domingo, 30 de setembro de 2018

O dedo de Toto

Ordens de equipe sempre existiram e nunca deixarão de existir no automobilismo. Negar isso é tapar o sol com a peneira. A verdade é que desde 2001, quando a Ferrari mandou Barrichello ceder sua segunda posição para Schumacher na chegada do Grande Prêmio da Áustria, manobra repetida um ano depois valendo a vitória, os ordens de equipe ficaram mais visadas e criticadas. Não vale a pena aqui ficar citando caso a caso essas polêmicas manobras de equipe, que já aconteceram na luta pelo título de... 1958! Valtteri Bottas sempre correu bem em Sochi desde os seus tempos da Williams e ontem conseguiu uma belíssima pole, superando um hiper-confiante Lewis Hamilton, o que é um verdadeiro feito. O nórdico se manteve na ponta e tinha tudo para vencer, mesmo com Hamilton e Vettel à espreita. Sempre focalizado pelas câmeras, Toto Wolff apertava o botão 'tatitcs'. Não demorou uma volta para Hamilton assumir a ponta e vencer pela terceira vez em solo russo, se aproximando definitivamente do seu quinto título.

A corrida no chato traçado de Sochi foi até melhor do que as anteriores. Num circuito sem imaginação, onde apenas o longo curvão chama a atenção, a corrida de destacou pela proximidade dos três primeiros e até mesmo uma disputada troca de posição. A largada se deu sem nenhum problema, mas com Vettel mostrando que iria para o ataque, colocando por dentro de Hamilton algumas vezes nas primeiras curvas. Corrida assentada, Bottas liderava até com certa facilidade à frente de Hamilton e Vettel. Em outra prova sorumbática, Raikkonen foi um isolado quarto colocado, onde não atacou ou foi atacado por ninguém. Bateu o ponto e uma hora dessa está deixando o circuito com sua bela esposa e seu fofo pimpolho. A única rodada de paradas trouxe o único momento de emoção da corrida. Bottas foi o primeiro a parar, enquanto Hamilton resolver ficar duas voltas a mais na pista. Vettel parou entre os dois carros da Mercedes e quando Lewis voltou ao traçado, ele se encontrava atrás de Vettel. Inconformado com o erro da Mercedes, Hamilton tratou de consertar a besteira dos estrategistas e numa bela manobra no curvão, retomou a segunda posição, demonstrando a força da Mercedes na Rússia frente a uma impotente Ferrari. Se os táticos da Mercedes erraram feio com Hamilton, o pior viria com Bottas. Os três primeiros andavam juntos e a corrida tendia a se estender assim até o final, com Bottas finalmente vencendo pela primeira vez em 2018. A Mercedes, desde os tempos em que era parceira da McLaren, sempre evitou ordens explícitas de equipe e criticava abertamente a política da Ferrari de nomear um destacado primeiro piloto. 'Como fica a motivação do segundo piloto?', perguntava na época Norbert Haug. Essa resposta quem dará será Toto Wolff, que mandou Bottas praticamente parar o carro e deixar Hamilton vencer.

O clima de constrangimento ficou forte no carregado ar de Sochi. Lembranças de 2002 e 2010 vieram imediatamente à tona. Bottas ainda perguntou nas últimas voltas se a sua vitória seria devolvida, mas a negativa deixou o pódio num anticlímax raramente visto no momento mais festivo de uma corrida de F1. Hamilton estava nitidamente envergonhado e tentou fugir das entrevistas, enquanto Bottas estava com aquela cara de dar de ombros para qualquer pergunta feita. E as perguntas de praxe foram feitas e as respostas de praxe foram dadas. Não havia muito o que fazer. Hamilton ainda esboçou trocar de troféu no pódio e chamou Bottas para o lugar mais alto para receber o seu. Um movimento menos desnecessário do que em 2002, mas ainda assim desnecessário. Se dezesseis anos atrás a Ferrari não tinha um adversário sequer próximo para esboçar uma briga pelo campeonato, esse ano a Mercedes tem que lidar com a Ferrari, porém, as derrotas consecutivas deixaram o moral dos italianos abalado e a Mercedes, assim como Hamilton, tinham o campeonato controlado. A vantagem de Vettel no campeonato iria subir com a vitória ou o segundo lugar de Hamilton, mas o arranhão no histórico da Mercedes não será reparado tão cedo. O engraçado disso tudo é o que a Ferrari irá fazer sobre esse assunto sempre espinhoso na F1? Reclamar? Mas qual a moral os italianos tem sobre isso?

O nome da corrida foi Max Verstappen, que fez uma estupenda corrida de recuperação após sair da penúltima fila devido à punições e em menos de dez voltas já aparecia em quinto. É outro indicativo do abismo entre as equipes top-3 e as demais, da mesma forma como corrobora que o talento do aniversariante de hoje é mesmo fora do comum, pois Daniel Ricciardo com o mesmo carro não conseguiu a mesma recuperação, apesar de ter terminado num protocolar sexto lugar. Max liderou o maior número de voltas por ter postergado ao máximo sua parada, mas a ciência inexata dos pneus atuais da F1 ficou clara quando Verstappen colocou pneus ultramacios novos nas dez últimas voltas e simplesmente não foi capaz de diminuir a diferença para Raikkonen, com pneus macios desgastados. Leclerc venceu a corrida dos 'pobres' com uma belíssima ultrapassagem sobre Magnussen no início da corrida e se manteve a prova toda em sétimo. O danês teve que suportar a pressão dos dois carros da Force India a corrida inteira, que usou ordens de equipe para os seus dois pilotos atacarem Magnussen, mas sem sucesso. Pelo menos a Force India mandou Ocon e Pérez retomarem suas posições mais tarde. Grosjean, de contrato renovado com a Haas, ficou fora dos pontos, assim como dispensado Ericsson, longe do desempenho do seu companheiro de equipe da Sauber. Após um bom início de temporada, a Renault despencou e ficou fora dos pontos. Mau sinal para Ricciardo. McLaren e Williams brigaram pelas últimas posições, enquanto a Toro Rosso, que trocou seu motor para a corrida de hoje para ter tudo novo em Suzuka na semana que vem, na casa da Honda, abandonou com seus dois pilotos ainda no início da corrida. Por sinal, os únicos abandonos do dia.

O campeonato pode ter sido decidido hoje, mesmo que matematicamente a conta deva fechar novamente no México, onde Hamilton garantiu o seu tetra ano passado. A Ferrari parece impotente após tantas derrotas, mas a Mercedes não precisava passar por uma situação como a de hoje, onde viu seus princípios indo para o beleleu com a ordem imposta por Wolf. 

sábado, 29 de setembro de 2018

Surpresa na mesmice

A passagem da F1 pela Rússia mostrou um pelotão estanque em todos os treinos livres. A Mercedes voltava aos seus tempos de domínio, com seus dois pilotos bem na frente dos demais. A Red Bull deu pinta que seria a segunda força, mas as trocas de peças no motor, numa briga política com a Renault, jogou o time austríaco para as últimas posições de antemão. Já a Ferrari parecia em outro mundo, bem diferente de quando era a mais rápida. Para desgosto de Vettel, Arrivabene e sua trupe, a Ferrari está tomando quase 1s da Mercedes no final de semana em Sochi. A pole parecia destinada à Hamilton, mas Bottas conseguiu uma ótima volta no Q3 e contou com um erro de Lewis para conseguir sua segunda pole em 2018.

Não apenas a Red Bull, mas também Alonso e a dupla da Toro Rosso também realizaram trocas de motor e não seriam fatores de um treino que foi morno o tempo todo. A Mercedes dominou em todo momento sem nenhum rival à vista, mas no Q3 Bottas mostrou novamente que o circuito de rua de Sochi lhe veste muito bem. O finlandês ficou com o tempo mais rápido, mas contando com um erro de Hamilton em sua última volta. Restou a Vettel ficar com o terceiro tempo com boa vantagem para Raikkonen, que em troca tinha mais de 1s de vantagem para o resto. Com a Renault abdicando do Q2, as duplas de Force India, Haas e Sauber foram tranquilamente para o Q3 e brigaram entre si para ser o melhor do resto. Numa batalha equilibrada, Magnussen ficou com o quinto posto, seguido de perto por Ocon e Leclerc.

A corrida amanhã cedo tende a ser longe das emoções que já aconteceram nessa temporada, por sinal, confirmando a ruindade das corridas em Sochi. Se Bottas se mantiver na frente, talvez nem seja preciso a Mercedes emitir uma ordem de equipe para os seus pilotos, pois a vantagem de Hamilton sobre Vettel já é bastante grande, o mesmo acontecendo entre Mercedes e Ferrari nesse final de semana.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

História: 15 anos do Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2003

Após a enfática vitória de Michael Schumacher em Monza, o alemão chegava para a reta final do campeonato de 2003 por cima frente aos seus únicos rivais com chances de título. Juan Pablo Montoya lutou muito com Michael em Monza, num circuito onde em teoria a Williams-BMW levaria vantagem, mas o colombiano acabou derrotado e chegava em Indianápolis pressionado, mas com boas perspectivas, pois além de ter boa parte de sua torcida na pista de Indiana, Montoya já havia triunfado na mítica pista de Indiana, nas 500 Milhas. Kimi Raikkonen parecia ser o piloto com menos chances. Usando muito mais a regularidade do que a velocidade no ano, Kimi conseguiu levar seu McLaren do ano anterior na luta pelo título, mesmo que todos apostassem numa briga renhida entre Schumacher e Montoya, com Raikkonen correndo por fora.

