sexta-feira, 30 de abril de 2010

História: 15 anos do Grande Prêmio de San Marino de 1995


Não faltaram homenagens naquele final de semana cinzento em Ímola. Havia se passado um ano desde o trágico final de semana em que a F1 havia se reencontrado com a morte e perdido um dos seus maiores gênios. A Formula 1 estava diferente após aquele baque, mas o Autodromo Enzo e Dino Ferrari também estava. Se antigamente a pista era considerada extremamente rápida, as modificações motivadas por segurança deixaram a pista italiana obviamente mais lenta. A fatídica curva Tamburello se tornava uma chicane como qualquer outra no mundo. A curva Villeneuve agora tinha uma entrada mais lenta antes da freada da Tosa. As curvas que mataram Ayrton Senna a Roland Ratzenberger estavam diferentes, mas a dor não havia passado.

Além disso, talvez para trazer um pouco de alívio em tantas lembranças tristes, Nigel Mansell fazia mais um retorno à F1, desta vez na McLaren. O inglês de 41 anos de idade tinha ficado de fora das primeiras corridas por não caber dentro da McLaren MP4/10, mas Mansell já teria regalias de primeiro piloto quando estreou a versão B da McLaren. Porém, a grande estrela dos treinos era novamente Michael Schumacher, quando o alemão usou o seu enorme talento para tirar a desvantagem do seu Benetton com relação a Williams e ficou com a pole, seguido muito de perto pela Ferrari de Berger. Correndo em casa, a Ferrari sempre mostrava um desempenho superior em outras corridas e não faltavam comentários de dispositivos proibidos, com a FIA fechando os olhos, para que a Ferrari chamasse mais torcedores para as corridas.

Grid:
1) Schumacher (Benetton) - 1:27.274
2) Berger (Ferrari) - 1:27.282
3) Coulthard (Williams) - 1:27.459
4) Hill (Williams) - 1:27.512
5) Alesi (Ferrari) - 1:27.813
6) Hakkinen (McLaren) - 1:28.343
7) Irvine (Jordan) - 1:28.516
8) Herbert (Benetton) - 1:29.350
9) Mansell (McLaren) - 1:29.517
10) Barrichello (Jordan) - 1:29.551

O dia 30 de abril de 1995 estava chuvoso em Ímola, mas não a ponto de encharcar a pista. Era a típica situação onde não se sabe ao certo com que pneus largar, mas os ponteiros preferiram usar a via segura e os cinco primeiros do grid largaram, sem grandes incidentes, com pneus de chuva, enquanto o resto usava pneus slicks. Inicialmente, parecia que os pilotos que largaram com pneus biscoitos tinham uma vantagem clara sobre os demais, mas não demorou para que a sorte virasse.

Não chovia e estava claro o traçado seco na pista de Ímola e os líderes não demoraram a colocar pneus slicks, a começar pelas duas Ferraris. Michael Schumacher se segurou até a nona volta, mas resolveu trocar seus pneus quando liderava. Porém, na Subida da Acqua Minarale, o alemão perdeu o controle do seu Benetton e bateu forte no muro. Uma quase coinscidência nefasta aconteceu. Senna havia batido em 1994 às 13:16, enquanto Schumacher bateu um ano e um minuto depois. O alemão saiu irritado do seu carro e todos apontaram para um erro de Schumacher, querendo forçar demais enquanto ainda tinha pneus slicks e frios numa superfícia escorregadia, mas Michael disse que havia sido um problema técnico, provavelmente de suspensão. Rapidamente confirmada pela Benetton!

Para alegria dos tifosi, que lotaram o circuito em Ímola com a esperança de uma vitória ferrarista, Berger liderava à frente de Hill, que ganhara a posição de Coulthard durante as paradas de box, o segundo piloto da Williams e Alesi. Porém, a alegria da torcida italiana duraria pouco quando Berger faz sua parada e deixa seu carro morrer, fazendo o austríaco perder uma enormidade de tempo. Hill faz sua parada logo depois, enquanto Coulthard e Alesi passaram a brigar pela 2º posição, já que Berger havia caído para 4º.

A disputa entre Coulthard e Alesi era empolgante e o escocês tinha saído um pouco à frente do francês dos boxes, mas havia um motivo que apenas os sensores da FIA acusaram. Coulthard tinha sido rápido demais dentro dos boxes e não demorou para que o piloto da Williams tivesse que cumprir uma penalidade de 10s nos boxes, sem contar que o escocês ainda tinha uma avaria no bico. A corrida fica estática, com Hill abrindo uma enorme vantagem para as Ferrari, enquanto os torcedores italianos rezavam para que algo acontecesse com o Williams de inglês. E quase aconteceu, quando a mangueira de combustível fica presa no carro de Hill e o piloto da Williams perde tempo, mas, para infelicidade dos italianos, não o suficiente para que Hill perdesse a liderança para Alesi e vencesse com categoria. Um ano após a tragédia em Ímola, a Williams poderia comemorar uma emotiva vitória. Claro que a equipe dedicou a vitória a Senna.

Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Berger
4) Coulthard
5) Hakkinen
6) Frentzen

quarta-feira, 28 de abril de 2010

História: 35 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1975


"Eu não quero correr." Emerson Fittipaldi era o atual Campeão Mundial de F1 e por isso tinha a moral suficiente para dizer isso. Porém, a atitude corajosa do brasileiro, em conjunto com todos os membros da GPDA tinha razão de ser: segurança. Os níveis de segurança da Formula 1 na década de 70 eram precárias e o circuito de rua em Montjuich era o maior exemplo do descaso dos organizadores com relação ao mínimo bem estar dos pilotos, as principais estrelas do evento. Os guard-rails, única barreira entre uma tragédia, estavam soltos na Espanha e alguns eram ridiculamente presos com arames. Na sexta-feira os líderes da GPDA, Emerson Fittipaldi e Graham Hill, anunciaram que os pilotos estavam de greve enquanto melhorias urgentes fossem feitos no circuito, literalmente, improvisado nos arredores de Barcelona. Assustados com a atitude de seus pilotos, os chefes de equipes mandaram seus mecânicos para ajudar a organização do evento e fazer consertos paliativos no traçado espanhol.

Se a adesão à greve foi quase geral na sexta-feira, no sábado as coisas não caminharam tão bem para os pilotos revoltos. A organização da corrida espanhol prometeu ações legais e Franco em pessoa prometeu reter todos os produtos da Philip Morris se Emerson Fittipaldi não corresse. A pressão foi grande demais e os pilotos foram forçados a fazer a Classificação em uma pista sem nenhuma condição de segurança. Em forma de protesto, Fittipaldi deu apenas três voltas lentas e marcou o último tempo daquele dia. E prometeu não correr.

Grid:
1) Lauda (Ferrari) - 1:23.4
2) Regazzoni (Ferrari) - 1:23.5
3) Hunt (Hesketh) - 1:23.8
4) Andretti (Parnelli) - 1:23.9
5) Brambilla (March) - 1:24.2
6) Watson (Surtees) - 1:24.3
7) Depailler (Tyrrell) - 1:24.4
8) Pryce (Shadow) - 1:24.5
9) Stommelen (Hill) - 1:24.7
10) Jarier (Shadow) - 1:25.0

O dia 27 de abril de 1975 estava perfeito na cidade de Barcelona, mas extremamente nebuloso no paddock da F1. Os pilotos ainda mostravam descontentamento com a situação e Emerson cumpriu sua promessa. Ele largou, apenas para fazer parte da corrida e evitar maiores problemas para a McLaren e seu patrocinador principal, mas abandonou no final da primeira volta. Aquele dia de abril tinha tudo para dar errado e começou de forma esquisita, como um aviso funesto. O desastrado Vittorio Brambilla tentou mais uma de suas manobras otimistas e acabou tocando em Mario Andretti, que largava em sua melhor posição na temporada com a novata Parnelli, e o ítalo-americano acabou tocando na traseira de Lauda, que foi jogado para cima do carro de Regazzoni. Após dominar a primeira fila, a Ferrari estava fora na primeira curva.

Apesar de ter levado pancado de todos os lados, Andretti não apenas permanecia na pista, como havia subido para a 2º posição, atrás de James Hunt, que capitalizou os problemas da Ferrari e liderava a prova. Rolf Stommelen, um alemão que fazia muito sucesso em corridas de Esporte-Protótipo, graças aos problemas dos outros, já aparecia numa ótima quarta posição, atrás do também surpreendente Watson. Na quarta volta, Jody Scheckter tentava uma corrida de recuperação após largar em 13º e vinha ganhando posições constantemente até ver seu motor estourar, só que o sul-africano não abandonou sozinho, pois o óleo deixado pelo seu carro fez Mark Donohue e o estreante Alan Jones baterem. Hunt liderava, mas o inglês acabou deslizando no óleo deixado por Scheckter e também abandonaria apenas três voltas depois.

