segunda-feira, 29 de abril de 2019

História: 40 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1979

A temporada européia de 1979 começava com o Grande Prêmio da Espanha em Jarama, perto de Madri. Jacques Laffite havia vencido as duas primeiras corridas da temporada com a Ligier antes de Gilles Villeneuve também triunfar duas vezes no novo Ferrari 312 T4. Porém, a Ferrari ainda tratava Jody Scheckter como primeiro piloto, mesmo Gilles liderando o campeonato, enquanto na Ligier, Laffite estranhava ter um companheiro de equipe após três anos reinando sozinho na equipe. Mesmo com esses pequenos problemas, as duas duplas se davam muito bem. Naquele momento, apenas a Lotus poderia se meter naquela briga ítalo-francesa pelo campeonato e Colin Chapman estrearia seu novo carro, o modelo 80, elevando ainda mais o conceito de carro-asa, mas nos testes ocorridos em Jarama, semanas antes da prova, o novo carro da Lotus não brilhou, assim como os novos carros da Renault e da Williams. Com ligeiras alterações, a Ligier dominou os testes e seus dois pilotos pulverizaram o recorde extra-oficial do circuito espanhol.

Os treinos oficiais ocorreram com tempo atipicamente frio e com muito vento. Na sexta, a Ferrari ficou com os dois melhores tempos, mas por ordem de Paul Lauritzen, a Goodyear deu a Ligier todos os melhores pneus disponíveis. No sábado Laffite alcançou a pole position, quase dois segundos melhor que a pole de 1978, com Depailler completando a primeira fila toda da Ligier. Villeneuve ficou em terceiro na frente do Lotus 80 da Andretti. Scheckter teve vários problemas nos treinos e conseguiu apenas a quinta posição, à frente dos dois Brabham de Lauda e Piquet, com o brasileiro ainda se recuperando do seu acidente na Argentina. Reutemann teve problemas mecânicos com seu novo carro e por isso teve que partir para o Lotus 79, se conformando com a oitava posição no grid, enquanto Jabouille estava bem contente com o comportamento do seu novo Renault em nono.

Grid:
1) Laffite (Ligier) - 1:14.50
2) Depailler (Ligier) - 1:14.79
3) Villeneuve (Ferrari) - 1:14.82
4) Andretti (Lotus) - 1:15.07
5) Scheckter (Ferrari) - 1:15.10
6) Lauda (Brabham) - 1:15.45
7) Piquet (Brabham) - 1:15.61
8) Reutemann (Lotus) - 1:15.67
9) Jabouille (Renault) - 1:15.78
10) Pironi (Tyrrell) - 1:16.04

O dia 29 de abril de 1979 estava ensolarado em Jarama, mas sem muito calor, porém, estava um dia diferente dos anteriores, podendo atrapalhar o acerto prévio dos carros. A largada do Grande Prêmio da Espanha foi um pouco confusa, mas sem incidentes. Depailler consegue uma ótima largada e quase que imediatamente se coloca na ponta da corrida, enquanto Mario Andretti chegou a se meter entre as Ligiers, mas perde desempenho do seu motor e cai várias posições, ajudando seu companheiro de equipe Reutemann, que pulou de oitavo para uma incrível terceira posição, ficando atrás da dupla da Ligier.

Durante a primeira volta, Villeneuve ultrapassa Reutemann para recuperar seu terceiro lugar, enquanto a dupla da Ligier ponteava a corrida, seguido pelas duplas de Ferrari e Lotus. Reutemann conseguiu retomar a sua posição na terceira volta, mas Villeneuve força a barra na freada da primeira curva e acaba rodando, caindo para oitavo. Totalmente possesso, Gilles tenta repetir a manobra em cima de Nelson Piquet na volta seguinte e novamente roda, caindo para 13º. Fazendo uma corrida bem mais cerebral, Scheckter apenas comboiava a Lotus de Reutemann, enquanto a dupla da Ligier já abria 5s para o argentino, com Laffite colado em seu compatriota Depailler. Se na transmissão da TV em 1979 pudéssemos escutar o rádio dos pilotos, provavelmente escutaríamos Laffite dizer que estava mais rápido do que Depailler, mas como isso não existia quarenta anos atrás, apenas se percebia que havia tensão nos boxes da Ligier porque Laffite acenava freneticamente quando passava em frente aos boxes, praticamente implorando que uma ordem fosse dada a Depailler e o deixasse passar. Se fazendo de desentendida ou não, a Ligier não lançou a tal ordem. E nem precisaria. Nervoso com sua situação, Laffite acaba errando uma marcha e abadona com o motor quebrado na volta 15. O pequeno francês deixou seu carro furioso, ainda mais percebendo que o segundo colocado Reutemann estava 14s atrás do seu companheiro de equipe.

