sábado, 22 de dezembro de 2018

Feliz Natal

E mais um ano se passou. Foi a décima segunda temporada do blog. Um feito e tanto para algo feito sem mais maiores pretensões, mas feito com muito carinho. Apesar do conceito blog estar ficando antiquado, cedendo lugar aos youtubers, continuo escrevendo por aqui e espero fazê-lo ainda por muito e muito tempo. Os leitores mais atentos devem estar percebendo que os posts não estão mais tão assíduos e a resposta é muito simples. Desde que nasceu, o blog nunca teve o objetivo de ser informativo, mas opinativo, sem contar as pílulas históricas. O tempo vai passando a quantidade de corridas a serem contadas e pilotos a serem biografados vai diminuindo, resultado nesse diminuição nos posts, não significando que o blog está parado ou irá parar.

Estou colocando alguns textos antigos na página do Facebook. Quem quiser se inscrever, eis o endereço: https://www.facebook.com/jcspeedway/

A título pessoal, 2018 ficou um pouco a desejar, mas não irei reclamar de tudo de bom que Deus me deu ao longo dos últimos 360 dias e tenho certeza que o mesmo acontecerá em 2019. Não apenas para mim, mas para todos que acompanham o blog. Um voto de Feliz Natal e um próspero 2019 a todos. Nos vemos lá!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Ainda com respeito

Quando assinamos pela primeira vez TV a cabo aqui em casa, nos idos de 1995, me interessei logo pelos canais de esporte e haviam apenas dois: ESPN e o Sportv. Na época havia uma revista mensal com toda a programação dos novos canais, algo que achei muito impressionante e também sinal dos tempos, pois hoje bastaria instalar um aplicativo no celular. Papel pra que? Procurei nos dois canais o que passava de corrida e na sexta à noite tinha o Motorsport News no Sportv. Era basicamente um programa baseado no automobilismo inglês, mas ainda assim muito legal. Nomes como Bob Verdon-Roe e Ian Flux surgiam na minha vida. Luis Carlos Junior estava praticamente em todas no Sportv e ele era o âncora do programa. Ao seu lado, um comentarista que meu pai quando viu pela primeira vez disse que 'era um dos machos mais feios que já viu'. O nome de comentarista era Lito Cavalcanti.

O Sportv não tinha um décimo da programação de hoje em dia e algumas transmissões eram bastante precárias, mas tudo que envolvia corridas, Lito estava lá. Com comentários muitas vezes ácidos, Lito também se caracterizava pela forma quase paternal que tratava os pilotos brasileiro no exterior, principalmente na F3 Inglesa, um dos focos do Motorsport News. Vindo da 'escola inglesa' de comentaristas, muitas vezes Lito exagerava na defesa dos pilotos brasileiros, assim como os ingleses adoravam (e ainda adoram!) passar a mão na cabeça dos seus compatriotas. Na minha visão, algumas vezes isso mexia na isenção do que Lito nos passava. Com o tempo e já passando dos 70 anos, era bastante nítido que Lito Cavalcanti estava ficando bastante obsoleto e as abobrinhas se multiplicavam com o tempo, principalmente com mais corridas sendo transmitidas pelo Sportv e o veterano comentarista aparecendo mais vezes na TV.

Depois de 24 anos, foi anunciado no dia de ontem a saída de Lito do Sportv. Mesmo com o veterano jornalista já sendo bastante criticado pelos erros que comete nas transmissões, principalmente por quem acompanha de perto as corridas e entende um pouco mais, não deixa de ser uma pena a saída repentina de Lito do Sportv, que estava no canal desde os princípios. Max Wilson também foi afastado, mas depois que ele falou que a Lotus de 1987 de Senna era proporcional à Toro Rosso atual, sinceramente não fará tanta falta. A saída de Lito também exemplifica como o automobilismo vai caindo dentro da TV brasileira, mesmo os canais fechados e especializados em esportes. Apesar de estar longe do seu auge e cometendo alguns erros constrangedores, a experiência de Lito Cavalcanti não deveria ser desprezada e ele ainda é bastante respeitado.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Esse Kimi