A corrida estava para lá de esquisita. Em apenas sete voltas, nove carros haviam abandonado a disputa e quem liderava era um piloto numa equipe novata (Andretti), seguido por dois pilotos talentosos (Watson e Stommelen), mas com carros reconhecidamente ruins e de grandes campeões do passado (Surtees e Hill). Na verdade, os incidentes na largada ainda causariam vítimas e Watson abandonou com problemas seríssimos de vibração, seguido logo depois por Andretti, com a suspensão quebrada. Stommelen liderava de forma inacreditável, mas começava a ser pressionado pela Brabham de José Carlos Pace, o primeiro piloto do pelotão dianteiro da F1. Os dois estavam bem à frente dos demais e protagonizaram uma disputa empolgante pela primeira posição. Então, veio a tragédia.

Na volta 26, Stommelen vinha à frente de Pace quando sua asa traseira se soltou sem aviso. O carro do alemão alçou voo e Pace, sem ter o que fazer, atingiu com força o bólido de Stommelen. Isso fez com que o carro descontrolado de Stommelen fosse jogado para o outro lado da pista a alta velocidade, mas nesse ponto o guard-rail não estava fixado corretamente. Da maneira que os pilotos avisavam desde sábado. O Hill de Stommelen atravessou o guard-rail e atingiu fotógrafos e pessoas que estavam ao lado do rail. Quem viu a cena nunca se esqueceu a visão de pessoas despedaçadas no chão. Milagrosamente Stommelen não foi a sexta vítima fatal daquele dia, mas a organização espanhola estava tão atarantada, que demorou quatro voltas para paralizar a corrida e nesse meio tempo Jochen Mass ultrapassava Jacky Ickx e recebia a bandeirada em primeiro, vencendo, de forma triste, sua primeira corrida na F1 e quebrando um jejum de 14 anos sem uma vitória alemã. Outro ponto histórico desta corrida de péssimas lembranças foi o meio ponto, já que a corrida foi terminada antes da metade, de Lella Lombardi, a única mulher até agora a conseguir esse feito. Chegando em sua casa na Suíça após abandonar a corrida na Espanha, Emerson Fittipaldi era perguntado sobre a tragédia. Sem saber o que havia acabado de acontecer, Emerson não mostrou nenhuma alegria em ter razão de não ter corrido naquele dia.

Chegada:
1) Mass
2) Ickx
3) Reutemann
4) Jarier
5) Brambilla
6) Lombardi

domingo, 25 de abril de 2010

História: 5 anos do Grande Prêmio de San Marino de 2005


Com as mudanças de regulamento propostas após a esmagadora vitória da Ferrari em 2004, a F1 mudou radicalmente em 2005 e quem estava dominando naquele início de temporada era a Renault, com Fernando Alonso vindo de duas vitórias consecutivas e liderando o campeonato com facilidade. A Ferrari usou novamente a tática de começar o ano com o carro do ano anterior, mas o já lendário F2004 não foi capaz de segurar os novos carros e o F2005 foi colocado na pista às pressas no Bahrein. Schumacher andou próximo de Alonso até abandonar e por isso as expectativas eram ótimas para o time vermelho para a primeira corrida na Europa e ainda por cima, correndo no quintal de casa.

O mais esquisito das formulas de Classificação dos últimos anos, com os tempos somados em duas sessões em dois dias diferentes, estragou a boa fase de Michael Schumacher e um erro do alemão o colocou em 13º, mas ao contrário do que todos imaginavam, quem marcou a pole não foi um Renault. De forma bem discreta, a McLaren começava a mostrar suas garras e Kimi Raikkonen superou Alonso com uma larga vantagem, enquanto Alexander Wurz continuava o rodízio do time prateado na substituição do machucado Juan Pablo Montoya.

Grid:
1) Raikkonen (McLaren) - 2:42.880
2) Alonso (Renault) - 2:43.441
3) Button (BAR) - 2:44.105
4) Webber (Williams) - 2:44.501
5) Trulli (Toyota) - 2:44.518
6) Sato (BAR) - 2:44.658
7) Wurz (McLaren) - 2:44.689
8) Heidfeld (Williams) - 2:45.196
9) Barrichello (Ferrari) - 2:45.243
10) R.Schumacher (Toyota) - 2:45.416

O dia 24 de abril de 2005 estava nublado em Ímola, mas não havia previsão de chuva. Normalmente a corrida realizada no auge da primavera européia não tinha nem muito calor e as chuvas eram raras. O clima era agradável para a corrida e a largada ocorreu sem maiores problemas, com Raikkonen se mantendo na frente, seguido por Alonso e Button. A equipe BAR, após um início de temporada tumultuado, tinha seu primeiro bom final de semana no ano, bem na estréia do seu novo diretor esportivo, Gil de Ferran.

A McLaren não havia impressionado em 2005 e por isso todos ficaram surpreendidos com o ritmo imposto por Raikkonen, que rapidamente se distanciava de Alonso. Em oito voltas, Kimi tinha 3.5s de vantagem sobre Alonso, mas uma das marcas dos carros de Adryan Newey eram justamente a velocidade e a inconfiabilidade. Na nona volta Raikkonen diminuiu seu ritmo e abandonava quando partia para o que parecia ser uma tranquila vitória. Aquela cena se tornaria corriqueira em 2005. Alonso assumia a ponta e mantinha uma diferença confortável em cima de Button, que corrida isolado em 2º, já que Trulli, que havia feito uma boa largada, mas não tinha um bom ritmo de corrida, mostrava a todos a dificuldade de ultrapassagem na F1 e provocava um verdadeiro engarrafamento atrás de si, liderado por Mark Webber. Em último lugar desta fila, estava Michael Schumacher, colado atrás do seu irmão, em 11º. Que logo virou 10º quando Barrichello abandonou a corrida na volta 17.

Enquanto Alonso liderava com tranquilidade lá na frente, Giancarlo Fisichella continuava sofrendo e após uma quebra misteriosa, o italiano bateu forte na Tamburello. Ainda bem que a fatídica curva estava bem mais lenta do que nos anos anteriores. Mais atrás, Felipe Massa e David Coulthard brigavam por posição e o brasileiro acabou com o bico do seu carro quebrado, mas esse entrevero teria desdobramentos depois da corrida, quando os dois quase se engalfinharam fora da pista!

A partir da volta 22, as primeiras paradas começaram e com isso houveram mudanças que se mostraram definitivas para a corrida a partir de então. Trulli e Webber foram os primeiros a parar, seguido de Alonso e Sato. Button, Wurz e Michael Schumacher foram os últimos a parar e foi aí que o alemão mostrou sua magia. Com pista livre, Schumacher conseguiu três voltas voadoras que o fez pular de 10º para 3º em quatro voltas! Se houvesse uma votação para a melhor 'ultrapassagem nos boxes', eu escolheria essa de Schumacher que, com pista livre, era o mais rápido da pista. Na volta 25, o piloto da Ferrari tinha 13s de desvantagem para Button, mas Schumacher vinha tirando a diferença a um ritmo absurdo e não demorou para o alemão encostar no inglês. Porém, todos sabiam que Ímola não era uma pista de fácil ultrapassagem e ninguém esperava uma manobra mais brusca de Schumacher antes da segunda parada de box, onde ele poderia efetuar a 'ultrapassagem' sobre Button. Porém, naquela dia de abril, Schumacher queria provar que ele era mesmo um fora-de-série e após Button ficar encaixotado por retardatários, Schumacher se aproveitou para ultrapassar o inglês na chicane alta. Button chegaria em terceiro na pista, mas a BAR seria desclassificada por irregularidades no seu tanque de combustível e seria suspensa por duas corridas. Gil de Ferran teria um belo pepino para resolver logo de cara.

De forma surpreendente, Alonso faz sua segunda parada mais cedo, na volta 42 e com a ultrapassagem de Schumacher, o alemão liderava a corrida e tentava, com um ritmo mais forte, tirar a vantagem de Alonso na pista. Na volta 49, Schumacher faz um pit-stop rapidíssimo e voltou à pista logo atrás do espanhol da Renault. Estava feito o cenário para um final de corrida histórico. Alonso, de 23 anos e três vitórias, teria como segurar o lendário Schumacher, de 36 anos e sete títulos mundiais? A resposta seria dada nas treze voltas seguintes. Rapidamente o ferrarista colou na Renault de Alonso e o público, pequeno por causa da má fase da Ferrari, começava a se empolgar, principalmente quando o alemão colocava de lado em certas curvas. Era definitivamente a prova de fogo de Alonso e o espanhol estava se comportando maravilhosamente bem. Quem estava naquele dia em Ímola ou na frente da TV ficou com a respiração ofegante pela perseguição implacável e emocionante de Schumacher. Nas voltas finais, Alonso viu um grupo de retardatários, mas ao invés de cometer o mesmo erro de Button, o espanhol preferiu segurar seu ritmo e não enfrentar aqueles carros mais lentos. Lembrando a famosa corrida em 1983, quando Tambay conseguiu a vitória para a Ferrari após uma emocionante disputa com Patrese, os tifosi esperavam um triunfo parecido e por isso urravam quando Schumacher tentava uma manobra. Mas as voltas foram se passando e Alonso não errava. Na última volta, Schumacher mergulhou por dentro na Tosa, mas Alonso fechou a porta com vontade, mas Schummy não desistiria. Na freada para a Rivazza, nas últimas curvas do circuito, o ferrarista atingiu a maior velocidade do dia e tentou uma manobra, mas Alonso resistiu. Apenas 0.3s de diferença, Alonso recebeu a bandeirada e apontava o número três com os dedos. Mas aquela não era apenas a terceira vitória do espanhol em 2005. Era a confirmação de que Fernando Alonso era uma nova estrela e que poderia derrotar Michael Schumacher numa disputa direta. Ele estava preparado para ser campeão.