O grid para a corrida seria fundamental e um dos postulantes ao título estava na pole. E era justamente o que teoricamente tinha menos chances. Raikkonen encaixou uma bela volta para ficar na ponta, enquanto a Ferrari de Rubens Barrichello completava a primeira fila. Montoya era quarto e Schumacher era apenas um apagado sétimo colocado. Havia a expectativa de chuva para o domingo e muitos desconfiavam do bom desempenho de Barrichello, enquanto Schumacher parecia fora de ritmo. Rubens seria uma isca da Ferrari para limpar o caminho para Schumacher? Era o que todos se perguntavam.

Grid:
1) Raikkonen (McLaren) - 1:11.670
2) Barrichello (Ferrari) - 1:11.794
3) Panis (Toyota) - 1:11.920
4) Montoya (Williams) - 1:11.948
5) R.Schumacher (Williams) - 1:12.078
6) Alonso (Renault) - 1:12.087
7) M.Schumacher (Ferrari) - 1:12.194
8) Coulthard (McLaren) - 1:12.297
9) Da Matta (Toyota) - 1:12.326
10) Trulli (Renault) - 1:12.566

O dia 28 de setembro de 2003 amanheceu nublado e com clima instável em Indianápolis. Se em outras pistas essa condição climática até mesmo afugenta os torcedores, em Indianápolis ocorre o contrário. Acostumados com a pista oval, onde não se corre com chuva, o público de Indiana lotava a sua tradicional pista para uma corrida na chuva, algo totalmente diferente do que vêem normalmente. A possibilidade de pista molhada era mais uma pitada na disputa, pois Michelin e Bridgestone se comportavam de formas diferentes dependendo da quantidade de água na pista. Schumacher corria de Bridgestone, enquanto Raikkonen e Montoya estavam calçados de Michelin. A chuva era iminente na hora da largada, mas a pista estava seca quando as cinco luzes vermelhas se apagaram e Raikkonen imediatamente pulou na ponta. Montoya estava logo atrás de Barrichello, que largou muito mal, atrapalhando a vida do colombiano, que ficou atrás de Rubens. Se a manobra já tinha sido suspeita, as coisas piorariam mais tarde.

Schumacher havia largado muito bem, mas não demorou duas voltas para a chuva dar as caras em Indianápolis. Barrichello diria depois que estava com um problema de câmbio e isso tinha sido o motivo de sua má largada. O brasileiro segurava Montoya e no começo da terceira volta, Juan Pablo tentou a manobra no final da reta dos boxes, resultando num toque entre eles. Com a chuva ficando claramente mais forte, Barrichello abandonou no local, enquanto Montoya caía para sétimo. Muitos acusaram Barrichello de ter feito o serviço sujo da Ferrari, algo que o brasileiro sempre negou. Panis era ultrapassado seguidamente e enquanto a Ferrari de Rubens era retirada, causando a bandeira amarela, Schumacher ultrapassava Panis descaradamente. Todos esperaram uma punição ao alemão, mas ela nunca viria. Kimi construía uma vantagem na ponta, seguido por Ralf Schumacher, que largara muito bem. Na quinta volta a chuva molhava a pista, mas não a ponto de fazer os líderes trocarem de pneus. Nesse momento, os usuários dos pneus Michelin estavam em vantagem e o quarto colocado Schumacher foi ultrapassado por Coulthard e Montoya facilmente. Na décima volta a chuva cessa e a corrida se estabiliza com Raikkonen bem na frente, com Montoya em quarto e Schumacher em sexto, tendo sido ultrapassado também por Alonso. A corrida de Montoya começa a se complicar quando ele tem problemas no bocal de reabastecimento e perde muito tempo em sua primeira parada. Poucas voltas depois, a chuva. Dessa vez com força. A maioria dos pilotos entram nos pits para colocar pneus intermediários e bem no momento em que Montoya iria fazer isso, ele era informado que havia sido punido por stop-and-go pelo toque com Barrichello. Outra decisão polêmica e pró-Ferrari. O colombiano teve que cumprir sua punição e dar uma volta inteira com os pneus slicks na pista muito molhada antes de colocar os pneus certos, além de voltar a ter problemas de reabastecimento. A corrida de Montoya, assim como suas chances de títulos, estavam indo ralo abaixo.

A Bridgestone tinha uma vantagem clara com pneus intermediários e rapidamente Schumacher começou seu show. O alemão estava colado em Raikkonen e o ultrapassa na volta 28 com imensa facilidade. Michael abria vantagem como se Raikkonen corresse em outra categoria! Como alguns pilotos aproveitaram a oportunidade para ganhar posições, Button liderou algumas voltas até o seu motor explodir. Frentzen estava em segundo, com Heidfeld em terceiro com a outra Sauber. Havia uma possibilidade de um pódio triplo para a Alemanha! Porém, a chuva foi parando e na medida em que a pista foi secando, Raikkonen alcançou as duas Saubers para ficar com a segunda posição, mas ele nada podia fazer com relação à Schumacher. O alemão da Ferrari vencia pela segunda corrida consecutiva e ficava com as mãos na taça. Montoya perdeu uma volta e lutou muito, mas só conseguiu a sexta posição, apenas um posto de ter ainda chances de título. Juan Pablo nunca mais brigaria pelo título novamente. Com o segundo lugar, Raikkonen mantinha chances apenas matemáticas de título, enquanto Frentzen, em sua última temporada na F1, curtia seu último pódio. Foi uma das vitórias mais categóricas de Schumacher em sua carreira e que praticamente lhe garantiu o hexa.

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Raikkonen
3) Frentzen
4) Trulli
5) Heidfeld
6) Montoya
7) Fisichella
8) Wilson 

terça-feira, 25 de setembro de 2018

História: 30 anos do Grande Prêmio de Portugal de 1988

Após a surpreendente corrida em Monza, onde a McLaren conheceu sua única derrota em 1988, a F1 se encaminhava para conhecer seu campeão daquela temporada e tudo levava a crer que seria Senna. Se o brasileiro vencesse uma corrida nas quatro restantes, seria campeão, enquanto Prost quebrava a cabeça com os pontos que teria que descartar no final do ano. Com um carro tão superior aos demais, a McLaren sugere a Honda que forneça um motor mais confiável, para evitar uma quebra como a vista com Prost em Monza. Os japoneses prontamente atende sua parceira. Outros tempos. Mansell se recuperava de sua catapora, enquanto sua futura equipe, a Ferrari, testava o revolucionário câmbio semi-automático, tendo como piloto de testes principal o então campeão da F3000 Roberto Moreno. 

Senna foi o mais rápido na sessão oficial de sexta-feira, enquanto Prost tinha problemas de motor. No dia seguinte, o francês desfrutou de um motor perfeito e consegue a pole, com Senna não conseguindo melhorar seu tempo. O brasileiro estava arredio dentro dos boxes da McLaren, ainda lamentando a vitória perdida em Monza. O herói de sábado fora Capelli. O jovem italiano colocou seu March-Judd em terceiro lugar, enquanto seu companheiro de Gugelmin ocupava um ótimo quinto lugar. Os pilotos da Ferrari (Berger em 4º e Alboreto em 7º) sofriam de uma falta crônica de aderência. Os Williams-Judd estavam fortes num circuito mais travado, mas Mansell (6º) tropeçou no trânsito e Patrese (11º) quebrou um motor. Piquet não pode fazer nada melhor do que o oitavo lugar com o seu Lotus, mas domina muito claramente Nakajima, apenas 16º. Se já estava chateado com a derrota em Monza, a perca da pole para Prost no Estoril deixava Senna arrasado nos boxes da McLaren.