A corrida se estabilizava, mas Reutemann começava a sofrer com problemas nos freios. Vendo de camarote os erros do seu companheiro de equipe Villeneuve, Scheckter não arriscava nada, mas via a aproximação de Mario Andretti e Niki Lauda. Com a metade da prova já tendo sido completada, Lauda perde contato com Andretti, que atacava Scheckter, que à essa altura sofria com desgaste de pneus, mas para a sorte do sul-africano, Mario Andretti se atrapalha enquanto colocava uma volta na McLaren de Patrick Tambay e perde parte de sua asa dianteira. O americano perde contato com Schecketer e na volta 45 era ultrapassado por Lauda. Com os pneus cada vez mais desgastados, Scheckter ia diminuindo seu ritmo e não demorou para Lauda encostar na Ferrari, concretizando a ultrapassagem na volta 60. Contudo, a corrida de Lauda duraria apenas mais quatro voltas, quando o motor Alfa Romeo superaqueceu. Mesmo com a asa dianteira de sua Lotus danificada, Andretti encontrou forças para atacar a Ferrari de Scheckter e assumiu a terceira posição. Praticamente de ponta a ponta, Patrick Depailler venceu sua segunda corrida na F1, seguido pela dupla da Lotus. Com os pneus em frangalhos, Scheckter ainda teve que suportar a pressão de Jarier nas voltas finais, mas o piloto da Ferrari ainda segurou a quarta posição, com Didier Pironi completando os seis que marcavam pontos. Depailler assumia a ponta do campeonato empatado com Villeneuve e era paparicado pelo rei Juan Carlos no pódio. "Essa vitória era capital. Algumas pessoas na equipe duvidavam de mim, mas meus rapazes deram tudo de si e eu finalmente consegui vencer", as palavras de alívio de Patrick Depailler mostravam bem como o clima dentro da Ligier ficava cada vez mais tenso.

Chegada:
1) Depailler
2) Reutemann
3) Andretti
4) Scheckter
5) Jarier
6) Pironi  

Figura(AZE): Mercedes

Como você ter o melhor carro do pelotão, mas com uma equipe tradicional a te pressionar e ainda assim dominar o campeonato? Como diria a propaganda da Ipiranga, pergunta lá pro Toto Wolff. A Mercedes novamente tem o melhor carro do ano, algo que vem se repetindo nos últimos anos, mas assim como aconteceu em 2018, a Ferrari está muito próxima da Mercedes, inclusive superior em alguns momentos. Porém, a Mercedes vai batendo de forma contínua os italianos na base da solidez de sua equipe. Enquanto a Ferrari se atrapalha em suas decisões políticas e escolhas táticas, a Mercedes vai dando respostas fortes para qualquer ameaça dos italianos. Novamente a Ferrari deu pinta que poderia derrotar a Mercedes nesse final de semana em Baku, mas um erro de Leclerc na classificação acabou facilitando a vida da Mercedes, que mais uma vez dominou a primeira fila do grid rumo a mais uma dobradinha. A quarta em quatro corridas, só não ficando com 100% dos pontos pelos pontos em disputa pela melhor volta de Leclerc e Gasly nas corridas anteriores. Mais do que a velocidade dos seus carros e o talento dos seus pilotos, a Mercedes vai contando também com uma gestão de equipe que vai transformando os títulos de 2019 um fato quase consumado para a Mercedes.

Figurão(AZE): Renault

Enquanto a Renault esteve associada à Red Bull, as deficiências do motor francês ficavam escondidos graças ao ótimo chassi construído por Adryan Newey. Porém, o ônus eram as brigas públicas entre os dirigentes de Red Bull e Renault, com a separação ocorrendo no final do ano passado. Ainda pelas farpas trocadas nos últimos anos, a Renault trouxe para a sua equipe Daniel Ricciardo, tirado da Red Bull de forma até surpreendente. Agora tendo sua equipe própria como a ponta de lança na luta contra Mercedes, Ferrari e Honda, a Renault aumentava ainda mais o investimento para finalmente voltar a brigar por vitória, ainda mais contando com um motivado Ricciardo, além da eterna promessa Nico Hulkenberg. Infelizmente para os franceses, a temporada 2019 está bem longe do esperado e o final de semana no Azerbaijão foi horroroso para a montadora gaulesa. Primeiro Hulkenberg ficou pelo caminho ainda no Q1, superando apenas as raquíticas Williams. Ricciardo foi ao Q2 meio que sabendo que não teria chances para ir ao Q3 e foi exatamente o que ocorreu. Em outras provas o ritmo de corrida da Renault era bem melhor do que na classificação, mas a mediocridade continuou no domingo. Hulkenberg fez uma corrida ordinária, onde foi muito atacado e ficou na última posição virtual da corrida, já que a Williams nem conta mais no pelotão intermediário. Se tudo isso não bastasse, a grande contratação da Renault para esse e os próximos anos, Daniel Ricciardo, se envolveu num dos acidentes mais bizarros dos últimos tempos e acabou entrando para o folclore da F1. O australiano tentava ultrapassar Kvyat numa briga por posição intermediária e ambos acabaram saindo da pista. Sem prestar muita atenção no que acontecia ao seu redor, Ricciardo engatou a ré e acabou atingindo o carro de Kvyat num acidente bisonho, terminando a corrida de ambos. Com quatro corridas em 2019, a Honda já ultrapassou a Renault como a terceira força entre os motores, enquanto a equipe cliente dos franceses, a McLaren, marcou pontos com seus dois carros, mesmo que a léguas do pódio. Os dirigentes da Renault terão muito trabalho para convencer os acionistas que continuem o investimento na F1.