Chegada:
1) Alonso
2) M.Schumacher
3) Wurz
4) Villeneuve
5) Trulli
6) R.Schumacher
7) Heidfeld
8) Webber

sábado, 24 de abril de 2010

História: 10 anos do Grande Prêmio da Inglaterra de 2000


Tradicionalmente o Grande Prêmio da Inglaterra era realizado entre as provas da França e na Alemanha, no auge do verão europeu. No ano 2000, decidiu-se que a corrida britânica seria realizada em abril, no domingo de páscoa. Apesar da tradição, não havia nenhum problema, a não ser que a Inglaterra se caractariza por chover em praticamente todos os dias no final de abril e acabou causando um caos que entrou para a história da F1. Na sexta-feira, choveu tanto que os treinos foram várias vezes interrompidos e numa escapada de pista de David Coulthard, o carro que foi resgatar o carro do escocês ficou atolado. E não foi o único. O estacionamento de Silverstone, coberto de grama, se transformou num mar de lama e os próprios organizadores pediam para que as pessoas não fossem ao autódromo ver Jenson Button, que havia virado uma estrela do dia para a noite na Inglaterra. O jovem de 20 anos era uma espécie de sexto spice girl e ele foi capa em todos os jornais e revistas daquela semana.

Se a chuva trouxe o caos para o final de semana inglês, trouxe grande emoção para a Classificação no sábado, com a pista melhorando de condições ao longo da sessão e vários pilotos ficaram com a pole em determinado momento. Era uma loteria, pois um erro ou acerto poderia derrubar ou levantar algum piloto. Rubens Barrichello, reconhecidamente um ótimo piloto em condições traiçoeiras, conseguia sua primeira pole na Ferrari e segunda na carreira, superando por apenas três milésimos de segundo Heinz-Harald Frentzen. Schumacher havia errado na sua última volta e por isso era quinto, logo à frente de Button, para delírio das poucas pessoas que se aventuraram a ir para Silverstone naquele dia. Para Rubens, além da alegria pela pole, também havia sido um forma de comemorar os 500 anos de descobrimento (meus professores de história sempre falavam em roubo) do Brasil naquele dia, mas a grande manchete era o resgaste do menino cubano Elián da casa de parente em Miami.

Grid:
1) Barrichello (Ferrari) - 1:25.703
2) Frentzen (Jordan) - 1:25.706
3) Coulthard (McLaren) - 1:25.741
4) Hakkinen (McLaren) - 1:26.088
5) M.Schumacher (Ferrari) - 1:26.161
6) Button (Williams) - 1:26.733
7) R.Schumacher (Williams) - 1:26.786
8) Verstappen (Arrows) - 1:26.793
9) Irvine (Jaguar) - 1:26.818
10) Villeneuve (BAR) - 1:27.025

Para surpresa geral, o dia 23 de abril de 2000 estava ensolado e até mesmo quente para os padrões ingleses. Isso possibilitou que o público fosse sem muitos atropelos a Silverstone e a corrida, que prometia movimentada pela possibilidade de chuva e a forte emoção do treino de Classificação, perdeu um pouco do brilho, já que Silverstone é uma ótima pista para se pilotar, mas nem tanto para se ultrapassar. Com um chance de ouro ao largar não apenas na frente, mas longe do seu companheiro de equipe Michael Schumacher, Rubens Barrichello tenta se aproveitar ao máximo da pole e larga bem na sua corrida rumo a sonhada primeira vitória. Na verdade, as primeiras filas não mostram surpresas, mas lá atrás as coisas estavam animadas com mais uma largada relâmpago de Jacques Villeneuve, passando entre Irvine e Verstappen e se colocando a direita da Williams de Ralf Schumacher. O irmão mais velho de Ralf tinha problemas quando ficou sem espaço e para não bater, foi para a grama e caiu de 5º para 8º.

Logo na segunda volta, Ralf retomou a posição de Villeneuve e o canadense tratou de segurar seu arqui-rival Schumacher na briga pela sétima posição, então lá na frente, uma corrida sem graça se desenvolvia lá na frente entre a Ferrari de Barrichello, a Jordan de Frentzen, as duas McLarens e as duas Williams. Os seis carros estavam próximos, mas sem nenhuma possibilidade de ataque. Na verdade, a corrida ficou sem uma única ultrapassagem nas próximas 23 voltas! Ferrari e McLaren brigando pela ponta de uma corrida não chegava a ser surpresa, mas o ritmo de Frentzen e das Williams impressionava, contudo, logo se descobriu o motivo. Na volta 24, Frentzen foi o primeiro a ir aos boxes e como sua parada foi rápida, ficou claro que o alemão pararia duas vezes. As duas Williams pararam nas duas voltas posteriores. A verdade da corrida estava feita e Barrichello teria que enfrentar, sozinho, as duas McLarens.

Próximo da metade da corrida e de suas paradas programadas, Barrichello fica repentinamente lento na reta Hangar. Quando parecia que iria abandonar, a Ferrari retomou seu ritmo, mas Rubens havia perdido a liderança para Coulthard, mas o escocês pararia duas voltas depois, com Hakkinen tendo feito isso uma volta antes. Barrichello ainda liderava, mas seu ritmo oscilava muito e para surpresa geral Michael Schumacher já aparecia em segundo, retardando ao máximo sua única parada. Porém, na volta 35, Barrichello roda estranhamente nas lentas curvas antes da reta dos boxes. O brasileiro volta à pista e imadiatamente vai aos boxes para abandonar. Novamente problema hidráulico e rapidamente começaram as brincadeiras. José Simão dizia que deveriam colocar uma válvula Hydra na Ferrari de Rubinho. Rárárá!
Por causa da estratégia, Frentzen liderou algumas voltas, mas todos sabiam que o alemão pararia por uma segunda vez e por isso Coulthard retomou a ponta para não mais perdê-la. Apesar de um grande susto. Faltando dez voltas para o fim, o escocês diminui sua velocidade repentinamente na reta dos boxes e Hakkinen se aproxima rapidamente. Todos pensaram que era um jogo de equipe a favor do finlandês, mas na verdade era um pequeno problema de câmbio na McLaren de Coulthard e mesmo com a sombra de Hakkinen, Coulthard recebeu a bandeirada em primeiro e para delírio da McLaren, Hakkinen completou a dobradinha. Schumacher havia confessado que não estava a vontade na pista em que havia quebrado a perna em 1999, mas o receio terminou com um ótimo terceiro lugar e os pontos conquistados seriam vitais no futuro. Para alegria da torcida, Button terminou a corrida em quinto e marcava pontos novamente. O jovem se tornava o queridinho da torcida inglesa, mas ele só mostraria seu verdadeiro potencial dez anos mais tarde.

Chegada:
1) Coulthard
2) Hakkinen
3) M.Schumacher
4) R.Schumacher
5) Button
6) Trulli

quarta-feira, 21 de abril de 2010

História: 25 anos do Grande Prêmio de Portugal de 1985


A chegada de Ayrton Senna na Lotus era um verdadeiro marco na carreira deste brasileiro que parecia destinado a brilhar na F1. Foram três anos de enorme sucesso nas categorias de base e uma estréia marcante na Formula 1 pela Toleman, que lhe garantiu como uma das grandes promessas da categoria naquela metade da década de 80. A velocidade genuína desse paulistano tinha ficado claro com a média Toleman, mas sua marca registrada só ficaria clara quando chegou a Lotus e seus potentes motores turbo da Renault. Apesar de não ter um grande chassi, a Lotus usufruia da prodigiosa potência dos motores franceses da Renault, principalmente nos treinos, quando uma versão especial no sábado fazia com que várias vezes seus pilotos conseguissem bons lugares no grid. Elio de Angelis era um ótimo piloto, mas não tinha a agressividade suficiente para uma volta realmente voadora. Era isso que Senna queria.

Mostrando o quanto valia a pena a Lotus ter lutado para ter o contratado em 1985, Senna conseguiu sua primeira pole na carreira de forma espetacular, superando em quase meio segundo a McLaren de Prost, reconhecidamente o melhor carro da época. Seria a primeira pole de 65 e também o primeiro show de Senna numa única volta rápida.