Kimi Raikkonen sempre foi considerado uma pessoa fechada e de pouquíssimas palavras. Outra faceta conhecida do finlandês é seu gosto etílico. Durante a festa de premiação da FIA realizada ontem na Rússia, Raikkonen roubou a cena por causa de seu estado, digamos, alegrinho demais.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Louco milagre

A alegria pela subida de divisão no ano passado estava se tornando um pesadelo nas primeiras rodadas do Ceará na Série A do Campeonato Brasileiro. Sempre admiti que o Ceará iria participar da elite do futebol brasileiro sempre olhando para baixo na tabela de classificação. A briga seria contra o rebaixamento até pela diferença de investimento brutal entre o Ceará e os grandes do futebol brasileiro. Porém, o início do campeonato de 2018 foi bem pior do que o imaginado. Apesar das quatro pedreiras nas primeiras rodadas, ninguém imaginava um início de campeonato tão ruim. Foram precisos quatro jogos para fazer um gol. Cinco pontos nos doze primeiros jogos. Significando não apenas um início de campeonato terrível, mas como a quase certeza de um vergonhoso rebaixamento antes mesmo da metade do primeiro turno.

Brigar contra o rebaixamento é um coisa. Ser saco de pancadas é outra bem diferente. E era esse o papel do Ceará no campeonato. Ninguém nos respeitava!

O bom Marcelo Chamusca não aguentou o péssimo início e o Ceará trouxe para o seu lugar Jorginho, um excelente lateral-direito, mas com bons resultados pontuais como técnico. Foi ainda pior. O Ceará só perdeu e o carioca ainda traiu o time da pior forma possível. Aceitando uma proposta do Vasco, Jorginho deixou o Ceará praticamente na mão na calada da noite. Então, meio que no desespero, veio Lisca. Lisca Doido. Tinha que ser doido mesmo para assumir o Ceará naquela situação, mas o gaúcho já tinha mostrado sua dose de loucura quando salvou o Ceará de um rebaixamento certo em 2015. Contudo, três anos atrás eram apenas nove jogos e na Série B, onde o Ceará tinha mais time, mas tinha vários problemas internos que quase causou o vexame de ir para a temida Série C.

A chegada de Lisca parecia um ato desesperado. O raio não iria cair duas vezes no mesmo lugar. Série A é bem diferente de Série B. As contratações não empolgavam. O time do primeiro semestre que jogava um bom futebol não engrenava e jogadores eram dispensados. Parecia que nada poderia nos salvar. 

Então veio a parada para a Copa do Mundo. O Ceará com Lisca tinha mostrado outra postura em comparação aos jogos anteriores. A parada serviria como uma nova pré-temporada, mas numa situação calamitosa. Éramos piada no Brasil todo. O primeiro jogo na volta da Copa seria contra o Sport no PV, jogo que estive presente e vi bem de perto Arthur fazer o gol da primeira vitória do Ceará no campeonato. Parecia muito pouco, mas era um alento. A primeira vitória fora de casa seria contra o Paraná, esse sim, o saco de pancadas do campeonato. Quem fez o gol foi Juninho Quixadá. Vou dar a minha mão a palmatória. Vindo do Ferroviário, que foi campeão da Série D e que não tinha físico para jogar os 90 minutos nas divisões inferiores do campeonato brasileiro, pensei que ele não daria certo. Não tinha como dar certo. OK, ele jogou Champions League, mas se destacar na Série D é bem diferente de se destacar na Série A. O jogo contra o Fluminense me provou o contrário. Numa jogada inteligente, meu quase conterrâneo deu uma assistência para Leandro Carvalho fazer o gol da vitória. Leandro Carvalho. Outro jogador que desacreditei quando voltou ao Ceará após uma passagem pífia pelo Botafogo e ainda vindo de uma operação no joelho. Também conhecido como Leandro 'Cachaça', sempre foi um jogador problema, mas no Ceará ele se transforma.