domingo, 28 de abril de 2019

Capitalizando erros

Quatro dobradinhas em quatro corridas. Esse é o cartel atual da Mercedes na temporada 2019. Um olhar menos crítico pode dizer que os alemães estão dominando a F1 de forma até mais avassaladora do que nos últimos anos. Será mesmo? Dizer que a Mercedes não tem o melhor carro do ano é até um absurdo, mas a diferença dos outros anos de dominação é que a Ferrari não está tão longe assim da Mercedes. Na verdade, a Ferrari está em pé de igualdade da Mercedes, mas vários fatores fazem com que a Mercedes comece 2019 quase garantindo os títulos disponíveis na F1.

Já faz algum tempo que as corridas da F1 se decidem pelo posicionamento dos carros. Com ultrapassagens complicadas, mesmo em circuito propícios para isso, ter um bom posicionamento é essencial para definir os rumos de uma corrida de F1 atualmente. Para ter um bom posicionamento na pista, não basta apenas ter dois pilotos rápidos, mas ter uma boa estratégia, que cubra todas as combinações possíveis dentro de uma prova. Desde 2014 vencendo tudo na F1, a Mercedes tem todas as respostas sobre o que pode acontecer num final de semana de corrida e isso vem se mostrando fundamental para bater a Ferrari, que continua a pisar no tomate. No final de semana em Azerbaijão a Ferrari vinha muito forte, só que com apenas Charles Leclerc. O monegasco estava dominando todo os treinos livres e era favorito à pole, mas um erro durante o Q2 fez com que Leclerc estivesse longe das primeiras filas no domingo. Em uma fase bastante, digamos, estranha na carreira, Sebastian Vettel foi presa fácil para a dupla da Mercedes no sábado, conquistando toda a primeira fila.

No domingo, novamente estava claro que o piloto mais forte da Ferrari era Leclerc, mas outra vez os italianos escolheram uma tática engessada e acabou por prejudicar o monegasco, apenas em quinto, quando tinha ritmo para brigar com a dupla da Mercedes. O que salva o campeonato? A repentina subida de desempenho de Bottas. O finlandês conseguiu uma apertada pole no sábado e não se intimidou com a melhor largada de Lewis Hamilton, que atacou seu companheiro de equipe nas primeiras curvas da corrida, mas no fim Bottas se impôs para vencer sem altas doses de emoção. Ao contrário do que vinha acontecendo em Baku nos últimos anos, a corrida não foi das mais emocionantes. O safety-car só apareceu virtualmente no fim da corrida e mesmo com Hamilton ainda tentando um ataque final nas voltas derradeiras, a corrida estava desenhada para outra dobradinha da Mercedes desde praticamente a largada com Bottas na frente. Graças ao ponto da melhor volta conquistado em Melbourne, Bottas é o líder do campeonato por apenas um ponto, algo que Hamilton provavelmente não esperava de um piloto que parecia destinado a fila do desemprego no final de 2019, mas que agora, de barba e tudo, vem fazendo um campeonato surpreendente, tendo o mesmo número de vitória de Hamilton até o momento.

Vettel conseguiu um protocolar terceiro lugar, mas o alemão parecia não ter a mínima força para atacar a dupla da Mercedes, mesmo não ficando tão distante dessa vez. Com o campeonato transcorrendo de forma toda para a Mercedes, Vettel parece cabisbaixo dentro da Ferrari, ainda mais com Leclerc se mostrando um piloto muito forte. Pensando num futuro não muito distante, Leclerc pode muito bem brigar com Verstappen mais na frente. Enfrentando as limitações do seu carro, Verstappen vai fazendo um campeonato sólido e levando a Red Bull ao limite, ao contrário de Gasly, que abandonou quando vinha em sexto. 

