quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Fim de uma era

O ano de 1993 estava sendo uma disputa particular entre os velhos rivais Wayne Rainey e Kevin Schwantz no Mundial das 500cc. Os dois americanos eram frutos da segunda Era de Ouro do Mundial de Motovelocidade, onde a categoria conseguiu um salto de popularidade graças ao carisma dos pilotos americanos, que tomaram de assalto o Mundial em 1978, liderados por Kenny Roberts. Com um estilo único de pilotar e desconhecido por parte dos europeus, Roberts foi tricampeão logo de cara das 500cc, iniciando uma era de grandes pilotos que durou toda a década de 1980. Roberts era uma referência nos Estados Unidos e logo vários outros pilotos o seguiram, fazendo o Mundial das 500cc um assunto para pilotos americanos. Depois de Roberts vieram Randy Mamola, Freddie Spencer e Eddie Lawson. Wayne Rainey estreou no Mundial das 500cc junto com seu compatriota e rival Kevin Schwantz em 1988 e os dois logo deixaram uma impressão duradoura no mundo da motovelocidade. 

Dizia-se que Rainey era um discípulo de Eddie Lawson, que por sua vez tinha sido aluno de Kenny Roberts. Rainey poderia ser uma espécie de evolução dos grandes pilotos americanos e na virada da década de 1980 para 1990, Rainey tinha se tornado tricampeão mundial e era o melhor piloto da época, a ponto de se tornar uma lenda viva. Piloto extremamente talentoso e de poucos erros, Rainey era o oposto de Schwantz, com que lutava pelos títulos desde os tempos do Americano de Superbike. Rainey liderava o campeonato de 1993 e estava pronto para se tornar tetracampeão, quando chegou em Misano, um circuito italiano conhecido por não ser dos mais seguros, a ponto de ter sido boicotado anos antes.

Na corrida anterior Rainey fora ultrapassado pelo companheiro de equipe Luca Cadalora numa desobediência do italiano a uma ordem de equipe feito por Kenny Roberts, então chefe da equipe Yamaha. Correndo em casa, Cadalora não iria esmorecer para ajudar Rainey. Os dois lideravam a corrida, se alternando na ponta da prova. Foi então que uma Marlboro Yamaha apareceu destruída ao lado da pista. Num acidente com pouquíssimos registros e aparentemente simples, Wayne Rainey foi ao chão, mas um detalhe complicaria bastante a situação do americano. A caixa de brita tinha sido desenhada para carros, com cavas profundas para segurar algum carro desgovernado. Contudo, essas cavas profundas não eram a melhor das ideias para corridas de motos. Rainey perdeu o controle de sua Yamaha e fraturou uma vértebra enquanto caía na caixa de brita de Misano. Levado de helicóptero para um hospital, logo ficou constatado que o tricampeão Wayne Rainey, de 32 anos, estava paralisado do peito para baixo, o que significava o fim da carreira do americano.

O abandono de Rainey e o segundo lugar de Schwantz em Misano praticamente determinou o título para o piloto da Suzuki, que mal comemorou o que seria seu único título. Rainey sempre se mostrou ressentido pelo seu destino, mesmo voltando ao Mundial como chefe de equipe poucos anos depois. Sem a sua maior referência, Schwantz se aposentou dois anos depois, enquanto Misano passaria vários anos sem receber o Mundial. Numa dessas ironias do destino, após uma larga reforma, Misano voltaria ao calendário do Mundial de Motovelocidade e exatamente 17 anos depois do acidente de Rainey, o jovem japonês Shoya Tomizawa morreria no circuito italiano.

O acidente de Wayne Rainey naquele 5 de setembro de 1993 significou o fim de uma era. O Mundial de Motovelocidade terminaria uma de suas fases mais belas e populares. 

Abaixo, a corrida 25 anos atrás na íntegra, com narração em espanhol.



Um comentário:

  1. Schwantz tinha estreado no Mundial em 86 fazendo algumas corridas, assim como em 87. Somente em 88 que Schwantz faria sua primeira temporada completa no Mundial.

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