Contra o Flamengo num Maracanã lotado, Leandro Carvalho chutou de longe no finalzinho do jogo para conseguir uma vitória inacreditável. Três dias depois, o nosso paredão Everson mostrou que não se garante apenas com as mãos. Com uma falta batida com perfeição, ajudou o Ceará a ganhar do Corinthians. Nos programas de futebol pelo Brasil, o Ceará deixava de ser piada. Passava a ser respeitado. Jogo contra o Ceará seria jogo duro, como disse Luiz Felipe Scolari, técnico campeão com o Palmeiras antes de enfrentar o alvinegro em São Paulo.

As vitórias, tão raras no primeiro turno, começaram a brotar. Algumas surpreendentes, como o 2x0 em cima do Cruzeiro em pleno Mineirão logo após os mineiros serem bicampeões da Copa do Brasil. O belo time do Atlético Mineiro foi derrotado dentro do Castelão poucos dias depois. A lanterna tinha ficado para trás e agora a briga era sair da zona. Houve alguns percalços, mas na penúltima rodada, o Ceará enfrentou o bom time do Atlético Paranaense e mesmo com os paranaenses jogando com o time reserva, vinham de doze vitórias seguidas em casa e o Ceará quase venceu, conseguindo o empate. Com os demais resultados, o Ceará estava livre do rebaixamento com uma rodada de antecedência. Quem poderia imaginar isso vendo o começo do campeonato? Posso dizer que eu não e ninguém poderia sequer sonhar com esse milagre. A vaga na Sul-Americana não veio, mas isso pouco importava. O Castelão estava lotado para ver o Ceará quase rebaixar o Vasco, que tirou Jorginho do Ceará na surdina e o treinador foi embora praticamente sem dizer tchau. Acabou demitido logo depois e ficou com a fama de traíra.

A parcial imprensa cearense teve que engolir o Ceará escapando com alguma sobra após dizerem que o time não prestava, porém foi praticamente com os mesmos jogadores que iniciaram o campeonato de forma terrível que conseguiram uma virada mágica no campeonato, deixando o Ceará como a oitava melhor campanha do segundo turno. Foram vitórias contra times tradicionais e com orçamentos infinitamente superiores e derrotas caras, que fez muita gente dizer que o Ceará merecia melhor sorte.

Esse pequeno milagre teve vários artífices. Everson, Tiago Alves, Samuel Xavier, Luis Otávio, Richardson, Quixadá e Arthur. Mas sem sombra de dúvida, o protagonista foi mesmo Lisca. Ele pegou o time numa situação desesperadora e mudou o time da água para o vinho com as mesmas peças. Considerado folclórico pelo apelido de doido, Lisca de doido não tem nada e fez um trabalho que foi elogiado por todo o Brasil. Extremamente carismático, fez a torcida do Ceará acreditar novamente e com o apoio da nação, o milagre foi consumado.

Não devemos esquecer que o ano seguinte ao primeiro milagre de Lisca foi muito ruim e que o treinador muitas vezes inventou até ser demitido. A diretoria do Ceará precisa entender que o estadual não é parâmetro e que jogadores de qualidade tem que ser trazidos. A lição deve ser aprendida! No entanto, depois de tanta angústia e sofrimento, agora iremos apenas comemorar mais um louco milagre protagonizado por Lisca. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Figura(2018): Lewis Hamilton

Foram seis nomeações, mas até poderia ter sido mais. Depois de doze temporadas, Lewis Hamilton chegou ao seu ápice técnico e mental na F1 e por isso proporcionou pilotagens simplesmente sensacionais, levando-o a conquistar o pentacampeonato de forma até mais fácil do que imaginado, mesmo que muito ajudado pelo protagonista da parte de baixa da coluna. Porém, Hamilton terá muitas histórias bonitas para contar. Sua atuação em Monza foi de almanaque. Mesmo com um carro inferior à Ferrari, Hamilton soube administrar os pneus rumo a uma ultrapassagem belíssima em cima de Raikkonen já no final da corrida para vencer na frente dos torcedores da Ferrari. Com a confiança lá em cima, conseguiu uma pole assombrosa em Cingapura, circuito tradicionalmente ruim para a Mercedes, mas Hamilton conseguiu uma das voltas mais espetaculares dos últimos 25 anos na F1. Com Vettel pisando no tomate, Hamilton foi ficando cada vez mais forte, superando até mesmo a força mental do alemão para desempatar o placar entre os dois pilotos mais marcantes dessa geração e se igualar à Juan Manuel Fangio como o segundo maior conquistador de títulos da história da F1. Ainda é um pouco cedo para especular até onde Lewis Hamilton chegará na história, mas com seus números superlativos, Hamilton já está na história do automobilismo e contando.