Grid:
1) Senna (Lotus) - 1:21.007
2) Prost (McLaren) - 1:21.420
3) Rosberg (Williams) - 1:21.904
4) De Angelis (Lotus) - 1:22.159
5) Alboreto (Ferrari) - 1:22.577
6) Warwick (Renault) - 1:23.084
7) Lauda (McLaren) - 1:23.288
8) De Cesaris (Ligier) - 1:23.302
9) Mansell (Williams) - 1:23.594
10) Piquet (Brabham) - 1:23.618

O dia 21 de abril de 1985 amanheceu nublado no Estoril e o dia não parecia muito promissor para Senna quando seu motor Renault, que praticamente havia garantido sua primeira pole na F1, quebrou durante o warm-up e o brasileiro teve que assistir os treinos ao lado do seu carro quebrado. Porém, os céus ameaçadores portugueses despejaram uma enorme quantidade de água e Senna voltava a situação em que havia aparecido pela primeira vez na F1: uma corrida debaixo de muita chuva. Porém, a chuva era ainda mais forte em Portugal e alguns pilotos, como Mansell e Eddie Cheever rodaram enquanto levavam seus carros ao grid. Com tanta água na pista, Senna sabia que teria que largar bem na primeira vez que estava na pole na F1, para ter uma melhor visão durante a prova. E ele o fez de forma perfeita. Sem adversários, Senna contornou a primeira curva na frente, mas atrás dele houve vários problemas.

Elio de Angelis consegue uma largada relâmpago e pula para segundo, deixando um lento Prost para trás. Ninguém mais se aproveitou da má largada do francês porque Keke Rosberg ficou parado no grid e muitos tiveram trabalho para desviar do Williams do finlandês. Enquanto os pilotos que usavam pneus Pirelli abandonavam simplesmente porque os pneus de chuva italianos não funcionavam, Senna abria uma vantagem considerável sobre os demais, com De Angelis claramente mais lento que Prost, mas o representante da McLaren não conseguia a ultrapassagem. A corrida era perigosa e a cautela era muito grande entre os pilotos, por isso não havia ultrapassagens. Mostrando o quanto a pista estava molhada, Prost vinha colado na traseira de Elio de Angelis, na reta dos boxes, quando sua McLaren começou a rodar violentamente após uma aquaplanagem no meio da reta. Sem controle nenhum, o francês acabou no muro e era fim de corrida para ele.

Senna disparava na frente, mas seu companheiro de equipe parecia ter problemas em se manter na pista e o italiano era alcançado pelo compatriota Michele Alboreto. A visibilidade era tão ruim, que De Angelis estava com a viseira aberta e na volta 43 Alboreto consegue assumir a 2º posição e então isso animou Patrick Tambay, que levava seu Renault para próximo do pódio. De Angelis resistiu várias voltas, mas o piloto da Lotus acabaria perdendo seu lugar no pódio já nas últimas voltas. Senna diria mais tarde que a chuva em Portugal era tão forte quanto em Monte Carlo, mas em nenhum momento ele pensou em pedir a direção da prova interromper a corrida. Sua vitória tinha que ser grandiosa como realmente foi e a sua vantagem sobre os demais era tão grande, que Alboreto foi o único que completou a corrida com o mesmo número de voltas de que Senna. Ainda assim, mais de um minuto atrás. A F1 sabia que estava nascendo uma estrela e a Lotus em particular vibrava como nunca por um piloto que parecia ser sua redenção após tantos resultados negativos. Senna recebeu a bandeirada com quase toda a equipe Lotus dentro da pista e diminuiu tanto a velocidade que quase provocou um acidente com Mansell. Após dois anos e meio sem vitória, a Lotus comemorava como nunca. Senna também, pena que o Brasil choraria horas mais tarde a morte de Tancredo Neves. Chorava como nove anos depois em um certo 1º de maio.

Chegada:
1) Senna
2) Alboreto
3) Tambay
4) De Angelis
5) Mansell
6) Bellof

terça-feira, 20 de abril de 2010

Enquanto isso no domingo...


Dizer que Long Beach seria uma espécia de GP de Mônaco para a F-Indy seria cair no molhado, mas em 2010 essa impressão ficou ainda maior com uma corrida chata e praticamente sem emoções nas ruas da cidade californiana. Estreita e com carros iguais, Long Beach fizeram com que as ultrapassagens fossem raras e as emoções ficava a cargo de diferentes estratégias de paradas, sendo que o baixo número de bandeiras amarelas tratou de estragar.

A expectativa era de um domínio de Will Power, já que o australiano dominou todos os treinos e havia conseguido a terceira pole em quatro corridas. E a largada parecia ser o início da supremacia do piloto da Penske, com Power ficando facilmente à frente de Hunter-Reat e Wilson, 2º e 3º colocados no grid e nas mesmas posições no início. Porém, um problema no câmbio de Power o fez cair para 3º e a corrida seguia nessa toada até o retardatário Alex Lloyd quebrar o bico de Wilson e uma bandeira amarela ser causada de forma infantil pelo novato Mario Romancini. Como que para provar que a corrida não poderia ter modificações, Wilson protagonizou a única ultrapassagem no pelotão da frente quando retomou o 2º posto de Power. E isso foi a corrida no domingo. Nem mais, nem menos.

A vitória de Ryan Hunter-Reay teve o fator emotivo de que ter acontecido pouco depois da morte da mãe do piloto, além do retorno às vitórias da equipe Andretti e de um piloto americano. Com o 3º lugar e seu mais próximo adversário no campeonato, Helio Castroneves, numa atuação aparagada, Will Power ainda aumentou sua vantagem na ponta do campeonato. Porém, vale prestar atenção em Hunter-Reay, piloto muito bom em circuitos mistos. Já que na categoria que até 2004 só corria em ovais, hoje vale a pena ser um ótimo piloto que vire para a direita.

História: 40 anos do Grande Prêmio da Espanha de 1970


Como era comum naquele tempo, após a passagem africana na primeira etapa do campeonato, a F1 tinha um hiato para a o início da temporada européia, normalmente começando na Espanha, com revezamento entre Jarama e Mointjuich. Em 70, a corrida seria em Jarama, próximo a Madri. Para não ficarem tanto tempo inativos, grande parte das equipes participaram da Corrida dos Campeões em Brands Hatch com vitória de Jackie Stewart, que mostrava o quanto o novíssimo chassi March evoluía. Como ocorria no ano anterior com a Matra, mesmo correndo com o chassi cliente, a Tyrrell se sobressaía graças ao talento de Stewart. Chegando em Jarama, as equipes brigaram por uma maior fatia do bolo dos prêmios e apenas 17 carros largariam.

A grande novidade era o lançamento do novo Lotus 72, uma verdadeira revolução sobre quatro rodas. A nova cria de Colin Chapman tinha várias novidades que parecia que o novo modelo deixava os demais cinco anos mais velhos. Porém, o novo carro carecia justamente da falta de testes e quando Jochen Rindt perdeu os freios apenas 300 metros após sair dos boxes, ficou provado que o carro ainda precisava de alguns quilometros para mostrar seu verdadeiro potencial. Com isso, os carros mais convencionais dominram o grid com novamente Jack Brabham surpreendendo ao ficar com a pole, deixando para trás a McLaren de Denny Hulme e o March de Stewart, completando a primeira fila. Ainda com o Lotus 49, Rindt conseguiu o oitavo tempo.

Grid:
1) Brabham (Brabham) - 1:23.90
2) Hulme (McLaren) - 1:24.10
3) Stewart (March) - 1:24.20
4) Beltoise (Matra) - 1:24.46
5) Rodriguez (BRM) - 1:24.50
6) Amon (March) - 1:24.65
7) Ickx (Ferrari) - 1:24.70
8) Rindt (Lotus) - 1:24.80
9) Pescarolo (Matra) - 1:24.90
10) Oliver (BRM) - 1:25.00

O dia 19 de abril de 1970 estava quente e com um tempo perfeito para uma corrida de F1. O circuito de Jarama era conhecido por ser travado e provocar vários abandonos ao longo de uma corrida com 90 voltas. A largada provava ser essencial e os grandes campeões sabiam bem disso, com Stewart pulando na frente, seguido por Hulme e um atrasado Barbham. Mais atrás, Ickx não larga muito bem e ainda na primeira volta ocorre a quase tragédia.

Jackie Oliver calcula mal uma freada e acaba saindo da pista para evitar a traseira do carro à sua frente, mas seu BRM descontrolado acaba atingindo em cheio a Ferrari de Jacky Ickx. Provando a fragilidade dos carros daquele início da década de 70 e facilidade com que pegavam fogo, ambos os carros explodiram em chamas, com os tanques ainda completamente cheios. Apesar da pancada, não havia sido um impacto muito forte, pois os carros vinham a baixa velocidade, mas isso não impediu que o fogo se alastrasse rapidamente. Oliver saiu rapidamente, enquanto Ickx ficou angustiantes segundos presos na sua Ferrari. O belga sofreu sérias queimaduras enquanto sua Ferrari ardia, mas Ickx acabou saindo do seu carro e mesmo passando vários dias no hospital, o ferrarista voltaria às pistas na prova seguinte. Os dois carros queimaram por várias voltas, provavelmente deixando os demais pilotos angustiados, pois não haviam como saber se Oliver e Ickx estavam realmente bem, enquanto passavam, volta após volta, pelos carros em chamas.