O melhor do resto foi a Racing Point de Sérgio Pérez, que superou a dupla da McLaren para ser sexto, enquanto Lance Stroll foi nono num circuito onde ele sempre anda bem. Kimi Raikkonen foi desclassificado nos treinos oficiais, largou dos boxes e garantiu um pontinho com a Alfa Romeo. Duas equipes favoritas a estar brigando para ser a quarta força em 2019 decepcionaram em Baku. A Haas ficou de fora dos pontos e a Renault teve um final de semana horroroso, onde Hulkenberg só ficou à frente das Williams, enquanto a grande contratação da montadora francesa para esse ano, Ricciardo, se envolveu num incidente bizarro com o também bizarro Daniil Kvyat.

A Mercedes segue de vento em popa rumo a mais um título. Mesmo a Ferrari tendo um bom carro, a falta de continuidade da gestão da equipe vem custando caro ao time, que vem cometendo erros em cima de erros contra uma equipe experiente e sólida como a Mercedes. Por mais que a Ferrari melhore e deve melhorar bastante durante a temporada, a Mercedes parece estar sempre um passo à frente. E não apenas no quesito velocidade.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Figura(CHN): Mercedes

Conseguir três dobradinhas seguidas no início do campeonato diz muito sobre o campeonato da Mercedes até agora. Contudo, a recuperação do time germânico após a corrida do Bahrein espantou a todos. Em Sakhir, a Ferrari nadou de braçada em cima da Mercedes, mas os italianos acabaram perdendo a vitória por erros próprios (problema do motor de Leclerc) e dos seus pilotos (a rodada bizarra de Vettel). Mais do que nunca, a dobradinha no Oriente Médio foi mais circunstancial do que mérito próprio da Mercedes e a perspectiva para a prova seguinte não era das melhores. O circuito de Xangai teve como projetista o mesmo de Sakhir, ou seja, o circuito chinês tem características similares ao do Bahrein e a expectativa era de outro passeio da Ferrari. Longe de sua base, a Mercedes não teria muito o que fazer. Ou teria? Usando seus vastos recursos, a Mercedes conseguiu trazer pequenas melhorias em seu carro, além de melhorar o acerto para um circuito que tinha tudo para ser da Ferrari, como fora quinze dias atrás. Com uma liderança forte e muita gente capacitada, a Mercedes saiu de Xangai com mais uma dobradinha, desta vez com mérito próprio e deixando a Ferrari sem pai, nem mãe num circuito em que esperava dominar. Como aconteceu ano passado, a Mercedes vai capitalizando o máximo possível suas chances e em Xangai vimos outra performance impressionante de uma equipe forte dentro e fora das pistas.

Figurão(CHN): Daniil Kvyat

Um piloto de corridas ser acunhado como 'torpedo' pode ser uma coisa boa. Quando lembramos desse artefato, pensamos logo em algo que se move muito rápido debaixo d'água. Por outro lado, também lembramos que um torpedo é capaz de causar uma grande destruição se atingir um alvo. Kvyat é lembrado pelos fãs por causa da segunda opção. O russo é um piloto rápido e ninguém tem dúvida disso, mas como a F1 já mostrou várias vezes em sua história, somente a velocidade não é garantia de um grande piloto e Kvyat está nesse panteão. O ainda jovem piloto surgiu não como um torpedo, mas como um meteoro na F1, mais um produto do frutífero programa de jovens pilotos da Red Bull. Porém, Kvyat se mostrou muito rápido também em se meter em confusões e bastante propenso a erros, a ponto de ter sido rebaixado várias vezes dentro da estrutura da Red Bull até sair das asas do time de Helmut Marko. Lembram da fábrica ininterrupta de bons pilotos da Red Bull? Com a pouca paciência de Marko com os seus pilotos, a Red Bull se viu sem pilotos jovens para colocar em suas duas equipes e sobrou para Toro Rosso ter que trazer Kvyat de volta. 'Ele está mais maduro', falou Franz Tost ao ter o russo de volta para a equipe. Em Xangai, ficou provado que o velho Daniil Kvyat está do mesmo jeitinho de antes: rápido e desastrado. Apenas na terceira curva da corrida deste domingo, Kvyat se meteu num 'sanduíche' das McLarens destruindo a corrida dele e da dupla da McLaren, fazendo a Toro Rosso perder pontos preciosos no apertado pelotão intermediário. Enquanto isso, o novato Alexander Albon saiu dos boxes para os pontos, já ultrapassando Kvyat no Mundial de Pilotos. Agora fica uma pergunta: qual a perspectiva de Daniil Kvyat dentro da organização Red Bull? Pelo o que mostrou até agora, Kvyat não tem um futuro muito promissor.