Figurão(2018): Sebastian Vettel

Foram quatro nomeações para essa parte da coluna. Todas elas na segunda metade do campeonato, onde ficou praticamente definido o campeão e de forma até tranquila, contrariando os prognósticos de um campeonato apertado até o final. Contratado pela Ferrari como o natural sucessor de Michael Schumacher, Sebastian Vettel fez um excelente trabalho nos seus primeiros anos na Ferrari, dando até a impressão que estava carregando a equipe nas costas. Conhecido pelo seu estilo trabalhador e ser forte mentalmente, Vettel era o contraponto de Lewis Hamilton, mais habilidoso e fogoso. Uma disputa direta entre os dois era esperada à muito tempo e com o título do ano passado, Hamilton e Vettel agora teriam o mesmo número de títulos (quatro). Esse ano seria um tira-teima para quem se igualaria à Fangio com cinco títulos mundiais. Se em 2017 Vettel pôde apontar para a Ferrari pela perca do título no final do ano, nessa temporada Vettel só tem o espelho a apontar. Esse ano a Ferrari deu um grande carro para Vettel e em certos momentos parecia que estava na frente da Mercedes, mas por incrível que pareça foi seu principal piloto que fraquejou nos momentos decisivos. O turning point desse ano e de Vettel foi certamente Hockenheim. Liderando com certa folga, uma chuva fina atrapalhou os sonhos de Vettel vencer na frente de sua torcida e o alemão acabou batendo sozinho. Foi uma ducha de água fria em sua confiança. Em Monza, com a Ferrari nitidamente superior à Mercedes, Vettel tentou uma ultrapassagem otimista demais em cima de Hamilton na primeira volta, iniciando uma sequência desastrada do piloto da Ferrari, que em outras três oportunidades jogou sua corrida fora na primeira volta por culpa dele. As consequências não demoraram a aparecer. Se antes era idolatrado pela sempre temperamental imprensa italiana, Vettel passou a ser contestado por ter cometido tantos erros em momentos cruciais do campeonato, praticamente entregando de bandeja o título para Hamilton. Tetracampeão, Vettel terá que dar uma volta por cima em 2019 e apenas o título saciará a sede dos tifosi e apagará uma temporada esquecível do alemão.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Para se apreciar

Quando a temporada 2018 começou, a expectativa era como seria uma disputa inédita na história de 68 anos da F1. Dois tetracampeões ativos (Lewis Hamilton e Sebastian Vettel) e donos dos melhores equipamentos à disposição (Mercedes e Ferrari), brigariam renhidamente pela honra de se igualar à Juan Manuel Fangio com cinco títulos na F1. De uma certa forma a expectativa foi cumprida. Até a metade do campeonato, houveram várias trocas de liderança entre os dois pilotos, mas depois das férias de verão, Hamilton soube se aproveitar dos vários erros cometidos por Vettel e a Ferrari para se sobressair e conquistar seu quinto título, sendo quatro nos últimos cinco anos.