Os três primeiros lideravam com tranquilidade, mas a BRM de Pedro Rodríguez tem problemas na suspensão, ainda pelo acidente entre Oliver e Ickx, fazendo com que o mexicano abandonasse ainda na quarta volta quando estava em 4º, fazendo com que as duas Matras, de Pescarolo e Beltoise, ocupassem as posições seguintes. Com 10% de prova, Hulme abandona a prova com problemas na ignição de sua McLaren. Brabham estava num tranquilo segundo lugar, quando perde rendimento e começa a ser acossado pela Matra de Beltoise, com o francês ganhando a posição algumas voltas depois. Porém, o motor Matra, apesar de potente e emitir um belo som, não era dos mais confiáveis e Beltoise abandonou na volta 32 e para desespero da equipe francesa, mal assumiu a 3º posição, Pescarolo abandonou a prova com o mesmo problema. Ken Tyrrell, que foi campeão em 1969 usando chassis Matra e motores Ford-Cosworth, deveria estar dando um sorriso sarcástico, mostrando que a sua escolha em não ter que usar os motores franceses estava correta.

Seu piloto, Stewart, dominava a corrida de maneira parecida na qual dominava as provas na temporada passada e o escocês passava a impressão que imporia uma supremacia parecida com a de 1969. Enquanto isso, seus adversários iam caindo um a um. Com o abandono das duas Matras, quem assumiu o 3º lugar foi John Surtees, em uma McLaren, mas o inglês abandonaria com o câmbio quebrado no terço final da prova, um pouco antes de Brabham encostar seu próprio carro com o motor quebrado. Bruce McLaren, usando sua vasta experiência, chegou em 2º lugar, mesmo uma volta atrás do vencedor Stewart. Mario Andretti, na equipe March oficial, completou o pódio, mas quem teve o privilégio de dar a primeira vitória do chassi March foi mesmo Stewart e o escocês dava sinais de que poderia revalidar seu título antes do esperado. Enquanto isso, Ickx e Oliver davam a falsa impressão de que a temporada de 1970 poderia ser de sorte aos pilotos, mas os meses seguintes mostrariam um dos anos mais tenebrosos da história da F1.

Chegada:
1) Stewart
2) McLaren
3) Andretti
4) Hill
5) Servoz-Gavin

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Figura (CHN): McLaren

Eles não tem o melhor carro d temporada e talvez nem o segundo, mas a McLaren vem utilizando algo em falta nos seus adversários: a inteligência. O carro prateado tem o melhor motor e os dois últimos campeões da F1, mas Red Bull e Ferrari ainda tem o melhor ritmo. O que fazer? Ser diferente. A McLaren vem dando shows em termos de estratégia e em corridas onde decisões piloto-equipe são tão importantes quanto acelerar na pista, o time inglês vem dando show, particularmente com Jenson Button. Com dois pilotos tão diferentes entre si, a McLaren está usando táticas diferentes para ambos, preferindo extrair ao máximo a suavidade de Button e a agresividade de Hamilton. Na China, quando uma garoa apareceu no início da corrida, deixou Jenson na pista com pneus slicks, enquanto Hamilton preferiu colocar os pneus intermediários. Com duas táticas diferentes, era mais difícil errar. Enquanto Button se aproveitava do erro de Rosberg e assumia a liderança para não mais perde-la, Hamilton remava lá atrás para diminuir o prejuízo e ultrapassava quem vinha pela frente, dando mais um show de pilotagem e agressividade. Quando o safety-car apareceu, Lewis estava próximo dos líderes e rapidamente estava em segundo, atrás de Button, que tratou de aumentar seu ritmo e não ser atacado por um inspirado Hamilton. A dobradinha da marca inglesa e a liderança em ambos os campeonato é a prova de que a inteligência tática, apesar do fim dos reabastecimentos, ainda é um fator essencial na F1 atual.

Figurão (CHN): Red Bull

O chavão é velho, mas serve bem para a Red Bull: para chegar em primeiro, primeiro tem que chegar. A equipe austríaca provou a todos em várias oportunidades que tem o melhor carro da temporada e Sebastian Vettel se fartou a conseguir poles e liderar voltas em 2010. Porém, a Red Bull se fartou em deixar o piloto alemão na mão, além de Mark Webber, e estragar o campeonato de ambos. Em Xangai, o time dos energéticos confirmou o quão bom são seus carros e seus representantes conseguiram a dobradinha no grid, com Vettel ficando com a primeira fila, garantindo assim o 100% de aproveitamento da equipe nesse ano. Porém, a chuva se fez presente na corrida chinesa e quando a estratégia se provou essencial para garantir ou não um bom resultado, a Red Bull falhou fragorosamente. Primeiro, preferiu usar da via segura e trouxe seus dois pilotos para o box, enquanto McLaren e Mercedes preferiram distribuir as táticas entre seus dois pilotos. Para piorar, os mecânicos tiveram problemas na troca de pneus de Webber e acabou por atrapalhar não apenas o australiano, como também Vettel. Isso selou a sorte da corrida da Red Bull, pois ambos seus pilotos não conseguiram fazer valer a vantagem do melhor carro de 2010 e não ultrapassaram os carros mais lentos, muito provavelmente por terem arriscado para conseguir a pole e se esquecendo que os pontos não são conquistados no sábado, mas no domingo. Após terem feito dobradinha na primeira fila, acabar com Vettel em sexto e Webber em oitavo é um resultado bem aquém do esperado e esses pontos perdidos podem ser cruciais no final do ano, pois Ferrari, McLaren e Mercedes não estão paradas e poderão se aproximar da Red Bull, tirando toda a vantagem do time austríaco. Que não foi aproveitado por ela.

domingo, 18 de abril de 2010

Risco total


Jenson Button nunca foi um piloto brilhante e mesmo quando foi campeão, muitos diziam que seus méritos eram apenas pelo bom carro que tinha em mãos. Não faltou quem o chamasse de "campeão medíocre". Sua ida para a McLaren seria a comprovação dessa tese, pois seria massacrado por Lewis Hamilton, mesmo piloto que, novato, conseguiu derrotar (e expulsar) o bicampeão Fernando Alonso da McLaren. Rescaldado pela história de Alonso e vendo que não tem como derrotar Hamilton apenas na velocidade pura, Button passou a utilizar das táticas para conseguir um diferencial para derrotar o companheiro de equipe. Foi assim que Jenson ganhou na Austrália mais cedo e conseguiu a liderança do campeonato hoje, com uma vitória estratégica em Xangai. Com duas vitórias a zero sobre o queridinho da McLaren, Jenson Button prova que sua inteligência tática, combinada com sua delicadeza no volante para conservar melhor os pneus, pode ser um fator crucial para que brigue pelo título desse ano e conquiste um improvável bicampeonato.

Pela terceira vez em quatro corridas, a chuva foi um fator importante na decisão da prova, sendo que em Xangai as precipitações foram ainda mais influentes. Se na Austrália só choveu no comecinho da corrida e na Malásia a chuva só apareceu para embaralhar a Classificação, na China foi exatamente a natureza que nos prestou o serviço de melhorar a corrida chinesa, provocando grandes procissões aos boxes na medida em que a chuva diminuía ou aumentava de intensidade. Mesmo com as equipes esperando pela chuva, não faltaram trapalhadas nas decisões e nos pit-stops e foram nessas confusões em que Button se sobressaiu. A largada foi dada com garoa que aumentou de intensidade ainda na primeira volta. Com a entrada do safety-car por causa da batida entre Liuzzi, Kobayashi e Buemi, parecia que era a hora apropriada para colocar o mais rápido possível os pneus intermediários. Praticamente todos os pilotos fizeram isso, menos alguns poucos abnegados que pareciam querer provar que eram machos em condições claramente adversas. Será? Entre esses 'machões' estava Jenson Button, que com isso subia para 2º, atrás de Nico Rosberg. A relargada provou que os 'machões' estavam certos e que os demais foram afobados. A chuva não tinha sido suficiente para molhar a pista a ponto de se usar os pneus intermediários e poucas voltas depois houve outra peregrinação aos boxes, enquanto Rosberg, Button e Kubica disparavam frente aos demais. O piloto da McLaren apenas acompanhava o ritmo de Nico, mas o piloto da Mercedes acabaria por errar e praticamente jogou fora sua chance de vencer pela primeira vez na F1. Com pista livre, Button disparou na frente e tinha tudo para vencer a corrida de forma tranquila.