Grid:
1) Prost (McLaren) - 1:17.411
2) Senna (McLaren) - 1:17.869
3) Capelli (March) - 1:18.812
4) Berger (Ferrari) - 1:18.903
5) Gugelmin (March) - 1:19.045
6) Mansell (Williams) - 1:19.131
7) Alboreto (Ferrari) - 1:19.372
8) Piquet (Lotus) - 1:19.551
9) Nannini (Benetton) - 1:19.572
10) Warwick (Arrows) - 1:19.603

O dia 25 de setembro de 1988 amanheceu quente e ensolarado no Estoril, num clima perfeito para uma corrida. Mesmo largando em primeiro, Prost reclamou bastante por estar largando na parte suja da pista e chegou a pedir que a McLaren varresse seu lugar no grid. A corrida começou muito confusa e foi necessário três largadas. A primeira foi adiada por problemas com Andrea de Cesaris antes mesmo da luz verde. Quando ela apareceu na segunda largada, um acidente no meio do pelotão suspendeu a corrida novamente. Warwick ficou parado no grid e foi atingido por De Cesaris, Luiz Perez-Sala e Nakajima. Depois de mais de meia hora a corrida finalmente teve seu início. Na segunda largada, Prost rapidamente percebeu a vantagem que Senna teve ao largar do lado limpo e por isso, na terceira tentativa o francês jogou seu carro para a esquerda, tentando intimidar Senna, porém o brasileiro se manteve firme e as duas McLaren chegaram lado a lado na primeira curva. Prost se mantinha por dentro, mas num corajoso mergulho por fora, Senna assumiu a primeira posição.

Mesmo não inteiramente satisfeito com o acerto do seu carro, Prost sentia que estava melhor equipado do que Senna. Após ameaçar no final da primeira volta, Prost pegou o vácuo de Senna na reta dos boxes e partiu para a ultrapassagem. Corroborando com seu estilo agressivo, Senna não titubeou em espremer Prost contra o muro dos boxes. No filme oficial daquela temporada, dá para ouvir claramente um português gritando 'ai, ai, ai'. Dessa vez foi Prost que não se intimidou e completou a ultrapassagem. Senna tinha problemas na bomba de combustível do seu carro, que consumia mais do que o normal e se quisesse chegar ao fim, Ayrton precisava andar num ritmo mais ameno. Prost rapidamente abre vantagem, enquanto Senna era atacado por Capelli e Berger. Era uma cena inimaginável, mas uma McLaren atrasava todo o pelotão. Capelli sofria com a pouca potência do seu carro no final da reta, enquanto Senna jogava duro. Após várias tentativas, Capelli finalmente ultrapassa Senna na volta 22, quando já se formava um pequeno pelotão atrás da McLaren. Imediatamente Capelli marca a volta mais rápida da corrida, até mesmo para fugir de Berger, que não demorou uma volta para ultrapassar Senna. Na volta 33, enquanto perseguia Capelli, Berger aciona sem querer seu extintor de incêndio, quase congelando suas pernas, mas o austríaco permanece na corrida. Porém, com o cockpit da Ferrari cheio de espuma, Berger acaba escorregando no pedal de freio na volta 35 e roda, acabando com sua corrida. Como diria o filósofo, há coisas que só aconteciam com Gerhard Berger...

Prost também economizava combustível, permitindo Capelli chegar bem próximo do francês, mas o piloto da McLaren logo aumentava o seu ritmo, controlando sua distância na ponta da corrida. Com um motor raquítico, Mansell não conseguia ultrapassar Senna, da mesma maneira em que ficava cada vez mais impaciente. O inglês atacava em praticamente toda a freada, mas Senna continuava aplicando fechadas. Na volta 54 Mansell tenta se aproveitar de um lento Jonathan Palmer, mas acaba se atrapalhando e bate na traseira de Senna. Para sorte do brasileiro, ele pôde continuar na corrida, mas era o fim de corrida para Mansell. Senna vai aos boxes para uma rápida averiguação e mesmo com um braço de suspensão torto, o brasileiro retorna à corrida em sétimo, que logo viraria sexto quando o motor de Gugelmin quebra na volta 60. Sentindo o motor superaquecer, Capelli vê no abandono do companheiro de equipe um sinal para abrandar o ritmo. Alboreto tentou uma aproximação em cima de Capelli, acreditando no seu computador de bordo, que lhe dizia que tinha combustível o suficiente. Contudo, a máquina falhou e Alboreto acabou ficando sem gasolina na volta final. Alain Prost venceu pela trigésima terceira vez na carreira, com Capelli ficando com um esplêndido segundo lugar com seu March-Judd. Boutsen ficou com a terceira posição, com Warwick em quarto, enquanto Alboreto salvou por pouco o quinto lugar. Senna chegou em sexto, mas sua manobra na segunda volta já tinha causado um belo estrago. Até então a atmosfera dentro da McLaren era respirável, apesar da competitividade dos seus dois pilotos, mas Prost saiu reclamando bastante da manobra de Senna ao joga-lo contra o muro dos boxes. Senna também reclamou da manobra de Prost na largada que valeu. Ambos foram chamados por Ron Dennis para se explicar. Com o final do campeonato tão próximo do fim, nada demais aconteceu entre Senna e Prost, mas a semente havia sido plantada para uma das rivalidades mais ferozes e fantásticas da história da F1.

Chegada:
1) Prost
2) Capelli
3) Boutsen
4) Warwick
5) Alboreto
6) Senna

domingo, 23 de setembro de 2018

Com a faca nos dentes

Apesar de ter alguns detratores, negar que hoje estamos vivendo a Era Marc Márquez é não querer enxergar o óbvio. A polêmica fala de Reginaldo Leme semana passada sobre Lewis Hamilton se encaminhar para ser o maior da história não é tão polêmico quando se fala do espanhol, que vai empilhando recordes, sendo que hoje se igual à Mike Hailwood no quesito pódios. "Ah, a Honda tem a melhor moto", falarão alguns críticos. Será mesmo? O desmotivado Daniel Pedrosa fez a melhor corrida dele do ano para ser quinto, enquanto Cal Cruthlow mal consegue se manter de pé em sua indomável Honda. Somente o talento absurdo de Márquez para domar sua moto, tanto que a Honda já percebeu o diamante que tem em mãos para acertar a moto do jeito dele.

A corrida de hoje em Aragão foi um luta entre Márquez e a Ducati de Doviziozo, com a dupla da Suzuki apenas observando o que poderia sobrar para eles. O pole Jorge Lorenzo não largou muito bem, surpreendido pela agressiva saída de Márquez, mas ao tentar dar o troco, Lorenzo acabou no chão na primeira curva e deslocou um dedo do pé direito. Para quem já correu com a clavícula recém-operada, isso não será nada demais para Lorenzo na próxima etapa daqui a duas semanas. Doviziozo assumiu a ponta da corrida, com Márquez e a dupla da Suzuki logo atrás, num pelotão que se manteria próximo até a bandeirada. A Ducati mostrou em todo o final de semana ser a melhor moto do pelotão, combinando a conhecida estúpida potência no retão de Aragão com o equilíbrio nas curvas de baixa. Márquez conseguia se manter na briga com uma habilidade formidável e dava estocadas em Doviziozo. Iannone deixava Rins para trás e acompanhava a briga de perto, mostrando uma surpreendente paciência. Nas voltas finais, com os pneus desgastados, a luta pela primeira posição apertou e os três primeiros chegaram a dividir a mesma curva, numa situação belíssima, mas que o mais talentoso normalmente vence. E sem sombra de dúvida, esse se chama Márquez.

O espanhol da Honda conseguiu a ultrapassagem decisiva e nas duas voltas finais não deu mais chance para Doviziozo, que abriu uma mínima diferença para Iannone para não ser atacado. Numa corrida muito boa, Márquez conquistou mais uma vitória na raça e se consolida entre os gigantes da história do Mundial de Motovelocidade. Outro piloto que está nesse panteão hoje sofre com uma Yamaha que definitivamente errou na mão em 2018. Rossi largou numa obscura 18º posição, mas foi se recuperando para terminar dez posições à frente do que saiu no grid, mas uma oitava posição, sendo a melhor Yamaha do grid, é muito pouco para um piloto como Rossi e para uma marca como a Yamaha. Viñales, que saiu na frente de Rossi no grid, terminou duas posições atrás. Rossi passou por várias gerações de piloto e com a mesma moto de uma possível futura estrela, Valentino vai superando-o.

Márquez também vai driblando a superioridade da Ducati em 2018 com pilotagens soberbas como a de hoje. A contagem regressiva para o pentacampeonato já começou. E Márquez só tem 25 anos... 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Figura(CIN): Lewis Hamilton

Melhor do que escrever algo, basta ver o que Hamilton no sábado. A tranquila vitória no domingo foi apenas consequência. 