Mesmo com uma temporada cheio de histórias boas, a F1 foi bastante criticada nesse 2018. O automobilismo em geral está passando por uma crise em ser entretenimento ou esporte e a linha tênue entre esses dois lados confunde dirigentes. Para dar um exemplo, a Nascar mudou a cara de suas corridas segmentando-as e dando pontos para os pilotos num complicado sistema de classificação. A desculpa era para dar emoção às corridas, porém, é histórico a categoria de stock-car americana ter corridas longas, com 400, 500 e até 600 milhas por prova. Porém, os dirigentes americanos resolveram dividir a corrida para trazer mais público e o resultado foi que a Nascar se transformou numa equação derivada de terceiro grau que somente confunde a cabeça dos torcedores. Antigamente era apreciado um piloto conseguir dominar um final de semana de corrida. Ok, pode não ter havido emoção por uma batalha por vitória, mas ver um piloto dominar seus pares era motivo de orgulho. Hoje, não mais. A F1 foi severamente criticada por o campeonato ter sido definido com duas provas de antecipação. Que apenas quatro equipes subiram ao pódio. As ultrapassagens ficaram ainda mais difíceis com o aumento da velocidade. Contudo, isso SEMPRE aconteceu na história da F1. Domínios são mais comuns do que imaginamos, sendo que 2018 não houve domínio claro de uma equipe. Na verdade, em várias ocasiões, três equipes brigavam pela vitória, algo até raro nos últimos 30 anos. Recordo que entre 1998 e 2000, McLaren e Ferrari dominavam a F1 com o pé nas costas. Em 1999 foi uma temporada tão atípica, que a Jordan de Frentzen se meteu na briga levemente, mas no fim a briga ficou mesmo entre Ferrari e McLaren. Quando a BMW construiu o melhor motor e a Williams voltou a brigar pela vitória em 2001, houve festa na F1. Voltando a 2018, Mercedes, Ferrari e Red Bull abriram um abismo para as demais equipes e dividiram todas as vitórias, com cinco pilotos subindo no alto do pódio. Algo até banal, se olharmos para os últimos anos, mas ainda assim, a F1 mudará bastante em 2019.

Até que essas mudanças venham, Lewis Hamilton comemorará bastante. O inglês está chegando ao seu auge técnico, muitas vezes sobressaindo ao lado mental, que cada vez menos lhe atrapalha. Hamilton teve uma temporada de altíssimo nível e mesmo tendo o melhor carro do ano, conseguiu se sobressair com exibições de tirar o fôlego, principalmente em ritmo de classificação. Sua volta em Cingapura foi daquelas de entrar para a história, assim como os números do inglês já estão na história da F1. Se não bastassem os cinco títulos mundiais, Hamilton tem mais de 80 poles no cartel e mais de 70 vitórias na carreira. São números superlativos para uma carreira já brilhante e superlativa. Enquanto Hamilton estiver correndo, não dá para cravar o lugar do inglês na história, mas que Lewis já está nela, não restam dúvidas. Com uma confiança tão grande que sai pelo ladrão, Hamilton hoje tem a Mercedes como sua casa e a Mercedes faz questão de ter Hamilton como o seu diferencial. Em alguns momentos a Mercedes foi claramente superada pela Ferrari, mas graças à pilotagens sobrenaturais de Hamilton, a inesperada vitória veio, como no casa da belíssima corrida em Monza. Quem não se aproveitou disso foi Valtteri Bottas. O finlandês terminou 2017 com vitória e até começou o ano bem. Estava liderando em Baku e a vitória também lhe daria a ponta do campeonato, mas um pneu furado destruiu os sonhos de Bottas, assim como sua temporada. O nórdico teve uma temporada terrível a partir de então, ficando quietamente como a sombra de Hamilton, cedendo uma vitória na Rússia, mas de alguma forma atrapalhou um pouco a Mercedes, que teve que esperar uma corrida para garantir o Mundial de Construtores. Sabendo que Hamilton funciona ainda melhor sem pressão dentro dos boxes, a Mercedes renovou contrato com Bottas, mesmo o finlandês reconhecendo que ficou devendo e muito em 2018. Se não melhorar muito, Bottas sabe que 2019 será sua última temporada numa equipe grande. Inclusive, seu substituto está escolhido.