domingo, 14 de abril de 2019

Passeio na praia

Long Beach é um dos circuito de ruas míticos do automobilismo mundial. Correndo à beira da praia e por ruas famosas, como a Shoreline Drive e a Seaside Avenue, além do conhecido hairpin antes da reta dos boxes, Long Beach respira história e arquibancadas lotadas. Porém, assim como acontece em Mônaco na F1, nem todo o glamour da tradicional corrida na Califórnia pode transformar isso em corridas emocionantes. Alexander Rossi não tem do que reclamar. Largando da pole, o americano da Andretti despachou seus concorrentes chegando a meter 20s na turma atrás dele, num claro domínio da Andretti e dos motores Honda.

A corrida em Long Beach não foi das mais emocionantes e teve apenas uma bandeira amarela, logo na primeira volta. Rossi tinha como principal adversário Scott Dixon, mas o neozelandês da Ganassi teve uma corrida fora dos seus padrões, onde caiu posições da onde largou. Dixon teve problemas em uma de suas paradas e chegou a cair para quinto, mas foi recuperando posições até chegar em terceiro, se aproveitando de uma punição recebida por Graham Rahal, que deu uma fechada criminosa em Dixon na última volta. Quem se aproveitou de tudo isso foi Josef Newgarden. O piloto da Penske já percebeu que os tempos onde sua equipe dominava com até quatro carros nas duas primeiras filas ficou no passado e que hoje o motor Honda tem uma vantagem sobre a Chevrolet. Newgarden fez outra corrida inteligente, se livrando dos incidentes para se colocar num bom segundo lugar que lhe garantiu na liderança do campeonato.

Alheio a tudo isso, Rossi dominou a corrida e venceu em Long Beach novamente. O piloto da Andretti conseguiu a vitória de número 200 da equipe e se coloca na luta pelo título ao lado de Dixon e Newgarden.

A queda do xerife texano

O retrospecto de Marc Márquez nos Estados Unidos era perfeito. Desde que estreou na MotoGP o jovem espanhol da Honda tinha um aproveitamento de 100% na ondulada pista de Austin. Quando venceu na Argentina de uma forma dominante, quinze dias atrás, todos tremeram, já que a corrida seguinte seria em Austin, um território de Márquez. Porém, tabus são feitos para serem quebrados e Márquez teve seu cartel perfeito quebrado como um xerife que é morto no crepúsculo em frente ao velho saloon. Porém, quem capitalizou a queda de Márquez foi um novo pistoleiro na pequena MotoGP: Alex Rins.

O efeito da vitória de Márquez na Argentina fez com que toda a comunidade da MotoGP chegasse à Austin derrotada. O espanhol venceu pela primeira vez na MotoGP no circuito texano, conquistou todas as vitórias desde então e já começou fazendo a pole ontem, derrotando a Yamaha de Viñales. Seu rival mais perigoso, Doviziozo, teve um treino muito ruim e teve que largar em 13º. Márquez largou bem e parecia imbatível. Vitória certa e vantagem aumentada no campeonato. Porém, como diria o maestro Juan Manuel Fangio 'carreras son carreras'. Bem na metade da corrida Márquez errou sozinho, quando estava longe de ser pressionado pelo segundo colocado e mesmo tentando levantar a motor, o espanhol da Honda teve que abandonar e quebrar seu incrível desempenho no Texas. Por sinal, um dia esquecível para a Honda. Poucas voltas antes Cal Cruthlow também caía na perseguição à Valentino Rossi e Jorge Lorenzo abandonou quando fazia outra corrida medíocre. O melhor piloto da Honda foi Nakagami, terminando no pelotão intermediário.

Sem o poderio da Honda e a Ducati fazendo a pior corrida de 2019, todos passaram a torcer para que Valentino Rossi também quebrar um tabu: 21 meses sem vitória. O italiano da Yamaha fazia uma corrida bem sólida com uma moto muito lenta de reta. Porém, Alex Rins da Suzuki se aproximou rapidamente. Era nítido a maior ação de Rins e se comportando como um veterano, Rins deu a primeira vitória para Suzuki em quase três anos, entrando na embolada briga pelo título. Doviziozo conseguiu se recuperar até o quarto lugar e reassumiu a ponta do campeonato, enquanto Rossi, na base da regularidade, é segundo. Maverick Viñales teve outra corrida tenebrosa. O espanhol queimou a largada e cumpriu uma punição errada, acabando por perder tempo duas vezes e terminar em 12º.