Figurão(CIN): Sergio Pérez

O mexicano Sérgio Pérez entrou na F1 como um típico pay-driver. Piloto de sucesso relativo nas categorias de base europeias, Pérez chegou na F1 com o respaldo dos vários patrocinadores do seu país, mas não demorou para o mexicano conseguir afastar essa impressão com ótimas apresentações com seu limitado Sauber. Isso foi em 2011. De lá para cá, Pérez foi para uma equipe grande (McLaren), decepcionou a tal ponto que só durou uma temporada, fazendo Sergio voltar para uma equipe média. A velocidade de Pérez mostrava que ele tinha condições, mais experiente, de estar numa equipe de ponta e finalmente brigar por vitórias. Porém, o tempo está passando e Sérgio Pérez já pode ser considerado um piloto experiente, mas a impressão é que o piloto latino ainda não explodiu como mostrado pelo seu potencial. No circuito de Marina Bay, Pérez teve uma corrida que mais lembrou um pay-driver nas suas primeiras corridas do que um piloto consolidado como ele é. Após uma belíssima apresentação no sábado, Pérez começou a enterrar sua apresentação no final de semana ao se envolver num sórdido acidente com seu ameaçado companheiro de equipe logo nos primeiros metros de corrida, representando o abandono de Esteban Ocon. Culpado claro pelo acidente, Pérez escapou de uma punição, mas ela não tardaria a acontecer. Tendo que parar cedo por causa do desgaste dos pneus hipermacios, Pérez acabou preso atrás da Williams de Sergey Sirotkin na sua volta à pista. A fase da Williams está tão ruim que o tradicional time ficou 1,5s atrás do segundo carro mais lento na classificação, mas Sirotkin permanecia na frente de Pérez sem maiores arroubos. Contudo, para o mexicano Sirotkin fazia travessuras e um chato mimimi foi transmitido via rádio por Pérez. Quando finalmente conseguiu ultrapassar Sirotkin, Pérez tocou no russo de forma inacreditável, estragando a corrida de ambos. Pérez caiu para as últimas posições após o toque e a punição merecida. Pelo menos o mexicano concordou com todas as punições sofridas, mas Pérez parece nervoso de ficar marcando ponto há tanto tempo na F1, sem chance de subir para uma equipe de ponta. 

domingo, 16 de setembro de 2018

Fazendo história

Scott Dixon. O que falar desse neozelandês de 38 anos de idade e que antes de Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel, já é pentacampeão? De um piloto que conquistou seu primeiro título há quinze anos e se mantém motivado como se ainda perseguisse o primeiro campeonato. Que hoje, só vê à sua frente o mito A.J. Foyt.

A Indy confirmou mais uma vez que Scott Dixon, que estreou na então CART em 2001 pela equipe PacWest, é um dos seus melhores pilotos em toda a história. Dixon é o que se pode chamar de piloto completo. Sabe ser rápido quando necessário, extrai mais do carro quando é necessário e tem uma leitura da corrida excepcional, o que já garantiu à Dixon muitas vitórias improváveis. A faceta do título de Dixon em 2018 foi tirar mais do carro. A Chip Ganassi ainda é uma das grandes da Indy, mas com uma retenção cada vez maior de custo, a Ganassi perdeu dois carros em relação ao ano passado e ao lado de Dixon teve o inexpressivo Ed Jones. O neozelandês teve que levar a equipe literalmente nas costas, em um campeonato onde o novo kit aerodinâmica universal fez com que a Penske tivesse seu domínio podado, mas viu o crescimento da equipe Andretti.

Dixon usava todo o ser arsenal para conquistar pontos importantes e três vitórias contra todos os prognósticos, pois em nenhum momento a Ganassi se mostrou forte como em outros anos. Um exemplo disso foi que Dixon não conseguiu uma única pole na pista, mas sua regularidade foi simplesmente espantosa. Em dezessete corridas em 2018, Dixon conseguiu quinze top-10! O neozelandês não abandonou nenhuma prova esse ano. Num campeonato equilibrado, mas com muita inconstância por causa do carro novo, essa regularidade de Dixon mostrou-se primordial.

Na última corrida de Sonoma na Indy, Dixon fez o básico para garantir o título, até mesmo porque seu único rival a sério praticamente jogou suas chances fora na primeira curva da corrida. Alexander Rossi tinha que chegar à frente de Dixon de forma obrigatória. Tirando outro coelho da cartola, Dixon conseguiu a segunda posição no grid, com Rossi apenas em sexto. Na confusa primeira curva do circuito, Rossi acabou batendo na traseira do companheiro de equipe Marco Andretti, caindo para último. Sabendo do infortúnio do rival, Dixon apenas comboiou Ryan Hunter-Reay até o fim para garantir mais um título.

Foi um título conseguido mais na base da inteligência do que da velocidade pura. Scott Dixon continua fazendo história no automobilismo. 

Confirmando a volta de ontem

Após uma volta espetacular no sábado, Lewis Hamilton confirmou a sua pilotagem suprema com uma vitória segura e sólida num Grande Prêmio de Cingapura longe de empolgar, principalmente na luta pelas primeiras posições. Em outra corrida em que a Ferrari colocou os pés pelas mãos, Vettel perdeu a vantagem da bela ultrapassagem que fez em Verstappen na primeira volta quando a Ferrari o chamou cedo demais para os pits e o alemão ficou preso atrás de Pérez, fazendo com que Max voltasse ligeiramente na frente da Ferrari do alemão. Somente essa troca aconteceu entre os seis primeiros durante toda a corrida.

A corrida de hoje ficou longe da empolgação que houve em Monza. A volta que deu a pole para Hamilton o deixou tão forte, que nem mesmo o teórico favoritismo da Ferrari o ameaçou nas quase duas horas de corrida. Lewis tinha tudo tão sob controle, que no momento em que foi atrapalhado pela luta entre Grosjean e Sirotkin, o inglês permaneceu atrás dos dois retardatários e se livrou de Verstappen rapidinho logo depois. A vitória de hoje foi a confirmação do nível superior em que Hamilton se encontra hoje. Cada vez mais maduro, Lewis Hamilton mostra uma pilotagem acima dos seus rivais. Verstappen foi outro que fez acima do esperado com uma corrida sólida e sem erros. O holandês não se assustou quando foi ultrapassado por Vettel na primeira volta e acompanhou o alemão nas primeiras voltas sem muito esforço. Quando a Ferrari pisou no tomate, Max foi decisivo na saída dos pits para ficar na frente de Vettel e conseguir uma boa segunda colocação, deixando a vida de Vettel ainda mais complicada. A linguagem corporal de Vettel no pódio mostrava alguém perdido e sem saber como liderar sua equipe até o final de 2018 ou até mesmo em 2019, quando ganhará a companhia de Leclerc. O alemão não teve ajuda da Ferrari na tática, assim como o desempenho dos italianos decepcionou. Vettel simplesmente não tinha ritmo para atacar Hamilton e por isso a Ferrari tentou fazer algo diferente, mas que acabou custando a segunda posição de Sebastian e mais pontos perdidos para Hamilton. Agora, são quarenta pontos de desvantagem faltando seis corridas para o fim do campeonato.

O trio de segundos pilotos das equipes principais chegaram juntos, mas quase um minuto atrás do vencedor. A diferença de Hamilton e Bottas foi exemplificada na corrida de hoje, enquanto Raikkonen tem posturas irritantes em certos momentos, principalmente quando precisa ultrapassar alguém. Ricciardo, de saída da Red Bull e já de fora de algumas reuniões técnicas, apenas espera o ano terminar. O ritmo da corrida foi tão baixo que Kevin Magnussen conseguiu a volta mais rápida da corrida mesmo chegando nas últimas posições, mas nem isso fez com que os pilotos das equipes médias encostassem no top-3. O sétimo colocado Fernando Alonso fez uma corrida grandiosa, mas 50s atrás de Ricciardo com sua cambaleante McLaren. A Renault vibrou com seus dois carros na zona de pontuação, enquanto a Haas ficou de fora e ainda viu Grosjean aprontar quando ignorou as bandeiras azuis. Porém, o desastrado do dia foi mesmo Sérgio Pérez. O mexicano já pode ser encarado como um piloto experiente, mas viveu seu dia de novato-pagante em uma corrida onde tocou em seu companheiro de equipe logo na terceira curva da corrida, fazendo-o bater e depois se meteu numa batalha com Sergey Sirotkin em que reclamava das manobras do russo (que não fez nada demais) e depois bateu no piloto da Williams aparentemente de propósito. Uma recaída de Pérez, mas que mostra bem o motivo dele não ter conseguido um ótimo cockpit, mesmo tendo velocidade para tal.

A corrida de hoje não foi das mais empolgantes, mas Hamilton deu o suspiro para conseguir o seu quinto título em breve. O piloto da Mercedes hoje não tem o mesmo carro dominante de outrora, mas vem se consolidando como um dos grandes da história com uma pilotagem bem superior aos seus adversários e ganhando uma confiança tal, que mexeu com a cabeça com outro tetracampeão, Vettel. Não se pode afirmar categoricamente que Lewis Hamilton ruma para ser o maior da história, como afirmou hoje Reginaldo Leme, mas o inglês já está ombro a ombro com as grandes lendas da F1.

sábado, 15 de setembro de 2018

Volta épica

A marca dos grande pilotos da história é quando conseguem grandes feitos, mesmo quando as coisas não estão a favor dele. É sair da caixinha. Fazer a pole tendo o melhor carro chega a ser simples e dependendo do seu companheiro de equipe, é até mesmo uma obrigação. Lewis Hamilton já tem 79 poles na sua laureada carreira, mas a de hoje será daquelas que ele tão cedo irá esquecer.