Se o campeonato foi decidido praticamente sem briga com duas provas de antecipação, a culpa também recai na Ferrari e, principalmente, em Vettel. Natural sucessor de Michael Schumacher, Vettel tinha na sua mentalidade um dos pontos fortes para derrotar Hamilton e sua maior habilidade. Pois foi justamente o psicológico que afetou decisivamente Vettel e ajudou a Hamilton vencer o campeonato de forma tão tranquila. Vettel estava com a faca e o queijo na mão na Alemanha. Correndo em casa, o alemão liderava quando apareceu uma chuva. Considerado um especialista na área (a primeira vitória de Vettel aconteceu debaixo de um dilúvio em Monza), Vettel errou sozinho e praticamente entregou a vitória para Hamilton, que nunca mais perdeu a liderança do campeonato. Se o seu rival estava com a confiança renovada, o contrário aconteceu com Vettel. Foi uma sucessão de erros de Seb que chamou a atenção, por se tratar de um tetracampeão. Em quatro corridas (Itália, EUA, Japão e México), Vettel tocou com alguém na primeira volta numa tentativa otimista de ultrapassagem. Esses erros jogaram Vettel para as últimas posições e mesmo escalando o pelotão, o estrago estava feito. Os pontos perdidos para Hamilton foram decisivos, além da Ferrari ter sofrido o baque da morte do seu presidente e líder Sergio Marcchione, no meio da temporada. Pelo segundo ano consecutivo, a Ferrari lutou com a Mercedes até o verão europeu e caiu de rendimento depois. A diferença foi que seu principal piloto cometeu erros que não condizem a um tetracampeão. Sempre houve a expectativa de uma briga direta entre Hamilton e Vettel, dois dos melhores pilotos dessa geração, mas até o momento, o inglês vai levando uma bela vantagem em cima de Vettel, que começa a ser questionado no sempre turbulento bastidor da Ferrari. Um desses indícios foi a saída de Kimi Raikkonen. O finlandês é amigo de Vettel e sempre se mostrou útil para o alemão, ou seja, não questionando a liderança de Vettel dentro da Ferrari. Raikkonen também conseguia pontos para a Ferrari no Mundial de Construtores, mas sua pilotagem burocrática também pesou contra ele. Em vários momentos, Raikkonen fazia uma tática diferente, se tornava o piloto mais rápida da pista, mas bastava ter que ultrapassar e o Kimi ficava placidamente atrás do rival. Foram várias corridas assim, dando a sensação que Raikkonen estaria se aposentando no final do ano. Quando tudo indicava a isso, Kimi anunciou que está voltando às origens na Sauber, onde correrá por dois anos, ou seja, com mais de 40 anos de idade. Raikkonen ainda conseguiu uma emocionante vitória em Austin, se tornando o finlandês com mais vitórias na F1 e provavelmente dando seu canto do cisne.

A Red Bull continuou seu relacionamento turbulento com a Renault, o que acabou trazendo a ruptura e em 2019 os austríacos correrão com o ainda problemático motor Honda. Somente Ricciardo teve oito abandonos, sem contar os problemas nos treinos. Max Verstappen teve mais sorte e pode mostrar seu talento natural, talvez o maior da F1 hoje em dia. O começo da temporada do holandês foi complicado, com erros e toques evitáveis, como o que deu em Vettel na China. Quando todos pensavam que Max poderia se tornar apenas mais um piloto agressivo demais, ele foi se domando e teve uma segunda metade de temporada excepcional, com vários pódios seguidos. Porém, seu momento marcante foi em Interlagos, quando foi tirado da pista pelo retardatário Esteban Ocon quando liderava e depois da corrida foi tirar satisfação com o francês. Isso fez com que Verstappen ganhasse ainda mais fãs pelo seu jeito franco e direto de ser fora da pista, pois dentro da pista ele já não tem nada a mostrar. Se Hamilton vive se comparando à Senna, talvez o piloto mais próximo do saudoso brasileiro seja mesmo Verstappen. Só resta saber quanto tempo a Red Bull terá para se adaptar ao motor Honda, que nesse ano ainda teve muitas quebras com a Toro Rosso, mas se comportou bem melhor em termos de desempenho. Quando tudo indicava que Ricciardo renovaria com a Red Bull, o australiano surpreendeu ao assinar com a Renault, num movimento inesperado, mas lógico. Mesmo a Renault ainda não conseguindo se tornar uma equipe top, é uma equipe de fábrica e tem muito potencial pela frente. Dentro da Red Bull, Ricciardo já percebia que o piloto a ser tratado como o novo darling era mesmo Verstappen e para o australiano, talvez seu lugar seria relegado como segundo piloto. Ricciardo agora liderará uma equipe de fábrica numa empreitada que, se der certo, o colocará novamente como piloto de ponta em breve.