Porém, uma entrada de safety-car para lá de suspeita compactou todo o pelotão e o maior perigo para Button estava mais próximo do que nunca. Lewis Hamilton vinha fazendo outra corrida sensacional, cheia de ultrapassagens e manobras arriscadas, como a entrada e saída dos pits lado a lado com Vettel. O inglês era novamente o mais rápido na pista e relargaria em sexto, apenas com as Renault e Adrian Sutil o separando da briga pela ponta. Hamilton ultrapassou Sutil, Petrov e Kubica com certa facilidade, mas encontrou mais resistência em Rosberg, que só ultrapassou quando os pneus intermediários acabaram. Em segundo e mais rápido, era apenas questão de tempo para Hamilton brigar com seu companheiro de equipe, mas então ficou claro uma vantagem que Button tem com relação ao vizinho de box. Não demorou para Hamilton, com a pista tendo um claro trilho seco, ter problemas com seus pneus e então Button disparou rumo a vitória, apesar de um erro no finalzinho e uma tentativa de aproximação de Hamilton. Jenson consegue sua décima vitória na carreira na F1 no auge de sua forma técnica e contra todos os prognósticos, entra de vez na briga pelo título desta temporada. Vendo seu companheiro de equipe com duas vitórias em quatro provas e na liderança do campeonato, Lewis Hamilton deve estar desesperado para vencer uma prova e colocar ordem na sua casa, pois a McLaren, que sempre vibrava quando o inglês fazia uma ultrapassagem, ainda é seu feudo.

Nico Rosberg foi corajoso em permanecer na pista com pneus slicks quando a maioria dos pilotos foi aos boxes colocar pneus intermediários, mas o alemão da Mercedes perdeu uma chance dourada de vencer pela primeira vez quando saiu da pista e praticamente entregou a vitória para Button, que não se fez de rogado e executou a ultrapassagem metros depois. Mesmo com a boa briga que teve com Hamilton pela 2º posição, a saída de pista representou um golpe na moral de Nico e a 3º posição significou um prêmio de consolação ao alemão. Um bom prêmio até, pois Rosberg subiu para a 2º posição do Mundial de Pilotos, mesmo sem nenhuma vitória, mas se a Mercedes não evoluir logo, essa posição será tão ilusória como a liderança de Massa até o início da prova chinesa. A Ferrari teve uma corrida de extremos e provavelmente com um pepino para resolver. A queimada de largada de Alonso foi tão sutil que só percebi quando a câmera focando em Charlie Whiting mostrou a Ferrari saindo do lugar antes da hora e o dedo acusador de Whiting. O espanhol liderou a primeira volta, mas sua punição não tardou a acontecer. Alonso então partiu para outra corrida de recuperação, mas quando retornou aos boxes para colocar pneus slicks, estava logo atrás do companheiro de equipe Massa e o espanhol não quis saber muito de regalias e ultrapassou o brasileiro na entrada dos boxes, tendo a primazia de fazer o pit-stop primeiro do que Massa e ter uma melhor posição na pista após as paradas. Alonso também foi outro a fazer uma belíssima corrida de recuperação e terminou em quarto, colado em Rosberg, com a sensação de que na única corrida normal desta temporada, ele acabou vencendo. Mal colocado na pista e com sua conhecida aversão por pistas escorregadias, Felipe Massa não fez uma boa corrida e acabou em nono, despencando de líder do campeonato para sexto. Pelo o que vinha fazendo até agora, essa posição reflete mais o que Massa vinha fazendo, pois em nenhum momento o brasileiro fez uma corrida digno de nota e mesmo com uma parada a menos do que Alonso, chegou cinco posições atrás, mas ele terá direito de reclamar a polêmica entrada da sua segunda parada de box.

A Red Bull começou o domingo com pinta de favorita absoluta a vitória, mas novamente se atrapalhou quando a estratégia foi mais uma vez utilizada e os pit-stops decidiriam a corrida. A equipe austríaca me faz lembrar a Williams do próprio Adrian Newey, quando tinha o melhor carro, mas se estabanava quando a estratégia era primordial para vencer ou não uma corrida. Vettel e Webber preferiram usar a via segura e trocaram os pneus slicks pelos intermediários, mas isso foi início dos erros, pois o pit de Webber, que desta vez largou melhor do que Vettel, demorou demais e atrapalhou ainda mais o alemão, que já tinha retardado o seu ritmo para não perder tanto tempo. Mesmo com o carro mais rápido do final de semana, os pilotos da Red Bull não ultrapassavam com tanta facilidade e ficavam cada vez mais distantes dos líderes. Novamente perdendo tempo nos pit-stops, Vettel e Webber ficavam no meio do pelotão e de lá não conseguiam sair. Apesar da dobradinha no grid, mais uma vez a Red Bull sai da corrida sem vitórias e poucos pontos a contar no campeonato, que estava pintando com sua cara nessa fase inicial, mas que vai escapando por culpa da equipe. Ao contrário da Red Bull, sua fornecedora de motores foi mais esperta na estratégia e conseguiu melhores resultados. Kubica e Petrov resolveram permanecer na pista com pneus slicks e isso foi fundamental para que os pilotos da Renault tivessem uma posição privilegiada quando a chuva cessou e os demais pilotos foram forçados a recolocar pneus sclicks. Enquanto Kubica não surpreendia ao acompanhar de perto os líderes Rosberg e Button, Petrov fazia a melhor corrida dele até então. Seguro em condições traiçoeiras, o russo fazia uma corrida para chegar em 4º, mas a entrada do safety-car fez com que todo o pelotão ficasse atrás dele e Vitaly segurou a posição enquanto deu, chegando até a rodar. Quando trocou seus pneus, o russo veio para cima de Schumacher e Webber nas voltas finais e garantiu, com duas belas ultrapassagens, a sétima posição e os primeiros pontos russos da história da F1 e a certeza que, mesmo numa comparação injusta contra o ótimo Kubica, que acabou em quinto, Petrov não é apenas um piloto-pagante. É um piloto de verdade!

Falando no alemão, Michael Schumacher teve hoje a prova definitiva de que seus tempos aúreos ficaram mesmo na história da F1 e que sua volta a categoria foi uma ação motivada pela emoção do que pela razão. O alemão ainda foi ajudado pela estratégia, com suas paradas claramente na hora certa, mesmo sendo um dos que foram aos boxes colocar pneus intermediários enquanto Rosberg ficou na pista. Porém, isso não impediu para que o lendário alemão fosse ultrapassado por vários pilotos em vários momentos da corrida. Foi extremamente constrangedor ver Schumacher sendo ultrapassado sem a menor cerimônia por vários pilotos, como se fosse um velho campeão em decadência e no momento, a realidade triste e cruel é exatamente essa.


Rubens Barrichello fez uma corrida em que sempre apareceu brigando pelos últimos lugares pontuáveis, principalmente com Massa, mas o brasileiro vê de forma clara que seu Williams não está em condições de brigar, com todos os carros de ponta na pista, por pontos. Nico Hulkenberg só apareceu quando colocou pneus slicks no momento que a pista estava mais molhada e perder ainda mais tempo com relação aos rivais, terminando na última posição dos pilotos que correm em equipes tradicionais. Para quem tem um currículo parecido com o de Hamilton nas categorias de base, Hulkenberg vem decepcionando bastante, principalmente se lembrarmos da temporada de estréia do inglês, guardadas as devidas proporções. Mesmo sendo um ótimo piloto na chuva, Sutil amargou uma corrida fora dos pontos, mas o alemão provou ser um piloto de enorme potencial quando brigou de igual para igual com Hamilton, Vettel e Alonso. Mesmo a Force India estando em outro nível, Sutil já merece um melhor carro. Já Liuzzi, após ter pagado o mico de ter ficado no Q1, provocou a primeira entrada do safety-car quando errou sozinho e bateu forte em Kobayashi e Buemi. Mesmo já tendo marcado pontos esse ano, o italiano faz uma temporada pífia em comparação a Sutil.

Alguersuari terminou a corrida após ter entrado nos boxes seis vezes e tentado uma estratégia diferente em vários momentos, acabando a corrida próximo dos pontos. O espanhol faz uma temporada interessante, com vários momentos de velocidade e superando algumas vezes seu companheiro de equipe, que neste final de semana só deu prejuízo a sua equipe. Mesmo que involutariamente. Na sexta, Buemi protagonizou o lance da temporada até aqui quando perdeu as duas rodas dianteiras enquanto freiava. Já no domingo, foi atingido por Liuzzi na primeira volta, acabando com sua corrida naquele momento. Um início de temporada azarado para o suíço. Kobayashi, assim como Buemi, pela segunda vez nesse ano se envolvendo em um acidente na primeira volta. Pedro de la Rosa foi um dos pilotos a apostarem em ficar na pista com pneus slicks, mas o espanhol foi enganado, mais uma vez, pelo motor Ferrari, em mais um show de pirotecnia do propulsor italiano. Nas minhas contas, são sete motores Ferrari explodidos esse ano. Das novatas, destaque para Kovalainen, que ocupou posições entre os top-10 ao ser o único das nanicas a ficar na pista no começo, mas o finlandês logo foi engolido pelos demais. A Virgin continuou sua via-crucis com um carro que não consegue completar as corridas, enquanto Bruno Senna finalmente superou seu companheiro de equipe Karun Chandhok, com ambos terminando a corrida, enquanto Lotus e Virgin não viram a bandeirada.