A primeira vitória de Rins na MotoGP e a comprovação da boa fase da Suzuki não pode tampar o sol com a peneira, pois se não fosse sua queda, Márquez venceria com facilidade e estaria com muita facilidade na liderança do campeonato. Porém, corridas são corridas...

Melbourne reloaded

O Grande Prêmio da China desta domingo teve um enredo bem parecido com Melbourne. O pole não largou bem, o segundo colocado disparou na ponta e mais atrás, ocorria um 'Caso de Família' dentro da Ferrari. Assim pode ser resumido a milésima corrida da história da F1. Numa corrida em que permanecer acordado foi uma luta, Lewis Hamilton largou muito bem e praticamente não foi incomodado pelo pole Bottas, que por sua vez, não foi incomodado pela Ferrari, que mais uma vez mandou Leclerc ficar na sua, ajudando Vettel a conseguir seu primeiro pódio em 2019.

Mesmo Xangai sendo um circuito que permite ultrapassagens e que havia perspectiva de chuva na hora da corrida, o que se viu foi um anti-clímax numa corrida chocha, onde a vitória foi definida na largada e as brigas intermediárias não emocionaram ninguém. Claro que Lewis Hamilton não tem do que reclamar. O inglês largou muito bem e depois só faltou colocar o braço para fora, ligar o rádio do carro e cantar Low Rider pelo circuito de Xangai. Das mais de setenta vitórias na carreira de Hamilton, hoje foi uma das mais fáceis e o inglês já assumiu a ponta do campeonato. Com a Mercedes conseguindo sua terceira dobradinha no ano, não precisa dizer muita coisa. Valtteri Bottas ficou com a sensação que Hamilton teve em Melbourne. Após conquistar uma belíssima pole no sábado, o finlandês largou mal e não viu mais seu companheiro de equipe, sendo dominado por Hamilton. No único momento em que Bottas poderia engrossar o caldo para Hamilton, encontrou um combativo Leclerc, que o fez perder tempo valioso e praticamente entregar a vitória para Lewis. Agora em segundo no campeonato, Bottas começa a se ver numa situação bem familiar: ser apenas escudeiro de Hamilton, que já surge como favoritasso para ser campeão e ficar apenas um título atrás de Schumacher.

Após a dominância no Bahrein, era esperado que a Ferrari repetisse o mesmo desempenho na China, numa pista com característica parecidas com Sakhir, mas os italianos nunca tiveram chances contra a Mercedes. Para ter sucesso na F1 atual, uma boa gestão se faz cada vez mais necessária. Não basta apenas ter bons pilotos, mecânicos, técnicos e engenheiros. Se na cabeça de sua hierarquia não houver uma pessoa super capacitada, as peças da engrenagem não se juntam e os resultados esperados não aparecem. A Mercedes, liderada por Toto Wolff, deu um salto de qualidade entre a corrida da quinzena anterior e a de hoje. Isso em duas corridas longe da base da Mercedes. A Ferrari parece que ficou parada no tempo e foi batida de forma inapelável, enquanto seus engenheiros batiam cabeça sobre qual piloto dar vantagem nesse domingo. Leclerc largou melhor do que Vettel num final de semana em que o alemão esteve mais forte. Demoraram longas voltas e muita deliberação até mandarem Leclerc ceder sua posição, enquanto o monegasco chorava as pitangas pelo rádio. Sendo que a corrida mostrou que realmente Vettel tinha um ritmo melhor, mas essa confusão de 'vai-não vai' acabou fazendo com que Verstappen se metesse entre as Ferraris e quase ter ultrapassado Vettel no momento de maior emoção da corrida. Domínio perdido para a Mercedes em apenas quinze dias e pontos perdidos com Leclerc apenas em quinto quando a Ferrari tem claramente o segundo melhor carro. A mudança de liderança da Ferrari não começa da melhor forma.