As equipes grandes conseguiram uma vantagem técnica sobre as demais que chegou a assustar. No Canadá, Nico Hulkenberg foi sétimo e tomou uma volta... do sexto colocado! As equipes do pelotão intermediário reclamaram da falta de chances de pelo menos brigar pelo pódio, façanha só conseguida por Sergio Pérez na complicada corrida em Baku. Apesar do resultado, a Force India escondia uma séria crise financeira e no meio do ano a equipe entrou em falência, mas foi salva por Lawrence Stroll. A partir de 2019, a equipe passará a se chamar Racing Point e como não poderia deixar de ser, Lance Stroll entrará na equipe. Pérez e seus dólares vindo do México permanecerá. Sobrou para o bom Ocon, que fez uma temporada muito boa, mostrando muito talento, mas sua ligação com a Mercedes dificultou todas as negociações que apareceram. De fora em 2019, resta à Ocon a certeza de que se Bottas repetir o desempenho pífio de 2018, o francês deverá ser o companheiro de equipe de Hamilton na Mercedes em 2020. A Force India só não foi quarta colocada no Mundial de Construtores por ter perdido os pontos que conseguira até ser vendida para Stroll, mas foi uma das protagonistas do pelotão intermediário. A Renault ainda não desabrochou como equipe de ponta e a demora para isso acontecer já coloca pressão nos dirigentes franceses, que ainda tiveram que engolir das suas clientes críticas ao motor Renault. Mesmo tendo a força de Hulkenberg, a Renault só conseguiu a vaga de melhor do resto com a falência da Force India, mas com Ricciardo terá que se reinventar para não passar o mico de deixar o australiano como um móvel do pelotão intermediário.

Haas e Sauber, com o irrestrito apoio da Ferrari, conseguiram um enorme destaque em 2018, só que ambas tiveram diferentes motivos para se ater para ficar na ponta. Enquanto a Haas tinha o equipamento, lhe faltou piloto. Já na Sauber, muitas vezes o piloto fez a diferença com o equipamento que tinha. Logo na primeira corrida a Haas teve chances de pontuar com seus dois pilotos em Melbourne, mas um par de erros nos pit-stops de Magnussen e Grosjean destruiu o sonho da Haas. A recuperação veio logo, mas ficou a sensação que ficou um pouco abaixo do esperado por culpa da dupla da Haas. Magnussen mostrou muita velocidade, mas também muita polêmica em disputas ríspidas com seus colegas do pelotão intermediário, fazendo do danês o pilotos mais detestado no paddock. Já Grosjean cometeu erros inacreditáveis para um piloto que já tem dez anos de paddock. A sua batida em Baku, durante o safety-car, foi digno de nota. Porém, de forma surpreendente, os dois tiveram contrato renovado, mas terão muito o que provar em 2019. Já na Sauber, a qualidade de Charles Leclerc fez brilhar muitos olhos na F1. O novato começou o ano devagar, mas rapidamente Leclerc começou a conseguir resultados fora do esperado, como o sexto lugar em Baku. O monegasco, ligado a Ferrari, começou a ocupar o Q3, elevando o nível da Sauber, nos últimos tempos o patinho feio da F1. Tamanho desempenho fez com que Leclerc fosse alçado como piloto da Ferrari em 2019, além de maximizar a fraqueza de Marcus Ericsson, que mesmo trazendo muito dinheiro, ficará de fora do grid ano que vem. A Toro Rosso serviu de laboratório para a Honda e o previsível contrato com a Red Bull. Se serviu de consolo, a Toro Rosso revelou a exuberância de Pierre Gasly e a ruindade de Brendon Hartley.