A briga entre Ferrari e Mercedes teve nesse final de semana em Cingapura a intromissão da Red Bull, sempre forte em circuitos travados, como exemplificado na vitória de Daniel Ricciardo em Mônaco. Já a Mercedes não tem no belo circuito de rua no Sudeste Asiático os melhores dos carteis. Mesmo quando dominava amplamente a F1, a Mercedes sofreu no traçado cheio de singularidades da cidade-estado de Cingapura. Os treinos livres tiveram Ferrari e Red Bull na frente, com a Mercedes sempre próxima. Ainda no início do Q3, quando Ferrari e Red Bull tinham tudo para ficar com a pole, Hamilton tirou uma volta da cartola daquelas de se levantar da cadeira e bater palmas de pé. Seu tempo foi 3,5s mais rápido do que o antigo recorde da pista e o engenheiro não se conteve no rádio: Lewis, essa foi uma volta épica!

Essa derrota foi outro duro golpe no frágil psicológico de Vettel. Não apenas Hamilton conseguiu lhe derrotar numa pista que era favorável a Ferrari, como o alemão ficou de fora da primeira fila, em outra volta espetacular de Max Verstappen, colocando a Red Bull na frente depois de muito tempo. Se não fosse a volta de Hamilton, provavelmente Max seria o piloto do dia. Bottas ficou, muito provavelmente, com o tempo ideal da Mercedes, sem contar o talento de Lewis. Raikkonen, mesmo ainda muito popular, mostrou o porquê está saindo da Ferrari em outro desempenho fraco quando mais se esperava dele. As demais posições do grid foram dentro do esperado, mas chama a atenção a Williams tomar 1,5s do antepenúltimo da classificação. Hoje, a Williams tomou definitivamente o lugar da Sauber como o pior carro da F1.

Largando na pole, Hamilton começa com o handicap de ter o melhor posicionamento do dia e não ter seu rival pelo título ao seu lado. A corrida em Cingapura é longa e uma das mais duras do calendário. Safety-car são normais. Como os carros estão bem mais rápidos, a corrida será ainda mais complicada fisicamente para os pilotos. Contudo, Hamilton ainda está por cima na sua melhor temporada na F1. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

História: 20 anos do Grande Prêmio da Itália de 1998

A Ferrari tinha motivos de sobras para fazer um bom papel em Monza, seu lar espiritual. Testes antes da corrida na Itália mostravam que o time de Maranello vinha muito forte para o final de semana em que a Ferrari completava 600 Grandes Prêmios na F1. Uma marca importante para a Ferrari, mas a equipe estava numa situação delicada no campeonato. Numa temporada em que a McLaren-Mercedes dominou, apenas o talento de Michael Schumacher equilibrava um pouco o campeonato, mas o alemão já aparecia sete pontos de Mika Hakkinen na luta pelo título, fazendo da vitória em Monza quase obrigatória para o alemão se manter na briga.

Os treinos mostraram a força da Ferrari, inclusive com Irvine ficando com o melhor tempo na sexta-feira, mas foi Michael Schumacher quem conseguiu acabar com a hegemonia da McLaren em termos de classificação, com o alemão conseguindo sua primeira pole de 1998. Ao seu lado, surpreendendo a muitos pelo o que vinha acontecendo naquele ano, estava o então campeão Jacques Villeneuve, na sua Williams vermelha. Mesmo correndo com um motor Renault recauchutado, a Williams já tinha conseguido um pódio em Hockenheim, pista com características parecidas com a de Monza. A McLaren teve que se contentar com a segunda fila.

Grid:
1) M.Schumacher (Ferrari) - 1:25.289
2) Villeneuve (Williams) - 1:25.561
3) Hakkinen (McLaren) - 1:25.679
4) Coulthard (McLaren) - 1:25.897
5) Irvine (Ferrari) - 1:26.159
6) R.Schumacher (Jordan) - 1:26.309
7) Wurz (Benetton) - 1:26.567
8) Alesi (Sauber) - 1:26.637
9) Panis (Prost) - 1:26.681
10) Trulli (Prost) - 1:26.794

O dia 13 de setembro amanheceu claro e ensolarado em Monza, um típico dia de outono na Itália, onde a corrida aconteceria sem a menor chance de chuva. Como era esperado, os tifosi tomaram Monza de assalto querendo ver uma vitória da Ferrari e de Schumacher, mas as coisas não seriam tão fáceis. Assim que estacionou seu McLaren no coxete, Hakkinen fez o sinal da cruz e no apagar das luzes vermelhas, conseguiu a melhor largada do ano ao pular de terceiro para primeiro passando entre os dois carros da primeira fila. Assustados, Schumacher e Villeneuve perderam um pouco de tempo e quem se aproveitou da situação foi Coulthard, que pulou para segundo. A dobradinha da McLaren na largada não era o que os torcedores da Ferrari esperavam, mas ainda faltavam 53 voltas para o fim.

Schumacher caiu para quinto na largada, mas ainda na primeira volta ultrapassou Villeneuve na Variante Della Roggia e com Irvine na frente, era claro como o dia e a noite que o alemão logo estaria na terceira posição por ordem da Ferrari. Quando Michael assumiu o terceiro posto, com Irvine quase estacionando sua Ferrari, sua desvantagem para a dupla da McLaren era de 4s. Na oitava volta, numa manobra surpreendente, Hakkinen deixou Coulthard passar. O escocês estava mais rápido e soube-se depois que estava também numa estratégia diferente, marcando a volta mais rápida e colocando 2s de frente para Hakkinen, que administrava uma boa diferença para Schumacher. Shinji Nakano explode o motor de forma espetacular e abandona a corrida na Curva grande. Em pouco mais de dez voltas, Diniz, Herbert e Panis também já haviam abandonado a corrida. Na décima sétima volta, quando se preparava para fazer sua primeira parada, o motor de Coulthard explodiu e o escocês rapidamente encosta sua McLaren. Se a vida da McLaren tinha ficado ruim, ficaria ainda pior momentos mais tarde. A fumaça do motor de Coulthard pareceu ter assustado Hakkinen que tirou o pé, fazendo com que Schumacher colasse no finlandês. Numa belíssima ultrapassagem, Schumacher ultrapassou Hakkinen na saída da variante Della Roggia para assumir a liderança da corrida, para delírio dos torcedores da Ferrari.

Logo após a ultrapassagem, Schumacher começou a abrir uma boa diferença para um Hakkinen aparentemente opaco. Quando os dois líderes completaram suas paradas, era nítido a enorme fumaça de pó que saiu dos freios de Hakkinen no pit-stop. Schumacher e Hakkinen mantiveram suas posições, separados por 7s. Irvine vinha isolado na terceira posição, tanto que o irlandês saiu da pista na Segunda de Lesmo e ainda assim não foi incomodado. A melhor briga da corrida acontecia entre Damon Hill e Heinz-Harald Frentzen pela sexta posição, mas a batalha terminou quando a Williams se atrapalhou no pit-stop do alemão, fazendo Frentzen perder mais de 30s nos boxes. Para completar o dia da Williams, Villeneuve rodou sozinho na volta 38 e abandonou a corrida. Depois da parada Hakkinen aumentou o ritmo, fez a melhor volta da corrida e cortou 3s de desvantagem que tinha para Schumacher. Quando todos esperavam por um ataque final de Mika nas voltas finais, ele saiu da pista na Variante Della Roggia. Para sorte de Hakkinen, ele pôde voltar rapidamente à pista, mas algo não estava correto em sua McLaren. Os freios da McLaren pareciam não funcionar bem e Hakkinen passou a correr com muito cuidado, diminuindo a velocidade do seu carro usando o câmbio. Sem poder como se defender, Hakkinen foi presa fácil de Irvine e Ralf Schumacher. Tudo o que Mika queria era terminar a prova. Tudo o que Schumacher queria era festejar muito sua importante vitória. Dez anos depois do milagre de 1988, a Ferrari voltava a marcar uma dobradinha em Monza e Schumacher ainda teria com ele no pódio seu irmão mais novo. Para completar, a vitória em Monza, somado ao quarto lugar de Hakkinen, significava que os dois candidatos ao título estavam empatados no Mundial de Pilotos com duas corridas para o fim. Mesmo a McLaren tendo nitidamente mais carro, o talento de Schumacher tinha sido capaz de transformar a temporada de 1998 completamente imprevisível na sua reta final.