A quarta etapa do Mundial de F1 marca o final da primeira fase da temporada, com as equipes saindo da Ásia (se o vulcão islandês deixar...) rumo a Europa com um saldo interessante até o momento. O grande equilíbrio das quatro grandes realmente existe, pois Red Bull, McLaren, Ferrari e Mercedes apareceram bem até o momento e brigarão até o final do campeonato pelo título. A Red Bull parece ter o melhor carro, mas ainda peca na estratégia, enquanto a Ferrari começa a viver momentos tensos com um carro que parecia ser o melhor na pré-temporada, mas parece ser engolido por Red Bull e McLaren. Para piorar, algo que os italianos temiam pode estar acontecendo com a briga entre Alonso e Massa, mesmo com o espanhol sendo muito melhor do que o brasileiro até agora. Na McLaren e na Mercedes, os patinhos feio da equipe vem superando os favoritos, com a equipe inglesa tirando proveito dos erros das demais para liderar os Mundiais de Pilotos e Construtores. Enquanto Hamilton vem dando show, Button vem arriscando de outras formas. Por enquanto, está dando certo.

sábado, 17 de abril de 2010

Na hora certa


Sebastian Vettel não vinha tendo um final de semana esplendoroso até o Q2 do Grande Prêmio da China. As vedetes vinham sendo as McLarens e seus dutos mágicos, com Mark Webber os ameaçando constantemente. O alemão da Red Bull não vinha apresentando seus desempenhos dominadores de antes, mas como um grande campeão que um dia será, Vettel soube atacar na hora correta e numa última magistral, saiu do anonimato chinês para a terceira pole em quatro corridas da temporada 2010, mostrando quem é o piloto mais rápido atualmente na F1. Corroborando com a ótima fase da Red Bull, Webber conseguiu um lugar na primeira fila e a Red Bull completa sua segunda dobradinha seguida, mostrando que é o time a ser batido hoje.

Os treinos prometiam uma disputa entre Red Bull e McLaren, com uma leve vantagem para Lewis Hamilton, graças ao desempenho do inglês e a velocidade impressionante do carro inglês na longa reta oposta. Hamilton confirmou sua superioridade ao marcar o melhor tempo do final de semana no Q2 e recolher seu carro, pois tinha exata noção de que não seria mais batido. E realmente não foi. Aparentemente, o inglês teria como grande adversário Mark Webber e um inspirado Fernando Alonso. Vettel não brigava pela ponta em nenhum momento deste final de semana, mas já em sua primeira volta no Q3, o alemãozinho mostrou força e ficou com o melhor tempo. Quando as equipes liberaram seus carros para a tentativa final, Hamilton foi o primeiro a tentar e chegou a fazer ótimas parciais, mas acabou 2º, milésimos de segundo atrás de Vettel, mas Webber superou o companheiro de equipe logo depois. A resposta não tardou a acontecer e Vettel conquistou a pole com uma vantagem considerável, vide o quão apertado foi a última parte da Classificação.

Para desespero de Hamilton, ele ainda foi superado por dois pilotos que começam a superar seus fortes companheiros de equipe por uma margem considerável. Nico Rosberg pôs seu Mercedes na segunda fila, enquanto Michael Schumacher decepcionava mais uma vez, chegando a levar 1s do compatriota em certo momento do Q3, mas a nona posição, superado por um dos pilotos fora do G4 ligou o sinal de alerta para Schummy, claramente batido pela nova geração. Aos 41 anos de idade e três anos fora, o alemão vê sua passagem pela F1 manchada por um retorno nada glorioso. Alonso parecia estar levando sua Ferrari nas costas hoje e o espanhol já está virando especialista no assunto, lembrando seus tempos na Renault. Fernando ficou em terceiro, mais de três décimos à frente de Massa, que não cosneguiu andar no mesmo ritmo de Alonso no final de semana. Mesmo líder do campeonato, Felipe Massa não está mais rápido do que Alonso e quando o espanhol tiver uma corrida longe dos problemas, não demorará a superar o companheiro de equipe, para desespero global.

Por sinal, não assisti a transmissão dos treinos pela Globo, por causa de uma crise forte de sinusite que não me permitiu acordar de madrugada, mas pela SporTV hoje pela manhã e impagável Lito Cavalcanti rebatizou novamente Virgin e Hispania. Agora são "equipe de Lucas di Grassi" e "equipe de Bruno Senna". Ridículo! Essa história chegou as raias do medíocre!

Falando em brasileiro, Rubens Barrichello fez outra boa Classificação e por pouco não tirou Schumacher do Q3, ficando 0.033s atrás do alemão, mas como estará próximo da zona de pontos, não será surpresa alguns pontinhos amealhados do brasileiro. Ver Robert Kubica e Adrian Sutil no Q3 não é mais surpresa e chega dar pena de Vitaly Petrov, pois o russo não é um mal piloto, mas logo na estréia tem que encarar um piloto do naipe do polonês dentro da equipe Renault. Após o susto na sexta-feira, a Toro Rosso viu mais um bom desempenho de Jaime Alguersuari, andando forte o final de semana inteiro, bem na semana em que a Red Bull anunciou que pode trocá-lo por Daniel Ricciardo, australiano apesar do nome, em 2011. A Sauber é a pior equipe dos times já estabelecidos, enquanto Nico Hulkenberg está levando um banho do velhinho Barrichello na disputa interna da Williams.

Se a corrida for normal e sem muitos problemas, a vitória caminha para os lados da Red Bull, com Alonso tentando algo para impedir mais uma vitória austríaca, sem contar com Hamilton, comprovadamente com um bom carro, vindo com tudo largando em 5º. Massa terá que fazer outra largada como as anteriores se quiser permanecer na liderança do campeonato, mas também há a chuva prevista para este domingo. Sendo assim, a chuva não viria numa hora boa para Vettel e seus companheiros.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Enquanto isso no domingo...


Além de ser um grande campeão e uma lenda viva do esporte, Valentino Rossi tem algumas virtudes que algumas pessoas pouco percebem: a imposição psicológica. Muitos pilotos da Nascar dos anos 80 e 90 falavam que nunca ficavam indiferentes quando viam pelo retrovisor o carro preto de número 3 de Dale Earnhardt. Conhecido com o meigo apelido de Intimidador, as disputas com Earnhardt eram curtas e decisivas, com o outro piloto saindo da sua frente ou indo para omuro. Rossi era mais sutil. A sua presença em 2º lugar já é sinal de preocupação para os pilotos. Que o diga Sete Gibernau e Massimiliano Biaggi. Parece que Stoner é o próximo.
Após dominar todos os treinos no final de semana no Catar, o australiano se recuperava rapidamente de uma má largada e já liderava,com Rossi em segundo. Querendo se livrar da incomoda presença do eneacampeão, Stoner forçou o ritmo. Forçou demais. Na sexta volta estava com a cara no chão, deixando o caminho livre para Valentino conseguir uma categórica, mas não tranqüila vitória. Se Dani Pedrosa parecia que seria quem mais incomodaria Rossi, foi seu companheiro de equipe Andréa Doviziozo que mais perturbou o compatriota, chegando a ultrapassar Rossi na longa reta dos boxes graças a prodigiosa potência da moto Honda. Porém, Doviziozo não foi capaz de segurar Jorge Lorenzo no final da corrida e a Yamaha pôde completar a dobradinha na etapa de abertura, mostrando a continuação do domínio da marca nipônica.Doviziozo ainda teve que lutar contra um surpreendente Nicky Hayden,que honrou o bom desempenho da Ducati com uma agressiva apresentação no Catar. O americano perdeu o terceiro lugar para Doviziozo na reta de chegada, após uma ultrapassagem audaciosa do americano sobre o representante da Honda na última volta. Para Stoner, resta a certeza que tem uma boa moto, mas que precisa melhorar no aspecto psicológico se quiser derrotar um adversário como Rossi. Algo que Pedrosa, caindo pelas tabelas e vendo seu companheiro de equipe no pódio, precisa muito, pois seu posto de intocável dentro da equipe Honda começa a ficar ameaçada.
Na Moto2, com vários pilotos que não conseguiram sucesso na MotoGP no ano passado, quem conseguiu uma boa vitória foi um piloto que sequer tinha conquistado um pódio até o ano passado no Mundial. Shoya Tomizawa, de apenas 19 anos, fez uma corrida de gente grande e superou adversários com bem mais experiência, como Toni Elias, Alex Debon e Jules Cluzel. A categoria estreou com o enorme grid de 41 motos e a esperança de que revelará ótimos pilotos nos próximos anos. A categoria 125cc, a única intocável nos 61 anos de Mundial, continuou com suas corridas emocionantes e aglomeradas, mas quem venceu no final foi o espanhol Terol.
Na F-Indy, Hélio Castroneves venceu uma corrida estritamente estratégica numa pista nova e bonita, até mesmo boa de se guiar, mas sem nenhum ponto visível de ultrapassagem. Experiente, o brasileiro soube usar da conhecida astúcia estratégica da Penske para se ver livre de Marco Andretti, em uma estratégia diferente, e segurar, sem muitos dramas, Scott Dixon no final, principalmente na última relargada. Will Power, que venceu as duas primeiras corridas e largou na pole no Alabama, fez uma prova discreta onde escolheu um pouco errado na estratégia e acabou em 5º, um resultado que não o tirou da liderança do campeonato. Com a vitória, Helinho subiu para 2º no certame, enquanto os outros brasileiros estão bem longe da briga.