Equipes tradicionais e gloriosas, foi duro ver em vários momentos McLaren e Williams fechando o grid e as corridas na segunda metade da temporada. As duas iniciaram o ano com expectativas altas, mas a realidade foi bem diferente. Depois de uma turbulenta relação com a Honda, a McLaren voltou a se tornar uma equipe cliente, usando os motores Renault, mas pela lógica, a McLaren queria brigar com a Red Bull e retornaria à luta por pódios e, quem sabe, vitórias. Com a tradicional pintura laranja e com Fernando Alonso avalizando a mudança, tudo se tornou um pesadelo em 2018, com a McLaren fazendo uma temporada até pior do que os anos anteriores, causando em Alonso a sensação de que seu tempo na F1 ter acabado, o mesmo acontecendo com Stoffel Vandoorne, um piloto que foi muito bem nas categorias de base, mas viu sua carreira ruir com o carro ruim da McLaren, que teve toda a sua cúpula trocada, com a chegada de Gil de Ferran. E ele terá muito trabalho. A McLaren teve sua pior temporada em anos, onde normalmente fazia companhia à Williams como últimas colocadas. A temporada medíocre da Williams era até esperada, mas piorou aos poucos com as notícias da não-renovação da Martini e a saída de Stroll da equipe. Não Lance, mas Lawrence e seus milhões de euros. É nítido que Lance Stroll ainda não tem condições de ser um bom piloto de F1, com o jovem canadense sendo superado pelo novato russo Sergey Sirotkin, principalmente nas classificações. Porém, mesmo com aporte financeiro, o russo acabou saindo da equipe e Robert Kubica, retornando de forma surpreendente a F1, também levando dinheiro para a Williams, que se apequena cada vez mais.

Por sinal, a F1 terá um 2019 recheado de mudanças. Nunca nos últimos trinta anos a F1 viu tantas mudanças no seu grid. Se 2018 viu os mesmos pilotos estarem no grid (algo inédito) e todos pontuarem (também algo inédito), isso não serviu para segurar muitos pilotos e as trocas acontecerão aos montes. Nas equipes grandes, apenas a Mercedes manteve sua dupla, mesmo que Bottas já esteja de antemão na berlinda. A Ferrari terá Vettel tendo que lidar com a fogosidade de Charles Leclerc. Tendo que se adaptar ao motor Honda, a Red Bull terá uma dupla de pilotos muito jovem, com Verstappen e Gasly. Ricciardo formará uma dupla forte com Hulkenberg na Renault. Sauber,  Toro Rosso, McLaren e Williams trocará seus dois pilotos para 2019. Alonso se aposentou e cedeu seu lugar ao compatriota Carlos Sainz, que desapontou na Renault e agora tentará refazer sua carreira na McLaren, além de levar sozinho a bandeira da Espanha na F1. O protegido Lando Norris será companheiro de Sainz, só que ao contrário de Hamilton, Norris terá uma missão difícil com uma McLaren bem diferente do que Hamilton encontrou 12 anos atrás. A Williams terá a volta de Kubica e para agradar a Mercedes, recebeu o pupilo George Russell, atual campeão da F2. A Sauber também fará agrados à Ferrari, não deixando Raikkonen se aposentar, enquanto promoverá a estreia de Antonio Giovinazzi, protegido dos italianos. Na Toro Rosso, Daniil Kvyat fará um retorno tão surpreendente quanto Kubica, mas se a surpresa do polaco será pela condição física, o que impressiona no caso de Kvyat é a forma como foi tratado pela Red Bull, dispensado várias vezes, mas o russo ainda voltando. O que poderá esperar do futuro da dupla Kvyat/Red Bull? Provavelmente nada. Para o lugar do pífio Hartley, a Red Bull colocou o jovem Alexander Albon, terceiro colocado na F2. Um grid bastante renovado para uma geração que está indo embora. Em 2016 foi Button, ano passado foi Massa e agora foi Alonso, só restando Raikkonen dos pilotos que entraram na F1 no começo dos anos 2000. Vettel e Hamilton já passaram dos trinta anos, com pilotos como Verstappen, Ocon, Gasly e Leclerc já pedindo passagem. Até porque está chegando a dupla inglesa e talentosa Norris e Russell.

A F1 vai se renovando, mas 2018 ficará marcado como a apoteose de Lewis Hamilton, que já o coloca como um dos grandes da história da F1. O esperado encontro com Sebastian Vettel, várias vezes adiado por motivos alheios, vai até agora ficando bastante desequilibrado à favor de Hamilton. Alonso poderia estar nessa briga, mas seu complexo temperamento não deixou e o espanhol está saindo de cena, mas o espanhol fará falta. Muitos pilotos sairão para dar entrada a outros em 2019. É assim a roda-viva da F1. Resta sabermos aprecia-la.