Chegada:
1) M.Schumacher
2) Irvine
3) R.Schumacher
4) Hakkinen
5) Alesi
6) Hill

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

História: 25 anos do Grande Prêmio da Itália de 1993

Havia uma lenda que a Ferrari, quando estava mal das pernas, trazia um motor especial para os treinos em Monza e assim atrair os tifosi para o circuito na corrida. E em 1993 era preciso mesmo! Vindo de uma segunda temporada consecutiva muito ruim, a Ferrari era o centro das preocupações dos organizadores do Grande Prêmio da Itália, pois se em 1992 a procura de ingressos da torcida fora pequena, em 1993 não estava muito diferente. Lenda ou não, a Ferrari anunciou que correria em casa com um novo motor e o objetivo principal da equipe italiana era conseguir um pódio na frente de sua torcida. Monza também era sinônimo de anúncios para a temporada seguinte e não foi diferente em 1993. A Lotus anunciou a troca do motor Ford-Cosworth pelo Mugen-Honda, enquanto Minardi e Scuderia Italia se fundiriam a partir de 1994, com a segunda equipe tendo falido e nem participaria das corridas no Japão e na Austrália. Vindo de uma temporada muito ruim, o belga Thierry Boutsen anunciou sua aposentadoria de forma imediata após sua corrida caseira em Spa e seria substituído por Marco Apicella na Jordan. Boutsen teve seus bons momentos na virada dos anos 1980 para 1990, se tornando um piloto de destaque na época, mas o belga claramente não tinha cacife para ser mais do que um coadjuvante de luxo.

Prost conseguiu sua décima segunda pole em 1993 e encaminhava o seu título, pois tudo o que o francês precisava para confirmar seu tetracampeonato em Monza era marcar três pontos a mais do que o vice-líder Senna, algo que não seria nada difícil com o carro que Alain tinha nas mãos. Como sempre a Williams tinha toda a primeira fila, mas a surpresa era ver a Ferrari em terceiro com Alesi, garantindo um bom público para o domingo. Porém, nem tudo foram flores para a Ferrari na classificação. Nos momentos finais do segundo treino, Alesi vinha lento na Variante Ascari cumprimentando os torcedores nas arquibancadas, mas Berger ainda tentava marcar tempo. O francês acabou saindo um pouco da sua trajetória, assustando Berger, que bateu muito forte no guard-rail. Apesar da forte pancada, Berger estava bem!

Grid:
1) Prost (Williams) - 1:21.179
2) Hill (Williams) - 1:21.491
3) Alesi (Ferrari) - 1:21.986
4) Senna (McLaren) - 1:22.633
5) Schumacher (Benetton) - 1:22.910
6) Berger (Ferrari) - 1:23.150
7) Herbert (Lotus) - 1:23.769
8) Suzuki (Footwork) - 1:23.856
9) Andretti (McLaren) - 1:23.899
10) Patrese (Benetton) - 1:23.918

O dia 12 de setembro de 1993 estava com bom tempo em Monza, típico clima para um Grande Prêmio da Itália onde raramente chove. A torcida estava um pouco maior do que em 1992 e todos esperavam por um milagre da Ferrari, como acontecera cinco anos antes. A primeira chicane de Monza sempre fora um foco de incidentes na primeira volta e em 1993 não foi diferente. Superando seus crônicos problemas de embreagem, Prost larga muito bem e mantém a ponta da corrida. Dessa vez foi que Hill que não saiu bem e Alesi imediatamente assume a segunda posição, trazendo Senna logo atrás. Na freada para a primeira chicane, Senna forçou para ganhar a terceira posição, mas acaba tocando em Hill. A McLaren de Senna chega a sair do chão, mas incrivelmente os dois carros permaneciam na corrida, mesmo perdendo várias posições. A confusão na primeira curva fez com que Lehto, que largara em último por ter ficado parado na saída da volta de apresentação, batesse nas Jordans de Barrichello e Apicella. Um pouco mais à frente, Warwick e Suzuki batem e a Footwork teria que arrumar suas coisas com poucos metros de corrida.

Prost abriu uma boa vantagem sobre Alesi, que era atacado por Schumacher. Hill ultrapassa Michael Andretti e Patrese em voltas consecutivas. Alesi fez de tudo para segurar sua posição, mas acabaria ultrapassado por Schumache na quarta volta na Variante Ascari. Senna tentava se recuperar, mas na nona volta, ao atacar a Ligier de Martin Brundle, o brasileiro atinge a traseira do inglês e destruía a corrida de ambos. Foi um dos erros mais grosseiros da carreira de Senna na F1. Isso deixava Prost tendo que conseguir apenas o quarto lugar para assegurar o título, algo que pela forma que a corrida estava tomando, não era nada difícil. Um exemplo da superioridade da Williams era que Damon Hill, após cair para nono na primeira volta, já ganhava o terceiro lugar de Alesi na décima volta. Michael Andretti tinha problemas de motor e levava uma volta de Prost, enquanto Herbert e Berger abandonaram na mesma volta (15º), mesmo que em incidentes diferentes. Prost tinha muito cuidado em ultrapassar os retardatários e com isso Schumacher aproveitou para tirar tempo do francês, mas a corrida do alemão terminaria na volta 22 com o motor quebrado. 

A única rodada de paradas aconteceu normalmente e os três primeiros estavam bem espalhados na pista. Após o rumoroso acidente entre Senna e Hill, com a posterior recuperação do inglês, a corrida havia caído num marasmo onde nada ou quase nada acontecia. Prost caminhava sereno para o seu quarto título mundial, diminuindo o ritmo e permitindo a aproximação de Hill. O francês nunca entraria numa briga sabendo que o quarto lugar lhe bastava, mas o tetracampeonato só seria comemorado mais tarde. Faltando quatro voltas para o fim, o motor de Prost explodiu na Curva Grande, entregando a vitória para Hill. A torcida italiana explode, pois Alesi subia ao segundo lugar, mesmo que mais de um minuto atrás. O Grande Prêmio da Itália de 25 anos fora uma corrida de sobreviventes a ponto de Michael Andretti, mesmo com problemas de motores, aparecesse num milagroso terceiro lugar. Logo depois da corrida e conseguir seu único pódio, Michael seria dispensado da McLaren. Damon Hill comemorava sua terceira vitória consecutiva e os demais pilotos recebiam a bandeirada de forma tranquila. A única briga por posição era entre os dois pilotos da Minardi, pela sétima posição, que na época nem dava pontos. Christian Fittipaldi colou em Pierluigi Martini e ao colocar de lado no momento da bandeirada, foi fechado e o Minardi do brasileiro levantou voo. O carro deu um looping espetacular, mas afortunadamente Christian no lado certo e cruzou a linha de chegada com o carro todo arrebentado. E injuriado com o seu companheiro de equipe! Esse foi o único lance de emoção de uma corrida que apenas adiou o inevitável tetracampeonato de Prost.

Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Andretti
4) Wendlinger
5) Patrese
6) Comas

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Troca no reino de Maranello

A boa performance de Kimi Raikkonen em Monza pareceu ter deixado a Ferrari um pouco envergonhada em anunciar o que todos esperavam. Após vários anos correndo pela escuderia italiana, Raikkonen sairá da Ferrari no final dessa temporada, cedendo seu lugar para o jovem Charles Leclerc, que vem brilhando pela Sauber em 2019, ano de sua estreia.

Foi aí que apareceu a maior surpresa dessa história. O esperado era que Raikkonen, prestes a completar 39 anos de idade, se aposentasse após sua passagem em Maranello, mas num movimento surpreendente, Kimi voltará para a mesma Sauber que lhe deu uma oportunidade no começo desse milênio. Raikkonen voltará algumas casas na carreira, mas poderá se despedir da F1 num ambiente mais ameno do que a sempre efervescente Ferrari.

Leclerc, ao contrário, irá para o caldeirão que é a Ferrari em jejum de títulos. O monegasco mostrou ter muito talento, mas correr numa equipe de ponta é algo bem diferente e Leclerc será o primeiro piloto jovem que a Ferrari apostará desde Felipe Massa em 2006. Se Kimi Raikkonen encarnava muito bem o papel de segundo piloto, restará ver como se comportará Leclerc, que é muito jovem e deverá ser talhado para a Ferrari ser a sua estrela no futuro. Vettel só espera que até lá, tenha conquistado um título e diminuído as pressões que vem sofrendo.

A virada de 2018 para 2019 tem sido uma das mais movimentadas no mercado de pilotos da F1 nos últimos tempos. Praticamente todas as equipes tiveram mudanças e ainda faltam definições na Haas, Force India, Toro Rosso e Williams. Concluindo, Kimi Raikkonen ficará mais dois anos e no final de 2020, provavelmente seu último ano na F1, terá 41 anos. Provavelmente divertindo seus fãs com suas patadas. 

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Boicotando a carreira

Na história do esporte a motor existem inúmeras histórias de pilotos que, por escolhas erradas ou acidentes, viram suas carreiras decaírem e ficarem bem abaixo do seu próprio potencial. Romano Fenati era mais uma cria do rancho de Valentino Rossi, onde jovens piloto brotam para brilharem no Mundial de Motovelocidade. Fenati fazia uma carreira promissora na Moto3 com a equipe de Rossi e estava com tudo para se graduar à Moto2 quando brigou com o chefe da equipe em 2016. Devidamente demitido, Fenati deu uma pequena volta por cima quando foi contratado por uma equipe pequena na Moto3 e foi vice-campeão ano passado.