Mesmo com o pelotão intermediário crescendo um pouco, a diferença para as equipe top-3 é tão grande ainda, que Pierre Gasly, que mais uma vez tomou um banho de Verstappen e ficou muito atrás do companheiro de equipe da Red Bull, entrou nos boxes nas voltas finais sem perder posição para colocar pneus macios novos e garantir o ponto da melhor volta. O meio do pelotão teve uma corrida sem muitos arroubos e poucos destaques. Nessa categoria de melhor do resto o vencedor foi Daniel Ricciardo, que não fez muito esforço para terminar em sétimo e marcar seus primeiros pontos com a Renault, que viu Hulkenberg abandonar mais uma vez. Atrás dele veio Sérgio Pérez e Kimi Raikkonen. Mais experientes que seus fracos companheiros de equipe, Pérez e Raikkonen vão levando Racing Point e Alfa Romeo nas costas. Porém, na Toro Rosso o jovem piloto é que vem batendo o mais experiente. Destaque da prova, Alexander Albon largou dos boxes depois de bater forte no terceiro treino livre e numa corrida de recuperação, subiu ao décimo posto e garantiu mais um pontinho para a Toro Rosso, ultrapassando Daniil Kvyat que, adivinhem, se envolveu numa acidente na primeira volta que destruiu não apenas sua corrida, mas também da dupla da McLaren. O que Kvyat está fazendo na F1, é uma pergunta que deve ser respondida por Helmut Marko, que nos últimos anos dispensou vários pilotos do programa de jovens pilotos da Red Bull e agora se encontra sem opções, tendo que trazer um piloto sem nenhuma perspectiva de futuro na F1. Se perspectiva nenhuma está a Williams. Mesmo com vários pilotos do pelotão intermediário tendo problemas, o time ainda ficou com as duas últimas posições. 

Lewis Hamilton conseguiu outra marca na história da F1. Pela primeira vez a F1 viu um piloto vencer duas corridas centenárias (900 e 1.000). Muitos podem torcer um pouco o nariz para o estilo de Hamilton, mas o inglês já está na história e vencer corridas com cem GP's de diferença demonstra bem quem é o cara dessa geração.

sábado, 13 de abril de 2019

Pole especial

Na corrida de número mil na história da F1, conquistar algo nesse final de semana já coloca o piloto em questão na história. Num final de semana especial e emblemático, Valtteri Bottas conseguiu uma pole que o colocará não apenas na história da F1, como também o coloca numa nova perspectiva. O finlandês terá estofo (ou culhões?) para bater Hamilton dentro da Mercedes?

A expectativa de um final de semana mais a feição da Ferrari acabou com a Mercedes mostrando um grande equilíbrio na parte sinuosa do circuito de Xangai e o resultado foi uma primeira fila toda da Mercedes, sempre lembrando que o modo 'fiesta' dos alemães é bem mais eficiente do que a Ferrari, que ficou apenas três décimos atrás com Vettel. A classificação teve dois pilotos a menos, com o forte acidente de Alexander Albon no TL3 o tirando do treino e o problema de Antonio Giovinazzi deixando o italiano de fora. Isso fez com que o Q1 fosse bem lógico, com as duas Williams e Stroll de fora. O Q2 viu a McLaren, que andou muito forte no Bahrein, eliminada com seus dois pilotos além de Haas e Renault juntas indo ao Q3. A Red Bull andou próxima dos líderes, mas sem chances de brigar com a pole, mas no final do Q3, Verstappen teve um pequeno problema que atrapalhou ele, seu companheiro de equipe Gasly e a dupla da Haas, que nem completaram uma volta. 

A luta pela pole foi particular entre os dois pilotos da Mercedes. Hamilton se recuperou bem no Q2, quando ficou quase 1s atrás de Bottas, mas no Q3 o finlandês foi perfeito e venceu a batalha interna por muito pouco, melhorando sua volta final, algo que Hamilton não conseguiu. Bottas está definitivamente diferente em 2019. Mais abusado, o nórdico está indo para cima de Hamilton e finalmente o derrotou no que o inglês tem de melhor: uma volta lançada. Se Bottas manterá esse ritmo durante a corrida, ou até mesmo a Mercedes frente a Ferrari, será algo somente amanhã saberemos, mas Bottas está em outro nível em 2019.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Dia de Takuma

O circuito de Barber é um dos mais manhosos do calendário da Indy. Suas curvas de variados raios e mudanças de altitudes faz do circuito no Alabama um dos mais difíceis da categoria. Dominar numa pista assim requer muita qualidade do piloto e do equipamento. Takuma Sato, mesmo com suas presepadas, é um piloto de qualidade e o veterano piloto contou com o bom equipamento da equipe Rahal para dominar a corrida desse domingo e vencer praticamente de ponta a ponta. Sato e Rahal se beneficiaram do bom desempenho do motor Honda no Alabama. As equipes com Chevrolet, leia-se a equipe Penske, sofreram bastante no traiçoeiro circuito. Josef Newgarden, um dos poucos que dominam em Barber, fez uma corrida exemplar ao sair da 16º posição do grid para o quarto lugar na bandeirada, com direito a uma ultrapassagem arrancada à fórceps de Alexander Rossi nas voltas finais. O americano levou à Penske e a Chevrolet nas costas para conseguir esse resultado.

