pilotos arriscaram táticas diferentes. Andretti e Piquet escolheram pneus slicks, enquanto Arnoux optou pelos intermediários. No momento da largada, a pista estava claramente molhada, mas não chovia no momento da luz verde. Jones larga bem, ao contrário de Piquet, sem aderência com os seus pneus slicks. Porém Jones foi surpreendido por Villeneuve, que largou na segunda fila e na primeira freada habilmente tomou a ponta de Jones, enquanto colocava duas rodas na grama. Mas Jones estava logo atrás dele, seguido por Laffite, Reutemann e Regazzoni. Scheckter saiu da pista na primeira curva e caiu para último.

Com a pista bem molhada, a visibilidade não era boa, mas Reutemann ainda conseguiu ultrapassar Laffite para assumir o terceiro lugar. Rapidamente Villeneuve e Jones abrem sobre os demais, mas o canadense tinha uma boa vantagem de 5s sobre o piloto da Williams. Ainda na terceira volta a gloriosa carreira de Ickx termina quando ele bate na última curva do circuito e sai rapidamente do seu Ligier. Numa espetacular corrida de recuperação, Scheckter ultrapassava quem via pela frente e na quarta volta ele já era sétimo, se aproveitando da rodada de Laffite, que fez a Ligier arrumar as malas de volta para casa ainda no início da prova. Na sétima volta um incidente bizarro acabou com a corrida de Reutemann, quando o extintor do seu carro disparou inesperadamente, desconcentrando o argentino, que saiu da pista e bateu. À essa altura Scheckter já alcançava as duas Renaults e após ultrapassar Arnoux e Jabouille, era o quarto colocado, 6s atrás do terceiro colocado Regazzoni, mas o sul-africano tira toda a diferença e na 13º volta já subia para um incrível terceiro lugar! Como a chuva tinha parado desde a largada, a pista começou a secar. Na volta 20 Regazzoni e Scheckter foram aos boxes colocar pneus slicks, enquanto Pironi e Rosberg se tocavam e o finlandês teve que abandonar.

A tática de Scheckter e Regazzoni não dá certo no início e Jody toma uma volta de Villeneuve, que estava disparado na ponta. Na volta 25 o terceiro colocado Jabouille abandona com problemas no distribuidor de seu Renault. Gilles perde tempo ultrapassando retardatários e Jones fica a ameaçadores 2s do canadense. Regazzoni batia no retardatário Piquet e abandonou na metade da prova. Na volta 32 Jones emparelha com Villeneuve na entrada dos Esses, com o canadense deixando apenas o espaço da Williams. Era tudo o que Jones precisava e numa belíssima manobra por fora, o australiano assumia a ponta da corrida. Duas voltas depois Villeneuve foi aos boxes colocar pneus slicks. Na volta 37 é a vez de Jones fazer o seu pit-stop, mas a troca da Williams foi uma verdadeira calamidade, com os mecânicos tendo dificuldades de trocar o pneu traseiro direito. Quando Villeneuve apontou na reta dos boxes, o mecânico chefe sinalizou para Jones voltar a pista, mas não demorou um quilometro antes de Jones sentir que a roda defeituosa não estava corretamente apertada e o australiano encostou seu Williams na grama. Com isso Villeneuve liderava com mais de um minuto de vantagem sobre Scheckter, enquanto Arnoux, que acabara de colocar pneus slicks, atacava a dupla da Tyrrell, que permanecia na pista seca com pneus de chuva.

Faltando dez voltas para o fim, o pneu traseiro esquerdo de Scheckter explodiu e o sul-africano encostou sua Ferrari na grama. Era o primeiro abandono de Scheckter desde a primeira etapa na Argentina, demonstrando o tamanho da regularidade de Jody em 1979. Gilles Villeneuve obteve sua terceira vitória em 1979 e a quarta de sua carreira na F1. Arnoux terminou em segundo depois de ter feito uma corrida soberba. Em sua última corrida pela Tyrrell, Pironi subiu ao pódio com o terceiro lugar. O jovem Elio de Angelis concluiu sua temporada de estreia na F1 com um excepcional quarto lugar com sua modesta Shadow. Negociando com a Lotus, essa exibição na chuva do italiano praticamente convenceu Colin Chapman a contrata-lo. Stuck terminou em quinto sem trocar de pneu e salvou a temporada da ATS com esses dois pontos. Watson termina em sexto e marcou o último ponto daquela corrida. Nelson Piquet marcou sua primeira volta mais rápida na F1 já no finalzinho da corrida, mas o brasileiro sofreria uma quebra no semi-eixo e não completaria a prova. Emerson Fittipaldi finalizou a corrida em sétimo e último lugar, com cinco voltas de desvantagem com o seu carro completamente sem freios. Mesmo Jody Scheckter tendo merecido o título em 1979, outros pilotos mereciam destaque. Alan Jones era o piloto com o maior número de vitórias na temporada e mostrava todo o potencial da Williams para 1980. Mesmo com o vice-campeonato, essa vitória em Watkins Glen apenas confirmava o que muitos diziam na época: Gilles Villeneuve tinha sido o melhor piloto de 1979. O canadense animava cada uma das corridas e seu duelo com René Arnoux em Dijon, sua tentativa de voltar aos boxes com três rodas em Zandvoort, além de sua exibição em Long Beach deixaram os fãs da F1 apaixonados pelo canadense. Scheckter poderia ser o campeão, mas Gilles Villeneuve era o piloto mais querido da F1 e também considerado o melhor.

Chegada:
1) Villeneuve
2) Arnoux
3) Pironi
4) De Angelis
5) Stuck
6) Watson

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