O jovem italiano subiu para a Moto2 e mesmo não fazendo uma temporada brilhante, todos sabiam que Fenati tinha potencial para evoluir e subir com suas próprias pernas para a MotoGP. Seria o segundo capítulo de sua retomada na carreira, mas Fenati mostrou que velocidade e impulsividade não combinam. Numa briga com Stefano Manzi por posições intermediárias no Grande Prêmio de San Marino em Misano desse domingo, Fenati foi flagrado tentando frear a moto de Manzi em alta velocidade. A atitude boçal, estúpida e imperdoável rendeu à Fenati a justa desclassificação da corrida. A condenação de Fenati foi imediata e todos ficaram pasmos com a pena que a FIM aplicou à Fenati: duas corridas de suspensão.

Contudo, o juízo de Romano Fenati estava feito e outras punições viriam, sendo mais exemplares do que a FIM. Primeiro, Fenati foi sumariamente demitido de sua atual equipe. Depois ele seria previamente demitido da equipe com quem estava assinado em 2019. Por coincidência, a mesmo de Manzi. A FIM pode ter tido pena de Fenati, mas o mundo a motor não teve muita misericórdia do ato impensado de Fenati.

A carreira de Romano Fenati acabou na frente de todos e por culpa inteiramente dele. 

domingo, 9 de setembro de 2018

Marmelada nos olhos dos outros...

Consta que Emerson Fittipaldi chegou à sua equipe em Monza no dia 9 de setembro de 1973 e lá encontrou Colin Chapman e Ronnie Peterson conversando. O brasileiro foi convidado a entrar na reunião e Chapman prometeu que a Lotus correria a favor dele e que Peterson o ajudaria se tivesse oportunidade. Foi combinado até mesmo que o sueco cederia sua posição se fosse necessário e foram até mesmo planejados gestos para quando a troca fosse efetuada.

Emerson Fittipaldi teve um início de 1973 de sonho. Foram três vitórias nas quatro primeiras corridas, mas depois do segundo lugar em Mônaco, o brasileiro da Lotus passou a ter várias dificuldades técnicas e ainda sofreu um grave acidente nos treinos para o Grande Prêmio da Holanda, quando teve um tornozelo quebrado. O então bicampeão Jackie Stewart foi crescendo ao longo da temporada e com o seu Tyrrell totalmente adaptado ao pneu Goodyear foi ganhando corridas, tendo seu companheiro de equipe François Cevert como fiel escudeiro. Algo que Emerson não tinha na Lotus. Ronnie Peterson chegou à equipe no início de 1973 e com seu estilo vistoso de pilotar, rapidamente conquistou Chapman. Em meio a uma difícil negociação de renovação de contrato, Emerson via Chapman cada vez mais se virar para Peterson, mesmo o brasileiro estando na briga pelo título com Stewart. O clima dentro da Lotus só não era pior, porque Emerson e Ronnie eram bons amigos, mas o paulista estava cada vez mais insatisfeito com Chapman.

Com todos esses problemas, Emerson Fittipaldi chegou à Monza, antepenúltima etapa do campeonato, numa situação delicada no certame de 1973. Na verdade, Emerson nem era o vice-líder no momento, papel que era na ocasião ocupado por Cevert, mas ninguém contava o francês na luta pelo título, pois ele tinha ordens expressas de não atacar Stewart. Emerson tinha que vencer as três últimas corridas do campeonato e contar com resultados ruins de Stewart. A Lotus se mostrava muito forte em circuitos de alta velocidade, demonstrada muito bem com a fácil vitória de Peterson em Zeltweg, na corrida anterior. Emerson liderava a prova quando abandonou nas voltas finais, contando com a ajuda de Peterson, que em nenhum momento atacou o brasileiro.

A Lotus confirmou o favoritismo com a pole de Peterson, a sétima do sueco em 1973. Emerson conseguiu apenas a quarta posição, com as duas McLarens separando a dupla da Lotus. Stewart era apenas sexto, com mais de 1s de atraso para Peterson. Após a pequena reunião antes da corrida, Emerson Fittipaldi entrou na corrida ainda mais confiante, pois ele sabia que mesmo o bom rendimento da McLaren em classificação, o ritmo da Lotus era melhor na corrida. Emerson saiu de suas características e fez uma ótima largada no Grande Prêmio da Itália de 1973, superando as duas McLarens e encostou em Peterson. A situação de Emerson melhoraria ainda mais nas primeiras voltas. Denny Hulme vinha próximo da dupla da Lotus, mas abandonou ainda na nona volta, deixando o duo Peterson-Fittipaldi com 9s de frente para a segunda McLaren, de Peter Revson. Na oitava volta Stewart entrou nos boxes com um pneu furado e as chances de título de Emerson aumentaram consideravelmente. Bastava ao brasileiro perseguir Peterson até aparecer o sinal para que os dois trocassem de posição.

Stewart voltou à pista em vigésimo e começou uma espetacular corrida de recuperação, onde fez várias ultrapassagens que o colocou na quinta posição quando faltavam quinze voltas para o fim. Jackie estava logo atrás de Cevert, que recebeu ordem para seu companheiro de equipe deixar passar e o francês não se opôs para que isso acontecesse. Com 24 pontos de vantagem, tudo que Stewart precisava era não perder quatro pontos ou mais para Emerson. O segundo lugar do brasileiro era suficiente para Stewart ser campeão, mas Fittipaldi lembrava do acordo feito com Chapman antes da prova. Ele dizia que toda vez que passava em frente aos boxes da Lotus, esperava o sinal para que ocorresse a troca de posição, garantindo uma sobrevida para Emerson no campeonato. As voltas foram passando e o sinal nunca veio. Peterson venceu a corrida, com Emerson colado no sueco. Com o seu brilhante quarto lugar, Jackie Stewart conquistava seu terceiro título mundial com duas corridas de antecedência.

Emerson Fittipaldi ficou furioso com a tática de Chapman a favor de Peterson que o fez perder o título de 1973 em Monza. O brasileiro sabia que suas chances nas duas corridas na América do Norte eram nulas, mas sentiu que o movimento de Chapman era um claro sinal. Chateado, Emerson procurou Patrick Duffeler, gerente esportivo da Marlboro, com quem negociava um contrato milionário, onde Fittipaldi teria uma equipe todinha ao ser redor. O time escolhido seria a McLaren, mas essa seria outra história. Jackie Stewart comemorou bastante seu terceiro título e secretamente aproveitava o que seria suas últimas corridas na F1. Stewart achava que Cevert estava preparado para substitui-lo e que o francês seria o futuro da Tyrrell, permitindo que o escocês se aposentasse no final daquele ano. Meses depois, os planos do escocês dariam tragicamente errado com a morte de Cevert nos treinos em Watkins Glen. A Tyrrell ainda se manteria como equipe de ponta até meados dos anos 1970, mas o título de 1973 seria o último de Ken Tyrrell.

Na revista Quatro Rodas de outubro de 1973, na legenda de uma foto de Emerson Fittipaldi com o Lotus 72E estava escrito: Emerson não estará nesse carro em 1974. A imprensa brasileira ficou irada em 1973 com a não ordem de equipe da Lotus, prejudicando Emerson Fittipaldi, mesmo a causa do paulista sendo praticamente perdida. Comportamento bem diferente de 29 anos depois, quando a Ferrari exerceu uma ordem de equipe em cima de Rubens Barrichello, mesmo que em condições bem diferentes. Em 2002, assim como em 2010, as ordens de equipe foram consideradas anti-esportivas, mas 45 anos atrás, quando um brasileiro era o favorecido, nem todos pensavam assim.  

A Ducati certa

Desde a confirmação da saída de Jorge Lorenzo da Ducati, após uma passagem que até então tinha sido abaixo do esperado, parece ter acontecido uma metamorfose para o espanhol. Se era um piloto até mesmo decadente enquanto tentava domar a Ducati, Lorenzo passou a tourear a motor italiana e conseguir bons resultados a ponto de coloca-lo à frente de Andrea Doviziozo, alçado a primeiro piloto da Ducati com seu contrato renovado. Claro que isso trouxe uma situação inusitada dentro do boxe da Ducati, com um piloto que estava de saída mostrando um rendimento melhor do que iria ser a esperança de título a partir do próximo ano. Contudo, hoje Doviziozo deu a resposta com uma corrida soberba em Misano e venceu na frente dos seus compatriotas.