Mais do que Sato ou Rossi, Newgarden, atual líder do campeonato, precisa se preocupar com a raposa felpuda Scott Dixon. O neozelandês da Ganassi largou em terceiro e se aproveitou do abandono de Graham Rahal para chegar em segundo e ficar na mesma posição no campeonato. Josef Newgarden sabe como ninguém que Dixon costuma fazer com sua regularidade. Sato está longe de ter a consistência de Dixon, mas ontem foi o seu dia. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Que pena...

Essa semana a família de Jim Russell anunciou o falecimento do antigo piloto, aos 98 anos de idade. Para quem não conhece o piloto Jim Russell, é bom pesquisar sobre sua escola de pilotagem. Ao perceber que a arte de pilotar poderia ser transmitida à aspirantes de pilotos, Russell criou uma escola de pilotagem que se tornou lendária, tendo como principais alunos Emerson Fittipaldi, Danny Sullivan, Jacques Villeneuve, entre outros. Ligado à Lotus, Russell proporcionou que vários pilotos começassem suas carreiras.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Figura(BAH): Charles Leclerc

A vitória pode ter escapado, mas não restam dúvida que o nome de todo o final de semana foi mesmo de Charles Leclerc. O monegasco fez uma exibição sublime no Bahrein, onde foi rápido em todos os momentos, não dando chances ao seu afamado companheiro de equipe Sebastian Vettel. Já no sábado Leclerc fez história ao se tornar o mais jovem piloto da Ferrari a ficar com a pole e o terceiro mais jovem da história. E não foi uma pole casual. Leclerc enfrentou os grandes nomes do momento na pista e os derrotou com autoridade. No domingo ficou a expectativa de como o jovem de 21 anos se comportaria largando na ponta e tendo ao seu lado dois multi-campeões. Leclerc largou com cautela e caiu para terceiro, mas não demorou muito para partir para cima de Bottas e Vettel para reassumir a ponta da corrida. Daí em diante, Leclerc não foi mais visto. Abriu uma diferença confortável e administrou a corrida com a tranquilidade dos futuros campeões. Porém, um infeliz problema no motor Ferrari fez com que Leclerc perdesse desempenho até cair para terceiro, quando foi salvo por um safety-car nas últimas voltas. Foi o primeiro pódio de Leclerc, mas a capacidade que mostrou nesse final de semana em Sakhir, aliado com sua personalidade, faz com que a Ferrari acertasse em cheio em trazer essa esperança para o futuro.

Figurão(BAH): Pierre Gasly

Quando foi confirmado na Red Bull, os próprios chefes declararam que Pierre Gasly chegou cedo demais à equipe, mas não havia outras alternativas viáveis. Só o fato de chegar sob desconfiança não era um bom prenúncio para o jovem francês, mas assim que se estabeleceu na equipe principal da Red Bull neste ano, as coisas foram piorando para Gasly. Uma pré-temporada cheia de incidentes já fez com que Helmut Marko chegasse com sua delicadeza de um elefante numa loja de cristais para criticar Gasly. Veio a primeira corrida em Melbourne e o francês ficou de fora ainda no Q1, mas quando se descobriu que o erro foi inteiramente da Red Bull, houve condescendência para com Pierre, mesmo ele não tendo feito uma boa corrida de recuperação, ficando de fora da zona de pontuação, enquanto Verstappen subia ao pódio. No entanto, a corrida seguinte seria no Bahrein, lugar da melhor corrida de Gasly ano passado, mas a esperança de um bom resultado se transformou em outra exibição abaixo da crítica. Ser comparado à Max Verstappen com certeza é um desafio enorme e Daniel Ricciardo preferiu mudar de equipe do que ficar ao lado do virtuose holandês. Porém, é esperado um mínimo desempenho para quem está com o terceiro melhor carro do pelotão, além de marcar importantes pontos no Mundial de Construtores, algo que garantiu o emprego de Raikkonen na Ferrari por alguns anos. Por isso que o desempenho de Gasly vem sendo péssimo até o momento. No circuito onde mais se destacou em 2018, o francês da Red Bull teve um final de semana medonho, onde novamente não foi ao Q3 e não houve nenhum erro de tática de sua equipe. Gasly ficou no meio do pelotão por puro desempenho. Na corrida as coisas não foram melhores. Gasly não conseguiu escalar o pelotão e por vezes andou no mesmo nível da Toro Rosso, equipe que guiava ano passado e tem um piloto novato e outro só re-entrou na F1 por um motivo que só Deus sabe. Chegar ao oitavo lugar com um Red Bull não condiz para alguém que tem um bom equipamento nas mãos, ainda mais com seu companheiro de equipe tendo ficado muito próximo do pódio. Conhecendo os métodos bizantinos de Helmut Marko, a batata de Pierre Gasly já está sendo preparado ao lado do forno.