Após vender a Stock Car como uma das melhores categorias de turismo do mundo, a própria Rede Globo está se encarregando de estragar apromoção da categoria, com transmissões ruins e curtas da categoria. Enquanto a corrida se desenrolava em Curitiba, a Globo passou algumas matérias sobre futebol, inclusive sobre o Notts, clube mais antigo do mundo. Bem legal, talvez mais interessante que a própria corrida. Talvez a Globo já percebeu que a categoria não proporciona um bom show, além de ser fraca tecnicamente, vide as grandes críticas feitas por Cacá Bueno nos últimos dias. Tenho a teoria de que Cacá saindo da Stock, a Globo perderá o interesse e a categoria cairá. E pelo jeito, não está tão longe de acontecer...

domingo, 11 de abril de 2010

História: 15 anos do Grande Prêmio da Argentina de 1995


Sem contar as 500 Milhas de Indianápolis, o Grande Prêmio da Argentina foi a primeira corrida fora da Europa a entrar no calendário da Fórmula 1 e por isso a prova portenha tinha uma enorme tradição, principalmente com as vitórias de Fangio. Quando o argentino se retirou no final da década de 50, a corrida argentina foi perdendo o fôlego até perder seu lugar em 1961, retornando dez anos depois para uma das mais animadas corridas do ano, com os torcedores argentinos dando show nas arquibancadas, como se a corrida fosse uma autêntica partida de futebol, tentando empurrar outro ídolo, desta vez Carlos Reutemann. Por causa das graves crises políticas e econômicas, mais uma vez a Argentina perderia sua corrida em 1981, porém a saída das ditaduras militares somado ao avanço econômico promovido por Domingos Cavallo, a Argentina pôde mais uma vez sediar uma corrida de Fórmula 1. Se desta vez não haveria um único piloto argentino para se torcer, os apaixonados portenhos lotaram as arquibancadas para verem os melhores carros e pilotos do mundo para provar que eles eram fanáticos por corridas.

Se em São Paulo faz muito calor, seguido por muita chuva, em Buenos Aires a chuva vinha com um frio polar e as equipes se sentiam nas mesmas condições que enfrentaram na pré-temporada européia. O famoso circuito Oscar Galvez, com suas várias facetas, dava para a F1 um circuito travado e sem muitas emoções, decepcionando quem esperava os famosos circuitos 9 e 15. A chuva atrapalhou demais os pilotos, mas no fim o domínio dos motores Renault se repetiu e David Coulthard conquistava sua primeira pole na F1, derrotando seu companheiro de equipe em quase 1s. Mostrando mais uma vez que seu Benetton ainda estava longe de ser o melhor do pelotão, Michael Schumacher amargava a 3º posição no grid, mas provando seu talento, principalmente na chuva, o alemão colocou 2.8s em cima do seu companheiro de equipe. Eddie Irvine surpreendia ao colocar seu Jordan em 4º, também superando por muito seu companheiro de equipe Barrichello. Na época, se vendia bastante que o irlandês não limpava os sapatos de Rubens e quando Irvine foi para a Ferrari no final de 1995, o motivo era que Schumacher teria 'medo' de Barrichello. O tempo (e a performance de Irvine em 1995) nos encarregaria de desmentir isso...

Grid:
1) Coulthard (Williams) - 1:53.241
2) Hill (Williams) - 1:54.057
3) Schumacher (Benetton) - 1:54.272
4) Irvine (Jordan) - 1:54.381
5) Hakkinen (McLaren) - 1:54.529
6) Alesi (Ferrari) - 1:54.637
7) Salo (Tyrrell) - 1:54.757
8) Berger (Ferrari) - 1:55.276
9) Frentzen (Sauber) - 1:55.583
10) Barrichello (Jordan) - 1:56.114

O dia 9 de abril de 1995 finalmente não tinha chuva e pilotos e equipes teriam que quebrar a cabeça para achar um bom acerto para piso seco, algo que pouco viram no final de semana argentino. Porém, o céu ainda estava ameaçador e a chuva poderia cair a qualquer momento, mas o público não ligou muito para as ameaças de chuva e lotou mais uma vez o Autódromo Oscar Galvez, inclusive com a presença do presidente Carlos Menem. A reta de largada não era tão estreita como Interlagos, mas uma boa partida seria essencial, vide o circuito travado dificultar as ultrapassagens. Coulthard larga bem, mas Schumacher fica praticamente parado e causa uma grande confusão para os que viam logo atrás, com Alesi rodando e provocando pequenos acidentes, fazendo com que a bandeira vermelha fosse mostrada. Na relargada, Schumacher faz uma largada inversamente proporcional a primeira e toma a segunda posição de Hill, enquanto Coulthard usufruiu muito bem da sua posição no grid e permanece na ponta.

Enquanto Coulthard impunha seu ritmo, Hill era claramente atrasado por Schumacher, que estava nitidamente mais lento, mas não tirava o pé para o seu rival. Escaldado pelo acidente em Adelaide, Damon Hill também não forçava muito, já que Mika Salo, que tinha feito uma estupenda largada, pulou de 7º para 4º e não ameaçava o inglês. As duas Jordans largam de forma terrível, com Irvine sendo tocado por Hakkinen na primeira curva e Barrichello tendo que desviar dos dois. Os pupilos de Eddie Jordan caíram para as últimas posições. Ainda na quarta volta, quando já tinha uma vantagem considerável para Schumacher, Coulthard perde rendimento de forma brutal e vê o alemão encostar na sua traseira. O escocês resiste por alguns instantes, chegando-se a suspeitar que aquilo seria uma manobra premeditada da Williams para atrapalhar Schumacher, mas o piloto da Benetton conseguiria a ultrapassagem na volta seguinte, com Hill realizando a manobra quase ao mesmo instante. Apesar dos problemas, Coulthard permanecia em 3º, mas agora teria que se preocupar com Alesi, que acabara de ultrapassar Salo. Para um circuito travado, a corrida estava tendo bastante troca de posições nas primeiras voltas.

Hill permanecia atrás de Schumacher, com o alemão fazendo das tripas coração para permanecer na frente, mas nem todo o enorme talento de Schummy poderia fazer milagres e na 11º volta Hill consegue a ultrapassagem que lhe daria a liderança. Com a possibilidade de chuva iminente, as equipes resolvem colocar pouco combustível na tentativa de economizar uma parada caso a chuva retornasse e por isso, as primeiras paradas não tardaram a acontecer. A Benetton, acusada no ano anterior de ter modificado ilegalmente a mangueira de combustível, tem problemas na parada de Schumacher e o alemão perde muito tempo quando a mangueira se recusava a se conectar ao bocal de reabastecimento. O prejuízo só não foi maior porque Coulthard finalmente abandonaria com problemas de motor, mas Alesi capitalizava os problemas do alemão e assumia a 2º posição.

Após primeiras voltas frenéticas, a corrida fica completamente estática, com pouco ou nada ocorrendo nas primeiras posições. Frentzen era o 4º colocado até ter que fazer sua tardia parada programada, fazendo com que Johnny Herbert ficasse apenas uma posição atrás do companheiro de equipe, mas todos sabiam da diferença de ritmo entre os pilotos da Benetton. Salo ficou boa parte da corrida na zona de pontuação, mas abandonaria, para fazer com que Jos Verstappen, em sua raquítica Simtek, chegasse ao 6º posto, mas o holandês abandonaria com o câmbio quebrado. Com isso, Gerhard Berger, numa corrida anônima, marcasse o último ponto do dia, mesmo bastante pressionado pela Ligier de Olivier Panis. Damon Hill vence com enorme tranquilidade, com Alesi e Schumacher bem atrás, completando o pódio. Mostrando o quanto o circuito escolhido em Buenos Aires era lento, mesmo tendo praticamente o mesmo perímetro de Interlagos e o mesmo número de voltas, por sete minutos a corrida não estourava o limite de duas horas. A torcida estava feliz com a volta do Grande Prêmio da Argentina, mas não demoraria para outra crise econômica e política tirar a prova do calendário mais uma vez.

Chegada:
1) Hill
2) Alesi
3) Schumacher
4) Herbert
5) Frentzen
6) Berger