A corrida de hoje não foi um primor de emoção, principalmente na luta pela vitória. A Ducati mostrou-se forte em todos os treinos e chegou a ter três motos nas três primeiras posições. Pole com direito a recorde, Lorenzo liderava a corrida seguido por Doviziozo e Miller. O desastrado australiano caiu sozinho após tomar uma ultrapassagem audaciosa de Márquez. Doviziozo tinha claramente mais moto e sabia que se perdesse muito tempo atrás do companheiro de equipe, logo teria Márquez lhe fungando o cangote. Cerebral, Doviziozo tomou a liderança da corrida rapidamente e administrou o resto da corrida com uma pilotagem bem ao seu estilo, garantindo a vitória e o vice-campeonato. A melhor parte da corrida foi a briga entre os espanhóis Márquez e Lorenzo. Os dois trocaram de posição algumas vezes, mas nas voltas finais o melhor equilíbrio da Ducati fez Lorenzo ficar na frente e até tentar uma aproximação em cima de Dovi. Porém, faltando poucas voltas para o fim, uma queda de Lorenzo de partir o coração acabou com as chances de dobradinha da Ducati.

Mesmo vendo um piloto italiano vencer com uma moto italiana, boa parte do público saiu de Misano nada feliz com outra atuação discreta de Valentino Rossi em outra pobre performance da Yamaha, que definitivamente ficou para trás de Ducati e Honda. Cruthlow subiu ao pódio e a primeira Yamaha ficou apenas em quinto, com Viñales ficando atrás até mesmo da Suzuki de Rins. Rossi teve que se conformar com uma minguada sétima posição e ver sua posição de vice-líder cair nas mãos de Doviziozo.

Márquez lutou muito com as Ducatis, mas não foi páreo para Doviziozo, porém o espanhol da Honda não tem muito do que reclamar. Mesmo chegando em segundo, atrás do atual vice-líder, Márquez viu sua vantagem aumentar no campeonato. Apesar de arriscar bastante ainda, Márquez vem mantendo uma regularidade muito boa e o quinto título é apenas questão de 'quando'. Correndo em casa a Ducati venceu com o seu piloto certo, mas dificilmente a Honda não comemorará por último no final da temporada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Fim de uma era

O ano de 1993 estava sendo uma disputa particular entre os velhos rivais Wayne Rainey e Kevin Schwantz no Mundial das 500cc. Os dois americanos eram frutos da segunda Era de Ouro do Mundial de Motovelocidade, onde a categoria conseguiu um salto de popularidade graças ao carisma dos pilotos americanos, que tomaram de assalto o Mundial em 1978, liderados por Kenny Roberts. Com um estilo único de pilotar e desconhecido por parte dos europeus, Roberts foi tricampeão logo de cara das 500cc, iniciando uma era de grandes pilotos que durou toda a década de 1980. Roberts era uma referência nos Estados Unidos e logo vários outros pilotos o seguiram, fazendo o Mundial das 500cc um assunto para pilotos americanos. Depois de Roberts vieram Randy Mamola, Freddie Spencer e Eddie Lawson. Wayne Rainey estreou no Mundial das 500cc junto com seu compatriota e rival Kevin Schwantz em 1988 e os dois logo deixaram uma impressão duradoura no mundo da motovelocidade. 

Dizia-se que Rainey era um discípulo de Eddie Lawson, que por sua vez tinha sido aluno de Kenny Roberts. Rainey poderia ser uma espécie de evolução dos grandes pilotos americanos e na virada da década de 1980 para 1990, Rainey tinha se tornado tricampeão mundial e era o melhor piloto da época, a ponto de se tornar uma lenda viva. Piloto extremamente talentoso e de poucos erros, Rainey era o oposto de Schwantz, com que lutava pelos títulos desde os tempos do Americano de Superbike. Rainey liderava o campeonato de 1993 e estava pronto para se tornar tetracampeão, quando chegou em Misano, um circuito italiano conhecido por não ser dos mais seguros, a ponto de ter sido boicotado anos antes.

Na corrida anterior Rainey fora ultrapassado pelo companheiro de equipe Luca Cadalora numa desobediência do italiano a uma ordem de equipe feito por Kenny Roberts, então chefe da equipe Yamaha. Correndo em casa, Cadalora não iria esmorecer para ajudar Rainey. Os dois lideravam a corrida, se alternando na ponta da prova. Foi então que uma Marlboro Yamaha apareceu destruída ao lado da pista. Num acidente com pouquíssimos registros e aparentemente simples, Wayne Rainey foi ao chão, mas um detalhe complicaria bastante a situação do americano. A caixa de brita tinha sido desenhada para carros, com cavas profundas para segurar algum carro desgovernado. Contudo, essas cavas profundas não eram a melhor das ideias para corridas de motos. Rainey perdeu o controle de sua Yamaha e fraturou uma vértebra enquanto caía na caixa de brita de Misano. Levado de helicóptero para um hospital, logo ficou constatado que o tricampeão Wayne Rainey, de 32 anos, estava paralisado do peito para baixo, o que significava o fim da carreira do americano.

O abandono de Rainey e o segundo lugar de Schwantz em Misano praticamente determinou o título para o piloto da Suzuki, que mal comemorou o que seria seu único título. Rainey sempre se mostrou ressentido pelo seu destino, mesmo voltando ao Mundial como chefe de equipe poucos anos depois. Sem a sua maior referência, Schwantz se aposentou dois anos depois, enquanto Misano passaria vários anos sem receber o Mundial. Numa dessas ironias do destino, após uma larga reforma, Misano voltaria ao calendário do Mundial de Motovelocidade e exatamente 17 anos depois do acidente de Rainey, o jovem japonês Shoya Tomizawa morreria no circuito italiano.

O acidente de Wayne Rainey naquele 5 de setembro de 1993 significou o fim de uma era. O Mundial de Motovelocidade terminaria uma de suas fases mais belas e populares. 

Abaixo, a corrida 25 anos atrás na íntegra, com narração em espanhol.



segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Figura(ITA): Lewis Hamilton

O que dizer de Lewis Hamilton? Numa pilotagem magistral, o inglês fez uma corrida verdadeiramente histórica numa pista que sempre gostou, mas que sempre teve a torcida contra. A derrota enfática na semana passada em Spa, somado a força dos tifosi em Monza, transformava a Ferrari na favorita do final de semana, mas Hamilton sempre teve seu talento para lhe tirar de grandes armadilhas. A Ferrari confirmou sua força em todos os treinos e dominando a primeira fila, mas Hamilton sempre estava próximo, esperando o menor dos vacilos para dar o bote. E o primeiro vacilo veio justamente do seu maior rival. Vettel se afobou enquanto atacava Raikkonen ainda na primeira volta e acabou tentando fechar Hamilton numa manobra desesperada, mas que acabou resultando num toque entre os dois. Com o rival mais forte em último, Hamilton pode se focar em Raikkonen e para isso contou com o apoio decisivo da Mercedes, que preparou uma tática sensacional para enfraquecer Kimi e deixar a vitória nas mãos habilidosas de Hamilton, que não se fez de rogado para conseguir a ultrapassagem da vitória bem na frente da torcida italiana. A vitória em Monza foi uma das melhores pilotagens de Hamilton em sua carreira e mostra que o inglês está ligeiramente acima de Vettel, tão tetracampeão como ele. Mesmo vaiado e xingado pela torcida, Lewis Hamilton saiu de Monza muito mais forte e preparado para as intempéries do resto da temporada, que poderá lhe consagrar como o terceiro pentacampeão da história da F1.

Figurão(ITA): Sebastian Vettel

Sebastian Vettel é o principal rival de Lewis Hamilton na luta pelo pentacampeonato e correndo na mitológica casa de sua equipe, o alemão foi a grande desilusão desse final de semana. Uma das esperanças de transformar o Mundial de Pilotos desse ano numa das grandes brigas da história da F1, Vettel sucumbiu frente ao inglês num lance completamente evitável ainda na primeira volta de uma corrida onde a Ferrari tinha o melhor carro. Após sua vitória em Spa, Vettel chegou à Monza como grande favorito, com a Ferrari tendo o suporte extra de sua torcida e a pista italiana sendo de características parecidas com Spa. A Ferrari não decepcionou nos treinos livres, liderando todas as sessões com pista seca, mas as coisas para Vettel começaram a dar errado quando Kimi, e não ele, ficou com a pole. Contudo, Sebastian teria um aliado ao seu lado e tudo caminhava para uma vitória redentora na frente dos tifosi que lotaram o Parque de Monza. Provavelmente querendo mostrar a força que demonstrou em Spa, quando ultrapassou Hamilton praticamente nos primeiros metros da corrida na Bélgica, Vettel foi para cima de Raikkonen, mas o finlandês, cujo a renovação pode ter naufragado pelas notícias da manhã da corrida, não aliviou para o companheiro de equipe. O sempre diligente Hamilton não perdeu a oportunidade da porta aberta deixada por Vettel e colocou mergulhou na Variante Della Roggia. O toque entre eles foi inevitável e Vettel levou a pior. Sua manobra precipitada acabou por deixa-lo na última posição, mas com o carro que tem, o alemão recebeu a bandeirada em quarto, relativamente próximo do pódio. Enquanto isso, Hamilton conseguiu uma vitória consagradora e irá para a parte final do campeonato com a confiança nas alturas. Muito por culpa de Vettel...